Homem mais rico do mundo está por trás de start-up que deteta furtos e comportamentos suspeitos nas lojas

A Veesion é uma tecnológica de bandeira francesa que tem como um dos seus acionistas o homem mais rico do planeta, Bernard Arnault, da LVMH, e que conta com um escritório no nosso país há ano e meio, liderado por João Madeira. O representante da Veesion em Portugal explica à FORBES o funcionamento deste software…
ebenhack/AP
O homem mais rico do mundo, Bernard Arnault, é acionista da Veesion, cujo software de videovigilância inteligente foi montado já em cerca de 150 lojas portuguesas. Fomos conhecer esta tecnologia.
Tecnologia

A Veesion é uma tecnológica de bandeira francesa que tem como um dos seus acionistas o homem mais rico do planeta, Bernard Arnault, da LVMH, e que conta com um escritório no nosso país há ano e meio, liderado por João Madeira. O representante da Veesion em Portugal explica à FORBES o funcionamento deste software inteligente, a taxa de sucesso dos casos e quais os desenvolvimenmtos futuros em que estão a trabalhar.

João Madeira, representante da Veesion em Portugal

Como é que atua o vosso software?
João Madeira: O algoritmo da Veesion analisa continuamente os fluxos de vídeo das câmaras selecionadas e deteta gestos associados a potenciais furtos em lojas: um indivíduo retira um produto da prateleira e coloca-o num bolso, casaco, bolsa, mochila, remoção de um alarme, etc.

Após a deteção de um gesto suspeito, um clip de vídeo de 5 segundos é extraído e enviado em tempo real para a loja. Os alertas de vídeo podem ser recebidos num computador, tablet ou telemóvel. A partir daí, o destinatário do alerta (proprietário da loja ou agente de segurança) poderá intervir.

A nossa tecnologia é baseada em três “componentes” diferentes de IA combinados num inovador algoritmo de aprendizagem profunda de ponta a ponta.
Cada componente executa tarefas independentes necessárias para “compreender” diferentes comportamentos humanos e identificar os gestos suspeitos de potenciais furtos.

Como cada componente é independente, comunicam constantemente entre si os resultados das suas próprias análises para produzir a probabilidade da ocorrência de um gesto, quer associado a furtos em lojas ou a um comportamento normal de compras.
Os 3 componentes são:

  • 1: deteção humana: O primeiro componente deteta a presença de um ser humano: se nenhum indivíduo aparecer na filmagem, não vale a pena desencadear os outros componentes porque não é necessário detetar nenhum comportamento suspeito. Por identificar os seres humanos, este componente não faz distinção de pessoas, ou seja, não atua com base em preconceitos.
  • 2: estimativa de ´posições: O segundo componente produz uma representação numérica de cada parte do corpo de um indivíduo e rastreia a evolução de cada parte do corpo ao longo do tempo.
  • 3: reconhecimento de objetos: O terceiro componente foi treinado para identificar objetos de interesse tais como uma mochila, uma bolsa, um saco de compras, um carrinho de compras/cesto, um carrinho de passeio, a prateleira, um artigo na prateleira, e assim por diante.

Por exemplo, o Componente 2 indica que o braço esquerdo de um indivíduo entrou no objeto “prateleira” e o Componente 3 indica que a mão esquerda está agora a segurar um objeto reconhecido como um “item” pertencente ao objeto “prateleira”. Depois, o Componente 2 indica que o braço esquerdo e a mão esquerda estão a mover-se em direção a um objeto identificado como “mochila” e o objeto “item” desapareceu agora no objeto “mochila”. Nesta situação, o Componente 3 comunicará com outros Componentes e, muito provavelmente, será emitido um alerta.

Qual foi o investimento até ao momento que foi realizado no projeto?
15€ Milhões.

Quais são os atuais acionistas?
Temos três: um é francês (Bernard Arnault da LVMH), outro do Reino Unido e uma empresa de investimento sediada nos EUA.

Bernard Arnault da LVMH

Que tipo de gestos são considerados suspeitos pela tecnologia?
Todos os gestos associados a alguém que pegue um produto que esteja em exposição e tente de alguma forma escondê-lo. Também identificamos consumos de produtos em loja assim como pessoas que olhem demasiadas vezes para as câmaras de videovigilância. O algoritmo também identifica alguém que retire vários produtos iguais da mesma prateleira (por vezes essas pessoas depois vão procurar um local escondido para efetivar o furto). Podemos sempre adicionar outros comportamentos e também personalizar o tipo de gestos que cada loja pretende receber, de acordo com a sua própria realidade.

Estão a trabalhar no alargar dos gestos detetáveis pela tecnologia? Que tipo de situações vão contemplar?
Desenvolvemos esta tecnologia porque entendemos que havia a necessidade de adicionar respostas à área da segurança. Com base nisso, temos por hábito ouvir as dores dos nossos clientes e assim adicionar novos gestos de acordo com as necessidades que nos apresentam. As possibilidades são “infinitas”.

Qual é a taxa de sucesso dos casos detetados?
O furto em lojas é muito variável dependendo do tamanho, localização e estação do ano, mas a Veesion permitiu aos clientes prevenir mais de 180 000 furtos nos últimos 2 anos (a nível global). 

Em Portugal temos o exemplo de um Intermarché na zona de Lisboa que conseguiu recuperar mais de 500,00 euros em garrafas de álcool.

Porque o nosso software consegue vigiar todas as câmaras, todas as pessoas e durante todo o horário das lojas, a utilização da nossa solução permite apanhar pelo menos mais 70% de furtos do que quem não a usa.

Em que países estão presentes?
Temos o software instalado em mais de 20 países no mundo inteiro. Na Europa temos muita presença em Portugal, Espanha, Itália, França e Reino Unido. Este ano estamos a entrar no Brasil e EUA. Os nossos escritórios estão em Paris, Lisboa e São Francisco.

Quantas lojas a nível mundial têm já a vossa tecnologia?
2000.

Dessas lojas a nível global, quantas são em Portugal?
A nossa operação em Portugal começou no início de 2022. Desde aí temos o serviço a funcionar em cerca de 150 lojas.

Que tipo de estabelecimentos em Portugal adotaram já a vossa tecnologia?
Desde mercearias a super e hipermercados, farmácias, joalharias e lojas de bricolage. 

Com um escritório em Portugal há ano e meio, a Veesion montou a sua tecnologia em cerca de 150 lojas portugueses. E o número pode continuar a aumentar.

Quais são os objetivos para o mercado português, em número de novas lojas?
Pretendemos duplicar o número de clientes durante este ano e continuar a crescer dentro das grandes empresas do retalho.

Em termos de planos futuros, que tipo de lojas em Portugal vão adotar a vossa tecnologia?
Todos os estabelecimentos que tenham câmaras e furtos são adequados para a nossa tecnologia, por isso não temos limite.

A equipa que desenvolveu o algoritmo, que se encontra em França, é composta por quantos elementos? Há portugueses?
São 12 elementos, todos franceses, mas com a abertura do escritório português contamos adicionar mais elementos de Portugal e outras nacionalidades.

Para uma loja quanto é que custa instalar um equipamento destes?
O valor do serviço varia de acordo com o número de câmaras em que a tecnologia estará a funcionar e também com a dimensão das lojas. 

Quais são os próximos desenvolvimentos que a empresa terá proximamente?
Uma grande vantagem da Inteligência Artificial é que se pode reutilizar a maior parte do algoritmo desenvolvido para um contexto específico, afiná-lo (re-treinando o mesmo algoritmo em dados diferentes) para ser capaz de detetar / compreender novos comportamentos: a isto chama-se Aprendizagem Ativa.

Graças a isto, seremos capazes de reutilizar a nossa tecnologia para detetar fraudes nas caixas de pagamento automáticas e mais a médio/longo prazo temos a ambição de nos tornarmos uma das empresas de referências da tecnologia no retalho com um serviço semelhante às lojas da Amazon Go.

Na área da segurança pública pretendemos também desenvolver um algoritmo para identificar quando as pessoas caem nos hospitais, detetar posições corporais perigosas no sentido de prevenir acidentes em armazéns/fábricas.

O número de casos detetados tem vindo a aumentar? A crise é justificação para isso?
Sim, identificámos um incremento nos casos detetados e a procura pela nossa solução também aumentou. Infelizmente, a inflação e a crise acabam por ser o grande impulsionador para que os furtos aumentem. Por outro lado, temos clientes que testemunham que, após algum tempo a apanharem furtos através da Veesion, conseguiram reduzir os comportamentos suspeitos de furto e consequentemente estabilizaram a sua perda desconhecida.

Mais Artigos