“Lisboa já foi a capital da espionagem do mundo ocidental, durante a Segunda Guerra Mundial. Ou antes da Segunda Guerra Mundial, quando Portugal não estava envolvido nas hostilidades. Parecia que todas as agências de espionagem do mundo tinham uma grande operação aqui em Lisboa. E claro, estive no Casino Estoril, que foi o cenário do Casino Royale”.
Com esta descrição, não é de estranhar que tenha sido em Lisboa que encontrámos Terry Hayes. Autor de filmes como ‘Mad Max’, ‘A Verdadeira História de Jack, o Estripador’ e ‘Payback – A Vingança’, e dos livros ‘Peregrino’ e ‘O Ano do Gafanhoto’, o último, que deu o mote para esta conversa, traduzido este ano para português.

Natural da Austrália, mas com uma carreira que o levou aos quatro cantos do mundo, estava no Reino Unido no momento em que a pandemia causada pela covid-19 começou a dar que falar. Sem a possibilidade de regressar a casa, decidiu ficar na Europa, mas mudar de país. “Dei uma vista de olhos no Youtube. Lisboa tem um custo de vida muito razoável e tem praias. É um pouco como a Austrália. E as pessoas dizem que a comida é ótima. Não queria ficar em Inglaterra durante seis meses, especialmente no inverno”, pensou na altura, realçando também o fácil acesso a toda a Europa, sendo que viaja frequentemente a trabalho.
Resolvida a questão do alojamento em plena pandemia, era hora de dar continuidade a um dos trabalhos mais esperados pelos seus fãs: o livro ‘O Ano do Gafanhoto’. Que chegou às livrarias uma década depois do enorme sucesso ‘Peregrino’.
“É geralmente descrito como um livro de espionagem. Eu não penso assim. Vejo-o muito mais como uma história de aventura arrebatadora e, espera-se, épica”, conta Terry à Forbes. O autor tenta fugir um pouco da forma como estas histórias são contadas nos Estados Unidos, onde os atos heroicos e o triunfo dos valores americanos estão sempre em cima da mesa, ou no Reino Unido, onde a tristeza está muito representada. “Não sou muito bom a escrever coisas que derivam de uma determinada cultura. Eu diria que [‘O Ano do Gafanhoto’] é sobre uma pessoa, um homem relativamente comum que parte numa viagem extraordinária e encontra dentro de si uma coragem e recursos que talvez residam dentro de todos nós, mas que em grande parte não são descobertos”, diz.
Com temas como a tecnologia da invisibilidade, um personagem capaz de pilotar um submarino nuclear, como há muito poucos no mundo, e uma mentalidade muito científica, em que se acredita em factos, Terry procurou criar uma história onde vai “desafiar todas essas crenças, dizendo-lhe: ‘Podes pensar que consegues compreender muita coisa, como todos nós, mas o universo é muito mais misterioso do que isso’”.
(Artigo completo na edição de dezembro/janeiro da Forbes. Nas bancas.)