Ifthenpay: a fintech nacional especialista em pagamentos digitais

Nasceu em Santa Maria da Feira para resolver um problema local e depressa se tornou num case study a nível nacional. Com uma história de mais de 20 anos, a Ifthenpay é uma sociedade especializada em soluções de pagamento digitais para empresas e, desde a sua fundação em 2004, não para de crescer. Foi pioneira…
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Nuno Breda e Filipe Moura fundaram a Ifthenpay para fornecer soluções de pagamentos digitais. Em 20 anos a empresa cresceu e faz agora parte de uma multinacional que tem presença em 23 países.
Tecnologia

Nasceu em Santa Maria da Feira para resolver um problema local e depressa se tornou num case study a nível nacional. Com uma história de mais de 20 anos, a Ifthenpay é uma sociedade especializada em soluções de pagamento digitais para empresas e, desde a sua fundação em 2004, não para de crescer. Foi pioneira no desenvolvimento de uma ferramenta tecnológica que possibilitou democratizar a utilização do multibanco nos pagamentos, através da criação das referências multibanco, uma vez que este acesso estava reservado a grandes empresas.

Tal foi a evolução do negócio que atraiu as atenções internacionais, através de um namoro que acabou, recentemente, em casamento. E foi com esta união que a Ifthenpay entrou agora na liga dos grandes ao fazer parte da polaca Payten, uma fornecedora de soluções para a indústria de pagamentos, que pertence ao universo Asseco Group, para fazer parte da sua estratégia de crescimento no sul da Europa.

Mas como surgiu esta fintech nacional, umas das primeiras a atuar neste setor? A ideia começou com a procura de uma solução que ajudasse a resolver um problema que afetava os bombeiros locais. Nuno Breda, o seu irmão mais velho – que saiu, entretanto, do negócio -, e o amigo Filipe Moura, eram sócios, desde 1998, numa empresa em Santa Maria da Feira, que se dedicava, inicialmente, a desenvolver software no controlo da produção na cortiça e no controlo de qualidade. Nuno tinha concluído há pouco tempo a licenciatura em Engenharia Eletrotécnica, realizada no Instituto Superior de Engenharia do Porto, e avançar com a criação da Ifthenpay Software pareceu-lhe um caminho lógico.

A Ifthenpay entrou agora na liga dos grandes ao fazer parte da polaca Payten, uma fornecedora de soluções para a indústria de pagamentos, que pertence ao universo Asseco Group.

Porém, alguns anos mais tarde, ao trabalharem também na área da proteção civil perceberam que os bombeiros estavam com dificuldades em cobrar quotas. Os cobradores de rua estavam a cair em desuso e os pagamentos, fundamentais para a atividade destes profissionais, não entravam nas contas. “A nossa empresa decidiu então, para auxiliar nesse processo, criar uma solução para levar as referências multibanco a estas entidades. O pagamento por referência multibanco só estava disponível até então para empresas de grande dimensão, como era o caso da EDP ou da PT. Ora esta solução acabou por se tornar um fenómeno, e nós decidimos alargar este mecanismo a outras áreas de negócio”, explica o co-fundador Nuno Breda.

A aposta no modelo de negócio

Os empreendedores começaram a perceber então que este modelo de negócio fazia sentido, e que era passível de crescer. “Quando começámos esta atividade nem era regulada, pois não havia praticamente ninguém a fazer o mesmo. Nós pegamos no modelo que estava reservado às grandes empresas e levamos essa ferramenta tecnológica a vários outros clientes, independentemente da sua dimensão”, refere o gestor.

Como eram ambos – Nuno e Filipe – da área das tecnologias e da programação, tiveram sensibilidade para detetar uma oportunidade única no mercado. O seu raciocínio na altura foi: que mecanismo é que podemos criar para apoiar os bombeiros a cobrar as suas quotas, uma vez que estes não tinham nem capacidade técnica nem financeira. “Na altura ter uma entidade para referências multibanco implicava custos elevados, quer mensais quer de implementação. Isto obrigava ter uma ligação direta à SIBS, e ainda havia toda uma questão tecnológica que não estava acessível a qualquer pessoa, pois era necessário ter formação”, refere Nuno Breda.

Nuno Breda. Foto/DR

A partir de 2008 surgiu uma diretiva comunitária para regular este tipo de atividade, e a partir daí, em sintonia com a legislação, deu-se o nascimento da InfthenPay como entidade supervisionada diretamente pelo Banco de Portugal e a operar com uma licença de instituição de pagamento.

“Acabamos por trazer um contributo para a economia nacional, que foi levar as referências multibanco para as operações online”, diz o gestor. Inicialmente, os seus clientes eram pequenas empresas e coletividades que apenas faziam meia dúzia de pagamentos, mas foram surgindo, entretanto, outras com volumes interessantes de pagamentos, que optavam pela solução Ifthenpay porque era mais rápido e mais barato, sem necessidade de investimento tecnológico. Atualmente, além das referências multibanco, que estão na origem do negócio, a empresa já oferece serviços de MbWay, Payshop, Visa/Mastercard, By Now, Pay Later, Pay by link, e TPA.

O caminho que definiu o negócio

“Aproveitamos o crescimento do e-commerce, e ao criarmos as referências de pagamento integradas nas soluções de pagamento apoiamos comerciantes que estavam a iniciar-se no online, e que precisavam de um método de pagamento fiável e seguro. Quando começaram a aparecer os primeiros sites de vendas online, as pessoas preferiam utilizar as referências multibanco a usar cartão de crédito”, refere Nuno Breda. Aliás, ainda hoje continua a ser um dos métodos preferidos dos portugueses.

Em apenas duas décadas a empresa cresceu e faz agora parte de uma multinacional que tem presença em 23 países. Os portugueses ficaram com 20% do capital.

A empresa explica que o seu modelo de negócio assenta numa tarifa plana, no qual não são cobradas taxas de adesão nem de fidelização, nem há mínimos de transações nem contratos de exclusividade. Ou seja, as receitas surgem diretamente das vendas dos clientes. “É um processo linear: os clientes aderem e a partir daí há um fee da transação, o que acaba por ter rentabilidade desde o início. Claro que depois fomos otimizando todos os processos e agilizando o sistema e hoje funciona muito bem e está perfeitamente equilibrado”, revela o executivo. A IfthenPay garante que consegue pôr qualquer cliente a vender online quase instantaneamente.

Esta tarifa plana – os preços são transparentes e estão publicados no site da empresa – permitiu o crescimento acelerado, pois os clientes sabiam exatamente o que estavam a pagar. E se, entre 2005 e 2011, a empresa angariou 2.332 clientes, a partir desta data, o crescimento foi tão acentuado que, em 2023, o número de empresas aderentes ascendia já a 27.192.

Pagamentos movimentaram 1,3 mil milhões de euros

Em 2023 a fintech, que tem uma equipa de 18 pessoas, movimentou um volume de 1,3 mil milhões de euros em pagamentos, o que representou um crescimento de 21% face ao ano anterior. Já o volume de negócios da fintech ascendeu a 5,7 milhões de euros. “Tivemos, desde o início, um crescimento bastante constante que, com os anos, foi demostrando uma consistência muito grande. É evidente que o incremento do negócio online trouxe um crescimento mútuo, pois não só crescemos com o comércio online como lhe demos ferramentas para se impulsionar. Portanto foi um win-win”, explica o empreendedor. A pandemia foi, de facto, um acelerador do negócio, pois houve um boom do comércio online mundial. Muitos foram os pequenos negócios, que até então não pensavam sair do mundo físico, como padarias, farmácias, restaurantes, a lançar-se nas vendas virtuais.

“É evidente que o incremento do negócio online trouxe um crescimento mútuo, pois não só crescemos com o comércio online como lhe demos ferramentas para se impulsionar. Portanto foi um win-win”, explica Nuno Breda.

Para o crescimento do negócio foi importante o alargamento que a empresa foi fazendo, ao longo dos anos, a outro tipo de pagamentos digitais e, também, a pagamentos presenciais. “Temos agora a chamada solução 360º, que integra na mesma plataforma os TPA com o pagamento de MBway, com uma fatura única, e que permite ao cliente ter uma solução para a sua loja física e para a loja online”, explica Nuno Breda.   

Quando questionado sobre o peso que cada um dos produtos têm no volume de negócios, Nuno Breda apenas refere que “os pagamentos TPA e os cartões de crédito, não têm ainda o peso do Multibanco e do MBWay, apesar deste último estar a crescer bastante”. Embora, conforme explique, as referências multibanco estejam a perder algum terreno, não em termos absolutos, porque continuam a entrar novos clientes, mas em termos de percentagem, quando comparado com o MBWay.

Já a possibilidade de fazer pagamentos com cartão de crédito acaba por ser uma vantagem para clientes que queiram exportar os seus produtos online. “A evolução da logística é muito grande, portanto está ao alcance de qualquer comerciante nacional deixar de pensar só no nosso mercado, porque pode – e também graças as estas ferramentas – vender para qualquer país e ter acesso a outros mercados com alguma facilidade”, explica o fundador da Ifthenpay.

O que o futuro lhes reserva

Para o futuro, a empresa quer apostar em mais produtos e serviços inovadores, sendo que para isso está a investir sobretudo na equipa de Recursos Humanos, procurando know how de valor acrescentado. Em termos tecnológicos, a questão dos pagamentos presenciais abre portas a produtos como os gadgets contactless, ou produtos de pagamentos fracionado – buy now pay later – que estão a ter muita procura.

“Outra das áreas inovadoras onde estamos a trabalhar é a integração da IA naquilo que é o suporte ao cliente, pois há um conjunto de tarefas que neste momento podem ser automatizadas com um nível de qualidade muito interessante”, refere Nuno Breda.

“Quando começaram a aparecer os primeiros sites de vendas online, as pessoas preferiam utilizar as referências multibanco as usar cartão de crédito”, refere Nuno Breda.

A estratégia de crescimento é agora conjunta: como estão integrados num grupo maior as vantagens podem ser grandes, potenciando o crescimento. A Ifthenpay viu na Payten uma empresa que se encaixava nos seus valores e que poderia dar continuidade ao seu negócio, daí que tenham optado pela integração. Os dois acionistas fundadores ficaram ainda com uma pequena percentagem da empresa – cerca de 20% -, sendo que a maioria do capital pertence à companhia polaca. “Encontramos neste parceiro o nosso ADN em termos de visão estratégica do negócio, em termos de visão de crescimento, e para já tem sido muito positivo. É uma experiência enriquecedora, estamos a aprender muito em termos de gestão e sei que a Payten também aprende connosco. Julgo que, no final de 2024, já poderemos revelar quais os frutos que nasceram desta aquisição”, remata Nuno Breda.

(Artigo publicado na Forbes Portugal, edição de junho/julho)

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