Duas obras da pintora portuguesa Paula Rego foram recentemente penduradas numa das salas da residência oficial do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, em Downing Street, Londres, usada para receber líderes internacionais.
As duas telas figuraram proeminentemente em fotografias dos encontros de Starmer com o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, na quinta-feira, em Londres.
Propriedade da Coleção de Arte do Governo britânico, as telas em questão são “Study for Crivelli’s Garden” e “Study for Crivelli’s Garden (The Visitation)”, as quais foram produzidas entre 1990 e 1991, durante uma residência artística de Paula Rego no museu National Gallery.
Ambas fazem parte de uma série de estudos para o mural de 10 metros de largura “O Jardim de Crivelli”, encomendado para uma parede do restaurante da ala moderna da instituição.
O mural foi inspirado pelo retábulo “La Madonna della Rondine”, elaborado no século XV por Carlo Crivelli.


No entanto, esta opção está a ser polémica no Reino Unido. Isto porque as duas obras de Paula Rego foram substituir retratos da rainha Isabel I (1533-1603) e do explorador Sir Walter Raleigh (1552-1618).
Uma das vozes críticas é de Robert Jenrick, o candidato conservador à liderança, afirmou: “Isabel I foi uma das nossas líderes femininas mais emblemáticas. É uma heroína de quem gosto de falar com as minhas filhas. “Retirar o seu retrato de Downing Street – juntamente com o de Walter Raleigh – parece revelar uma estranha aversão à nossa história por parte deste Governo trabalhista.”

“A mudança de obras de arte foi planeada há muito tempo, desde antes das eleições, e foi programada para assinalar os 125 anos da Coleção de Arte do Governo”, indicou um porta-voz do primeiro-ministro.
Recentemente, Keir Starmer foi criticado por remover retratos dos antigos primeiros-ministros William Ewart Gladstone (1809-1898) e Margaret Thatcher (1925-2013) do seu escritório.
“Uso o escritório para ler em silêncio durante a maior parte das tardes (…). Não tem nada a ver com Margaret Thatcher. Não gosto de imagens e fotografias de pessoas a olhar para mim. Sempre senti isso na minha vida”, explicou, em declarações à BBC.
A Coleção de Arte do Governo britânico possui mais de 15 mil obras de arte desde o século XVI até à atualidade, sendo usada para “promover a arte, história e cultura britânica por todo o mundo”.
Três outras gravuras de Paula Rego fazem parte da coleção: “Young Predators” encontra-se na residência e escritório da Ministra das Finanças, Rachel Reeves; “Crow [Corvus Corone]”, nas instalações da Autoridade Tributária HMRC; e “The Guardian”, no Consulado-Geral do Reino Unido em Chicago, nos Estados Unidos.
Nascida em Lisboa, Paula Rego (1935-2022) começou a desenhar ainda em criança e, com 17 anos, a conselho do pai, foi estudar para a Slade School of Fine Arts, em Londres, cidade onde viria a fixar residência e a conhecer o futuro marido, o artista inglês Victor Willing.
Em 2010, a artista, que também tinha nacionalidade britânica, foi ordenada Dama Oficial da Ordem do Império Britânico pela Rainha Isabel II.
Paula Rego distinguiu-se pela singularidade da obra, inspirada na literatura e nas experiências pessoais, e marcada, ao longo das décadas, pela defesa dos direitos das mulheres, nomeadamente na série dedicada ao aborto e em outras sobre opressão e repressão feminina.
com Lusa