Portugal ainda não tem nenhuma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, mas as duas medalhas conquistadas até ao momento, de bronze (por Jorge Fonseca, no Judo) e de prata (por Patrícia Mamona, no Triplo Salto), valem como ouro, dado que têm por trás histórias inspiradoras de superação.
Jorge Fonseca, medalha de bronze na categoria -100 kg, nasceu em São Tomé e Príncipe (30 de outubro de 1992) e chegou a Portugal com 11 anos.

Aos 13 começou a praticar judo numa escola da Damaia, numa altura em que nem dinheiro tinha para o kimono. Em 2013 consegue um título europeu de sub-23 e pouco depois de ser pai descobre que tinha um tumor na perna (linfoma). Lutou contra a doença e superou-a. Meses depois de acabar os tratamentos de quimioterapia, Jorge Fonseca representou Portugal nos Jogos Olímpicos do Rio 2016.
Foi eliminado da competição logo na primeira ronda, ficando no 17º lugar. As lágrimas foram, porém, energia para voltar a superar-se e em 2019 foi campeão do mundo na categoria de –100 kg. Em junho de 2020: nova contrariedade: apanha COVID-19.
Autêntica força da natureza, Fonseca recupera e, em 2021, o atleta do Sporting torna-se bicampeão mundial, sempre na categoria de -100 kg, conseguindo agora a sua primeira medalha olímpica.
“Eu nasci para o ouro, não nasci para o bronze” – Jorge Fonseca
O facto de não ter conseguido chegar à final em Tóquio 2020, esmoreceu-o e por isso, o judoca enaltece o papel do seu treinador, Pedro Soares: “Teve de ser o treinador a motivar-me. Disse-me que tinha de ir buscar o bronze, fez-me acreditar que era possível. Fui buscar o que era meu, o bronze, mas eu quero mais. O ouro em Paris”, prometeu Jorge Fonseca.

Na flash-interview, o atleta disse ainda tudo o que lhe ia na alma e aproveitou para enviar farpas a duas marcas que recusaram patrociná-lo: “Sou bicampeão do mundo, o meu lugar é no ouro. Quero ser o melhor de todos os tempos no desporto nacional. Quero agradecer aos portugueses que me apoiaram, que enviaram mensagens, a quem esteve acordado. Dedico à minha mãe. É também dedicada à Adidas e à Puma, porque me disseram que não tinha capacidade para ser um atleta deles. Dedico aos representantes deles. Sou bicampeão do mundo, que estatuto preciso para ser patrocinado por eles?”. Depois destas palavras, ao jornal Expresso, a Adidas haveria de se justificar: “No que a contratos de patrocínio diz respeito, por muito que gostássemos de apoiar um maior número de atletas, temos que tomar algumas decisões difíceis sobre com quem podemos trabalhar”.
Independentemente dos apoios, Jorge Fonseca, que sonha em poder vir a ser admitido na polícia, já só pensa na próxima conquista, o título olímpico de Paris 2024: “Eu nasci para o ouro, não nasci para o bronze”, diz confiante.
Patrícia Mamona quer inspirar “as gerações futuras”
O percurso de Patrícia Mamona também é inspirador e isso não se deve apenas à brilhante medalha de prata que obteve em Tóquio 2020 e que foi acompanhada de um recorde português do triplo salto (com 15,01 metros de comprimento, mais 35 centímetros do que o também seu recorde nacional com que tinha chegado aos Jogos, os terceiros em que participou).
A atleta, de 32 anos, que na final olímpica apenas foi superada por uma estratosférica venezuelana Yulimar Rojas que estabeleceu um recorde do mundo (15,67 metros), diz querer inspirar “as gerações futuras”, ela que tem no seu palmarés três dezenas de participações nas grandes provas internacionais de atletismo, entre europeus e mundiais.
No seu currículo estão dois ouros em Europeus (em 2016 e 2021) e duas pratas em Europeus (em 2012 e pista coberta em 2017).

Filha de pais angolanos, Patrícia Mbengani Bravo Mamona nasceu em 21 de novembro de 1988 em Lisboa e viveu a sua adolescência no concelho de Sintra.
Quando tinha 13 anos, o seu pai – e mais tarde a família –emigrou para Inglaterra. Patrícia ficou em Portugal para desenvolver a sua carreira desportiva e para terminar os estudos. Em 2003, liderou os rankings de 80 metros barreiras, salto em altura e comprimento, triplo salto e hexatlo, batendo os recordes nacionais destas duas últimas especialidades.
“Valeu a pena todo o trabalho, esforço e dedicação” – Patrícia Mamona
Depois de um semestre a frequentar a Faculdade de Medicina de Lisboa, Mamona ganha uma bolsa aos 17 anos na sequência do seu 4º lugar no Mundial de Juniores de 2006, indo estudar Medicina na Universidade Clemson, na Carolina do Sul, EUA, onde esteve de 2007 a 2011.
Duas vezes campeã universitária nos Estados Unidos, a atleta passou a representar o Sporting a partir de 2011, onde foi somando triunfos e mostrando capacidade de superação: no final de 2017 foi operada a um joelho e no ano passado apanhou COVID-19, doença que quase a tirou dos Europeus de Pista Coberta em Torun, na Polónia, nos quais viria a subir ao mais alto lugar do pódio.

Rosto das marca de óculos VAVA, dos Cereais Fitness da Nestlé, da Fidelidade Seguros e da Toyota Portugal, Mamoma entra agora para a história olímpica com a medalha de prata no triplo salto, tornando-se a primeira atleta saltadora feminina portuguesa medalhada em Jogos Olímpicos e a primeira portuguesa a “triplo saltar” acima de 15 metros.
“Valeu a pena todo o trabalho, esforço e dedicação”, diria a desportista que no Dia Internacional da Mulher, deixou uma mensagem de incentivo: “É o meu lema de vida: mesmo que digam que não consegues, se achas que és capaz, trabalha, ‘go for it’ e espero que se realize. Mas tens de trabalhar”.