Emanuel Minez: o segredo do sucesso mundial do Red Frog

Tinha apenas 14 anos quando começou a trabalhar nos bares da praia da Foz do Arelho, em Caldas da Rainha, cidade que o viu nascer. Hoje, aos 43 anos, Emanuel Minez realizou o sonho de ser proprietário de um dos 50 melhores bares do mundo, o Red Frog, situado atualmente na Praça da Alegria, em…
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Emanuel Minez é o empreendedor que está por detrás da história de sucesso do lisboeta Red Frog, o único bar português presente na lista dos melhores bares do mundo. Projetos novos estão na calha.
Negócios

Tinha apenas 14 anos quando começou a trabalhar nos bares da praia da Foz do Arelho, em Caldas da Rainha, cidade que o viu nascer. Hoje, aos 43 anos, Emanuel Minez realizou o sonho de ser proprietário de um dos 50 melhores bares do mundo, o Red Frog, situado atualmente na Praça da Alegria, em Lisboa. O empresário caldense é dono de quatro espaços, dois bares/restaurantes na região Oeste e dois bares, em Lisboa, o Red Frog e o Monkey Mash, ambos em sociedade com Paulo Gomes.

Com um conceito de speakeasy – bares que nasceram nos Estados Unidos durante a Lei Seca, escondidos em outros espaços, para operarem de forma clandestina –, o Red Frog é a menina do olho do empresário, pois planeou, logo no seu nascimento, que viria a estar entre os melhores bares do mundo. Isto veio a acontecer logo em 2017, um ano depois da sua criação: primeiro posicionou-se entre os melhores 100 e, em 2022, já estava na lista dos 50 Best Bars, na qual aparece na 40º posição. Em 2023 não entrou na lista dos 50 Best, mas está, mesmo assim no 88º lugar na lista dos 100 melhores bares, continuando a ser o único português nesta competição.

O empresário, licenciado em Restauração e Catering, pela Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar, em Peniche, polo do Instituto Politécnico de Leiria (IPL), dedicou-se cedo à vida de barman, atividade que sempre o fascinou. O seu primeiro emprego foi no extinto Solar da Paz, na Foz do Arelho, um emblemático bar da região nos anos 90, onde trabalhou durante três anos consecutivos. Seguiu, entretanto, para outro bar na praia, o Sétima Vaga – do qual, alguns anos mais tarde, chegou a ser sócio -, mas acabou por regressar ao Solar da Paz, onde permaneceu mais três anos.

Com um conceito de speakeasy, o Red Frog é a menina do olho do empresário, pois planeou, logo no seu nascimento, que viria a estar entre os melhores bares do mundo.

Porém, o bichinho do empreendedorismo não o largava e acabou por investir no seu primeiro projeto pessoal, o Cais da Praia, beach restaurant & bar, situado mesmo em frente à Lagoa de Óbidos. Este espaço ainda hoje funciona, embora com algumas alterações face ao conceito original. “Eu tinha este espaço idealizado há muito anos, sempre achei que a localização daria um excelente restaurante. Mas confesso que um projeto com cozinha muda tudo, acarreta mais dificuldades”, afirma. Na altura havia música ao vivo no bar e foi desafiado por alguns dos músicos a investir num outro local, também com animação musical, em Óbidos, o Castigo, onde ficou apenas alguns meses. Em 2013, surge então a oportunidade de investir com um amigo, Gonçalo Machado, no Sétima Vaga, que fica apenas a alguns metros do Cais da Praia, mas assim que recuperou o investimento saiu e deixou o negócio para o amigo continuar. “Chamo-lhe o meu projeto de amizade. Se puder ter amigos na concorrência, é tudo mais saudável”, admite.

Como surgiu o Red Frog

Entretanto, o empreendedor e um colega do mesmo ramo, Alberto Pires, criaram o evento de coquetelaria Lisbon Bar Show, cuja primeira edição aconteceu em 2015 e já vai na sétima. O Lisbon Bar Show conta com especialistas desta área oriundos de todo o mundo. “Como recebo muitos convidados internacionais neste evento, no primeiro ano todos perguntavam pelo meu bar, se lá podiam ir beber um copo, e eu dizia que ficava a 100 quilómetros de Lisboa. Então fiquei a pensar que teria de ter um bar em Lisboa, para receber estes convidados”, relembra. E foi aqui que a ideia do Red Frog começou a germinar.

Emanuel Minez e o sócio Paulo Gomes.

Emanuel Minez conhecia o atual sócio, Paulo Gomes, em algumas competições em que tinha participado, de barman do ano. “O Paulo trabalhava num hotel há 18 anos e também tinha vontade de ter um espaço próprio. Conhecia um espaço livre – um antigo bar de striptease, na rua do Salitre – ideal para projeto e decidimos avançar juntos” recorda. A ideia do nome surgiu numa viagem que Emanuel realizou com a esposa ao Panamá, seguida de uma ida a Belize, para praticar mergulho. Aí conheceu algumas praias, nas ilhas Boca Del Toro, onde havia uma praia chamada de Red Frog, na qual se inspirou. E pensou: “Na região das Caldas da Rainha há muitas cerâmicas que fazem sapos, mudo a cor para vermelho e tenho assim a marca criada”.

O sócio concordou com o nome e com o conceito de speakeasy (que significa falar com cuidado) e os preparativos arrancam. O conceito, nos anos 20 do século transato, passava por ter bares secretos, no fundo de uma barbearia, por exemplo, identificados por símbolos, em que se servia, por exemplo álcool em chávenas de chá. O símbolo do Red Frog seria o sapo vermelho, e o conceito não seria, na altura, completo, pois o bar tinha porta para a rua. O verdadeiro speakeasy surgiu nos pós pandemia, quando o Red Frog se muda para dentro de outro bar, dos mesmo sócios, o Monkey Mash.

“O Monkey Mash foi um dos bares mais inovadores da Península Ibérica, pois temos um laboratório muito bem equipado, onde fazemos coisas únicas no nosso país, usando para isso equipamentos inovadores”, revela Emanuel Minez.

Emanuel explica como surgiu o segundo bar, o Monkey Mash: “Assim que entramos na lista dos melhores bares do mundo, começamos a ter casa cheia e muitos dias tínhamos pessoas em espera na rua. A nossa capacidade era de 75 pessoas e chegamos a ter umas 80 à porta, o que dava para encher outro bar”. Foi então que perceberam que não era confortável ter pessoas na rua à espera e que o melhor seria abrir um espaço novo para as receber. Foi assim que abriram, a 11 de março de 2019, precisamente um ano antes da pandemia, o Monkey Mash, na Praça da Alegria, este com um conceito mais tropical. “Este foi um dos bares mais inovadores da Península Ibérica, pois temos um laboratório muito bem equipado, onde fazemos coisas únicas no nosso país, como infusões ultrassónicas (conseguimos até misturar água com azeite, quebrando a molécula), usando para isso equipamentos inovadores – que custam, só para ter uma ideia, cerca de 20 mil euros cada”, explica Emanuel.

Entretanto surgiu a pandemia e durante essa fase mais difícil, os novos senhorios do Red Frog, na Rua do Salitre, não renovam o contrato e a dupla de sócios pensou em fechar o bar. Foi a esposa de Emanuel que surgiu com uma solução: porque não reabrir o espaço numa sala dentro do Monkey Mash, onde estava o laboratório e servia para alguns eventos? E assim foi: colocaram mãos à obra e em pouco tempo montaram o novo bar. “A parte difícil foi trazer a identidade de um sítio para o outro, e as pessoas sentirem que estavam dentro do mesmo Red Frog. Este foi o grande desafio”, explica o empreendedor.

Assume ainda que “Não comprámos nada de novo, apenas readaptamos o que existia, desde os armários, ao balcão do bar que teve de ser reduzido. Aliás, tudo foi reduzido para que pudesse ficar, pois o bar ficou reduzido a um terço: dos 75 lugares passamos para 22 lugares”, diz. Ao reduzir o tamanho a aposta foi em aumentar ainda mais a qualidade: quem frequenta o bar tem de ter lugar sentado, para ter uma boa experiência. Depois de algum tempo surge a necessidade de fazer reservas, pois era difícil gerir a porta.

“Não há uma fórmula exata para o sucesso. Toda a experiência, o serviço, a decoração, tudo isso conta para estar na lista. Viajamos bastante, distribuímos mais de cinco mil sapinhos de cerâmica, damos a conhecer o nosso bar no mundo inteiro e neste momento é uma marca com uma força gigante”, revela Emanuel Minez.

Apesar de estarem juntos, são dois conceitos muitos distintos: o Monkey Mash é mais tropical e moderno e tem bebidas com uma base de cana de açúcar e de agave, como tequilas, mescais, rum, e alguns uísques mais exóticos, com origem na linha do Equador para baixo, sobretudo de países que tenham macacos. “O Red Frog tem um conceito mais old school, com uma coquetelaria diferente, numa base mais de uísque, rum, gin, vodka e martinis”, refere o empresário.

Como é que se coloca um bar nos 50 melhores do mundo

Questionado sobre como é que se coloca um bar na lista dos 50 melhores do mundo, Emanuel sorri e apenas refere “Não há uma fórmula exata. Toda a experiência, o serviço, a decoração, tudo isso conta para estar na lista. Viajamos bastante, distribuímos mais de cinco mil sapinhos de cerâmica, damos a conhecer o nosso bar no mundo inteiro e neste momento é uma marca com uma força gigante. É um trabalho lento, mas que tem de ser feito”. Explica que viaja muito para conhecer bares e que chega a visitar sete bares por dia. São cerca de 800 os jurados que votam em todo o mundo nos bares que fazem parte da lista e há todo um trabalho de marketing que necessita ser feito junto dos mesmos.

Com uma equipa total de 55 funcionários, nos quatro espaços em que está envolvido já fatura cerca de 2,5 milhões de euros: Cais do Parque e Cais da Praia geram receitas de cerca de 1,2 milhões de euros e, em sociedade, no Monkey Mash e Red Frog fatura cerca de 1,3 milhões de euros. O empreendedor tem ainda um projeto pessoal de cerveja artesanal, a Oestina, que se vende bastante nos seus dois espaços na Foz do Arelho, e um projeto de alojamento local, também nesta praia do Oeste.

Para o futuro, a sua ambição não fica por aqui. Emanuel tem o objetivo de ter uma zona de produção, de preparação dos cocktails que sirva os bares, mas ainda está tudo em aberto. Novos espaços, diversificados, poderão também surgir brevemente, mas, segundo o empresário, ainda é cedo para falar disso. ”O negócio ainda está muito identificado comigo. O meu objetivo é começar a dar sociedade às pessoas que trabalham comigo para conseguir libertar-me, pois só assim os grupos crescem”, refere.

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