A CEO da DB Schenker Ibéria, Matilde Torquemada, assume a gestão da filial para Portugal e Espanha da empresa num setor onde predomina a liderança masculina. Os 19 anos de carreira no setor da logística deram-lhe a bagagem para sair da zona de conforto e liderar uma filial que a surpreendeu pelo potencial de crescimento. Matilde Torquemada realça que nos últimos dois anos, a empresa registou um crescimento contínuo e acentuado, com uma taxa de crescimento anual acima de dois dígitos. A justificar este resultado está o fortalecimento das relações com os clientes e a expansão da oferta.
Qual tem sido a sua trajetória até chegar ao cargo de CEO da DB Schenker em Portugal e Espanha?
Conto com 26 anos de experiência profissional na área da logística, com especialização em operações, vendas e gestão em geral. Ao longo da minha carreira, tive a oportunidade de colaborar com empresas de renome como a Exel, a Accenture e a DHL Supply Chain, onde permaneci durante cerca de 19 anos, dos quais, oito foram passados como membro do Conselho Executivo. Desde 2022, assumi a liderança da DB Schenker Ibéria como CEO.
Quais são os principais desafios e lições da sua carreira que a ajudam no seu cargo atual?
A minha experiência profissional em diferentes áreas, tais como as áreas técnica, comercial e de operações, bem como em diversos setores e produtos em várias empresas, permitiu-me constantemente sair da minha zona de conforto. Essa experiência desenvolveu em mim uma atitude de aprendizagem contínua e curiosidade, permitindo-me trazer novas perspetivas que contribuíram para a melhoria de diversas situações ao longo da minha carreira. Em cada nova situação, contar com o apoio da equipa, dos colegas e dos líderes tem sido fundamental.
O que mais a motivou a aceitar esta posição de liderança?
Uma das maiores surpresas que tive quando iniciei a minha colaboração na Schenker foi o enorme potencial de crescimento da empresa na Ibéria, sobretudo ao constatar a qualidade do produto, a capacidade, o potencial e o talento da equipa. Desde o início, tive a perceção de que havia um extenso caminho a percorrer e que o único obstáculo era a falta de confiança no nosso potencial. Nos últimos dois anos, a empresa registou um crescimento contínuo e acentuado, com uma taxa de crescimento anual acima de dois dígitos. Este resultado foi alcançado através do fortalecimento das relações com os clientes e da expansão da nossa oferta.
Como antevê a evolução do setor nos próximos anos?
O setor tem vindo a revelar-se, consistentemente, desafiante. Não me recordo de qualquer momento em que o setor tenha sido estável ou sem desafios. As mudanças no contexto geopolítico, económico ou tecnológico são uma constante nesta área. Quando as coisas vão bem, há trabalho e desafios; quando não vão tão bem, os desafios aumentam ainda mais.
Qual o impacto da sustentabilidade no setor e que medidas a empresa está a adotar para responder a esta área?
O impacto da sustentabilidade no setor da logística é considerável, sendo o transporte e a distribuição responsáveis por uma parcela substancial das emissões globais de dióxido de carbono. No entanto, o aumento da regulamentação ambiental, a pressão dos consumidores e os avanços tecnológicos estão a promover uma transformação na indústria, com o objetivo de modelos mais sustentáveis. A DB Schenker está na vanguarda desta mudança, implementando iniciativas concretas para reduzir a sua pegada de carbono e tornar a logística mais amiga do ambiente. Entre as suas estratégias-chave, destacam-se a eletrificação da frota, não só para a atividade de entrega em áreas urbanas, mas também para o transporte interurbano, e a utilização de combustíveis sustentáveis para o transporte rodoviário, marítimo e aéreo. No que diz respeito ao transporte terrestre, graças a um acordo alcançado com a Repsol, está a ser promovido o consumo de HVO, que reduz as emissões líquidas em cerca de 90%. Relativamente à utilização de biocombustíveis marítimos e aéreos, são conhecidos os esforços da DB Schenker neste sentido, bem como os acordos que está a estabelecer com vários clientes, como a Avolta e a Mercedes-Benz, para promover a utilização de biocombustíveis marítimos e aéreos (SAF), respetivamente.
O setor de logística tem sido sobretudo dominado por homens. O que mudaria com a presença de mais mulheres?
A diversidade no nosso sector, como em qualquer outro, proporciona diferentes perspetivas que se revelam fundamentais para a gestão das empresas. Naturalmente, tendemos a nos rodear de pessoas com quem nos sentimos mais identificados. No entanto, ao atrair talento, tanto interno como externo, é imperativo contar com um campo mais amplo para identificar os melhores profissionais. Para tal, é imperativo que, ao avaliarmos os cargos de liderança, as pessoas se vejam representadas, de modo a incentivar a sua entrada num setor repleto de oportunidades, como é o caso do nosso. Se ao observarmos o topo da hierarquia depararmos com um único perfil, sem compreender a diversidade, isso pode ter um impacto negativo, tornando o crescimento na empresa menos atrativo e levando à perda de talentos, que é o aspeto mais relevante.
Quais os desafios e barreiras que enfrentou enquanto mulher ao longo da sua carreira?
Provavelmente, os desafios que eu mesma criei. Embora, em algumas situações (cada vez menos), ainda seja a única mulher numa reunião, ao longo do tempo acostumei-me a isso, mas também percebo que ainda levará alguns anos até conseguirmos uma maior diversidade no setor.
O que pode ser feito para incentivar mais mulheres a assumirem posições de liderança no setor?
É importante incentivá-las a assumir cargos de responsabilidade, sem medo de não fazer tudo na perfeição, e ajudá-las a confiar nas suas próprias perspetivas. Muitas vezes, a visão feminina pode ser diferente, e é crucial apoiá-las a acreditar na sua capacidade para trazer novas abordagens ao mercado.
Como a DB Schenker promove a diversidade e inclusão dentro da empresa?
Na região ibérica, sinceramente, acredito que estamos bastante avançados em termos de diversidade. No nosso comité de direção, atualmente temos 25% de mulheres, e se observarmos os níveis mais abaixo da organização, esse número é ainda maior, com a paridade muito próxima. O mais positivo é que já não se trata de uma novidade.
Que conselho daria a jovens profissionais, especialmente mulheres, que aspiram a posições de liderança?
Precisamos de bons líderes nas organizações, pessoas comprometidas e corajosas. Não é apenas uma questão de ambição, mas também de vocação, porque, em posições de responsabilidade, podemos impactar positivamente muitas pessoas. Sou uma firme defensora de que bons resultados vêm através do comprometimento das equipas, e isso só é possível de forma sustentável quando se cria um ambiente de trabalho saudável. E quando falo de ambiente saudável, não me refiro a questões superficiais, mas a garantir que todos se sintam respeitados e que seu desenvolvimento profissional seja incentivado. No entanto, isso não depende apenas das empresas, mas também de atrair pessoas dispostas a contribuir e, uma vez dentro, se sentirem apoiadas no seu desenvolvimento.
Que legado gostaria de deixar como líder de equipa? Quais princípios de gestão sempre mantém?
Gostaria de ser lembrada como alguém que ajudou as pessoas a se desenvolverem e as motivou a contribuir. Os meus princípios são proximidade, curiosidade e liderar pelo exemplo, sendo a mesma pessoa em casa, com amigos e no trabalho. Não acredito que a autoridade deva se refletir em um comportamento diferente.