A mais recente chantagem de Trump contra a Ucrânia

O presidente dos EUA, Donald Trump suspendeu toda a ajuda militar à Ucrânia esta segunda-feira, de acordo com vários meios de comunicação, dois dias depois de ter tido uma reunião desastrosa na Sala Oval com o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy e de, em reação, os países europeus terem anunciado apoio adicional à Ucrânia na guerra…
ebenhack/AP
Depois da reprimenda dada a Zelensky na Sala Oval da Casa Branca, em frente às câmaras televisivas, e de ter ordenado uma pausa nas operações cibernéticas contra a Rússia, Donald Trump decidiu agora suspender toda a ajuda militar à Ucrânia.
Economia

O presidente dos EUA, Donald Trump suspendeu toda a ajuda militar à Ucrânia esta segunda-feira, de acordo com vários meios de comunicação, dois dias depois de ter tido uma reunião desastrosa na Sala Oval com o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy e de, em reação, os países europeus terem anunciado apoio adicional à Ucrânia na guerra com a Rússia.
Trump ordenou uma pausa em toda a ajuda militar designada para a Ucrânia, avançou a Bloomberg, citando um alto funcionário não identificado do Departamento de Defesa que afirmou que a pausa duraria até que os líderes da Ucrânia “demonstrassem um compromisso de boa fé com a paz”.

A Casa Branca não respondeu imediatamente ao pedido de comentário da Forbes Internacional sobre a suspensão da ajuda, mas um funcionário não identificado da Casa Branca justificou à Associated Press que os EUA estavam a “fazer uma pausa e a rever” a ajuda para “garantir que está a contribuir para uma solução”.

Trump determinou a suspensão da ajuda militar a Kiev porque “pretende ter Zelensky comprometido com o objetivo da paz”, segundo fontes da Casa Branca.

Uma fonte anónima da administração Trump já tinha, contudo, deixado no ar este cenário, ao declarar anteriormente ao The New York Times que o presidente norte-americano e os seus conselheiros discutiriam na segunda-feira “suspender ou cancelar a ajuda militar dos EUA à Ucrânia”, juntamente com o potencial de reduzir “a partilha de informações dos serviços secretos e treino para tropas e pilotos ucranianos”.

A publicação Axios também informou que a reunião teria lugar na segunda-feira à tarde, com a suspensão da ajuda militar em cima da mesa, e fontes não identificadas disseram que o vice-presidente JD Vance, o secretário de Estado Marco Rubio, o secretário de Defesa Pete Hegseth e o conselheiro de segurança nacional Mike Waltz deveriam comparecer.

Estima-se que a ajuda militar dos EUA à Ucrânia ultrapassou os 60 mil milhões de dólares desde a invasão da Rússia em 2022.

Trump tem, aliás, criticado abertamente o volume de ajuda que o antigo Presidente Joe Biden enviou à Ucrânia e tem pressionado para que se chegue a um acordo, embora a pressão pareça estar apenas a ser exercida em relação à Ucrânia, reforçando a ideia de proximidade entre Putin e Trump.

E essa ideia ganhou ainda mais força depois de Zelenskyy e Trump se terem encontrado na Sala Oval na sexta-feira com JD Vance, com a conferência de imprensa a transformar-se num confronto em que Trump e Vance acusaram Zelenskyy de não estar grato e estar a ser desrespeitoso pelas contribuições dos EUA na guerra com a Rússia, acusando-o, inclusive, de estar a contribuir para uma terceira guerra mundial.

A conversa entre Zelenskyy e Trump na Casa Branca na sexta-feira deveria ter sido sobre uma nova parceria entre os EUA e a Ucrânia, na qual a Ucrânia colocaria alguns rendimentos dos seus recursos minerais estatais num fundo de propriedade conjunta com os EUA, em parte como uma forma de pagar aos EUA pelo seu apoio durante a guerra. Mas Zelenskyy deixou a Casa Branca mais cedo após a reunião na Sala Oval e não assinou o acordo sobre os minerais, embora mais tarde tenha dito que ainda estava preparado para o fazer.

Trump disse repetidamente na reunião que a Ucrânia e Zelenskyy “não têm as cartas” para derrotar a Rússia, a menos que os EUA os apoiem, e Vance criticou Zelenskyy por tentar “litigar isto em frente aos meios de comunicação americanos”.

Nos EUA, a desastrosa conversa entre os líderes ucraniano e americano suscitou a preocupação dos democratas que acusaram Trump de agir no interesse da Rússia, incluindo o líder democrata no Senado, Chuck Schumer, que sugeriu que Trump e Vance estavam a fazer “o trabalho sujo de Putin” e o senador Mark Kelly, D-Ariz, que disse que a conversa era “um presente para Putin”, acrescentando: “isto faz-nos parecer fracos, e não é um comportamento normal”.

Na Europa, os mais diversos líderes expressaram toda a sua confiança e reafirmaram o seu apoio a Zelensky, depois de Trump ter “tirado o tapete” à Ucrânia.

No domingo, o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, anunciou que o Reino Unido, a França e outros países europeus estavam a aumentar os seus esforços para acabar com a guerra entre a Ucrânia e a Rússia, reunindo uma “coligação de interessados” para trabalhar em prol da paz na Ucrânia. Starmer disse que a Europa precisa “fazer o trabalho pesado”, mas o acordo precisará do apoio dos EUA e do envolvimento da Rússia. Starmer terá dito que concorda com Trump sobre “a necessidade urgente de uma paz duradoura” e recusou-se a chamar aos EUA um “aliado pouco fiável”, noticiou a BBC.

Pausa em todas as operações cibernéticas contra a Rússia

As medidas pró-Rússia de Trump não ficaram, contudo, por aqui. O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, ordenou também uma pausa em todas as operações cibernéticas do país contra a Rússia, incluindo ações ofensivas, informaram este domingo vários meios de comunicação social norte-americanos.

De acordo com os media americanos, que citam fontes não identificadas, Hegseth ordenou na semana passada que o Comando Cibernético dos Estados Unidos suspendesse todo o planeamento contra a Rússia, incluindo ações digitais ofensivas.

Hegseth terá dado instruções ao chefe do Comando Cibernético, general Timothy Haugh, que depois informou o diretor de operações cessante da organização, major-general do Corpo de Fuzileiros Navais, Ryan Heritage, da nova orientação, de acordo com as mesmas fontes, que não se quiseram identificar.

As instruções de Hegseth não se aplicam à Agência de Segurança Nacional, que Haugh também lidera, ou às suas tarefas de inteligência de sinais visando a Rússia, segundo as mesmas fontes.

Ainda que o âmbito completo da diretiva de Hegseth permaneça obscuro, é mais uma evidência dos esforços do novo inquilino da Casa Branca para normalizar os laços com Moscovo, em contramão com o que os Estados Unidos e aliados internacionais fizeram nos últimos três anos para isolar o Kremlin, na sequência da invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022.

Contactado pela agência France-Presse (AFP), o Pentágono recusou-se a comentar, invocando a necessidade de preservar a segurança operacional, ainda que, à semelhança de outras operações clandestinas, as ações no domínio cibernético quase nunca são comentadas pelas autoridades.

A pausa surge numa altura em que Donald Trump lidera uma aproximação a Moscovo, a pretexto da guerra na Ucrânia.

“Devíamos passar menos tempo a preocuparmo-nos com Putin e mais tempo a preocuparmo-nos com os gangues de violadores imigrantes, os chefes da droga, os assassinos e os doentes psiquiátricos que entram no nosso país, para não acabarmos como a Europa”, afirmou este domingo à noite Donald Trump na rede social Truth Social.

O conselheiro de segurança dos Estados Unidos, Mike Waltz, questionado na CNN, no domingo, sobre esta aproximação à Rússia, refutou, ainda assim, a existência da pausa operacional cibernética. “Isso não foi discutido”, disse. “Haverá todo o tipo de alavancas, desde cenouras a paus, para pôr fim a esta guerra”, acrescentou.

51%. Esta é a percentagem de inquiridos numa sondagem da CBS News/YouGov divulgada no domingo – e realizada entre 26 e 28 de fevereiro – que considera que os EUA devem enviar armas e ajuda militar à Ucrânia.

O que é que Trump afirmou depois do encontro tenso com Zelensky?

Trump afirmou nas redes sociais, após a reunião, que Zelenskyy “desrespeitou os Estados Unidos da América na sua querida Sala Oval” e que pode regressar quando estiver pronto para falar de paz. No entanto, Trump rejeitou a ideia de que os seus comentários a Zelenskyy apoiaram o Presidente russo Vladimir Putin, afirmando na rede social Truth Social, na noite de domingo e na manhã de segunda-feira, que é “o único presidente que não cedeu nenhuma das terras da Ucrânia à Rússia de Putin” e que os EUA deveriam “passar menos tempo a preocupar-se com Putin e mais tempo” a preocupar-se com o fluxo de imigrantes sem documentos. Já na segunda-feira, algumas horas antes de se reunir com os seus conselheiros mais próximos, Trump considerou que Zelenskyy ao afirmar que o fim da guerra está “muito, muito longe”, foi “a pior declaração que poderia ter sido feita por Zelenskyy, e a América não vai tolerar isso por muito mais tempo!”

O que é que Zelensky disse após a conferência de imprensa com Trump?

Zelenskyy apareceu na Fox News horas depois do confronto na Sala Oval e falou do que tinha acontecido. Quando questionado se Zelenskyy devia pedir desculpa pelo encontro tenso de há pouco, o líder da Ucrânia respondeu que “não tinha a certeza de que tivéssemos feito algo de mau”, mas que o encontro “não foi bom para ambas as partes”. Na entrevista, Zelenskyy declarou também que achava que podia melhorar a relação com Trump e que continuava otimista quanto à possibilidade de a Ucrânia ganhar a guerra contra a Rússia. No sábado, Zelenskyy foi ao X para reiterar a gratidão aos EUA pelo seu apoio e escreveu que “é crucial para nós termos o apoio do presidente Trump”, acrescentando que ele está pronto para assinar o acordo de minerais com os EUA que o trouxe a Washington, DC, em primeiro lugar, mas que ele pretende que “os EUA fiquem mais firmemente do nosso lado”.

Molly Bohannon/Forbes Internacional

Mais Artigos