Marcelo elogia vida e obra do Papa Francisco que associa aos valores de Abril
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, elogiou hoje a vida e obra do Papa Francisco, “sem recusas, sem ódios”, e defendeu que a sua mensagem tem tudo a ver com os valores do 25 de Abril de 1974.
O chefe de Estado discursava na sessão solene comemorativa do 51.º aniversário do 25 de Abril de 1974, na Assembleia da República, em dia de luto nacional pela morte do Papa Francisco.
“Falarei, pois, de Francisco e do que a sua vida e obra pode ter a ver com o que significou e pode significar o 25 de Abril”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa, no início da sua décima e última intervenção como Presidente nesta data histórica.
Comparando a conjuntura global atual com o contexto em que ocorreu o 25 de Abril, há meio século, interrogou: “Como não deparar nas palavras de Francisco com a defesa desses valores estropiados há 50 anos?”.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, os “apelos de Francisco, durante doze anos e até há cinco dias” estão relacionados com “alguns dos mesmos dramas, ou outros iguais ou maiores, tornando ainda mais urgentes a paz, a justiça, a luta contra a pobreza”.
Na parte final do seu discurso, o Presidente da República perguntou “o que têm a ver os factos, os problemas e o modo de Francisco de com eles lidar, ou seja, o espírito e o espírito vivido, o que é que tem a ver com o 25 de Abril”, e deu a resposta.
“Tudo, tudo: dignidade humana, paz, justiça, liberdade, igualdade, solidariedade, fraternidade, abertura, inclusão, serviço dos outros, preferência pelos ignorados, omitidos e silenciados”, defendeu.
O Presidente da República pediu hoje que evocações de datas como o 25 de Abril sejam “mais doação do que proclamação” e que se procure “novos caminhos” e “novas metas” com espírito “exigente, renovador”.
Marcelo Rebelo de Sousa deixou este apelo no fim do seu discurso na sessão solene comemorativa do 51.º aniversário do 25 de Abril de 1974, na Assembleia da República, em que elogiou a vida e obra do Papa Francisco associando a sua mensagem aos valores de Abril.
Segundo o chefe de Estado, o exemplo do Papa Francisco convida a “que as evocações como a de hoje, a do 25 de Abril, sejam mais doação do que proclamação, mais encarnação de serviço do que afirmação de missão já cumprida, mais futuro do que passado” e a “que se não confunda o fundamental com o acessório, o duradouro com o efémero”.
O Presidente da República acrescentou que “o duradouro é o espírito que deve ser exigente, renovador, desbravador de novos caminhos, de novas metas, com a sua vivência mobilizadora”, enquanto “o efémero é a autocontemplação de cada momento, o auto comprazimento de cada aparente sucesso, a autoflagelação de cada infortúnio”.
“Estas sessões existem para que o duradouro seja mesmo duradouro e o efémero seja mesmo efémero. 25 de Abril sempre? Sim, sobretudo se com a incessante busca dos valores, o pleno e descomplexado abraço a todas as pessoas e a atenção a todas as coisas, e a radical humildade que viveu e nos ensinou a viver Francisco”, defendeu.
“Que para sempre viva esse espírito. Viva a liberdade, viva a democracia, viva Portugal”, exclamou.
Antes, Marcelo Rebelo de Sousa assinalou o modo como o Papa Francisco vai ser enterrado, no sábado, “num recanto de um templo, por detrás de uma discreta porta”, num caixão “sem nome se não o seu, Francisco”.
“A recordar-nos que o infinitamente maior é infinitamente o mais pequeno de todos, e de que assim terminaremos todos, terminarão os que dominavam ou pensavam dominar o mundo: em pó ou cinza. Um sinal convidativo da pobreza material e espiritual, a não esquecer nunca”, considerou.
Aguiar-Branco afirma que democracia defende-se com resultados, princípios e consensos
O presidente da Assembleia da República considerou hoje que a crise da democracia resulta da incapacidade de apresentar resultados e advertiu que os políticos não são analistas, nem devem abdicar de princípios como a presunção da inocência.
No discurso que proferiu na sessão solene do 25 de Abril, José Pedro Aguiar-Branco prestou homenagem aos eleitos para a Assembleia Constituinte em 1975, nas primeiras eleições livres realizadas em Portugal, abordou a questão das crises democráticas na Europa, mas também no país, e deixou várias recomendações para futuro.
O antigo ministro social-democrata defendeu a tese que não se deve confundir as causas com as consequências quando se analisam fenómenos como o populismo ou a abstenção em atos eleitorais.
“A causa – a raiz do problema – é, tantas vezes, a incapacidade de apresentar resultados, de falar de futuro, de construir o futuro, e de estar à altura de quem nos elegeu. O que digo é válido para Portugal, mas também para a Europa”, observou.
Depois de criticar a dificuldade da União Europeia em decidir e responder rapidamente aos desafios, José Pedro Aguiar-Branco deixou um recado aos políticos, dizendo que “não podem ser meros comentadores e analistas da realidade”.
“Os políticos não são espetadores da realidade. São construtores da realidade. É assim que os cidadãos nos olham. É para isso que nos elegem”, advertiu.
José Pedro Aguiar-Branco indicou depois que a democracia também se degrada quando os políticos abdicam voluntariamente dos princípios e dos direitos pelos quais os democratas lutaram – “princípios como a presunção de inocência, ou a liberdade de expressão”.
“Quando promovemos a desconfiança no sistema e nos seus fundamentos, quando optamos por subir o tom da discussão para simular discordâncias que não são assim tão profundas, quando desistimos de olhar para o que temos em comum e preferimos focar-nos naquilo que nos divide”.
Em suma, para o presidente do parlamento, a democracia fica mais fraca quando se abdica dos consensos. Nesta parte da sua intervenção, avançou alguns exemplos: “Podemos discordar quanto à política de imigração, mas todos concordamos que é preciso integrar quem chega; podemos discordar sobre o papel do Ministério Público, mas todos concordamos que a Justiça precisa de uma reforma; podemos discordar sobre o papel do Estado na sociedade, mas todo concordamos que a carga fiscal é excessiva – e que a administração precisa de modernização e eficiência”.
“Podemos discordar uns dos outros, das políticas de uns e dos outros, das ideias de uns e dos outros, mas todos concordamos que é preciso ter estabilidade política – e que o povo a deseja”, completou.
Tal como na parte inicial do seu discurso, também no fim da sua intervenção José Pedro Aguiar-Branco elogiou a mobilização dos cidadãos para as primeiras eleições livres em Portugal em Abril de 1975. Cidadãos que se mobilizaram para estar nas mesas de voto e que “nada pediram em troca”.
“Nem uma senha de presença, nem um gesto de reconhecimento público. Não foram agraciados, não foram condecorados. Eles também não sabiam se os resultados seriam aceites, também não sabiam se estariam seguros, se seriam perseguidos. E, por um apurado sentido de dever cívico, não faltaram à chamada” assinalou o presidente da Assembleia da República.
Neste contexto, José Pedro Aguiar-Branco revelou que convidou para estarem presentes na sessão de hoje alguns cidadãos que estiveram nas mesas de voto nas eleições para a Assembleia Constituinte há 50 anos.
Destacou então as presenças de Maria Emília Brederode Santos, pedagoga e mulher do falecido antigo ministro dos Negócios Estrangeiros Medeiros Ferreira, do jornalista José Pedro Castanheira e da sua mulher Lúcia Leitão. Uma referência que motivou uma prolongada salva de palmas.
“Hoje também celebramos a Maria Emília, o José Pedro e a Lúcia e o sentido de responsabilidade de tantos milhares de portugueses que, como eles, não faltaram ao país. Cinquenta anos depois, damos por adquirido que a democracia funciona. Mas se a democracia funciona é porque alguém, no anonimato mais nobre e com o sentimento mais genuíno de exigência de intervenção cívica, a fez e a faz funcionar no momento maior da livre expressão da vontade do povo português”, acrescentou, recebendo então mais uma salva de palmas.
Teresa Morais pede “prioridade absoluta” à erradicação da violência doméstica
A vice-presidente da Assembleia da República do PSD, Teresa Morais, pediu hoje “prioridade absoluta” à erradicação da violência doméstica e alertou para novos riscos para as democracias criados pelas redes sociais, num discurso aplaudido várias vezes pela esquerda.
Na sessão solene comemorativa no parlamento do 51.º aniversário do 25 de Abril de 1974 e do 50.º aniversário da eleição da Assembleia Constituinte, Teresa Morais considerou que se a democracia está hoje consolidada, também é “ainda imperfeita”.
“E se há matéria em que a sua imperfeição se manifesta, é nas desigualdades várias que resistem na sociedade portuguesa, e em particular a que ainda mantém as mulheres em níveis inferiores de participação política e decisão económica, e de maior vulnerabilidade à violência doméstica, cuja erradicação deve ser considerada uma prioridade absoluta, que do que resto o Governo já assumiu”, afirmou, considerando-o mesmo “um objetivo civilizacional”.
A antiga ministra apelou a que a democracia consiga atingir novos patamares “de igualdade, de solidariedade, de erradicação da pobreza ainda não alcançados”, quer em relação aos mais velhos, às crianças ou às pessoas com deficiência.
Por outro lado, Teresa Morais alertou que a democracia deve ser cuidada e defendida “de riscos tradicionais e de novos perigos que podem minar o regime democrático”.
“Está à nossa frente um mundo ficcionado e enganoso, que relativiza o que é essencial e cria uma realidade alternativa. As redes sociais, com o potencial que têm de comunicação, estão a tornar-se um risco para as democracias, pelo veículo de manipulação do pensamento e da vontade em que estão a transformar-se”, avisou.
Sem qualquer referência às eleições antecipadas de 18 de maio, Teresa Morais defendeu que uma democracia madura, salvaguardando a liberdade de expressão, “não deve permitir que se divulguem e partilhem, impunemente, crimes que lesam direitos fundamentais, como a integridade física, a autodeterminação sexual ou mesmo a vida, sobrecarregando insuportavelmente a vítima com uma nova forma de agressão”.
“Estamos moralmente obrigados a encontrar soluções para os novos desafios que se colocam ao Estado de Direito Democrático”, afirmou, numa das passagens aplaudidas tanto pelo PSD como pelas bancadas mais à esquerda.
A deputada recordou o 25 de Abril a partir da sua experiência pessoal, a de “uma adolescente com irmãos mais velhos” para quem a Revolução de 1974 significou que “a guerra acabou”.
“Os dias e os anos acrescentaram factos e matéria para outras interpretações e para a compreensão das muitas outras dimensões de Abril. O valor da nossa liberdade individual e coletiva. O afastamento dos extremismos que se atravessaram no seu caminho”, referiu.
No final da sua intervenção, a vice-presidente do parlamento deixou um apelo aos jovens “para que se envolvam civicamente, para que vivam os desafios do mundo real, como tanto pediu o Papa Francisco, de quem o mundo tristemente se está a despedir”.
“Para que façam prevalecer a solidariedade sobre a indiferença, a entreajuda sobre a exclusão e para que cuidem sempre da democracia”, pediu.
“Hoje povo sai à rua enquanto o Governo fica à janela”
O líder do PS acusou hoje o Governo de “ficar à janela” a ver a celebração do 25 de Abril enquanto o “povo sai à rua”, apontando um paradoxo entre maior exigência democrática e um “sentimento de desilusão”.
De cravo na lapela, Pedro Nuno Santos assumiu a responsabilidade de discursar pelo PS na sessão solene comemorativa do 25 de Abril, no parlamento, e começou por acusar o executivo de “desvalorização da data maior da democracia portuguesa”, afirmando: “hoje o povo sai à rua, enquanto o governo fica à janela”.
“51 anos depois, a democracia portuguesa vive um paradoxo entre uma maior exigência de transparência e um sentimento de desilusão”, sintetizou.
Na opinião do líder do PS, a democracia é “mais exigente do que alguma vez foi” e sujeita “os políticos a um maior escrutínio” do que em qualquer outro momento da história.
“Este imperativo democrático de maior transparência é incompatível com comportamentos de opacidade e de ocultação. Convive mal com condutas de dissimulação e de vitimização. E, sobretudo, torna insuportável a constante chantagem e infantilização dos portugueses”, criticou, numa referência implícita ao primeiro-ministro, Luís Montenegro.
Para Pedro Nuno Santos, está enganado quem acha que “os portugueses não ligam ou desconsideram a seriedade e a transparência de quem os governa”.
O líder do PS voltou depois o seu discurso para os portugueses desiludidos com os seus baixos salários, o custo de vida ou as “pessoas que têm o dinheiro contado até ao fim do mês”.
“Esta desilusão gera descrença num projeto democrático coletivo, e contribui para o crescimento de um individualismo exacerbado”, alertou.
Para Pedro Nuno Santos, “responder às promessas e aos desafios” deixados pela revolução de Abril é “saber como lidar com este sentimento de desilusão”.
A resposta, segundo o líder do PS, não está nas soluções “das diferentes direitas”, admitindo que os dois projetos da direita “são diferentes”, mas considerando que se “tocam e alimentam um ao outro”.
“Por um lado, a extrema-direita não faz outra coisa que não seja explorar e ampliar a desesperança e a legítima indignação de muitos portugueses. Sem soluções sérias e credíveis para o país, dedica-se a parasitar as desilusões do povo”, condenou.
A “direita conservadora e liberal”, segundo Pedro Nuno Santos, “usa a classe média e as suas legítimas aspirações para no fim acabar a governar para uma minoria”.
Para o líder socialista, o dever dos políticos é “o de devolver ao povo esperança num projeto coletivo, democrático e de progresso”.
“Não falo de uma esperança pueril e leviana, de uma esperança fundada em promessas vãs, movida pela demagogia e alimentada pelos truques de uma campanha permanente”, disse.
A esperança que o líder do PS pretende é a esperança defendida pelo Papa Francisco, que é “a virtude do movimento e o motor da mudança” e esperança que vive da “tensão entre a memória e a utopia que constrói os sonhos que nos esperam”.
“Um projeto para todos é muito diferente e muito mais ambicioso do que um projeto centrado na exploração do ressentimento ou na defesa do privilégio”, defendeu.
Pedro Nuno Santos começou a sua intervenção com uma saudação especial aos capitães de Abril, presentes na galeria, e ao fundador do PS e ex-Presidente da República Mário Soares, no seu centenário.
Chega diz que democracia transformou “corrupção fechada numa corrupção aberta”
O presidente do Chega defendeu hoje que a democracia transformou a “corrupção fechada” em “corrupção aberta”, alegando que os portugueses “sabem e sentem que têm uma classe política corrupta ou corrompida, capaz de vender os seus interesses”.
Na sessão solene comemorativa do 51.º aniversário do 25 de Abril de 1974 e do 50.º aniversário da eleição da Assembleia Constituinte, o presidente do Chega, André Ventura, defendeu que, embora o Governo tenha prometido “combater a corrupção”, a perceção desse crime aumentou e que os portugueses não confiam nos seus governantes.
“Tornámo-nos um país em que os portugueses sabem e sentem que têm uma classe política corrupta ou corrompida, capaz de vender os seus interesses de decisão do país por interesses que são de terceiros. E era isto o que Abril deveria ter resolvido. Porque se é verdade, como dizia o deputado António Filipe, que foram anos e anos de corrupção, o que dizer dos 50 que lhes seguiram? Que a uma corrupção fechada transformou numa corrupção aberta”, atirou.
Ventura acrescentou que a uma “corrupção sem impunidade” seguiu-se uma “em que os condenados e os criminosos andam livremente pelo país a gozar com o dinheiro e a gozar com aquilo que fizeram”.
O líder do Chega começou o seu discurso por lembrar Celeste Caeiro, alegando que a mulher que distribuiu os cravos pelos militares “morreu abandonada na urgência de um hospital à espera de ser atendida”.
“Antes de celebrarmos o que é vazio, o que não interessa a ninguém, devíamos recordar olhos nos olhos aquela mulher e perceber que depois de tanto cravo, depois de tanta festa, morre sozinha numa urgência que não lhe deu resposta, num país que não lhe deu resposta”, criticou.
Para Ventura, Celeste é um “exemplo das Celestes do país inteiro” que “morrem nas urgências”, enquanto “chegam a um posto dos correios e veem tudo a sacar subsídios menos eles e os seus filhos”.
O líder do Chega abordou ainda as críticas às forças de segurança para lembrar o assassinato de um jovem em Braga, acrescentando que, quando um caso como esse acontece, “ninguém mexe uma palha neste país para o defender”.
Sobre imigração, Ventura alegou que a chegada migrantes está relacionada com o aumento do número de mulheres violadas, assediadas ou de crimes contra crianças, prometendo combate a esse tipo de práticas.
“Nós não aceitamos que outros venham para aqui objetificar as nossas mulheres, dizê-las que elas têm que se vestir ou como é que elas não têm que se vestir”, acrescentou.
Ventura lembrou também os retornados das antigas colónias, bem como os combatentes portugueses da guerra colonial, acrescentando que, enquanto o Chega estiver no parlamento, o país “nunca pagará um cêntimo de indemnização a nenhuma antiga colónia deste país”.
No fim, André Ventura citou Salgueiro Maia para dizer que o “25 de Abril não se celebra, o 25 de Abril cumpre-se”, afirmando que o Chega é que irá cumprir o propósito da revolução.
Durante o discurso, algumas dezenas de pessoas nas galerias juntaram-se à bancada do Chega nos aplausos de pé às palavras de Ventura.
IL considera que há valores de Abril por cumprir e pede mudança
O presidente da IL considerou hoje que “parte do que Abril prometia, ainda está tão longe de se cumprir”, e defendeu que é necessária uma mudança nas próximas eleições para um “Portugal mais liberal”.
“Chegámos a meio século de democracia e afinal, parte do que Abril prometia, ainda está tão longe de se cumprir”, afirmou Rui Rocha na sessão solene do 25 de Abril na Assembleia da República, em que pediu “um Portugal mais liberal”.
O líder da IL disse que, 51 anos depois do 25 de Abril de 1974, existe hoje “liberdade política, de expressão, de imprensa, religiosa”.
“Avançámos muito nestes 50 anos. Mas também é verdade que ainda temos um longo caminho a percorrer”, referiu.
Rui Rocha elencou vários setores em que considerou haver atualmente problemas em Portugal, como a saúde, “onde há portugueses que podem escolher o seu médico” e outros que “não têm recursos para pagar do seu bolso a liberdade de escolher”.
Na habitação, prosseguiu, apesar de haver proclamações de que “é um bem essencial”, há “cada vez mais portugueses” a enfrentarem “a escassez criada por décadas de intervencionismo, burocracia, regulamentos infindáveis e carga fiscal injusta”.
O líder da IL criticou ainda que, na educação, seja a morada a determinar que escola pública podem frequentar os alunos e considerou que Portugal tem revelado “não ser para jovens”, com mais de 20% desempregados e muitos “com dificuldade em sair de casa dos pais”.
Rui Rocha disse ainda haver uma geração, a que chamou de “entalados”, que têm atualmente entre 36 e 67 anos e que têm suportado “todas as crises e sabem que continuarão a ser esmagados pelos impostos até à reforma que os penalizará ainda mais se nada for feito”.
Depois destas críticas, Rui Rocha defendeu que “a mudança é urgente e necessária” e, num reparo ao Governo da AD, considerou que essa mudança foi “novamente adiada na legislatura que agora termina pela falta de coragem para seguir o caminho das reformas e da modernização”.
“Essa mudança começa em 18 de maio. É a mudança para um Portugal mais liberal, mais moderno, mais próspero e com mais oportunidades”, disse, numa alusão à data das eleições legislativas antecipadas.
Num apelo implícito ao voto na IL nessas eleições, Rui Rocha sustentou que, para que Portugal “possa aspirar a subir a qualidade de vida dos seus cidadãos, é preciso, é urgente, é essencial reformar o Estado”, o que considerou só poder ser feito pelo seu partido.
“Só a IL tem a convicção de fazer o caminho urgente e indispensável da modernização do Estado”, referiu, considerando que é necessário um “Estado melhor, que exista para servir os cidadãos e não para se servir deles”.
“Precisamos de um Estado que seja capaz de olhar para si próprio e livrar-se do excesso de burocracia, que seja capaz de analisar e medir as consequências das regras que cria e que impõe às pessoas e às empresas. Nunca devemos esquecer-nos que a burocracia é mãe de todas as formas de corrupção”, disse.
Rui Rocha defendeu que o país precisa “de mais casas, de mais salário, de mais acesso à saúde, de mais representação, de mais maturidade política, de mais sentido de responsabilidade, de mais sentido de Estado”.
“Temos essa oportunidade em 18 de maio. Já perdemos demasiado tempo, mais ainda temos todo o futuro à nossa frente. Desta vez, é liberal. Desta vez, vamos acelerar Portugal”, concluiu.
PCP avisa que democracia está “sob ameaça” mas tem “força suficiente” para derrotar inimigos
O deputado do PCP António Filipe avisou hoje que a democracia “está sob ameaça dos que tentam denegrir as suas conquistas”, mas manifestou-se convicto de que terá “força suficiente para derrotar os seus inimigos”.
Num discurso na sessão solene do 25 de Abril, na Assembleia da República, António Filipe reconheceu que, “para muitos portugueses”, o momento atual pode ser de “desencanto, de deceção e de descrença”.
“Desencanto com o incumprimento de promessas feitas e com o defraudar de expectativas criadas. Deceção com uma ação governativa distante das promessas feitas e insensível às reais preocupações das pessoas. Descrença em relação a uma prática política que não contribui para a resolução dos problemas do povo e do país”, enumerou.
De cravo vermelho na lapela, António Filipe avisou que “a democracia está hoje sob a ameaça dos que tentam denegrir as suas conquistas”.
“Mas a luta de muitas décadas do povo português pela liberdade e a democracia, as transformações progressistas conquistadas na Revolução de Abril, a capacidade de luta já demonstrada em numerosas situações pelos trabalhadores e pelas populações em defesa dos seus direitos, e a vitalidade com que a afirmação dos valores de Abril se encontra presente nas novas gerações, são razões de confiança em que a democracia portuguesa tem força suficiente para derrotar os seus inimigos”, sustentou.
Para António Filipe, “está nas mãos do povo e na sua ação a realização dessa vida melhor que Abril iniciou” e que está “nos antípodas de uma direita retrógrada, obscurantista e profundamente reacionária”.
“Existem capacidades e a coragem necessária para afirmar os valores da democracia e para que o justo descontentamento social se assuma como uma força de luta por transformações sociais de sentido progressista”, disse.
O deputado do PCP sustentou que a democracia defende-se e afirma-se em questões como as “lutas dos trabalhadores” e do povo por melhores salários e condições mais dignas, por melhores condições de acesso ao SNS, pelo acesso à habitação, assim como na luta das mulheres pela igualdade de género e contra o racismo, a xenofobia e “todas as discriminações e formas de violência”.
A democracia afirma-se “na resistência a uma extrema-direita arrogante e obscurantista que, dizendo-se contra o sistema, representa o pior do sistema”, acrescentou.
Na opinião de António Filipe, “a alternativa terá de ser construída por aqueles que, com coragem e coerência, lutam por uma política que valorize o trabalho e os trabalhadores, que respeite os direitos económicos, sociais e culturais” do povo e que “lute pela paz e pela independência nacional”.
Recordando que, há precisamente 50 anos, se realizaram em Portugal as primeiras eleições livres, para a Assembleia Constituinte, António Filipe homenageou os deputados constituintes que souberam desempenhar “a honrosa tarefa de elaborar a primeira Constituição verdadeiramente democrática” portuguesa.
“A maioria dos que então votaram já não estão entre nós, mas deixaram para a História um testemunho de empenhamento cívico, de alegria com o exercício das liberdades, de esperança na construção de uma vida melhor que, 50 anos passados, temos o dever de transportar no presente e para o futuro e de lutar para que essa esperança não seja traída”, disse.
Depois, o deputado do PCP deixou saudou também os militares de Abril e os resistentes antifascistas que, “enfrentando a repressão, a prisão e a tortura, e sacrificando até a própria vida, se dispuseram a sofrer tudo” para que, hoje, todos possam lutar pelas suas convicções “sem ter passar pelas provações por que eles passaram”.
No início do discurso, António Filipe abordou o facto de o 25 de Abril deste ano se realizar numa altura em que foram decretados três dias de luto nacional pelo Papa Francisco, expressando pesar e condolências “a todos os católicos e à sua Igreja” e “profundo respeito” pela ação do líder católico.
Mortágua critica Governo por adiar celebrações do “dia mais feliz”
A coordenadora do BE considerou hoje que a decisão do Governo de adiar as celebrações do 25 de Abril de 1974 é “a triste confirmação que nem o dia mais feliz consegue iluminar todo o futuro de um povo”.
“Hoje, dia 25 de Abril, celebramos os 51 anos da Revolução, porque a democracia tem de saber a data em que nasceu. Que o Governo de Portugal esteja disposto a adiar as comemorações do 25, é só a triste confirmação que nem o dia mais feliz consegue iluminar todo o futuro de um povo”, criticou Mariana Mortágua.
A bloquista falava na sessão solene comemorativa do 51.º aniversário da Revolução dos Cravos e do cinquentenário das primeiras eleições livres, para a Assembleia Constituinte, numa intervenção na qual lembrou o seu pai, o antifascista Camilo Mortágua, que morreu no final do ano passado.
Mariana Mortágua começou por agradecer aos capitães de Abril, alguns sentados na tribuna: “Cumpriram a vossa missão, agora é a nossa vez. Este é o tempo que nos calhou viver”.
Na opinião da bloquista, “depois de quebrar promessas e devastar o legado de gerações, o capitalismo saiu da sua crise mostrando o que vale, rindo-se da desigualdade e dividindo povos”, gerando políticos como Donald Trump, Javier Milei, Georgia Meloni, Viktor Órban.
“Eles levantam a motosserra para dizer quem está primeiro e quem fica para trás, decidem as palavras que se gritam e as que são para apagar e escolhem que mortes são legítimas”, criticou.
Mortágua não esqueceu o conflito na Faixa de Gaza, afirmando que “o genocídio iniciado por Israel na Palestina” já matou mais 17 mil pessoas, e a “indiferença da Europa perante o crime a que assiste em direto prova que a política dos novos fascismos faz caminho”.
“Quando olhamos para gente como nós e não nos reconhecemos, não foram eles que perderam a humanidade, fomos nós. E é por isso que Gaza é a fronteira da humanidade”, sublinhou.
Mortágua deixou ainda uma questão: “De que serve adiar as comemorações do 25 de Abril se as palavras de Francisco são tão cinicamente ignoradas? As últimas que disse, denunciando o delírio da guerra, e especialmente as pronunciadas em Lisboa – «todos, todos, todos». Incluindo os sobreviventes da Palestina, as pessoas ciganas, as mulheres, os migrantes”.
Numa intervenção na qual por vezes parou, por ouvir apartes de deputados da bancada do Chega, Mariana Mortágua lembrou as primeiras eleições livres, a Constituição, e dirigiu-se sobretudo aos mais jovens, aqueles que já nasceram em liberdade.
“Admiro os jovens que hoje olham apreensivamente as ameaças do novo fascismo. Ao contrário de mim quando tinha a tua idade e aprendi a ser gente no Largo do General Humberto Delgado, tu hoje sabes perfeitamente que a democracia não está vacinada contra o mal do nosso tempo. Vês o discurso de ódio a entrar pelos pátios da escola, pela rua, pelo telemóvel. E apesar dessa ameaça e dessa apreensão, trazes a liberdade na mão. Este é o tempo que nos calhou viver, e para o enfrentar temos connosco o segredo que Celeste Caeiro um dia contou a Portugal: num cravo cabe outro mundo”, rematou.
O Governo adiou a sua “agenda festiva” de celebração do 25 de Abril de 1974 para o dia 1 de maio devido ao luto nacional pela morte do Papa Francisco, decisão que mereceu críticas à esquerda.
PAN sublinha necessidade de renovar esperança na democracia
A porta-voz do PAN defendeu hoje a necessidade de renovar a esperança na democracia nos 50 anos das primeiras eleições livres em Portugal e em véspera de legislativas antecipadas.
“Há 50 anos, o projeto democrático cimentou-se com as primeiras eleições livres. Neste ano em que somos chamados novamente às urnas, sabemos que os portugueses estão cansados da instabilidade política que tem deixado as suas vidas em suspenso”, disse Inês Sousa Real.
Num discurso na sessão solene comemorativa do 25 de Abril, no parlamento, a porta-voz do PAN sublinhou a necessidade de “renovar no espírito das pessoas a esperança na democracia”, impedindo que “desapareça da memória coletiva um tempo não assim tão distante em que vivemos em ditadura”.
Renovar a esperança na democracia implica também renovar a esperança na paz, continuou a deputada única do PAN, que lembrou as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza, e a “guerra comercial começada por um presidente dos Estados Unidos que tem mais apreço a ditaduras do que a regimes democráticos”.
“E em Portugal, uma guerra silenciosa que não dá tréguas” contra a violência doméstica e os crimes sexuais, acrescentou.
“Mais do que números, são casos reais, são mulheres, crianças e jovens a quem faltou a liberdade, a quem falharam os valores de abril. Essa sim é a verdadeira insegurança nacional que é urgente combater”, defendeu.
Numa sessão solene e que a Assembleia da República votou, e aprovou por unanimidade, um voto de pesar pela morte do Papa Francisco, Inês Sousa Real evocou também o legado do pontífice e o apelo global para proteger “a casa comum”.
“51 anos após a revolução dos cravos, é urgente fazer com que a promessa de abril de liberdade e justiça social chegue a todas as pessoas, todas sem qualquer exceção”, afirmou.
Livre afirma que a celebração “não se adia” e apela ao voto num “momento ameaçador”
A porta-voz do Livre Isabel Mendes Lopes rejeitou hoje adiamentos da celebração da revolução do 25 de Abril de 1974 e apelou ao voto, considerando que o país vive um “momento ameaçador”.
“A celebração do 25 de Abril não se cancela, não se adia. A liberdade não se festeja com reservas, muito pelo contrário, festeja-se de forma plena juntos e juntas”, defendeu a também líder parlamentar do Livre, que falava na sessão solene comemorativa do 51.º aniversário da Revolução dos Cravos e do cinquentenário das primeiras eleições livres, para a Assembleia Constituinte.
Este reparo da dirigente do Livre surge depois de o Governo ter aprovado, na quarta-feira, o decreto que declarou três dias de luto nacional pela morte do Papa Francisco, a cumprir até sábado.
Nessa ocasião, o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, anunciou que o Governo cancelou toda a “agenda festiva” e adiou as celebrações relativas ao 25 de Abril, alegando que o luto nacional pelo Papa Francisco implica reserva nas comemorações, decisão que mereceu críticas de alguns partidos à esquerda.
Numa intervenção na qual lembrou Celeste Caeiro, a mulher que deu nome à Revolução dos Cravos ao distribuí-los pelos militares nas ruas, Isabel Mendes Lopes realçou que “é destas ações, planeadas ou por acaso, individuais ou coletivas, que a História se vai fazendo” e fez um apelo ao voto.
“Nesta altura em que tanto à nossa volta parece tão ameaçador, é mesmo importante termos noção do momento que estamos a viver. O momento é mesmo ameaçador. A História mostra-nos como é tão fácil cair em ditadura, como é fácil quem quer usar o poder para si tomar conta do poder, mesmo quando os sinais estão todos lá”, alertou.
A líder do Livre salientou que “os sinais estão todos aí”, dentro e fora de Portugal, enumerando “o discurso de ódio, o atacar das instituições democráticas, o descrédito da política, o ataque à imprensa e aos jornalistas, a descrença da ciência, a promiscuidade entre poder político e homens com fortunas maiores do que muitos países”.
“Votem como se a nossa vida e liberdade dependessem disso, porque na verdade, dependem”, apelou.
A figura central do discurso de Isabel Mendes Lopes foi Celeste Caeiro, que num gesto fruto do acaso fez história e transformou o cravo “no símbolo da liberdade”.
Apesar de ter sido “um acaso”, Isabel Mendes Lopes defendeu que tal gesto “não foi uma coincidência”, porque Celeste Caeiro e os milhares de portugueses que saíram à rua naquele dia “tinham noção do momento que se estava a viver” e do que aquela data representava para o país.
Enaltecendo a afluência às urnas nas primeiras eleições livres, um ano depois da revolução, Isabel Mendes Lopes comparou o gesto de Celeste Caeiro, simples, mas marcante, ao ato de ir votar.
“A energia do pós-25 de abril que nos deu o nosso SNS, a nossa Constituição, a nossa Escola Pública, que resgatou Portugal de décadas de atraso, é a energia que precisamos para trabalhar pelo país que sabemos ser possível, na Europa que sabemos ser possível, no mundo que sabemos ser possível. Um Portugal mais livre, onde as oportunidades e os sonhos não dependam do lugar onde se nasce, onde a família onde se nasce, onde o conhecimento é de mãos dadas, com a cultura, com a experiência, um Portugal onde seja bom viver. Este é um momento para fazermos história, a nossa história, contigo, comigo, connosco”, rematou.
CDS-PP pede que portugueses “não deixem estabilidade na mão das oposições”
O líder parlamentar do CDS-PP apelou hoje aos portugueses para “não deixarem a estabilidade nas mãos das oposições” nas legislativas e recordou o voto contra do partido à Constituição em 1976 como “um hino à liberdade”.
Na sessão solene comemorativa no parlamento do 51.º aniversário do 25 de Abril de 1974 e do 50.º aniversário da eleição da Assembleia Constituinte, Paulo Núncio começou por evocar o Papa Francisco e o seu “testemunho luminoso”, passando depois ao entusiasmo dos portugueses com as primeiras eleições livres.
“É bom lembrar que houve quem não quisesse que as eleições se realizassem; houve quem apelasse à abstenção e quem impedisse partidos políticos de concorrerem”, disse, considerando que ficou à vista nas urnas que “o povo queria uma democracia europeia e ocidental, e não queria uma tutela político-militar no regime democrático”.
O dirigente democrata-cristão salientou que “o CDS esteve em risco de não concorrer às eleições da Assembleia Constituinte”.
“Lembro, por isso, os 16 deputados democratas-cristãos que foram eleitos, apesar da violência, apesar das ameaças e apesar dos cercos”, disse, exaltando o voto contra do CDS-PP contra a Constituição aprovada em 1976.
“O voto contra do CDS foi um verdadeiro hino à liberdade e à democracia pluralista em Portugal”, defendeu.
Na sua intervenção, Paulo Núncio voltou ainda a exaltar a importância do 25 de novembro e da sua celebração, agora também anual, na Assembleia da República.
“Como o CDS sempre insistiu, os dois 25s são a continuação um do outro. E se em abril ganhámos a liberdade, em novembro evitámos perdê-la!”, disse.
O líder parlamentar do CDS-PP terminou a sua intervenção com um apelo direto ao voto na AD — coligação PSD/CDS-PP, considerando que a opção nas legislativas antecipadas de 18 de maio será entre “avançar e retroceder”-
“Como são as terceiras eleições em quatro anos, há quem tema o regresso à instabilidade crónica da 1.ª República. A AD pede aos portugueses para não deixarem a estabilidade nas mãos das oposições que se entenderam para derrubar, mas não para construir”, afirmou.
Núncio destacou algumas das medidas tomadas pelo executivo em 11 meses de governação, considerando que representou “um centro-direita que é moderado na política, bem-sucedido na economia, justo no social, regulador na imigração, e certo, certinho nas contas públicas”.
“É isto que assusta as oposições de esquerda”, considerou, lembrando que, desde 1979, a fórmula AD iniciada por Sá Carneiro e Pinto Balsemão, Freitas do Amaral e Amaro da Costa e Gonçalo Ribeiro Telles nunca perdeu eleições legislativas. Ficou sempre em primeiro lugar”, afirmou, antevendo que tal voltará a acontecer porque “todas as supostas alternativas implicariam riscos severos de extremismos”.
Lusa