Francisco Faria é dos modelos portugueses com mais pé nas catwalks internacionais. Foi em Milão, enquanto lá estudava, que conseguiu o seu primeiro break global com a conceituada Dolce & Gabbana, para quem desfilou inúmeras vezes. Rapidamente, Francisco posicionou-se no patamar high end do mundo da moda. Com uma resiliência tangível, e uma garra que atribui às referências que são os seus pais, conta com mais de 85 mil seguidores no Instagram e já tem duas marcas próprias, a Blue Avenue e a Hurricane. É um sonhador inato, com um forte élan para novos e desafiantes projetos, e prepara-se para entrar na área da representação, como ator.
A FORBES esteve à conversa com Francisco, que nos contou como tudo começou. Apesar de estar presente nas mais cobiçadas semanas da moda do Mundo, afirma que as redes sociais são das vertentes mais fortes do que faz – para além de modelo, é influencer. Falámos, também, nos seus dois negócios, em particular na Hurricane, que já conta com uma enorme projeção internacional.Aliás, cerca de 95% das vendas desta marca de chapéus cowboy são para lá das nossas fronteiras. Atualmente disponível em mais de 20 pontos de venda, espalhados um pouco por todo o mundo, a Hurricane até já chegou ao Texas e ao Kuwait!
Hoje, os chapéus extravagantes podem ser vistos na cabeça de vários A-listers, como Rosalía e Maluma. Já apareceram em editoriais internacionais da Vogue, Elle, L’Officiel, entre outros.
Com o lema de que everybody can be a cowboy, a Hurricane está associada a várias causas solidárias. Recentemente, Francisco lançou uma campanha que apelou à inclusão – uma causa que o próprio lhe diz ser íntima. Mais, é uma marca plastic free e slowfashion que se guia por práticas sustentáveis. Práticas estas a que se dedica.
Orgulhoso com o sucesso do seu projeto, Francisco não se queda por aqui: contou-nos que quer dar os seus primeiros passos no mundo da representação e, inclusive, avançou-nos que vem aí uma novidade relativamente a estes últimos.
Francisco, antes de falarmos sobre as tuas marcas e dos vários projetos dos quais atualmente fazes parte, gostava de saber como é que tudo começou. Como é que entraste no mundo da moda? E o que te levou a fazê-lo?
Francisco Faria: A verdade é que nunca soube exatamente o que queria fazer, ou em que área me queria focar. Via-me a fazer várias coisas diferentes. No entanto, sempre gostei de me apresentar bem, fazer bem e fazer bonito. A moda acabou por surgir na minha vida de uma forma muito natural. A minha mãe tinha uma loja de roupa – que ainda tem hoje – e eu passava lá muito do meu tempo, depois das aulas. Acho que acabei por desenvolver uma grande afinidade com o mundo da moda. Apesar de ser uma loja para mulheres, lembro-me de ficar entretido com os padrões e as cores da roupa…
A moda acabou por surgir na minha vida de uma forma muito natural.
Uma curiosidade que existe desde sempre, portanto?
Desde pequeno, sim! E essa curiosidade fez de mim um rapaz um pouco “vaidoso”, por assim dizer. Sempre gostei de estar bem-apresentado e, na escola, tinha o que na altura eram consideradas as roupas da moda. A minha mãe também sempre teve muito cuidado com o que eu vestia, e acho que isso me foi transmitido desde cedo. O gosto pela moda começou assim.

Depois, estudei Marketing e especializei-me em Marketing Digital. Aliás, cheguei a estudar um ano de Engenheira! Mas não me identifiquei com a área e escolhi seguir um curso mais criativo.
E, em 2013, foste descoberto por uma agência de modelos. Ainda estavas a estudar, certo?
Exatamente. Fui descoberto por uma agência, através do Facebook. Já tinha pensado em fazer alguns trabalhos como modelo anteriormente, mas foi quando me contactaram que decidi experimentar fazê-lo. Nunca quis deixar os meus estudos de parte, por isso arranjei sempre maneira de conciliar a universidade com a moda.
Claro, percebo perfeitamente. Mas depois, segundo me contaste, foste um ano para Milão, em Erasmus, e aí fazes uma ‘jogada’ interessante.
É verdade! E foi lá que começou a minha carreira de modelo internacional, há cerca de 10 anos. Fui estudar um ano para Milão, que é um mercado muito forte no mundo da moda, de maneira a fazer uns trabalhos extra, como modelo, e a conhecer grandes marcas, como a Dolce & Gabanna, por exemplo. Foi com este ‘salto’ para Milão que acabei por participar nos shows deles várias vezes e que consegui o meu primeiro boost internacional.
Fui estudar um ano para Milão, que é um mercado muito forte no mundo da moda.
A ‘jogada’ acabou por ser um bom salto para continuar o meu curso, a estudar o que queria, mas a experimentar ser modelo, simultaneamente, no que é considerada uma das capitais da moda.
E quando voltaste de Milão, já estreado como modelo – e de grandes marcas! – ainda chegaste a trabalhar numa pequena empresa de consultoria. E a trabalhar mais nas tuas redes sociais, onde já estavas também a crescer.
Sim, é verdade! Cheguei a trabalhar, um ano, numa empresa de consultadoria. E é interessante porque hoje faço trabalhos de modelo frequentemente, mas social media continua a ser uma vertente muito forte de tudo o que faço. Também foi uma coisa que cresceu de maneira muito orgânica. Eu partilhava muito fotografias profissionais minhas e o meu following começou a crescer.
Social media continua a ser uma vertente muito forte de tudo o que faço.
Fui afinando a minha estética, inicialmente fiz umas pequenas colaborações com certas marcas, e, gradualmente, comecei a ser contactado por outras. Acho que os ‘ajustamentos’ que fui fazendo, às minhas redes, começaram cada vez mais a atrair marcas que se identificavam com os meus valores e a minha estética. Hoje estou muito feliz por me ver a trabalhar com várias marcas estrangeiras, e sinto que tenho conseguido fazer várias conquistas, ao nível das redes sociais; neste caso, o TikTok e Instagram.
E sempre a um ritmo muito próprio, com muita ‘garra’!
É verdade! O meu pai e a minha mãe são as duas grandes referências que tenho, e sempre tive, durante todo este meu percurso de carreira. O meu pai, que já não é vivo, teve uma carreira com o qual muito me identifico, apesar de muito distinta da minha. Foi jogador do Sporting, do Braga, jogou na Seleção Portuguesa, etc. Mas, tal como eu, que tenho uma carreira específica (a de modelo), o meu pai sempre teve um lado de empreendedor, coisa que me transmitiu muito. Além de jogar futebol, foi treinador, esteve na construção civil, teve um negócio de vinhos, entre outras coisas. Sempre foi muito mexido, com vários negócios, e apreendi a ser assim também.
O meu pai e a minha mãe são as duas grandes referências que tenho, e sempre tive, durante todo este meu percurso de carreira.
O Chico Faria, que esteve no Sporting quando ganharam três Taças de Portugal! E a tua mãe? Também é ‘muito mexida’?
A minha mãe é igual! Hoje tem 73 anos e ainda tem a loja dela. Esse ‘ritmo’ a que te referes, é fruto do que aprendi com os meus pais. Estou muito grato por tudo o que me ensinaram. Faço sempre tudo com muita garra, de facto, mas sempre com a humildade que me foi ensinada por ambos. São exemplos para mim.
Claro, é uma sorte crescer com referências assim. E, voltando aqui ao teu ano, já em Portugal, depois de voltares de Milão: o que fizeste logo depois de acabar o curso?
Quando acabei o curso, comecei logo a trabalhar com um dos maiores experts de marketing, e de luxo, em Portugal: o António Paraíso. O António é outra grande referência minha. Trabalhei com ele um ano, como responsável pela comunicação e marketing dos projetos dele. Na altura era apenas um estagiário, mas acabei por lá ficar mais um tempinho. Claro que, rapidamente, a moda começou a proporcionar-me cada vez mais oportunidades e experiências e, como era muito novo, quis aproveitar e explorar esse meu lado. Mas foi o António que despertou em mim o interesse que ainda hoje tenho pelo mundo do luxo. Aprendi imenso com ele: desde a sensibilidade à paixão pelo detalhe, que tanto distingue esse setor incrível.

E sempre tudo em simultâneo; a moda, as redes sociais, trabalhar como consultor de marketing…
Sempre. Aliás, conheci o António enquanto estava a estudar. Ainda não tinha o meu diploma, quando o António foi convidado a falar num evento na minha universidade. Fiquei a saber que procurava um estagiário, e que estava em processo de entrevistas, e, sem ainda ter terminado os meus estudos, fui falar com ele e fiquei de imediato com o estágio garantido. Foi ótimo para mim porque comecei logo a trabalhar na minha área e com alguém como o António. Isto coincidiu, também, com o hype que houve no marketing em geral – foi nessa altura que as empresas começaram a dar muita relevância a esse departamento.
Comecei logo a trabalhar na minha área e com alguém como o António. Isto coincidiu, também, com o hype que houve no marketing em geral.
É interessante, porque no meu curso só havia uma cadeira de marketing digital e era muito superficial. Logo depois do curso, decidi tirar outro curso especializado em marketing digital. Foi uma coisa mais intensiva, não chega a ser uma pós-graduação, mas percebi que era por aí que eu teria de ir para ser bem-sucedido.
Sim, e é inacreditável porque hoje o marketing digital é considerado uma tool completamente incontornável para o negócio… E, então, foi no ano seguinte que decidiste focar-te mais na moda.
Exatamente. Antes de deixar esse meu trabalho para trás, ainda cheguei a fazê-lo em modo part-time. Mas tinha 23 anos e ser modelo tem uma age gap muito definida, se era para arriscar, tinha de ser naquela altura! Foi o momento certo porque consegui juntar essa necessidade de agir rápido, como modelo, ao que tinha aprendido em marketing digital.
Ser modelo tem uma age gap muito definida, se era para arriscar, tinha de ser naquela altura.
Claro, e hoje em dia levas sempre contigo as ferramentas que aprendeste no curso e no trabalho. Mas e como é que conseguiste, logo no princípio da tua carreira de modelo, fazer o show da Dolce & Gabanna?
Leonor, sinceramente, acho que foi mesmo um claro caso da ‘lei da atração’! Sinto que manifestei que acontecesse. Eu fui para Milão com essa ideia na cabeça – a ideia de que ia trabalhar com a Dolce & Gabanna! O meu semestre começou em setembro e, em novembro, fiz o meu primeiro trabalho com eles: um lookbook. Em janeiro, fui convidado a fazer o desfile da marca na Milan Fashion Week!
O que é fantástico – querias tanto uma coisa e conseguiste-a logo! Parabéns! Novas oportunidades devem ter surgido de seguida… para não falar do posicionamento que te deu.
Sim, completamente. Nem foi tanto as oportunidades, em si, que mais me ajudaram; foi o posicionamento, como dizes, que ganhei, de facto. Depois de se trabalhar com marcas internacionais, e da dimensão da Dolce & Gabbana, ficamos logo com outra relevância a nível nacional, por exemplo. A credibilidade passou a ser outra; primeiro em Portugal, e consequentemente, surgiram mais oportunidades fora.
Foi a primeira grande marca com quem trabalhaste?
Internacionalmente, sim. Mas hoje é-me igualmente gratificante, ou uma conquista igualmente ‘forte’, poder trabalhar com marcas do mesmo tipo, como a Fendi, Dior, JW Anderson, AMI, nas redes sociais ou nas fashion weeks. E, na maioria, ser o único português a fazê-lo.

Sim, percebo. São todos grandes feitos que não seguem, necessariamente, uma ordem hierárquica nas tuas conquistas. Sentes que o mercado português reconhece estes teus milestones?
É interessante, porque sinto que são conquistas muito grandes, pessoalmente, mas que por vezes não têm tido muita relevância em Portugal. Talvez por serem lá fora e não em piso nacional, mas eu próprio sinto muito orgulho no que ando a conseguir.
Claro, estás a deixar o teu cunho no mundo da moda, e acabas por também representar o nosso país lá fora, o que é muito positivo. E diz-me, Francisco, quando é que decides começar as tuas próprias marcas?
Decidi fazê-lo quando comecei a dedicar-me mais ao mundo da moda, no geral. Comecei com a Blue Avenue, uma marca masculina de swimwear. É uma marca que surgiu por não conseguirmos encontrar, no mercado nacional, uns calções de banho que achássemos bonitos e com um fitting perfeito. Na altura, os calções cá ou eram muito compridos, ou eram muito curtos, não existia a ‘meia perna’ que toda a gente queria. Era muito difícil de encontrar os modelos certos. Eu entrei para a marca no seu primeiro ano e, atualmente, é minha e de mais dois amigos meus.
Comecei com a Blue Avenue, uma marca masculina de swimwear.
É um projeto mais sazonal que a Hurricane, e é mais comercial, também. Eu adoro a Blue Avenue porque, em termos de imagem, tem uma vibe muito vintage, muito old money.
A Blue Avenue foi o teu primeiro passo no mundo de empreendedorismo?
Sim, praticamente. Percebi que o meu futuro ia passar muito pela moda, em várias das suas vertentes. Gosto, também, de fazer muitas coisas e coisas diferentes. Tenho os meus negócios, as minhas marcas, tenho a minha social media, sou modelo, faço trabalhos na capacidade de Art Director e Creative Director (para outras marcas que me contratam para o efeito), e organizo várias produções. Recentemente, fiz parte de um filme, que vai sair em 2024! O mercado ainda não me vê como ator, mas é uma das minhas paixões.
Recentemente, fiz parte de um filme, que vai sair em 2024! O mercado ainda não me vê como ator, mas é uma das minhas paixões.
Fazes imenso! E como surgiu a oportunidade de fazeres um filme?
Queria muito fazer uma coisa que me desafiasse, acho importante experimentar coisas novas. Já faço moda há 10 anos, e já me habituei à rotina, por assim dizer. Mas gosto de fazer sempre mais e comecei a pensar em como podia expor-me a uma nova situação de aprendizagem, àquele desconforto desafiante que nos faz crescer.
Queria muito fazer uma coisa que me desafiasse, acho importante experimentar coisas novas.
Sempre me disseram que era muito comunicativo e gestual, e falei desta minha ideia à minha agência. Fiz uma audição, para o tal filme, e passei à segunda fase. Fui chamado para a segunda audição, em Lisboa, e acabei por ficar com o papel como um dos protagonistas do filme! Estou muito contente porque é um filme que vai para os cinemas e estou a dar os meus primeiros passos no mundo da representação!
Fantástico. É um projeto português?
Sim, completamente português. Quando me disseram que tinha ficado com o papel, fui tirar um curso intensivo de três meses, um curso de acting, para me preparar para as filmagens. Era o único sem experiência na representação e queria estar preparado. Estou muito grato pela oportunidade e adorei a experiência. Quero fazer mais coisas na área!

Voltamos aqui ao que me contaste anteriormente: que adoras fazer várias coisas diferentes e estar sempre ocupado.
Sim, completamente. Gosto de estar ocupado e fazer várias coisas. Não consigo abdicar, por exemplo, da social media. As experiências que me traz são únicas. Sinto-me um sortudo por conseguir viajar, conhecer artistas, ir a eventos que adoro, etc. Ainda no outro dia me convidaram para um evento e, quando olhei à minha volta, vi-me rodeado de pessoas incríveis. Tinha ao meu lado um ator da Netflix, com quem estive a trocar ideias, conheci um bailarino que tinha acabado de chegar de Nova Iorque e que, na semana seguinte, ia fazer um uma performance para a Valentino, e por aí adiante. Esta exposição a pessoas diferentes, de países e backgrounds distintos, enriquece-me muito. Sou um sortudo e não troco isto por nada.
Sou um sortudo e não troco isto por nada.
Percebo perfeitamente. Aprendemos sempre imenso, vamos encetando um networking global, e ficamos com novas perspetivas de vida também. O que me leva aqui a outro tópico: a Hurricane.
É verdade. A Hurricane é uma marca começou há dois anos e, assim como a Blue Avenue, também começou pela identificação, minha, do que eu considerava uma falha no mercado. Sempre gostei de chapéus e queria uma marca cool, relacionada com os mundos da arte, da moda, da música, que fosse jovem e que, ao mesmo tempo, que tivesse qualidade e respeitasse a chapelaria portuguesa.
Queria uma marca cool, relacionada com os mundos da arte, da moda, da música, que fosse jovem e que, ao mesmo tempo, que tivesse qualidade e respeitasse a chapelaria portuguesa.
Em Portugal, somos muito bons na área de acessórios e calçado, e sabia que também criávamos bons chapéus. É um setor com muita história no país, e haviam produções locais que faziam coisas incríveis à mão. A ideia surgiu um pouco por aí.
E criaste um conceito “disruptivo”, como lhe chamas, que apoia a nossa herança chapeleira.
Sim! Queria uma marca sustentável e slow fashion, que se encaixasse no meu meio, a moda. Tinha de ser cool e wearable, a um preço justo, e que apoiasse causas solidárias e inclusivas. São chapéus que se inserem no mundo da moda, do streetwear, nas fashion weeks, e para uma variedade grande de públicos.
E a que causas solidárias está associada a Hurricane?
Todos os anos fazemos parte de um projeto que se chama Bazaar for Good, que é organizado por uma celebridade brasileira, a Marta Graeff, em Miami. Conta com várias personalidades, como a Camila Coelho, por exemplo, e várias marcas, como a Hurricane, de forma a juntar fundos para crianças um pouco por todo o mundo. É um evento que tem vindo a duplicar, anualmente, o dinheiro que consegue angariar, e nós doamos produtos nossos para que sejam lá vendidos – sendo que o lucro das vendas reverte a favor da organização, claro. Isto na vertente mais prática da nossa associação a causas solidárias.
Numa vertente mais de influencer, a Hurricane está cada vez mais focada em inclusão. Recentemente, fizemos uma campanha que se destaca exatamente neste ponto. Comecei a achar que o público da marca estava a ser “demasiado cool” e queria uma coisa mais universal. Quero que qualquer pessoa possa o usar o meu chapéu, sem perpetuar a ideia de que os nossos clientes têm de ser pessoas perfeitas. Queria mais diversidade.
A Hurricane está cada vez mais focada em inclusão. Quero que qualquer pessoa possa o usar o meu chapéu, sem perpetuar a ideia de que os nossos clientes têm de ser pessoas perfeitas.
Sim, ou seja, usar campanhas para promover estes debates e apelar à inclusão.
Exatamente. É um projeto que fiz com o Frederico Martins, que é um dos meus fotógrafos preferidos, e com muita experiência internacional também. A direção criativa foi feita com o Silv3r Studio, e fotografámos 30 pessoas – que não são modelos, são pessoas “reais”. Foi um open casting e recebemos imensas candidaturas. Pessoas de todas a idades, de backgrounds diferentes… o slogan era simples: Everybody can be a cowboy.
Everybody can be a cowboy.

Falaste-me, também, da vossa vertente sustentável.
Sim, é verdade. Somos uma marca plastic free e os nossos chapeús são feitos de lã 100% natural e biodegradável. São feitos à mão e fazemo-los hat by hat; ou seja, unidade a unidade. Não produzimos em excesso, somos uma marca slow fashion, produzimos à medida que o sentimos necessário.
Somos uma marca slow fashion, produzimos à medida que o sentimos necessário.
Também me orgulho muito de ter conseguido implementar estas noções na minha marca. Na Blue Avenue também temos o cuidado de não ter muito stock de cada modelo e de, ao mesmo tempo, termos uma grande diversidade de modelos para garantir inclusão. Mas na Hurricane fomos ainda mais longe.
Os produtos da Hurricane são produzidos em Portugal?
São, todos. Produzidos localmente, por artesãos portugueses, o que considero um processo muito bonito. É apaixonante vê-los a fazer os chapéus, tudo de uma forma muito “medieval”, quase.E é gratificante saber que estamos a ajudar a produção local.
É gratificante saber que estamos a ajudar a produção local.
E, segundo sei, trata-se de uma indústria que esteve em declínio, durante algum tempo.
É verdade. Promover a chapelaria portuguesa é um dos nossos objetivos. Tem sido todo um processo cheio de história, e fazê-lo com cores como as que escolho é divertido e um statement. São cores extravagantes! Hoje em dia, os nossos chapéus são vistos na cabeça de celebridades como a Rosalía, Maluma, etc. E estão na imprensa internacional também. Temos editoriais na Vogue, na L’Officiel, na Elle… Na série Elite, na Netflix, usam os nossos chapéus. Orgulho-me muito com as conquistas da marca.
Orgulho-me muito com as conquistas da marca.
Com valores tão firmes, e assentes em noções tão sólidas de sustentabilidade, inclusão, e solidariedade, tiveste dificuldade em saber como lançar um projeto destes?
Com o conceito como o da Hurricane, e sendo que o meu forte é a comunicação (a direção criativa, a estética, a visão da marca, etc.), precisei de alguém cujo forte fosse o produto. Era essencial ter um sócio com o know-how da área. Foi assim que conheci a minha sócia, a Tânia Senra, que tem experiência em chapelaria. Marcámos uma reunião sem nos conhecermos e, logo na primeira vez em que falámos, fechámos negócio! Partilhamos a mesma visão e, apesar de ser muito arriscado começar projetos com pessoas que não conhecemos, houve um clique entre nós os dois. Como o próprio nome indica, a Hurricane “leva tudo à frente”.
E é uma marca com grande projeção internacional. Aliás, 95% das tuas vendas são para o estrangeiro. Diz-me, quais são os teus maiores mercados?
Posso adiantar que somos muito fortes em Portugal, em Espanha, e na Europa, em geral. Mas, identificar o nosso público, em concreto, é-me muito difícil. Digo isto porque, por exemplo, sou capaz de vender muito para Israel um dia e, no dia a seguir, vender para o Kuwait. E, de repente, para Los Angeles, e por aí adiante. É muito aleatório. Acho mais fácil categorizar o nosso público não geograficamente, mas sim pelos seus gostos. Diria que são pessoas fashion forward.
Acho mais fácil categorizar o nosso público não geograficamente, mas sim pelos seus gostos. Diria que são pessoas fashion forward.
Claro que também tenho chapéus mais simples, mas, por serem chapéus feitos à mão e serem de luxo, vários clientes nossos compram os chapéus para os terem como objetos decorativos, em casa! Daí dizer que fashion forward é uma categoria mais abrangente quando tento definir o nosso público.

E sempre a salientar que o facto de a marca ser portuguesa. Onde é que vendem a Hurricane, sem ser online?
Sempre, e com imenso orgulho! As nossas caixas dizem todas Born in Portugal. Explicamos que é um produto feito à mão, localmente. Damos muita importância ao nosso país – até para a conhecer os nossos fabulosos artesãos!
As nossas caixas dizem todas Born in Portugal.
Atualmente, temos mais de 20 pontos de venda, por todo o mundo. Em Lisboa, estamos na House of Curated, exclusivamente. Também estamos em Madrid, Barcelona, Ibiza… mas depois temos uma loja no Texas e uma outra loja no Kuwait! É mesmo aleatório.
Atualmente, temos mais de 20 pontos de venda, por todo o mundo.
São as lojas que vêm ter contigo, para vender a Huriccane nos espaços delas?
Sim, são sempre as lojas que entram em contacto connosco. São lojas multimarca que querem algumas das nossas peças, e escolhemos quais as com que aceitamos fazer negócios. Por estarmos inseridos num patamar de luxo acessível, faço uma “avaliação” às lojas para ter a certeza que se enquadram com os nossos produtos. Às vezes vendemos na Moda Lisboa, em formato pop-up stores, mas é sempre temporário, cerca de três dias.
Por estarmos inseridos num patamar de luxo acessível, faço uma “avaliação” às lojas para ter a certeza que se enquadram com os nossos produtos.
Mas então, estão a crescer imenso.
A Hurricane está a crescer muito, é verdade. Preciso de scale up, e começo a sentir a necessidade de ter uma equipa maior. Até porque tenho outros projetos em mãos.
A Hurricane está a crescer muito. Preciso de scale up.
Atualmente, sou eu e a minha sócia, Tânia Senra. Ela é incrível e lida com tudo inerente ao nosso manuacturing; e eu trato da comunicação, PR, asseguro Direção Criativa, etc. Tenho uma terceira amiga que trabalha connosco em part-time, nas áreas do customer service e das newsletters. Trabalho também com outros dois freelancers para assegurar os serviços de design gráfico e ter uma ajuda com o site e anúncios.
Atualmente, sou eu e a minha sócia, Tânia Senra.
Um dos meus objetivos é, também, o de aprender a delegar mais! Terei de o fazer quando a equipa aumentar. E, dessa forma, vou ter mais tempo para me dividir um pouco por todos os meus projetos, como o da representação.
Um crescimento muito rápido – e que dá asas para ainda mais e novos objetivos. Teus e vossos, como equipa.
Sim, felizmente! Aliás, para quem não sabe, acho interessante mencionar o facto de que o nosso primeiro escritório era numa garagem, na casa da minha sócia Tânia. Claro que dissemos sempre que fazia parte desta coisa toda de ser empreendedor, mas ficámos um ano inteiro naquele local. Em 2023 queríamos ter um escritório maior – e assim o fizemos.
O nosso primeiro escritório era numa garagem.
Outro objetivo da marca é o de diversificar o nosso catálogo de produtos e de atingir um público ainda maior. Sabemos que não é fácil (por ser uma categoria mais “de nicho”), mas gostava de o conseguir sem por isso fugir à nossa identidade. Fazer mais colaborações com outras marcas é, também, um propósito que temos.

Por fim, e sobre ti, Francisco, como resumirias os teus projetos futuros?
Gosto imenso de perguntas assim porque sou uma pessoa muito focada no futuro. Diria, numa frase, que quero ter ainda mais projetos; gosto muito de estar ocupado.
Diria, numa frase, que quero ter ainda mais projetos; gosto muito de estar ocupado.
No que toca ao mundo da moda, quero fazer e garantir mais produções. Quero consolidar a minha carreira internacional, alargando-a, e continuar a trabalhar com as marcas com as quais colaboro atualmente. Abraçar novos desafios é-me essencial, assim como o é que a Hurricane ganhe um posicionamento mais forte lá fora. E, para terminar, lançar-me como ator, como te tinha dito. Gosto de challenges.