Opinião

Incêndios na Califórnia e as casas em Madeira

João Figueiredo

Os incêndios na Califórnia trouxeram consigo a habitual torrente de imagens dramáticas e argumentos polémicos. Entre elas, a fotografia de uma casa de betão, intocada pelas chamas, rodeada de destruição. “É isto que precisamos, tudo em betão!”, declararam alguns, como se esta fosse a resposta universal ao problema. Mas este argumento é tão ingénuo quanto apontar para a única casa de madeira que resistiu a um terremoto na Turquia e afirmar que só a madeira é a solução. Não se trata do material em si, mas do contexto, do método e, mais importante, da preparação, planeamento e projeção para o risco.

O verdadeiro erro está na obsessão em encontrar um material “mágico” que resolva tudo. A madeira não é perfeita, nem o betão, nem o aço. O que importa é o método. Casas de madeira podem ser altamente resistentes ao fogo se construídas com sistemas que retardam a combustão, como o uso de madeira tratada ou lamelada. Podem ser seguras em zonas sísmicas, pois são flexíveis perante movimentos do solo. Mas estas soluções exigem inteligência e pragmatismo, não purismo.

Os incêndios não distinguem materiais, mas distinguem métodos. Quando uma casa é projetada para resistir ao seu contexto – seja através de paisagismo que reduz a propagação de chamas ou de telhados que evitam que fagulhas entrem – tem muito mais hipóteses de sobrevivência, independentemente do material. O problema não é a madeira. É a nossa permanente incapacidade de planeamento.

Insistir em soluções simplistas como “tudo em betão” é ignorar a complexidade do problema. A Califórnia não está a arder porque as casas são de madeira. Está a arder porque os incêndios se tornaram incontroláveis devido à má gestão florestal, à ausência de planeamento urbano adequado e à intensificação das mudanças climáticas. Culpar a madeira é olhar para o lado errado do problema.

Em momentos de crise, como os incêndios devastadores da Califórnia, salvar uma casa é um privilégio raro. Quando até os quartéis de bombeiros sucumbem às chamas, é óbvio que o foco deve estar em salvar vidas. E, neste campo, a madeira oferece uma vantagem incontornável: previsibilidade. Diferente de outros materiais que podem colapsar de forma súbita, a madeira permite antecipar o momento em que falhará, oferecendo tempo para evacuar e proteger o mais importante. É uma lição de humildade perante os elementos: construir para reduzir riscos, não para alimentar ilusões de invulnerabilidade.

Mais do que procurar um material ideal, os Estados Unidos – e o mundo – precisam de mudar radicalmente a forma como constroem. Precisamos de olhar para os métodos e adaptá-los ao ambiente, ao risco e à segurança das pessoas. Porque, no final, salvar vidas é mais importante do que salvar uma casa. E a madeira, quando bem utilizada, não só salva casas, como oferece algo que poucos materiais conseguem: tempo para escapar, para reagir, para viver. E isso, no meio do caos, vale mais do que qualquer fotografia de uma casa intacta.

João Figueiredo,
CEO da Carmo Wood Engineering

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