A economia europeia terá de enfrentar impactos das tarifas aplicadas pelos EUA, mas vai também começar a colher resultados da maior despesa pública, que traz impulsos orçamentais e poderá levar o Banco Central Europeu a subir juros em 2026.
Segundo uma análise dos especialistas do BNP Paribas ao contexto macroeconómico internacional, o BCE terá de lidar com estes dois grandes choques nos próximos tempos: as tarifas e as tensões comerciais e o impulso orçamental da aceleração da despesa pública em Defesa e infraestruturas.
A curto prazo, as tarifas serão o principal fator a produzir efeitos, podendo colocar pressões na inflação e também no crescimento económico, de acordo com Paul Hollingsworth, diretor de Economia de Mercados Desenvolvidos do BNP Paribas Markets 360.
Até junho, as taxas de juro vão cair. Depois tudo pode começar a inverter-se.
Perante este efeito, é esperado que o BCE continue a trajetória de cortes nos juros este ano, sendo a expectativa de ainda avançarem reduções em abril e junho para uma taxa a rondar os 2%.
Com o avançar do tempo, porém, a dimensão os gastos públicos pode ter efeitos multiplicadores fortes e criar uma maior dinâmica para a atividade económica na Zona Euro, o que pode mesmo levar o BCE a contemplar subidas de juros mais para a frente, possivelmente já no próximo ano.
A mesma expectativa é avançada por Sam Lynton-Brown, diretor global de Estratégia Macro do BNP Paribas Markets 360, que indica que “subidas de taxas pelo BCE em 2026 são uma possibilidade”.
O analista considera que os planos de despesa, como por exemplo o fundo alemão e o plano de armamento da Comissão Europeia, que prevê um aumento das despesas dos Estados-membros em defesa para 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB), são um ‘game changer’ para a economia e também para os mercados.
Na Alemanha, os conservadores e os sociais-democratas, prováveis parceiros de coligação no próximo Governo, estão a propor um relaxamento das regras da dívida em prol de despesas militares e de regiões, bem como um fundo especial de 500 mil milhões de euros ao longo de 10 anos para renovar infraestruturas.
Ao nível comunitário, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou no início do mês querer mobilizar 800 mil milhões de euros para investimento na defesa europeia.
Em causa está o plano Rearmar a Europa, assente em cinco vertentes para uma Europa segura e resiliente: um novo instrumento ao nível da UE para circunstâncias extraordinárias (como que foi criado para assistência financeira aos países em empréstimos a condições favoráveis durante a covid-19 para evitar o desemprego), a ativação da cláusula de salvaguarda das regras orçamentais para evitar procedimentos por défice excessivo (face ao aumento da despesa pública com defesa, num máximo de 1,5% por ano), reafetação de verbas de outros fundos como da Coesão), verbas do BEI e ainda capital privado.
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Lusa