O Presidente dos EUA, Donald Trump, disse que iria impor uma tarifa de 200% sobre todos os vinhos, champanhes e produtos alcoólicos importados para os EUA de países europeus – especificamente destacando o vinho da França – depois de a União Europeia ter anunciado na terça-feira novas tarifas que entrarão em vigor em abril, em retaliação às tarifas globais de Trump sobre metais que começaram na quarta-feira.
Trump afirmou que iria taxar os produtos alcoólicos da UE, a menos que Bruxelas eliminasse o imposto de 50% sobre o bourbon (whisky norte-americano) importado, que faz parte das tarifas de retaliação que entrarão em vigor a 1 de abril.
Vinho português vai ser afetado
Esta situação, se for avante, penalizará também os vinhos portugueses que têm no mercado norte-americano o seu segundo maior destino de exportação, havendo a expectativa, antes deste anúncio de Trump, de que os EUA podiam ser mesmo neste 2025 o principal mercado exportador para os vinhos portugueses.
No ano passado, as exportações nacionais para os EUA ultrapassaram os 100 milhões de euros.
A ViniPortugal defendeu hoje que se as tarifas dos EUA sobre os vinhos avançarem as exportações de Portugal vão ser “fortemente penalizadas” e pediu a Bruxelas que desenvolva esforços para que o setor não seja prejudicado.
“A virem a ser implementadas as tarifas aos vinhos, sobretudo na ordem de grandeza de que se fala, as nossas exportações seriam fortemente penalizadas, trazendo muitos problemas ao nosso setor vitivinícola”, avisou, em resposta à Lusa, o presidente da ViniPortugal, a associação interprofissional do vinho, Frederico Falcão.
“Nesta altura, estamos muito apreensivos e preocupados com esta ameaça, que muito esperamos que não passe disto”, rematou Frederico Falcão.
“Esta notícia não pode ser considerada boa, antes pelo contrário. O nosso principal mercado exportador, se incluirmos o vinho do Porto, é os EUA. Se retirarmos o vinho do Porto, os EUA ficam em segundo lugar e em primeiro o Brasil. [Estas tarifas] têm um impacto direto e brutal nas nossas exportações, que se vai refletir nos países concorrentes europeus, o que significa menor competitividade comercial e interna”, afirmou o presidente da Companhia das Lezírias, Eduardo Oliveira e Sousa, em declarações à Lusa.
Ainda assim, o antigo presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) espera que esta seja “mais uma das bombas que o Presidente Trump atira para o ar e que depois se arrepende”.
Já o administrador das Caves da Montanha, Alberto Henriques, notou que vai ter um grande impacto, tendo em conta que exportam, há mais de 40 anos, para os EUA e que este é um dos principais mercados. Contudo, desafia Trump a avançar com as tarifas.
“Hoje em dia, o Presidente Trump ameaça toda a gente com tarifas. Que desta vez não ameace, avance com aquilo que acha que deve fazer. Portugal já existia antes dos EUA. Quando ele [Trump] sair estamos de braços abertos para continuar a comprar nos EUA, a recebê-los e a vender para lá”, disse.
Já o administrador executivo da Sogrape, João Gomes da Silva, considerou que qualquer medida que gere incerteza representa um desafio, mas notou que a solidez das marcas, aliada ao interesse pelos vinhos portugueses nos EUA “permitirá ultrapassar eventuais obstáculos e continuar a crescer neste mercado”.
Produção na Europa “extremamente preocupada”
A Spirits Europe – o lóbi desta indústria europeia – reagiu ao anúncio de Donald Trump, dizendo estar “profundamente desapontada” e “extremamente preocupada” por ver os impostos europeus sobre as bebidas destiladas norte-americanas aumentados “como parte de uma guerra contra o aço e o alumínio, não relacionada” com este setor. Os Estados Unidos representam o maior mercado internacional do setor.
Um acordo transatlântico de 1997 eliminou as barreiras alfandegárias, o que permitiu um crescimento do comércio deste setor em 450% até 2018, quando o anterior Governo de Trump lançou a sua primeira guerra comercial.
As vendas francesas aumentaram 5% em 2024, atingindo os 3,8 mil milhões de euros, principalmente com exportações de vinho e conhaque, de acordo com a Federação Francesa de Exportadores de Vinhos e Bebidas Destiladas.
Chamando à União Europeia “uma das autoridades fiscais e tarifárias mais hostis e abusivas do mundo”, Trump afirmou no Truth Social que iria “colocar em breve uma tarifa de 200% sobre todos os VINHOS, CHAMPAGNES E PRODUTOS ALCOÓLICOS QUE SAEM DE FRANÇA E DE OUTROS PAÍSES REPRESENTADOS PELA UE” (assim mesmo em maiúsculas), chamando ao imposto sobre o uísque “desagradável” e prevendo que um imposto sobre as importações de álcool da UE “será ótimo para o negócio do vinho e do champanhe nos EUA”.
A UE anunciou as tarifas em resposta ao imposto de 25% de Trump sobre as importações de aço e alumínio dos parceiros comerciais dos EUA, que entrou em vigor na quarta-feira.
As tarifas da UE são uma reintegração dos impostos que Bruxelas cobrou sobre as importações dos EUA durante o primeiro mandato de Trump, que visam produtos de estados controlados pelos republicanos, como soja da Louisiana do presidente da Câmara Mike Johnson e carne bovina e aves de capoeira do Kansas e Nebraska.
As novas tarifas europeias devem entrar em vigor a 01 de abril, um dia antes das chamadas “taxas alfandegárias recíprocas” anunciadas por Trump.
“A reimposição destas tarifas debilitantes numa altura em que a indústria de bebidas espirituosas continua a enfrentar um abrandamento no mercado dos EUA irá reduzir ainda mais o crescimento e afetar negativamente os destiladores e os agricultores nos estados de todo o país”, afirmou o Presidente e CEO do Distilled Spirits Council, Chris Swonger, numa declaração em resposta ao anúncio da UE de reimpor tarifas sobre o whisky americano.
Também várias províncias do Canadá anunciaram penalizações sobre as importações de álcool dos EUA em resposta às tarifas de 25% de Trump sobre produtos do México e do Canadá que entraram em vigor no início deste mês, embora Trump tenha recuado em algumas das tarifas e isentado os produtos cobertos pelo acordo comercial EUA-Canadá-México até 2 de abril. Alberta, Ontário, Colúmbia Britânica e Manitoba estão entre as províncias que retiraram os produtos alcoólicos americanos das suas prateleiras.
Trump aproveitou para acusar, mais uma vez, o bloco europeu de ter “sido criado com o único propósito de se aproveitar dos Estados Unidos”.
A União Europeia anunciou na terça-feira que iria impor tarifas sobre alguns produtos americanos, incluindo aço, alumínio, têxteis e produtos agrícolas provenientes, em grande parte, dos “Estados vermelhos”, ou seja, Estados Republicanos. As tarifas devem entrar em vigor em duas levas, a partir de 1 de abril, com outra ronda de tarifas programada para 13 de abril em US $ 19 mil milhões em produtos adicionais ainda não identificados, para um total de US $ 28 mil milhões.
Trump tem recuado em algumas das suas ameaças tarifárias, incluindo um imposto de 50% sobre as importações de aço e alumínio do Canadá em resposta à taxa de 25% de Ontário sobre a eletricidade. Ontário retirou o imposto depois de Trump ter ameaçado duplicar a tarifa sobre os metais.
As tarifas recíprocas de todos os parceiros comerciais dos EUA deverão entrar em vigor a 2 de abril, e a isenção de tarifas de Trump sobre os bens abrangidos pelo acordo comercial EUA-Canadá-México deverá expirar.
com Sara Dorn/Forbes Internacional/Lusa