Brexit aconteceu há cinco anos. O que ganhou o Reino Unido?

Cinco anos passaram sobre a saída do Reino Unido da União Europeia. Votada em 2016, através de um referendo popular, a retirada deste país da política comum europeia foi polémica e demorada. Pouco tempo depois da decisão, eram já vários os defensores desta saída com dúvidas sobre se este teria sido o melhor caminho. Certo…
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O comércio externo britânico continua escasso e os principais setores de atividade sofrem com o aumento dos custos, com uma burocracia mais complexa e com a escassez de mão de obra. As tarifas de Trump não vêm ajudar. Benefícios do Brexit ainda não chegaram à economia.
Economia

Cinco anos passaram sobre a saída do Reino Unido da União Europeia. Votada em 2016, através de um referendo popular, a retirada deste país da política comum europeia foi polémica e demorada. Pouco tempo depois da decisão, eram já vários os defensores desta saída com dúvidas sobre se este teria sido o melhor caminho. Certo é que os benefícios económicos desta estratégia ainda não chegaram ao país.

Os analistas da Crédito y Caución, operadora de seguros de crédito e de exportação, afirma que cinco anos depois, o comércio externo britânico continua escasso e os principais setores da economia sofrem com o aumento dos custos, com uma burocracia mais complexa e com escassez de mão de obra, sobretudo devido ao Brexit.

“As perspetivas comerciais continuam sombrias para o Reino Unido cinco anos após a saída da União Europeia. O comércio total não recuperou para os níveis anteriores ao Brexit e o desempenho das exportações britânicas é ainda mais dececionante do que o das importações”, refere Dana Bodnar. 

O Brexit conduziu ao Acordo de Comércio e Cooperação, que introduziu novas barreiras regulatórias e controlos aduaneiros com a União Europeia, mas também abriu a porta, pelos menos na teoria, a que o Reino Unido pudesse negociar livremente com o resto do mundo. Porém, os números não deixam margem para dúvidas: o comércio de bens do Reino Unido está a 88% e as suas exportações a 82% face aos níveis anteriores ao Brexit. Dana Bodnar, economista da Atradius, marca do mesmo grupo que é utilizada para o resto do mundo, refere, em comunicado, que “As perspetivas comerciais continuam sombrias para o Reino Unido cinco anos após a saída da União Europeia. O comércio total não recuperou para os níveis anteriores ao Brexit e o desempenho das exportações britânicas é ainda mais dececionante do que o das importações”.

Porém, o ambiente económico do Reino Unido é complexo, mas não é catastrófico, já que as perspetivas de crescimento deste país para 2025 são melhores do que para outras grandes economias europeias. No entanto, estas permanecem abaixo da taxa média anual anterior a 2020, que rondava os 2%.

Negociações com os Estados Unidos estão paradas

Segundo a especialista da Atradius, a adesão do Reino ao Acordo Transpacífico de Cooperação Económica (TPP), que acaba de entrar em vigor é um dos desenvolvimentos mais significativos deste país desde que deixou a União Europeia. Embora os seus efeitos a curto prazo sejam limitados – o Reino Unido já tinha acordos comerciais bilaterais em vigor com nove dos onze membros do bloco comercial – este acordo poderá trazer maiores benefícios no futuro. Destaca-se aqui a possibilidade de a China vir a integrar também este acordo.

Mas um dos maiores entraves ao desenvolvimento do comércio internacional é o facto de as negociações com os Estados Unidos, o seu maior parceiro comercial fora da União Europeia, estarem paralisadas. “O Reino Unido tem agora 70 acordos comerciais em vigor. Mas a grande maioria deles são essencialmente acordos de extensão, honrando os termos comerciais dos acordos existentes da União Europeia com países terceiros”, revela Dana Bodnar.

“A adição de tarifas de 10% sobre veículos elétricos fabricados na União Europeia e no Reino Unido ameaçou comprometer a eletrificação do setor automóvel europeu num momento crucial, em que enfrenta uma série de desafios, incluindo o aumento da concorrência dos fabricantes chineses”, refere Nicola Harris. 

Olhando para a questão através do impacto nos vários setores, estima-se que o aeroespacial, o das energias renováveis, o os meios de comunicação social e o do papel deverão registar um crescimento significativo, enquanto as maiores incertezas surgem do lado dos setores ligados a matérias-primas como o aço e o ferro, à logística e à construção. A agricultura é afetada sobretudo pela falta de mão de obra disponível.

O outro risco surge do lado das tarifas impostas pelos Estados Unidos às importações europeias. Ainda que as tarifas tenham sido adiadas no setor automóvel, as ameaças são constantes. Nicola Harris, analista de risco sénior do Reino Unido para o setor de transportes, afirma que “A adição de tarifas de 10% sobre veículos elétricos fabricados na União Europeia e no Reino Unido ameaçou comprometer a eletrificação do setor automóvel europeu num momento crucial, em que enfrenta uma série de desafios, incluindo o aumento da concorrência dos fabricantes chineses”.

A maiores incertezas surgem do lado dos setores ligados a matérias-primas como o aço e o ferro, a logística e a construção. A agricultura tem falta de mão-de-obra. 

O setor químico, que exporta cerca de dois terços da sua produção, sobretudo para a Europa, está também a enfrentar barreiras. “Isso está a afetar cada vez mais o investimento no setor petroquímico, à medida que as empresas navegam pelas incertezas e custos associados ao regime. A longo prazo, também esperamos uma escassez de mão de obra qualificada”, diz Sarah Evans, analista de risco sénior do Reino Unido para o setor químico.

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