Opinião

A importância da análise de dados na gestão de pessoas nas organizações

Georg Dutschke

O estudo Happiness Works avalia, entre outros, a relação entre ser feliz como profissional e a vontade de sair da organização, com base em aprox. 60.000 respostas recebidas entre 2012 e 2025. Através da análise de médias é possível concluir que os colaboradores mais felizes pretendem sair menos da organização onde trabalham (-55%). Esta análise, sendo relevante, pode não ser suficiente para entender o que se passa na organização. Por esta razão, desenvolvemos outras análises dos dados, que permitem entender melhor a vontade de sair e aportam informação à gestão para minimizar a rotação. Através do grande volume de dados disponíveis no estudo Happiness Works, foi possível desenvolver um modelo preditivo que relaciona a felicidade organizacional com a probabilidade de sair.

O modelo preditivo desenvolvido, permitiu identificar oito razões (variáveis) pelas quais o colaborador pretende sair da organização. Com base nestas variáveis, foi possível agrupar as respostas dos 60.000 respondentes por quartis, conforme a sua vontade de sair. No primeiro quartil, os profissionais que têm até 25% de probabilidade de sair da organização, no 2º quartil os que têm até 50%, no 3º até 75% e no 4º até 100% (Gráfico 1.)

Gráfico 1. Modelo Preditivo. Probabilidade de sair. Análise por Quartil. Fonte: Happiness Works, 2024

 

Da análise do gráfico, é possível verificar que 47% dos profissionais respondentes têm até 25% de probabilidade de sair da organização onde trabalham.

A aplicação de modelos preditivos permite avaliar a probabilidade de sair, mas pode não ser suficiente para entender o que está na base da decisão de sair. Para tal, aplicar análise de conteúdo, através da análise das respostas a perguntas abertas, pode ser muito útil para as organizações.

Partilhamos um caso realizado numa empresa em Portugal, que vamos identificar como Empresa X.

Através da aplicação do modelo preditivo foi possível verificar que a Empresa X tem uma capacidade de reter talento superior à do mercado pois tem mais colaboradores no 1º quartil que os concorrentes (Gráfico 2.)

Gráfico 2. Empresa X. Modelo Preditivo. Análise por quartil da probabilidade de sair. Fonte: Happiness Works, 2024

 

 

Da análise do gráfico é possível observar que na Empresa X 65% dos seus colaboradores têm até 25% de probabilidade de sair da organização, enquanto nas empresas concorrentes apenas 43% têm até 25% de probabilidade de sair. Ou seja, nesta empresa, a probabilidade de um colaborador sair é menor. No entanto, existem 9% dos colaboradores que têm até 100% de probabilidade de sair, enquanto nas empresas concorrentes esta percentagem é de apenas 1%. Para melhor perceber as razões, foram aplicadas perguntas abertas e através de análise de conteúdo, identificados os problemas (Gráfico 3.)

Gráfico 3. Empresa X. Análise de Conteúdo. Razões para a decisão de sair. Fonte: Happiness Works, 2024

 

 

Através da análise ao gráfico 3 é possível identificar as razões que levam estes profissionais a quererem sair da organização: falta de dinheiro no final do mês e mau planeamento da sua vida pessoa e profissional. Conhecendo as razões, foi possível implementar ações personalizadas que resolveram os problemas identificados e, desta forma, diminuir a probabilidade de saída destes colaboradores.

A análise de dados, através de múltiplas metodologias, quantitativas e qualitativas, é de grande importância para as organizações, tem impacto direto na retenção de talento e, por conseguinte, na rentabilidade.

Parece-nos evidente que as organizações que não entendam esta realidade e não tenham a preocupação de obter e tratar os dados, terão menos conhecimento da sua realidade, da dos seus concorrentes e serão, por esta razão, menos competitivas.

 

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