A Amarelinha Hamburguers já investiu mais de 200 milhões kwanzas ao longo dos 10 anos de existência e no último ano facturou 126 milhões de Kwanzas com a distribuição de fast-food um pouco por todas as zonas urbanas de Luanda.
Tudo começou numa pequena cozinha, onde Wilson Alvarenga Gomes da Silva e Joana Yolanda Gomes da Silva injectaram 300 mil kwanzas e trabalhavam em horário pós-laboral. Na verdade, conta Wilson à FORBES, nos hambúrgueres que se consumiam na altura, em Luanda, sentia-se, a seu ver, que faltava alma e daí surgiu a ideia da criação da Amarelinha Hambúrguers, que hoje se destaca no segmento do fast-food, na capital, Luanda.
O negócio do casal inspira-se nas grandes cadeias internacionais do ramo de fast-food, como a Mac Donald’s, Burger King e a Five Guys. “Fizemos destas grandes referências do fast-food mundial o nosso principal benchmarking. Procurávamos pesquisar as suas metodologias, nas poucas horas que tínhamos disponíveis diariamente”, refere Wilson da Silva. Da pequena cozinha e com as poupanças que faziam, conseguiram economizar valores para a compra de uma pequena roulotte.
A construção do sonho dos dois empreendedores foi à custa de muitos sacrifícios, pois tiveram que abrir mão de coisas preciosas para dois jovens que na altura contavam com 26 e 23 anos de idade, respectivamente. Os dois tiveram que abdicar do lazer, do tempo com a família e amigos, entre outras coisas, para se dedicarem com foco e determinação ao projecto que estavam a construir, resistindo a várias tentações próprias da idade. Ambos licenciados em engenharia informática, mas em universidades diferentes, tinham empregos fixos e a remuneração que ganhavam economizaram para investir no projecto.
Yolanda, como é mais conhecida, explica que o objectivo de se arrancar com uma pequena cozinha foi o de conseguir poupar dinheiro para comprar uma roulotte e, com isso, ter um sistema de entregas para o centro da cidade, expandirem-se para outras províncias do país e internacionalizar a marca. “O plano era, além de vender hambúrgueres, ter um menu diversificado, oferecer ao cliente a possibilidade de receber o produto em sua casa ou no serviço, através de um sistema informático de entregas, e ser o maior vendedor de fast-food com qualidade em Angola”, detalha e empreendedora. Muito deste plano foi executado, outras coisas estão por executar e algumas tiveram que ser reformuladas, dada a dinâmica do mercado. O plano de atendimento ao público, por exemplo, sofreu várias reformulações, pois para a Amarelinha, explica Wilson da Silva, o cliente é o maior património e, como tal, deve ser atendido com excelência.
Transpor barreiras
Sair da pequena e limitada cozinha foi o primeiro grande desafio do projecto, uma vez que, contam os fundadores, a dada altura não se conseguia atender a todos os pedidos, pois a demanda era maior que a capacidade de resposta, o que levou o casal de jovens empreendedores a tomar, em 2011, a difícil decisão de abdicarem dos seus empregos – Wilson numa empresa de fiscalização de obras, onde exercia a função de administrador de sistemas informáticos, e Yolanda na área técnica de uma destacada empresa de sistemas tecnológicos do país – para se dedicarem e apostarem a 100% no sonho que tinham, que passava por transformar a Amarelinha no maior vendedor de hambúrgueres de Angola. Se já o é ou não, o certo é que actualmente a Amarelinha Hamburguers é a detentora do troféu de melhor Hambúrguer de Angola, prémio conseguido em Março de 2019, através de votação online feita pelos consumidores, naquele que é considerado o maior site de crítica gastronómica do país, o Luanda Nightlife.
A concorrência no mercado é enorme, mas isso não preocupa os proprietários da Amarelinha. “Todo tipo de concorrência saudável é boa para o mercado e para o país. Gera empregos e receitas, ao mesmo tempo que nos obriga a sair da zona de conforto. Não nos preocupamos muito em olhar para a concorrência, pois tira-nos o foco de coisas mais importantes. Estamos preocupados em cuidar do nosso jardim para que as borboletas venham até a ele”, afirma Wilson. Reforçando o pensamento do marido, Yolanda garante que têm trabalhado para que os clientes os procurem por serem os melhores e não os mais baratos. “Creio que oferecemos o melhor custo benefício, bem como a melhor qualidade e melhor disponibilidade”, acredita.
Na memória da empreendedora, continua gravado aquele que considera ter sido o momento mais marcante desta caminhada empreendedora. “O momento mais marcante para mim foi ter casado num dia, sair do salão às 18 horas e às 20 horas ir para o estádio dos coqueiros servir num evento em que participavam 18.000 pessoas. A nossa lua-de-mel foi a trabalhar”, recorda.
O casal estima que tenha investido até ao momento no negócio pouco mais de 200 milhões de kwanzas. Um investimento que consideram ter valido a pena a julgar pela evolução, acima dos 100%, e pela facturação nos últimos quatro anos, de mais de 54 milhões de kwanzas em 2016 para cerca de 126 milhões de kwanzas no final de 2019. O trabalho baseado em metas, a entrega e uma dedicação acima da média são apontados como factores que têm impulsionado a subida gradual da facturação. “Traçamos metas trimestralmente, e tudo fazemos para conseguir atingi-las. Nisto estão enquadradas as vendas. Se hoje vendemos cerca de 55 hambúrgueres por dia, pode estar certo que estamos a trabalhar para vender 1.000 hambúrgueres por dia até o ano terminar”, exemplifica Wilson.
Com 85 colaboradores actualmente, a Amarelinha possui um serviço próprio de Call Center monitorizado com gravações de chamadas. O serviço é composto por uma área específica para reclamações e outra para monitoramento das entregas, que faz a ponte entre o estafeta e o cliente. As entregas são gratuitas e asseguradas por uma frota de 25 motorizadas. Além dos telefones, a interacção com os clientes é feita por outras plataformas digitais, com realce para Facebook, Instagram e Whatsapp, onde os clientes não só fazem os pedidos, como apresentam também as reclamações.
Para breve está previsto o lançamento do website, em que os empreendedores dizem que irão oferecer aos clientes uma experiência jamais vista em Angola. Wilson explica que o site terá um aplicativo onde os clientes poderão fazer os seus pedidos e monitorizar o processo de entrega. Através de uma promoção que realizam há cinco anos, “acumule 10 facturas em seu nome e ganhe um lanche de oferta”, os clientes poderão também ser notificados automaticamente sempre que tiverem 10 pedidos registados no sistema.
Nova expansão já à vista
A Amarelinha tem neste momento uma casa de entregas na Vila Alice e possui, há já três anos, uma caravana móvel em Talatona. Está já preparada também uma segunda caravana destinada à urbanização Nova Vida, aguardando apenas pela luz-verde da administração local para começar a operar. Enquanto isso, a referida caravana tem sido utilizada em vários eventos comerciais, uma forma encontrada para a divulgação da marca. Para este ano está ainda prevista a entrada em funcionamento de duas outras caravanas na centralidade do Kilamba.
De acordo com Wilson, uma das estratégias constantes do plano de crescimento é a transformação da Amarelinha Hamburguers em franquias. Nesta perspectiva, têm estudado o mercado e conversado com alguns empresários, no sentido de se identificar aqueles que possuem um pensamento empresarial que se enquadre nos princípios e valores da Amarelinha. O empreendedor admite não estar a ser uma tarefa fácil, uma vez que, como disse, a maior parte das pessoas actualmente está focada nos lucros, contrariando a prioridade da Amarelinha, a qualidade que, como consequência, gera o lucro.