Alterações climáticas comprometem tráfego marítimo no Canal do Panamá

O Canal do Panamá é um canal utilizado por 6% do tráfego marítimo global. Mas as alterações climáticas estão a comprometer já esse comércio. Embora as altas temperaturas e a menor precipitação sejam as principais causas, quatro furacões ao longo de sete anos foram igualmente devastadores. Na génese de tudo isto, estão as alterações climáticas.…
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O Canal do Panamá assume um papel crucial no comércio marítimo internacional que ameaça agora estar parcialmente comprometido. Motivo: as alterações climáticas estão a reduzir o caudal de água.
Economia

O Canal do Panamá é um canal utilizado por 6% do tráfego marítimo global. Mas as alterações climáticas estão a comprometer já esse comércio. Embora as altas temperaturas e a menor precipitação sejam as principais causas, quatro furacões ao longo de sete anos foram igualmente devastadores. Na génese de tudo isto, estão as alterações climáticas.

O Canal do Panamá está no meio das florestas tropicais do Panamá, que cobrem 68% das suas terras ou quase 5,1 milhões de hectares. A redução da precipitação tem levado a que o canal transporte menos água e as autoridades responsáveis por esta infraestrutura referem que 2019 foi o quinto ano mais árido em 70 anos, com chuvas 20% inferiores à média, tudo agravado por reservatórios esgotados.

Os níveis de água caíram em 2015 e 2016 e os armadores tiveram que reduzir a quantidade de carga nos seus navios. A tendência é para se manter, se nada for feito em contrário. Logo, o número de viagens para transportar a mesma quantidade de mercadorias tende a ser maior, o que, no limite, gera pressão sobre o custo dos produtos e bens.

O canal do Panamá tem uma extensão de 80 km, permitindo fazer a ligação entre os oceanos Atlântico e Pacífico.

“O Canal do Panamá é a única rota de comércio interoceânico cuja operação depende da disponibilidade de água doce, tornando-o o mais vulnerável aos impactos adversos da mudança climática global”, diz Emilio Sempris, ex-ministro do meio ambiente do Panamá de 2017 a 2019 à Forbes. “Não há melhor solução natural para garantir água na bacia do Canal do Panamá do que proteger as florestas e plantar mais árvores”, sublinha.

A má notícia é que as florestas tropicais, que têm uma função importante na absorção de CO2, na regulação do ciclo da água e em evitar a erosão dos solos, têm vindo a perder dimensão. Entre 1947 e 2014, o Panamá perdeu 2,7 milhões de hectares de floresta, principalmente devido à pecuária e à agricultura.

Os Estados Unidos construíram o Canal do Panamá entre 1904 e 1914 – um atalho de água doce que permite que os navios evitem navegar pela ponta da América do Sul. O Panamá expandiu, entretanto, esta hidrovia. Como resultado, os armadores reduziram o seu tempo no mar de dois meses para 10 horas. Mais de 10 milhões de navios acederam através do canal desde que foi inaugurado.

Em 2021, 517 milhões de toneladas de mercadorias passaram pelo canal, gerando US$ 2,1 biliões em contribuições ao Tesouro Nacional do Panamá. Em 2022, essas receitas atingirão US$ 2,25 biliões.

A expansão do Canal do Panamá encurtou o tempo de viagem no mar, resultando em 16 milhões de toneladas a menos de CO2 em 2021 e 650 milhões de toneladas desde 1914.

Em 2016, com a conclusão das obras de alargamento, que demoraram nove anos, passou a ser possível a passagem de navios com mais do dobro da capacidade até aí permitida.

Porém, as alterações climáticas podem agora vir a por em causa este fluxo, sendo uma ameaça não apenas para o Panamá, mas para a economia mundial. “Proteger as florestas tropicais e garantir o acesso ao financiamento climático são as pedras angulares do sucesso”, enfatizam os responsáveis do Panamá.

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