Em 1975 foi oficialmente implementado pelas Nações Unidas o Dia Internacional das Mulheres, que se celebra a 8 de março. Ao contrário de outras datas, não foi implementado pelo comércio ou religião, senão pela necessidade de transformação em uma sociedade mais igualitária. Por essa razão, não pude deixar de pesquisar (aplicando o método científico) a finalidade deste dia (não fosse eu cientista, antes de empreendedora) e o que mudou desde 1975, visto que aquando da sua implementação servia o propósito de recordar as conquistas sociais, políticas e económicas das mulheres.
E o que mudou de lá até hoje?
Gostaríamos de acreditar que após 48 anos de recordação anual desta data, a total paridade entre mulheres e homens já tivesse acontecido. Muito caminho já foi percorrido, mas não, ainda depende de nós cortar a meta.
O relatório de ‘Igualdade de Género em Portugal: Boletim estatístico 2022’ da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG), demonstra que, em 2021, em cada 100 pessoas com ensino superior completo, cerca de 61 eram mulheres, sendo que o predomínio das mulheres em graus académicos elevados não se traduz na sua participação a nível do poder e tomada de decisão económica, política e académica, onde são ainda claramente minoritárias. E muito menos se traduz nas remunerações médias e ganhos, os quais são sempre superiores nos homens em todos os níveis de qualificação, de habilitação, de antiguidade, e em todos os grupos profissionais.
Então, qual será a justificação destes resultados? Porque é que estando as mulheres em maioria nos graus académicos elevados, as suas remunerações médias são inferiores às dos homens?
Uma das principais razões está associada ao acompanhamento familiar e trabalho doméstico que é predominantemente assegurado pelas mulheres, o qual não é medido e nem enquadrado economicamente, o que faz com haja desde logo desequilíbrios. São estas também as razões pelas quais as mulheres cada vez mais atrasam a maternidade, pela busca de um equilíbrio profissional e de remuneração.
Então o que podemos ativar para propor a mudança? Como podemos suportar as mulheres e a mudança de mind set na sociedade?
Podemos e devemos promover a neutralização do gap entre géneros em termos remuneratórios associados às nossas empresas e indústrias, procurar perfis profissionais independentemente do género. A redução do gap remuneratório entre géneros em famílias irá também permitir neutralizar as diferenças nas taxas de esforço associado ao trabalho invisível (doméstico e familiar).
Por outro lado, a ativa promoção da educação, capacitação profissional contínua, promoção do empreendedorismo feminino em todos os setores de negócio e a criação de modelos centrais de suporte ativo à natalidade com conciliação da vida profissional e pessoal independente de géneros, são algumas das ferramentas que podem suportar esta mudança tão importante.
Mas também acredito que a promoção e inclusão de mulheres nas áreas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) e a sua transferência para empresas e indústrias (diminuir a sub-representação em setores chave) é preponderante para criarmos líderes de futuro na nossa sociedade.
Olhando para os factos, ainda estamos um pouco longe de cortar a meta da paridade, mas não podemos desistir, e por essa razão também é importante enaltecer tudo o que tem sido implementado na promoção da paridade entre géneros.
Em Portugal, nos últimos anos tem-se verificado o aumento de empresas lideradas por mulheres, o aumento de startups fundadas por mulheres, associado ao aumento da consciencialização, promoção e capacitação nas organizações, mas também muito estimulado pelos elevados graus académicos, empoderando várias mulheres que se tornaram grandes exemplos a seguir.
Agora, cabe-nos a nós perpetuar estes exemplos, recordando cada uma delas pelas suas conquistas sociais, políticas e económicas, para atingir uma sociedade sem diferenças de género.