Casas de apostas patrocinam oito campeonatos de seis modalidades coletivas. Verdade desportiva em risco?

As casas de apostas desportivas vigoram como principais patrocinadoras de oito campeonatos seniores de seis modalidades coletivas em Portugal, com especial incidência no futebol masculino e em cada escalão de futsal e basquetebol. A I Liga de futebol passou a designar-se de Liga Betclic para 2023/24, após duas épocas sob a denominação Liga Bwin, empresa…
ebenhack/AP
Na época 2023/24, as casas de apostas desportivas patrocinam e são a designação de oito campeonatos seniores de seis modalidades coletivas em Portugal. É uma ameaça à integridade das competições?
Negócios Sports Money

As casas de apostas desportivas vigoram como principais patrocinadoras de oito campeonatos seniores de seis modalidades coletivas em Portugal, com especial incidência no futebol masculino e em cada escalão de futsal e basquetebol.

A I Liga de futebol passou a designar-se de Liga Betclic para 2023/24, após duas épocas sob a denominação Liga Bwin, empresa que já tinha sido o ‘naming sponsor’ da prova de 2005 a 2008 e substituiu a operadora NOS em 2021, com um acordo válido até 2025/26.

“A nova parceria é sinal do valor que a I Liga tem. A Bwin cumpriu o seu desiderato, mas esta é a vantagem de adicionar valor aos parceiros e estas são as regras do mercado a funcionarem, para, agora, termos como parceiro a Betclic, que é líder de mercado”, frisou Pedro Proença, presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), em julho, enaltecendo o “acordo mais robusto alguma vez firmado” naquele setor a nível nacional.

As verbas em causa nunca foram reveladas, mas o escalão principal português manteve uma casa de apostas na sua designação oficial, cenário replicado por Azerbaijão, Áustria, Bulgária, Cazaquistão, Croácia, Eslováquia, Finlândia, Geórgia, Grécia, Letónia, Lituânia, Montenegro, República Checa, Roménia, Sérvia, Suécia e Ucrânia no contexto europeu.

A Taça de Portugal é patrocinada desde 2015/16 pelo Placard, jogo de apostas à cota de base territorial gerido pelos Jogos Santa Casa, que surge ainda nas provas masculinas – Liga, Taça de Portugal, Taça da Liga e Supertaça – e no campeonato feminino de futsal.

Igual designação receberam os campeonatos masculinos de andebol e hóquei em patins, enquanto a Solverde publicita a Liga feminina de voleibol desde o arranque desta época, recaindo na Betclic o patrocínio dos escalões máximos de basquetebol em cada género.

Os Jogos Santa Casa dão também apoio às federações de andebol, atletismo, ciclismo, canoagem, equestre, futebol, ginástica, judo, motociclismo, natação, patinagem, remo, râguebi, surf, ténis de mesa, triatlo, voleibol e de desporto para pessoas com deficiência.

DigitalVision Vectors/Getty Images

Entidades como o Comité Olímpico de Portugal (COP), o Comité Paralímpico de Portugal (CPP) ou a Confederação do Desporto de Portugal (CDP) são outras beneficiadas dessa distribuição dos resultados de jogos sociais efetuada pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que, em 2024, repartirá com o Governo a manutenção dos patrocínios ao setor.

Em 20 de outubro, o parlamento aprovou, na generalidade, um novo regime jurídico da integridade do desporto, que contemplará a criação de um Conselho Nacional e de uma plataforma de monitorização para sistematizar o combate à manipulação de resultados.

O Governo entendeu que o volume de negócio das apostas desportivas à cota de base territorial e online, que rondou os 2.000 milhões de euros (ME) em cada um dos últimos dois anos, é uma ameaça crescente à integridade das competições, assunto que está a motivar investigações em Itália acerca do envolvimento de futebolistas em redes ilegais.

Ao longo de outubro, os médios internacionais Nicolò Fagioli (Juventus) e Sandro Tonali (Newcastle) foram suspensos pela federação italiana durante sete e 18 meses – oito dos quais acessórios, mediante a presença num programa de recuperação, respetivamente.

Governo defende reflexão sobre patrocínios de casas de apostas no desporto

Os patrocínios de casas de apostas a clubes e modalidades desportivas exigem uma reflexão alargada de todos os envolvidos, defende o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Correia.

Questionado pela Lusa sobre a preponderância da publicidade a casas de apostas no setor, o governante assegurou que é um tema a ser debatido.

“Não podemos fingir que isto não é um assunto que merece uma reflexão profunda, suscitada até por exemplos de fora – Itália e Espanha já puseram um travão, Inglaterra anunciou também essa intenção, e alguns países estão a adotar medidas dissuasoras”, afirmou João Paulo Correia.

Na época 2023/24, as casas de apostas desportivas patrocinam e são a designação de oito campeonatos seniores de seis modalidades coletivas em Portugal.

“A reflexão profunda de que falo tem de ser feita, porque não podemos decidir prejudicando fortemente um setor. Sabe-se que a publicidade das casas de apostas na I Liga é de 72%”, prosseguiu o secretário de Estado, aludindo à importância no principal escalão do futebol nacional, com 13 como patrocinadores principais das camisolas dos 18 primodivisionários.

No entanto, João Paulo Correia pretende que a discussão seja mais alargada, tendo em conta a importância deste setor na sociedade portuguesa.

“A reflexão profunda tem de envolver outras áreas que não só o desporto e temos de ter a certeza do impacto que possa vir a ter num setor [o futebol] da nossa atividade económica, que gera milhares de postos de trabalho, paga contribuições para a Segurança Social, paga impostos. Não podemos perder de vista que se trata de um setor que tem uma grande fonte de receita, neste apoio de empresas privadas”, rematou o governante.

Lusa

Mais Artigos