Alex Albon chegou à Fórmula 1 em 2019, na altura ao serviço da Toro Rosso, e os bons resultados levaram-no na mesma temporada para uma das equipas de topo da categoria-rainha: a Red Bull. No ano seguinte conquistou os seus primeiros pódios, mas devido à característica impaciência da equipa de Christian Horner, os resultados não foram suficientes para o piloto manter o seu lugar. Seguiu-se uma época longe da Fórmula 1 que, apesar de não ter sido fácil, foi essencial para a carreira de Alex, como consegue perceber olhando para trás.
No início da época de 2025, a renovada Williams tem obtido resultados que nem todos esperavam. Alex ocupa, neste momento, o 7.º lugar da classificação de pilotos e a equipa está na 5.ª posição.
Você já tiveram três corridas este ano, como é que olhas para os resultados da equipa até agora?
Um ótimo começo de época até agora, muito contente com as três primeiras corridas. Penso que talvez estejamos a exceder um pouco as nossas próprias expetativas, mas conseguimos tirar partido de alguns dos rookies no campeonato. É claro que o carro também é muito bom. Desde que estou na Williams, esta foi a maior mudança de um ano para o outro que experenciei.
Tens um novo colega de equipa esta temporada, o que é que o Carlos Sainz trouxe para a equipa?
O Carlos é obviamente muito experiente, tem muita informação e um conhecimento geral do que é um bom carro, uma boa equipa e como funcionam. É capaz de nos dar essa informação de uma forma muito construtiva, também é um líder de equipa nesse aspeto. Acho que ele sabe o que quer do carro. Mesmo para mim, tem sido muito interessante ouvi-lo e aprender com ele, como ele sente o carro e o que ele acha que precisa de melhorar na equipa.

O James Vowles falou várias vezes sobre os objetivos da equipa a longo prazo e não imediatos. É nessa evolução que estás concentrado ou pensas mais corrida a corrida?
Para ser sincero, sinto-me muito alinhado e gosto de conhecer a viagem em que o James nos está a levar. Quando assinei o meu contrato, o objetivo foi sempre a longo prazo. Não íamos ser uma equipa de topo num ano, vai levar tempo, mas acredito no que o James está a fazer e vejo as mudanças. Na verdade, estou nesta equipa há mais tempo do que ele e pude ver não só as mudanças na equipa, mas também a mudança de cultura, o que tem sido muito interessante. Estou concentrado neste ano, mas se fosse para dizer qual é a prioridade, é sempre o futuro, porque por mais fantástico que tenha sido o início deste ano, quero lutar por pódios e vitórias, não quero estar concentrado em lutar por um 10.º ou 9.º lugares.
Olhando já para 2026, quais são as tuas expetativas em relação à mudanças nos regulamentos?
Acho que vai ser muito interessante. Não tenho um pensamento positivo ou negativo sobre isso, apenas que vai alterar totalmente a ordem das equipas e estou um pouco preocupado. Sinto que este ano temos um campeonato tão renhido , é muito entusiasmante ver como todos estão próximos e sei que no próximo ano, devido à quantidade de mudanças que vão acontecer, não vai ser assim. Penso que os motores vão ser muito complicados e, como equipa, isso vai colocar-nos sob muita pressão, mas acho que estamos numa boa posição para ter um bom carro no próximo ano.
Ficaste feliz ao saber que a grelha terá mais uma equipa?
Sim, a entrada da Cadillac é excelente para a modalidade, bem como a entrada de uma equipa americana. É bom para tudo, os EUA são um mercado forte e mais carros na grelha significa mais oportunidades para engenheiros, mecânicos, toda a gente. E, claro, para os pilotos. Estou entusiasmado.
Tu estiveste um ano sem competir na Fórmula 1. Obviamente que não é uma altura fácil, mas olhando agora para esse momento foi algo positivo ou negativo?
Definitivamente positivo. O mundo da Fórmula 1 é tão acelerado, fazemos 23, 24 corridas e o calendário só está a aumentar. Quando estamos no momento e estamos a lutar pela época não temos tempo para refletir e perceber onde melhorar, o que mudar, seja na condução, seja nas pessoas à nossa volta, seja em nós próprios. Parece que estamos numa máquina de lavar roupa a andar às voltas. Naquele ano de paragem, senti que tinha tempo para processar o que tinha acontecido. Eu ainda era muito jovem e ainda estava a ser rapidamente integrado numa equipa muito boa, a Red Bull, não tinha a experiência nem a maturidade necessárias para compreender e lidar com a atenção da imprensa e a pressão de estar numa equipa de topo. Nesse ano, sinto que aprendi mais sobre a Fórmula 1 e sobre mim próprio do que quando estava a competir. Quando regressei, senti que estava imediatamente numa posição melhor do que aquela em que terminei a minha primeira época.

Em algum momento achaste que não ias conseguir voltar?
Sem dúvida, em vários momentos. Nesse ano estava à procura de um lugar na Fórmula 1 e só me disseram que havia uma hipótese em junho ou julho. Ou seja, antes tive de começar a procurar outras séries, estava a pensar na IndyCar e na Fórmula E. O meu plano A continuava a ser a Fórmula 1 e eu estava a fazer tudo o que podia no simulador da Red Bull, a tentar fazer o melhor trabalho possível para a equipa. Foi a Williams que me deu a oportunidade de voltar à grelha, estarei sempre muito grato por isso.
Como é que alguém pode reavivar uma carreira na F1 sem poder efetivamente competir?
Foi a pergunta que fiz a mim próprio. Quando recebi a notícia de que não ia correr na Fórmula 1, tive cerca de dois dias a sentir pena de mim próprio, mas depois pensei: ok, qual é o plano agora? Tecnicamente, não podes provar o teu valor num carro de Fórmula 1, então como é que provas o teu valor às equipas? Acho que esse ano foi obviamente muito importante, um grande ano para a Fórmula 1, foi quando o Max e o Lewis estavam a lutar pelo campeonato. Passei, penso eu, talvez mais de 60, 70 dias num simulador na Red Bull, a trabalhar no carro, a compreender, a tornar-me muito mais um engenheiro, a compreender como funciona a Fórmula 1 do ponto de vista da configuração, o que me ajudou muito, enquanto piloto, a perceber porque é que o ano anterior foi tão difícil para mim, mas também a tentar mostrar às outras equipas o valor de ter alguém como eu na grelha. E depois, muito do que se passou foi apenas ir atrás, colocar-me disponível, falar com os chefes das equipas, falar com as equipas e mostrar-lhes porque mereço uma oportunidade. Acho que o melhor de tudo foi o facto de ter vindo de mim, não de um empresário a controlar. Os chefes das equipas e as pessoas que estão no topo dos negócios querem falar com o atleta, querem conhecê-lo. Senti que desenvolvi relações muito fortes durante esse ano e dei-me muito bem com Jost Capito na altura, o antigo chefe de equipa da Williams. Também tive alguma ajuda de outros pilotos, como o George Russell, que eu substitui. E sim, essa foi a minha oportunidade de regressar à Fórmula 1.

A Fórmula 1 nunca teve muito espaço para erros, como, aliás, já vimos esta temporada. Consegues descrever o tipo de pressão com que vocês lidam?
Acho que a maioria dos desportistas sente a mesma coisa. Desde os 10 anos de idade que nunca soube o que iria fazer no ano seguinte, nunca tive um contrato ou um sistema em que a minha família tivesse dinheiro suficiente ou eu tivesse um patrocinador que me permitisse estar a competir no ano seguinte. Lutei todos os anos para conseguir o orçamento, para encontrar os patrocinadores, para ir às corridas. Aos 10, 11 anos, já se tem essa sensação. Não é novidade que quando se chega à Fórmula 1 e não se tem um bom desempenho, fica-se de fora. Na verdade, é o que crescemos a ser condicionados a pensar. Portanto, há pressão, sim, mas não é uma pressão nova. A diferença na Fórmula 1 é que não há lugar para te esconderes. As equipas exigem muito de nós, há barulho à volta e estamos expostos de todas as formas. Essa foi uma grande diferença para mim, foi com isso que senti mais dificuldade quando entrei na Fórmula 1. Mas em termos de contratos e tudo o mais, a primeira vez que consegui um contrato para vários anos foi em 2023, em toda a minha carreira. É a nossa realidade.
Esse lado do negócio, a gestão das equipas ou os contratos, afeta muito os pilotos durante o ano? Ou o foco apenas no trabalho na pista é uma realidade?
Para mim, é uma realidade. É normal o nosso cérebro ir para pensamentos como ‘estou a ter uma época difícil’ ou ‘o que vai ou não acontecer no próximo ano’. A realidade é que não está no nosso controlo. No final, o que importa são os resultados e se te concentrares verdadeiramente na execução, em ti e no teu desempenho, é isso o mais importante. A preocupação e a dúvida sobre o futuro são, honestamente, válidas, só há 20 lugares na Fórmula 1 e há muitos pilotos na fila para os substituir. Mas, em termos reais, o que é que vais fazer para resolver isso? É melhorando o nosso desempenho. Tens mesmo de estar muito focado para conseguires lidar com a pressão externa.

Achas que os pilotos deveriam estar mais envolvidos nas decisões da Fórmula 1? Se pensarmos que, por exemplo, já alguns pilotos criticaram a decisão de competir em alguns países.
Acho que isso não acontece em outros desportos, para ser sincero. É uma resposta difícil. Acho que o mais importante é que, como organização, a Fórmula 1 é muito dominante no topo. As equipas e o desporto têm muito poder sobre os atletas, porque só há 20 atletas no mundo. E nós queremos estar na Fórmula 1. Não é como em outros desportos, onde há várias pessoas por equipa e há muitos atletas e jogadores a lutar por contratos semelhantes. O poder nem sempre está do lado dos pilotos, mas é assim que as coisas são. Acho que tens de lutar por isso, criar o poder como atleta e como piloto. Quando chegamos a um nível em que podemos negociar o nosso contrato e temos várias equipas interessadas em nós, é aí que podemos começar a negociar. Mas essa é a realidade do desporto em que estamos inseridos. Em termos de outras coisas, como circuitos e não só, penso que é uma conversa ligeiramente diferente.
Tiveste uma reunião com a primeira-ministra da Tailândia recentemente, numa altura em que o país está a tentar fazer parte do calendário da Fórmula 1. O que é que achas que a Tailândia pode trazer à categoria?
É óbvio que sou muito parcial na minha abordagem a um GP na Tailândia, mas acho que seria uma excelente aposta. Vi os planos para o circuito, não posso dizer muito, mas penso que é uma ótima localização, um ótimo local para a pista. A Tailândia é um país lindo, com pessoas lindas e muito amigáveis, estou muito entusiasmado por poder levar os meus colegas a Banguecoque ou onde quer que seja e mostrar-lhes o que é a Tailândia. Quanto ao desporto, acho que é uma excelente oportunidade para mostrar a categoria aos tailandeses. Não é o desporto mais conhecido na Tailândia, penso que o futebol continua a ser o mais popular, mas na minha última viagem fiquei espantado com o crescimento do desporto desde a minha primeira experiência na Fórmula 1 e também com a geração mais jovem e o grande número de mulheres que é fã. Foi muito inspirador ver isso. Gostaria que a Tailândia se tornasse uma das raízes dos desportos motorizados na Ásia. O Japão está a fazer um excelente trabalho e que a Tailândia tem potencial para inspirar os jovens a seguirem os desportos motorizados e a seguirem a Fórmula 1. Temos algum trabalho a fazer, quero criar uma espécie de academia para jovens pilotos tailandeses, mas também para engenheiros, mecânicos, trabalhar com o governo ao lado do circuito. Seria um sonho para mim.