Dia Mundial da Água: Portugal necessita de 2 mil milhões de euros em investimento para sistema de regadio

Comemora-se hoje, dia 22 de março, o Dia Mundial da Água, distinção criada em 1993, pela ONU, para chamar a atenção para a importância deste recurso vital para a vida na Terra. Apesar de cerca de 70% do planeta estar coberto por água, menos de 1% é própria para o consumo humano, tornando-a escassa em…
ebenhack/AP
Estudo da FENAREG mostra que é necessário um investimento de 2 mil milhões de euros até 2030, para modernizar o sistema de regadio e assegurar a resiliência hídrica e alimentar do país. Investimento previsto é de apenas 631 milhões de euros, cobrindo só 31% das necessidades identificadas.
Economia

Comemora-se hoje, dia 22 de março, o Dia Mundial da Água, distinção criada em 1993, pela ONU, para chamar a atenção para a importância deste recurso vital para a vida na Terra. Apesar de cerca de 70% do planeta estar coberto por água, menos de 1% é própria para o consumo humano, tornando-a escassa em muitos locais.

Estima-se que em 2025, cerca de 1,8 mil milhões de pessoas enfrentem a escassez de água, e que dois mil milhões apenas tenha acesso a água poluída. Apesar disto, o desperdício mundial de água situa-se entre os 35% e os 40%. Em boia parte nos alimentos que produzimos e não aproveitamos. Ou seja, a 70% do consumo mundial da água é usado na agricultura, e um terço dos alimentos é desperdiçado globalmente. Por isso. Uma maior eficiência dos recursos é uma exigência que pode salvar muitas vidas. Em nome da sustentabilidade, assegurar que este recurso é bem planeado é uma obrigação.

Um estudo da FENAREG – Federação Nacional dos Regantes de Portugal, mostra que é necessário um investimento de 2 mil milhões de euros até 2030, para modernizar o sistema de regadio e assegurar desta forma a resiliência hídrica e alimentar do país. Ora este valor é muito superior ao valor inscrito atualmente para o mesmo período na despesa pública total, que apenas ascende a 631 milhões de euros. Ou seja, apenas está previsto 31% das necessidades identificadas.

A FENARG revela que 80% da água da chuva é desperdiçada em Portugal por falta de capacidade armazenamento.

A FENARG realizou um estudo que demonstra a necessidade de ser assegurada a resiliência hídrica nacional, através do aumento da capacidade de armazenamento e da criação de uma rede hídrica nacional dotada de sistemas eficientes e sustentáveis. “Só desta forma será possível impulsionar a agricultura nacional para o patamar 4.0 e introduzir níveis mais elevados de sustentabilidade absolutamente essenciais para o futuro do país, para as suas regiões e para a sua população”, pode ler-se no comunicado. Refere ainda que o regadio é uma componente vital da estratégia nacional da água e dela depende vastamente o setor agrícola, responsável pela sustentabilidade e pela segurança alimentar do país.

Modelo de financiamento multifundos resolveria situação

O estudo identifica ainda três grandes eixos estratégicos de desenvolvimento até 2030. São eles a modernização das atuais infraestruturas públicas de rega, sendo que a maioria das quais tem mais de 50 anos, a expansão da área infraestruturada para rega; e o aumento da capacidade de armazenamento de água e de regularização interanual. O relatório avança ainda com uma proposta de modelo de financiamento possível, assente numa abordagem multifundos, que permitiria assegurar 75% do valor total das verbas necessárias.

A FENARG revela que 80% da água da chuva é desperdiçada em Portugal por falta de capacidade armazenamento. Ou seja, a valiosa chuva que tem caído abundante nas últimas semanas poderá não vir a ser bem aproveitada para a agricultura, por falta de capacidade de armazenamento.

Esta entidade mostra ainda que infraestruturas modernas, como é o caso do Alqueva – que já gerou mais de 3.300 milhões de euros de riqueza), ou o Perímetro de Rega do Mira, que ultrapassou os 502 milhões de euros em 2023, têm impactos económicos evidentes e geram emprego nas regiões do interior, contribuindo para a coesão territorial.

“A modernização destes sistemas é vital, porque persistem situações em que as perdas de água (diferença entre água captada e fornecida aos agricultores regantes) chegam aos 40%. Um valor que contrasta claramente com o dos aproveitamentos hidroagrícolas mais modernos onde as perdas não vão além dos 10%,” explica José Núncio.

“O investimento na modernização e aumento da eficiência das infraestruturas de armazenamento e distribuição da água é determinante tanto para o desenvolvimento da economia do país – que além do mais se propõe atualmente reduzir o seu défice agro alimentar – 5.500 milhões em 2023 -, como para o setor agrícola que tem um potencial para gerar 74 milhões em receita fiscal e 320 milhões de euros em Valor Acrescentado Bruto por ano, o que resulta numa valorização idêntica à da TAP em 10 anos, segundo dados da Confederação dos Agricultores de Portugal),” refere  José Núncio, Presidente da FENAREG.

Os especialistas da federação referem que nos encontramos numa fase fundamental para concretizar a mudança. “O nosso estudo reflete justamente esta preocupação e as necessidades de investimento apuradas para o regadio público nacional têm em conta que cerca de um terço da área dos regadios públicos estão em aproveitamentos hidroagrícolas que têm mais de quatro décadas de existência e, naturalmente, precisam urgentemente de ser reabilitados e modernizados. A modernização destes sistemas é vital, porque persistem situações em que as perdas de água (diferença entre água captada e fornecida aos agricultores regantes) chegam aos 40%. Um valor que contrasta claramente com o dos aproveitamentos hidroagrícolas mais modernos onde as perdas não vão além dos 10%,” explica José Núncio.

O responsável refere ainda que “tivemos também em conta que a capacidade de armazenamento da água terá de ser substancialmente aumentada para permitir a resolução de um dos maiores desafios com que nos debatemos atualmente: as albufeiras existentes no nosso país têm capacidade para armazenar apenas 20% das afluências médias anuais, o que significa que 80% da água da chuva é perdida e desperdiçada!”

Mais Artigos