Foi aprovado o primeiro bife de laboratório do mundo. E agora?

Na semana em que milhares de agricultores europeus se manifestaram em Berlim devido aos vários desafios que enfrentam para manter as suas quintas e alimentar os animais, a empresa israelita Aleph Farms recebeu uma permissão histórica no mundo da proteína animal.  Algures numa quinta da Califórnia, a pastar tranquilamente, vive a Lucy - uma vaca…
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Susete Estrela, engenheira alimentar e Health Coach, é especialista em segurança alimentar e bem-estar. Escreve aqui sobre a aprovação do primeiro bife de laboratório do mundo.
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Na semana em que milhares de agricultores europeus se manifestaram em Berlim devido aos vários desafios que enfrentam para manter as suas quintas e alimentar os animais, a empresa israelita Aleph Farms recebeu uma permissão histórica no mundo da proteína animal. 

Algures numa quinta da Califórnia, a pastar tranquilamente, vive a Lucy – uma vaca de raça Black Angus que doou os seus óvulos fertilizados (desconheço se o fez, ou não, de forma voluntária) para que daí se extraíssem as células que dariam origem a um produto pioneiro a nível mundial. Enquanto a Lucy continuava a pastar sob o sol californiano, os laboratórios da Aleph Farms criaram o primeiro bife de carne cultivada do mundo. Carne cultivada em laboratório é uma carne produzida a partir de células animais, conseguidas através de uma biópsia ou da extração de células de um ovo fecundado.

A Aleph Farms junta-se assim a empresas como a Upside Foods e a Good Meat, ambas da Califórnia, que obtiveram aprovação, em junho de 2023, nos Estados Unidos, em Junho de 2023, para comercializar frango cultivado em laboratório.

A Aleph Farms junta-se assim a empresas como a Upside Foods e a Good Meat, ambas da Califórnia, que obtiveram aprovação, em junho de 2023, nos Estados Unidos, para comercializar frango cultivado em laboratório. A aceitação da carne de frango cultivada estabeleceu uma base para a aprovação do bife de laboratório, representando uma mudança significativa na percepção coletiva sobre as proteínas alternativas.

A empresa israelita – que até à data já conseguiu angariar cerca de 120 milhões de dólares (cerca de 110,2 milhões de euros) provenientes de investidores públicos e privados, como o conhecido ativista ambiental Leonardo DiCaprio – anunciou que recebeu luz verde para a venda do seu revolucionário “Black Angus Petit Steak,” desenvolvido a partir de células cultivadas. Na sequência desta decisão histórica, o Ministério da Saúde israelita diz que esta aprovação torna Israel “num líder mundial na área, ao mesmo tempo que protege a saúde pública”.

Produzir 10 a 20 toneladas de bifes por ano

O CEO da Aleph Farms, Didier Toubia, acolheu com entusiasmo este desenvolvimento, afirmando que abordar desafios comuns, como a certeza alimentar, é crucial para garantir a prosperidade, não apenas da região do Médio Oriente, mas de todo o mundo, especialmente em áreas significativamente dependentes de importações de alimentos, com é o caso da Ásia. 

Aliás, a Aleph Farms pretende, em colaboração com a Esco Aster, criar uma unidade de produção de carne cultivada em Singapura, com capacidade de produção de 10 a 20 toneladas de bifes por ano.

Se se está a questionar se ainda vai a tempo de convidar a sua cara metade para um jantar romântico, no dia dos namorados, e servir-lhe um bife cultivado em laboratório, saiba que a Aleph Farms planeia lançar o Black Angus Petit Steak ainda este ano, mas apenas em colaboração com parceiros selecionados. Durante o soft-launch, o produto terá um preço semelhante à carne convencional premium, com a intenção de se reduzirem os custos nos próximos anos.

A empresa, uma das principais do setor de tecnologia alimentar em Israel, já iniciou o processo para obter permissão regulamentar na Suíça. 

Esta aprovação coloca o país na vanguarda da carne cultivada e emerge como uma peça central num cenário global onde mais de 150 empresas trabalham para criar carne de laboratório. Goste-se ou não, estes avanços tecnológicos estão a redirecionar o caminho futuro da indústria alimentar. 

E agora vou sair para jantar e enquanto puder escolher entre um Black Angus Petit Steak criado em laboratório e um Black Angus criado ao ar livre, vou continuar a optar pelo segundo. Sempre em tamanho petit por que a dose também faz a saúde.

(Texto escrito pela autora Susete Estrela)

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