Há cerca de um ano fui a um espetáculo de declamação de poesia. A poeta, estrangeira, autoproclamada feminista, fez-me ir ao dicionário procurar o equivalente a misoginia, mas em situação contrária: misandria, aprendi nessa noite. Em que a sala estava cheia e as mulheres aprovavam fervorosamente. Não era feminismo. Era um ato de maldade, com alguma poesia pelo meio, histórias em que o homem era gozado, desrespeitado. Isso não é feminismo. É, lá está, misandria. Ou, até, “feminazismo”, um feminismo defendido por mulheres que se consideram superiores ao género masculino.
Então e a igualdade? A humildade?
Acho que, antes da maldade, o que fazia a plateia vibrar era ignorância. A causa de muitos preconceitos, ainda por combater.
Já tive um chefe que decidia que eu tinha de viajar durante vários dias e pedia (ou mandava) a secretária comprar a passagem – de avião ou de comboio – sem sequer me perguntar se eu podia. Já tive outros projetos em que o chefe, quando me queria dizer algo, dava recados por um colega. Já tive trabalhos em que o valor que ganhei tinha menos um zero que os meus colegas homens que foram fazer o mesmo que eu nesse dia.
Sim, ainda há muito a fazer na indústria. Atrevo-me a dizer que se devia começar pela educação. Não, pela humildade. Para aceitar que ainda têm de aprender. Sem matéria, como mudamos?
Há uns tempos li um livro em que a autora conta que um amigo a chamou de feminista quando ela tinha quatorze anos. Ela não sabia o que isso significava mas, como o comentário dele tinha um tom acusatório, absteve-se de perguntar e investigaria mais tarde.
Cruzou-se, já adulta, com pessoas que pensavam que as feministas eram as mulheres que não se depilavam ou não se lavavam. Parecem outros tempos. Foi há cerca de 10 anos que Chimamanda Ngozi Adichie partilhou esta e outras estórias que aqui resumi. E foi há mais dezenas que as viveu. São episódios contados numa “Tedx talk”, e o ensaio foi posteriormente publicado numa pequena edição chamada “Todos devemos ser feministas”.
Mas foi há bocado, também. Porque a evolução demora. E, por vezes, parece regredir.
Haverá um dia em que isto nem é assunto. Apenas História. Assim seja.