Startup portuguesa usa IA para criar pacotes de viagens mais acessíveis… e quer ser um unicórnio

Foi em 2019 que quatro jovens portugueses se uniram a outros dois dinamarqueses para resolver um problema comum a muitos viajantes: encontrar, em apenas alguns segundos, pacotes de viagens que incluam avião e hotel, mas também comboios, autocarros e locais a visitar, ao menor custo possível. Foi assim que surgiu a startup Tryp.com, financiada por…
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A Tryp.com, fundada por portugueses, está sediada na Dinamarca e procura investidores. Já recolheram um milhão de euros, mas precisam de mais para competir numa indústria de 400 mil milhões de euros.
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Foi em 2019 que quatro jovens portugueses se uniram a outros dois dinamarqueses para resolver um problema comum a muitos viajantes: encontrar, em apenas alguns segundos, pacotes de viagens que incluam avião e hotel, mas também comboios, autocarros e locais a visitar, ao menor custo possível. Foi assim que surgiu a startup Tryp.com, financiada por business angels na Dinamarca, projeto que procura agora novos investidores para dar o salto. A ambição, essa é a de chegar a ser um unicórnio (startups avaliadas pelo mercado em mais de mil milhões de dólares).

André Sousa, 27 anos, co-fundador e atual CEO, sedeado em Copenhaga, conta à Forbes, como surgiu a ideia de negócio. “Em 2019 fiz uma viagem à China com a minha mulher, na altura ainda namorada, para visitar a família dela, e andámos a visitar várias cidades na Ásia. Planear essa viagem foi um stress enorme. O que fazíamos era ir ao Google procurar tabelas dos voos e tentar fazer combinações com esses voos”, relembra.

“Queríamos ter uma solução que permitisse a qualquer pessoa criar viagens a custos que normalmente não seriam possíveis, e conhecer assim o mundo aos melhores preços, indo para sítios que não estaria sequer à espera”, explica André Sousa.

Depois disso pensou: “o que estamos aqui a fazer manualmente com as várias combinações, poderia ser feito, melhor e mais rapidamente, por um computador”. André já conhecia Hélio Domingos, 26 anos, atual CTO da Tryp.com, de uma competição na Agência Espacial Europeia, destinada a construir satélites. “Nós éramos de equipas concorrentes: o Hélio ganhou a competição e eu fiquei em segundo. Ficámos em contacto e pensei nele quando decidi avançar com esta ideia”, diz. “Queríamos ter uma solução que permitisse a qualquer pessoa criar viagens a custos que normalmente não seriam possíveis, e conhecer assim o mundo aos melhores preços, indo para sítios que não estaria sequer à espera”, explica André Sousa.

O arranque do projeto

Depois de conversarem ficaram entusiasmados com a ideia e lançaram mãos à obra, tendo juntado à equipa mais dois portugueses e dois dinamarqueses. O André vivia na Dinamarca e o Hélio em Portugal e já em plena pandemia de Covid-19, foram trabalhando à distância. “Em 2021, levantámos a nossa primeira ronda de investimento e desde então temos tido uma trajetória de crescimento enorme. Já levantámos quase um milhão de euros em investimento, e temos dois milhões de utilizadores na nossa plataforma”, explica o CTO.

No início, os empreendedores mantiveram os seus empregos – o Hélio trabalhava numa startup de IA e o André numa startup de robótica – e trabalhavam no projeto no tempo livre. Só em 2021 viram que tinham potencial para se lançarem sozinhos, e durante quatro meses, até chegarem os primeiros investidores, auto-sustentaram o negócio.

“O nosso objetivo foi alterar completamente o modelo da forma como as pessoas planeiam as suas viagens”, explica Hélio Domingues.

“O nosso objetivo foi alterar completamente o modelo da forma como as pessoas planeiam as suas viagens”, explica Hélio Domingos. De início a tarefa não foi fácil: como qualquer startup estiveram muito centrados no desenvolvimento do produto, o que não foi fácil, pois era complicado ter acesso aos dados. “A indústria de viagens é muito protecionista e não deixa que novas startups entrem no mercado. A nossa maior dificuldade foi estabelecer contactos com a indústria, para ter acesso a dados de voos, de autocarros, de comboios, e principalmente da acomodação, dos hotéis, o que é ainda mais complicado”, explica Hélio Domingos. Estiveram mais de um ano a tentar criar as infraestruturas necessárias para poder manusear estes dados e fazer com que a Inteligência Artificial (IA) funcionasse em cima deles de forma rápida, “porque os utilizadores não podem estar à espera 10 ou 20 segundos, têm de ter resposta em menos de 3 segundos”, diz Hélio.

A plataforma criada usa IA para agrupar, de maneira inteligente, voos, hotéis, comboios e autocarros, criando viagens únicas e personalizadas, aos mais baixos custos, fugindo ao modelo atual das agências de viagem.

A necessidade de novos investimentos

As dificuldades em angariar investimento surgiram depois do produto desenvolvido. Numa indústria como esta é sempre mais difícil, como diz André Sousa, mas encontraram esses investidores na Dinamarca, através de business angels. “Os investidores acreditaram no nosso projeto desde o início e isso foi importante para nos dar a confiança que precisávamos”, explica o CEO da empresa. Esta indústria vale 400 mil milhões de euros por ano, e os investidores veem o poder disruptivo da solução. “O seu potencial é gigante e é uma aposta dos investidores que a Tryp.com se torne um unicórnio. Estamos prestes a entrar numa nova ronda de investimento de larga escala”, refere André Sousa. Os investidores atuais apenas têm 15% do capital.

“O seu potencial é gigante e é uma aposta dos investidores que a Tryp.com se torne um unicórnio. Estamos prestes a entrar numa nova ronda de investimento de larga escala”, refere André Sousa.

O modelo de negócio é simples: os hotéis pagam comissões para que a plataforma revenda o seu conteúdo e isso acontece com todos os outros conteúdos. O crescimento está focado no mercado europeu, onde está a vender bem, mas a ideia é estar a trabalhar em todos os mercados do mundo. O consumidor mais jovem é o seu principal target.

Anuindo que muito ainda está por fazer, as prioridades da equipa de gestão são lançar a aplicação para mobile em IOS e melhorar cada vez mais o sistema de recomendação. “Cada vez que o cliente vai à nossa plataforma vamos aprender quais as interações que está a fazer, os gostos, e assim melhoramos as recomendações. Também vamos lançar uma plataforma de gamificação para incentivar a utilização da aplicação e melhorar cada vez mais a sugestão de produto que fazemos”, explica Hélio Domingos.

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