Energia nuclear: Capacidade mundial deverá crescer de 395 GW para os 494 GW em 2035

Há anos que a discussão sobre a energia nuclear ser ou não um caminho seguro está em cima da mesa. Acidentes como o de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986, e anos mais tarde, em 2011, em Fukushima, no Japão, tem levantado questão de segurança neste tipo de produção energética. Contudo, e após a invasão da…
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Apesar dos receios dos últimos anos, a realidade é que o mundo precisa produzir mais energia nuclear. A GlobalData prevê que a capacidade global de energia nuclear atinja os 494 GW em 2035, impulsionada pelos avanços tecnológicos e pela mudança para uma energia mais limpa.
Economia

Há anos que a discussão sobre a energia nuclear ser ou não um caminho seguro está em cima da mesa. Acidentes como o de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986, e anos mais tarde, em 2011, em Fukushima, no Japão, tem levantado questão de segurança neste tipo de produção energética. Contudo, e após a invasão da Ucrânia pela Rússia, que mostrou a dependência europeia da energia russa, o nuclear volta a ser uma solução.

Segundo disse Bruno Soares Gonçalves, presidente do Instituto de Plasma e Fusão Nuclear, em entrevista ao Jornal Económico, esta é classificada como uma energia de baixo carbono, pois está entre as fontes de energia que menos carbono produz por kilowatt hora. Diz ainda que a Suécia adotou uma política de baixo carbono, e não 100% renovável, o que inclui o nuclear. “Temos a Noruega e temos muitos países de facto, a equacionar o nuclear. A razão pela qual faz sentido é porque se queremos eletrificar a sociedade, temos de substituir alguns processos que produzem ainda hoje muito CO2 que resultam da combustão de carvão ou de gás”, disse na altura. E por isso, o especialista defende a aposta de Portugal no nuclear no médio prazo, a partir de 2035, após o encerramento das centrais a gás natural.

A produção de energia nuclear representa 9% no mundo. Na Europa, cerca de 26% da energia elétrica provêm de produção nuclear.

A verdade é que Portugal, não tem centrais nucleares, mas já consome cerca de 20% de energia proveniente deste tipo de centrais, via importação de Espanha. E nos últimos dias saíram noticias que Espanha, que tem cinco centrais nucleares, admite manter as mesmas em funcionamento, depois de ter anunciado que iria encerrá-las. Isto, para mitigar os efeitos das tarifas comerciais de Donald Trump.

Na Europa, cerca de 26% da energia elétrica provêm de produção nuclear. E esta capacidade poderá aumentar. Pelo menos é o que revela um estudo da GlobalData, empresa de recolha e análise de dados de mercado. No seu último relatório  “Nuclear Power Market, Update 2025”, refere que a capacidade global de energia nuclear atingirá os 494 GW em 2035, impulsionada pelos avanços nos SMR (Small Modular Reactor, ou seja, Reator Modular Pequeno) e pela mudança para a energia limpa.

Segundo este estudo, o sector global da energia nuclear tem assistido a um crescimento constante nos últimos anos, impulsionado pela necessidade de energia de base com baixo teor de carbono, segurança energética e um interesse renovado na descarbonização dos sectores industriais. Prevê-se que a capacidade nuclear cresça então de 395 GW em 2024 para os 494 GW em 2035.

Portugal, não tem centrais nucleares, mas já consome cerca de 20% de energia proveniente deste tipo de centrais, via importação de Espanha.

Embora a energia nuclear represente cerca de 9% da produção mundial de eletricidade, os países com reatores envelhecidos procuraram prolongar o seu tempo de vida, enquanto outros expandiram agressivamente as suas capacidades nucleares, especialmente na Ásia. O maior produtor mundial de energia nuclear continua a ser os Estados Unidos, com 97 GW de capacidade instalada que gerou 787,6 TWh em 2024.

“O crescente foco na segurança energética devido a tensões geopolíticas, o aumento da procura de energia com baixo teor de carbono, o apoio do governo através de regulamentos e incentivos como subsídios, garantias de empréstimos, créditos fiscais de produção e investimento e mecanismos baseados no mercado como Contratos por Diferença, avanços em SMR e tecnologias de próxima geração e um aumento na procura de eletricidade de centros de dados são as principais razões por trás da crescente adoção da energia nuclear em todo o mundo”, refere, em comunicado, Mohammed Ziauddin, analista do setor de energia da GlobalData.

Vários países vão impulsionar este crescimento

Esta previsão para 2023 será ainda impulsionada pelos avanços em França, que depende da energia nuclear para mais de 60% da sua eletricidade. A China, com produção nuclear mais jovem e com crescimento mais rápido aumentou a sua capacidade para 56 GW, produzindo 386,1 TWh em 2024 ultrapassando a França na produção total de eletricidade nuclear.

A França, que depende da energia nuclear para mais de 60% da sua eletricidade, vai impulsionar os desenvolvimento das centrais de produção. Também a China está a fazer investimentos, tal como a Rússia. 

A Rússia é também um dos líderes mundiais na produção e na tecnologia de energia nuclear. E se após o desastre de Chernobyl, a energia nuclear sofreu uma redução de apoios públicos naquele país, em 2020, o governo russo aprovou a criação de mais de 40 GW de capacidade de energia nuclear até 2030. Neste contexto, espera-se que a capacidade de energia nuclear no país atinja 33,6 GW em 2035, registando uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 2,1% durante 2024-35. O objetivo do governo é elevar a quota da energia nuclear na produção nacional dos atuais 10,4% para mais de 15% até 2042.

 

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