Diogo Dalot: “Se temos capacidade de fornecer qualidade aos que estão fora, o nível em Portugal também tem de ser altíssimo”

Apesar de ter sido sempre consciente de que era essa a sua ambição, foi aos 15 anos que Diogo Dalot passou a acreditar realmente que o seu futuro profissional passaria pelo futebol. Depois disso, chegou à equipa principal do FC Porto, mudou-se para o Manchester United, passou por um empréstimo ao AC Milan e fez…
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Na edição de fevereiro/março da Forbes Portugal, damos-lhe a conhecer o investidor, agora falamos-lhe sobre o futebolista. Diogo Dalot, jogador do Manchester United e da seleção nacional, fala sobre a carreira, os desafios e o Mundial 2026.
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Apesar de ter sido sempre consciente de que era essa a sua ambição, foi aos 15 anos que Diogo Dalot passou a acreditar realmente que o seu futuro profissional passaria pelo futebol. Depois disso, chegou à equipa principal do FC Porto, mudou-se para o Manchester United, passou por um empréstimo ao AC Milan e fez o mesmo caminho ascendente ao serviço da seleção nacional.

Hoje, numa altura menos positiva para o clube inglês, o jogador mostra-se claro em relação aos seus objetivos: “Quero fazer parte de um contexto em que o clube esteja a lutar por aquilo que merece, que é a Premier League, a Liga dos Campeões, as competições que fizeram com que este clube fosse e seja tão grande”.

A forma como olhas para o futebol mudou ao longo dos anos?
Quando és mais pequeno vês sempre o futebol com menos responsabilidade. Aquilo que tu queres fazer é apenas e só jogar futebol, não há tanta pressão, a pressão tática do jogo, a parte da responsabilidade que é representar neste momento grandes clubes, jogar pela seleção. Quando somos mais pequenos é apenas e só pela alegria e pela vontade de jogar futebol. Acredito que isso hoje ainda tenha que estar também presente, porque foi no fundo isso que nos fez chegar até aqui, mas nunca existia esta responsabilidade, esta pressão e a dimensão também é completamente diferente. Diria que sempre olhei para o futebol como algo que era aquilo que eu mais gostava e gosto de fazer, nesse aspeto sim, vejo da mesma maneira, mas como é lógico com responsabilidades diferentes agora.

Em algum momento o lado do negócio do futebol se sobrepõe a tudo o resto?
Depende, eu acho até que quando começamos a envolver demasiado negócio no futebol às vezes até acaba por ofuscar um bocadinho aquilo que é a verdadeira essência de nós praticarmos este desporto. Eu acredito que o futebol quando surgiu foi numa perspetiva de reunir pessoas, de socializar, de levar pessoas ao estádio para saírem de casa, para estarem juntas, para ver outro tipo de desportos, mas como é lógico com a evolução do mundo e do futebol, há muitas oportunidades a surgir a nível de negócios no futebol. O futebol sendo, para mim, o desporto rei, acaba por ser muito atrativo no que toca a negócios e é algo a que nós temos de nos adaptar hoje em dia mais do que nunca, é algo que está a crescer.

Diogo Dalot na capa da edição fevereiro/março da Forbes Portugal.

O quão difícil é chegar a uma equipa de primeira liga?
É muito difícil, existem diversos fatores que te podem levar ou não a chegar ao mais alto nível. Conheço jogadores que se calhar teriam a capacidade para jogar num nível mais acima, mas acabam por não jogar porque faltam outro tipo de características. Mas eu diria que no meu caso, e só posso falar sempre no meu caso, é que eu sempre me tentei comportar como o jogador que eu queria ser a nível profissional. Quando eu começo a chegar aos 13, 14, 15 anos, eu queria comportar-me como eu me imaginaria um dia no futebol profissional. Por isso foi sempre algo que eu tentei ser, tentar ser o mais profissional possível, dedicar-me ao máximo ao que esta profissão exige e abdicar de muitas coisas. Um jogador de futebol hoje em dia, as pessoas podem pensar que é só ir para o campo e jogar ou só ter as grandes condições, viajar, sim, no meu caso tenho acesso a isso tudo mas por trás existe um grande trabalho de dedicação, abdicar de muito tempo também com a família, com os meus amigos, estar fora do país. Tem sempre o seu lado menos bom, mas que na minha perspetiva é o lado bom porque é isso que me faz estar na posição onde estou hoje.

Como é que descreves os teus anos no Porto?
Foi basicamente onde eu me formei como criança, adolescente e depois a chegar à idade adulta. Foi toda essa base que eu precisava para poder chegar a um clube e uma liga da dimensão onde estou hoje, preparado para enfrentar qualquer tipo de desafios. Obviamente tu nunca estás preparado quando chegar a uma equipa diferente, porque há sempre características e adversidades que vão surgindo, mas aquilo que eu passei no Porto fez-me estar tranquilo para poder tomar a decisão que seria a altura certa para sair. E foi onde eu cresci, foi onde eu vivenciei praticamente tudo até chegar ao futebol profissional e por isso será sempre a minha casa.

A partir do momento em que te tornas jogador do United a tua exposição atinge um nível completamente diferente. Como é que foi lidar com isso inicialmente?
A expetativa quando chegas a um clube como o Manchester acaba sempre por ultrapassar aquilo que tu acharias que iria ser. Chegas com uma ideia de que o clube é grande, mas só depois de estares cá dentro é que consegues realmente ter noção da dimensão do clube. Já vou para o meu sexto ano, já tenho alguma experiência dentro do clube e sei que em qualquer parte do mundo que eu vá, se houver um fã do Manchester United, vou ser reconhecido por essas pessoas. Em qualquer canto do mundo há sempre alguém que acompanha o United. Para nós portugueses que estamos num país relativamente pequeno, embora com muito sucesso a nível futebolístico, acaba sempre por ser um choque, mas ao mesmo tempo algo surpreendente porque não estamos habituados a esse tipo de exposição. Mas eu diria que à medida que o tempo vai passando vais-te habituando e vais também sabendo lidar com esse tipo de reconhecimento que eu acho que seja positivo, mas como é lógico tem os dois lados da moeda. Quando é para o bem acaba por ser muito bom, mas quando é para o mal também tem uma dimensão muito mais impactante.

“Chegas com uma ideia de que o clube [Manchester United] é grande, mas só depois de estares cá dentro é que consegues realmente ter noção da dimensão do clube.”

Para um jogador português a pressão pode ser maior, tendo em conta a expetativa que eles podem ter em relação ao país?
Eu não diria por ser português, eu diria a pressão de chegar a um clube como o United será sempre grande pela expectativa que os adeptos criam cada vez que se contrata um jogador novo. Obviamente o United querendo voltar aos tempos de antigamente onde competia pela Liga dos Campeões, pela Premier League, sempre que nós contratamos algum jogador ou sempre que chega um jogador novo há essa expetativa de que esse jogador irá ajudar a chegar a esse nível outra vez, então a pressão é um bocadinho maior do que se o contexto fosse um bocadinho diferente. É essa pressão, esse tipo de expectativa, que o jogador quando assina não tem noção e é esse choque de realidades que às vezes acaba por ser difícil de lidar, mas nós também dentro do clube, o clube tem bastante pessoas para dar apoio, mesmo o staff técnico, todos juntos acabamos por poder ajudar quem chega de novo para que se consigam habituar o mais rápido possível.

Quando chegaste ao United não jogaste logo os minutos que provavelmente desejarias, como é que foi lidar com isso no teu dia-a-dia?
Obviamente na altura se calhar não olhas com tanta positividade, mas eu olho para trás como algo que foi essencial para a minha carreira. Foi algo progressivo, acabei por passar por bastante dificuldades nos primeiros dois, três anos, onde acabei por não jogar tanto como esperaria e como gostaria, mas ao mesmo tempo acabei por passar por experiências que se calhar se tivesse ficado no Porto não passaria, se calhar se tivesse jogado desde o início não estaria tão preparado como estou hoje se voltar a ter um momento assim. Acabou por ser algo que me ajudou e fico bastante orgulhoso de hoje poder estar na posição em que estou no clube, na seleção e de poder olhar para trás e dizer que consegui ultrapassar esses momentos difíceis. Por isso olho para trás com muito orgulho daquilo que consegui ultrapassar e daquilo que vivenciei. Mas na altura é sempre difícil porque estás a passar por dificuldades ou as coisas não estão a correr como eu desejarias, mas eu acho que faz parte da vida do jogador de futebol, acho que não existe jogador nenhum que não passe por esse tipo de dificuldades na carreira, seja por lesão, por não ser a opção do treinador, acho que é a vida do futebolista. Aquilo que eu costumo dizer é que quanto mais cedo tu passares por esses momentos melhor, porque vais estar melhor preparado no futuro.

Foto: Zohaib Alam – MUFC/Manchester United via Getty Images

O empréstimo ao Milan teve algum peso nessa superação?
Sim, nessa transição, eu acho que foi um momento de transição para mim porque muitas vezes no futebol é difícil tomares uma decisão que achas que para muitos pode ser dar um passo atrás, mas para mim foi simplesmente escolher um caminho que me iria facilitar chegar onde eu queria chegar. E para mim a solução era jogar futebol, voltar a ganhar confiança, voltar a ter os minutos que eu precisava para fisicamente chegar aos níveis que eu queria e acabei por ter o privilégio de jogar por um grande clube, numa grande liga também, vivenciar outra cultura, conhecer novos jogadores, um novo país. Foi bastante importante para mim, especial porque acabei por fazer uma grande época lá, também começar a jogar em diferentes posições, acho que me completou como jogador e como pessoa. E depois regressar, sempre com esse objetivo ali no final, querer voltar e querer demonstrar pelo menos que eu tinha capacidade para jogar neste clube com alguma regularidade. Acabei por conseguir e por isso fico esse percurso deixa-me muito feliz.

Ao longo dos teus anos em Inglaterra o clube passou por algumas fases complicadas, os últimos meses são indicativos disso mesmo, como é que um jogador mantém o foco durante estes momentos?
Tem de haver um equilíbrio. As pessoas quando falam em jogadores que são vencedores, normalmente associam muito à quantidade de troféus que ganharam, à quantidade de jogos, à quantidade de golos que marcam, eu olho um bocadinho para um contexto mais geral, para um detalhe mais importante: o jogador ganhador é aquele que é o jogador mais equilibrado, é o que sabe diferenciar os momentos positivos e negativos, quando é preciso puxar, quando é preciso manter a calma. Eu acho que nestes últimos anos tenho vindo a aprender muito a estar bastante equilibrado no que toca a essas oscilações momentâneas que existem no futebol, que quando vences nem tudo está maravilhoso, mas quando perdes se calhar também não está tudo mal. E acho que num clube como o United, principalmente pela fase que temos vindo a passar, é preciso ter bastante equilíbrio, principalmente bastante equilíbrio emocional. Existe muita oscilação, momentos positivos quando ganhas, e depois quando não se ganha existe uma energia negativa muito grande à volta do clube, e isso pode afetar toda a gente, quer os fãs, quer os jogadores, staff. Quanto mais equilibrados nós conseguirmos ser nesse aspeto, acho que torna as coisas não fáceis, mas um bocadinho mais fáceis de lidar, porque acabas por ser um bocadinho mais racional e não tão emocional em alguns momentos.

Olhando para toda a tua carreira até hoje, quais foram os momentos mais marcantes?
Olho obviamente para a parte que as pessoas estão à espera de ouvir, que é a parte dos troféus, daquele jogo que fica na memória. O primeiro troféu pelo United, o primeiro jogo, o primeiro golo. Tenho alguns jogos na memória em que senti mesmo aquilo que é o Manchester United e ficas sempre com esse sentimento. Depois tenho outra resposta que para mim é também importante passar, porque é exatamente aquilo que eu acho que muitos jogadores deveriam ter como objetivo, que é fazer uma carreira progressiva. Eu olho para trás e sei a dificuldade que tinha para jogar no clube, para fazer dois jogos seguidos, para fazer três jogos seguidos, e este ano acabei por fazer. Ou seja, ter uma consistência bastante grande em termos de número de jogos. Aquilo que também me orgulho bastante é de olhar para trás e perceber essa evolução e superação, acho que é um grande motivo de orgulho, mas como é lógico aquilo que eu também gosto de dizer é que as melhores memórias ainda estão para chegar, porque sou bastante positivo em relação a isso.

Foto: Gualter Fatia/Getty Images

Sabemos que Portugal tem uma equipa forte, com jogadores muito bons, quando as peças não se encaixam é muito frustrante para vocês?
Frustrante eu acho que acaba por ser sempre ou quando és eliminado ou quando não correspondes às expetativas que nós mesmos temos. Às vezes a expetativa que nós temos e a que se cria pelo público, ou neste caso pelos portugueses, pode não ser compatível. Eu não acho que seja o caso, porque a expectativa e aquilo que nós achamos que somos capazes é mais ou menos igual. Como é lógico, nós queremos sempre ganhar e acreditamos que entramos para todas as competições para ganhar. É uma questão de afinar as peças e na altura de chegar ao momento decisivo conseguiremos ultrapassar as melhores seleções, ganhar mais um jogo e chegar a uma fase a eliminar a seguir. Eu acredito que quando tivermos bem vincado isso de, como grupo, termos de ser decisivos nesses momentos, teremos uma equipa para poder lutar por qualquer competição.

Como é que olhas para o futebol português hoje em dia?
Olho como algo em evolução, se olharmos para o futebol português de há 15 anos, de há 20 anos, acho que é unânime dizer que o futebol português tem vindo a crescer. Agora se eu acho que tem capacidade para muito mais? Sim tem, isso é mais do que evidente, pela quantidade de jogadores portugueses que temos a jogar no estrangeiro com grande qualidade, a quantidade de treinadores que temos no estrangeiro com grande qualidade. Ou seja, se nós temos essa capacidade de fornecer aos que estão cá fora tanta qualidade a nível de treinadores, de dirigentes, de jogadores, o nível em Portugal também tem de ser altíssimo. Acredito que fazer crescer o futebol português seja algo que é um objetivo também da Liga e como portugueses acho que podemos ajudar um bocadinho mais no que toca a promover a nossa Liga. Acho que muitas vezes esta narrativa de que o futebol português não é bom, ou tem muito para melhorar… como é lógico tem coisas para melhorar, mas ao mesmo tempo, se formos analisar francamente, a qualidade da Liga portuguesa é bastante grande. Acho que temos todas as condições para Portugal trazer uma Liga bastante competitiva e ser das mais competitivas na Europa, pelo menos.

Com que expectativa olhas para o Mundial do próximo ano?
Com grande expectativa, eu acho que primeiro temos que lá estar, eu acho que é uma exigência nossa também poder participar e poder entrar na competição para lutar por ela, por isso com muita expectativa, obviamente cada vez que há uma competição desta dimensão existe uma envolvência muito grande no país, existe uma união bastante grande de todos os portugueses, e poder fazer parte do lote dos jogadores que irão representar a seleção é sem dúvida um objetivo meu, por isso com muita ambição e muita ilusão olhar para esta competição como algo real para nós e que possamos competir por ela.

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