Investimento: No final da sua vida profissional, estima-se que as mulheres acumulem apenas 74% da riqueza dos homens

Independentemente das variações por regiões geográficas e do apoio político dado, ou não, em diversas culturas, a verdade é que as mulheres são cada vez mais uma força económica crescente a nível mundial, atingindo novos picos em termos de educação, de empreendedorismo e de emprego. No relatório de investimento “Gender-lens”, Antonia Sariyska e Amantia Muhedini,…
ebenhack/AP
O gap de género na distribuição da riqueza, apesar da evolução positiva, é ainda uma realidade. As recentes políticas mundiais para desacelerar a diversidade e inclusão dão sinais de algum retrocesso. Ainda assim, 32% da riqueza mundial está nas mãos de mulheres.
Forbes Women

Independentemente das variações por regiões geográficas e do apoio político dado, ou não, em diversas culturas, a verdade é que as mulheres são cada vez mais uma força económica crescente a nível mundial, atingindo novos picos em termos de educação, de empreendedorismo e de emprego.

No relatório de investimento “Gender-lens”, Antonia Sariyska e Amantia Muhedini, Sustainable and Impact Investing Strategists, respetivamente, do Chief Investment Office do UBS Global Wealth Management, analisam a situação das mulheres no mundo, procurando compreender os obstáculos que ainda se colocam à consecução da igualdade de género e os progressos realizados até à data. As duas especialistas centram-se em investimentos com uma perspectiva de género, analisando a forma como podem continuar a alinhar o seu capital intencionalmente de modo a eliminar as barreiras que as mulheres enfrentam para atingir o seu pleno potencial.

As autoras do estudo concluem que  as mulheres estão cada vez mais no comando dos investimentos, conceito que abordam em três frentes: o investimento para as mulheres; o investimento nas mulheres; e o investimento das mulheres.

Referem, neste research, que nos últimos 25 anos se assistiu a um crescente foco na diversidade e inclusão, embora os últimos meses estejam a representar um retrocesso de muitas das medidas tomadas, por parte de alguns governos, que põem em xeque muito dos avançados sentidos nos últimos anos. Concluem, de um modo geral, que as mulheres estão cada vez mais no comando dos investimentos, conceito que abordam em três frentes, que indicam o fluxo do capital: o investimento para as mulheres; o investimento nas mulheres; e o investimento das mulheres.

Mulheres gerem 32 biliões de dólares de gastos no mundo

Assim, no primeiro ponto, o investimento para as mulheres, os dados recolhidos pelo relatório mostram que as mulheres gerem cerca de 32 biliões de dólares (cerca de 29,5 biliões de euros) dos gastos totais no mundo, e as estimativas apontam que possam controlar cerca de 75% das despesas globais nos próximos cinco anos. Ora isto representa uma potencial enorme de oportunidades de investimento, já que muitas mulheres consideram que muitas empresas não estão a ir ao encontro das suas necessidades específicas. Isto aplica-se tanto a produtos como a serviços, sejam financeiros, de saúde, entre outros.

Para isso, as autoras do estudo alertam que a inclusão financeira, a educação, os cuidados de saúde são as três grandes áreas de investimento, para criarem oportunidades e reduzirem a lacuna de género.

É um facto incontornável que as mulheres continuam a ganhar menos do que os homens para o mesmo trabalho.

Por outro lado, na abordagem do investimento nas mulheres, há uma questão relevante a ter em conta: de acordo com o Wealth Equity Index 2022 da WTW e do Fórum Económico Mundial, no final da sua vida profissional, espera-se que as mulheres a nível mundial acumulem apenas 74% da riqueza dos homens. Ou seja, para abordar a lacuna de género é fundamental olhar para o emprego, para os rendimentos do trabalho feminino, e também para o seus ativos, propriedades e investimentos como um todo. É um facto que as mulheres continuam a ganhar menos do que os homens para o mesmo trabalho.

Número de bilionárias cresceu 81% em 10 anos

Porém, por outro lado, entre 2015 e 2024 o número de mulheres bilionárias cresceu de 190 para 344, um crescimento de 81%, crescimento suportado pelo empreendedorismo e pela criação de novos negócios. Este número tem mais impacto quando comparado com o crescimento de novos homens bilionários, que se ficou pelos 49%.  Por outro lado, o número de selfmade woman, já que 24% destas novas bilionárias atribuem a sua riqueza apenas aos seus negócios, e não por herança.

Mas a questão das heranças é também relevante, já que, enquanto no passado o papel das mulheres era frequentemente o de proporcionar acesso à riqueza (por exemplo, casando com uma família rica), as gerações Z e Y de mulheres estão agora a beneficiar de uma parte maior da grande transferência de riqueza. É provável que o seu papel nas finanças aumente, uma vez que as mulheres se mostram mais preocupadas com as implicações financeiras dos acontecimentos da vida do que os homens.

Estima-se que sejam transferidos 9 biliões de dólares (cerca de 8,3 biliões de euros) de homens para as suas esposas nos próximos 25 anos, e o mesmo será transferido de mulheres para as suas filhas e netas, ou seja, para a próxima geração.

Esta já é a dimensão do investimento das mulheres, de que falam as autoras. Ou seja, as mulheres nunca foram tão ricas, em termos médios, como agora. Cerca de 32% da riqueza está na mão de mulheres, sendo que estas 344 bilionárias controlam um total de 1,7 biliões de dólares (cerca de 1,56 biliões de euros), e os seus ativos continuam a valorizar. Estima-se que, nos Estados Unidos, as mulheres controlem 34 biliões de dólares (cerca de 31,3 biliões de euros) de riqueza no país até ao final desta década. Igualmente se espera que sejam transferidos 9 biliões de dólares (cerca de 8,3 biliões de euros) de homens para as suas esposas nos próximos 25 anos, e o mesmo será transferido de mulheres para as suas filhas e netas, ou seja, para a próxima geração.

É fundamental criar boas oportunidades de investir

Em comunicado, Antonia Sariyska refere que “Compreender os consumidores do sexo feminino não é apenas um bom negócio, mas também uma oportunidade devido ao rápido aumento do seu poder de compra. É também fundamental para criar uma série de oportunidades: uma melhor prestação de serviços financeiros, o acesso à educação e aos cuidados de saúde podem apoiar e acelerar o desenvolvimento da riqueza das mulheres”.

E Amantia Muhedini acrescenta: “De 2014 a 2023, cerca de 60% das empresas financiadas por capital de risco lideradas por mulheres estavam no setor da tecnologia e da IA, em comparação com 40% no mercado mais amplo dos EUA. Isso é surpreendente, pois menos mulheres têm formação em tecnologia. Sem dados sobre negócios não financiados, não é claro o motivo desta distorção, mas pode estar relacionado com o nível geral de financiamento.”

Mais Artigos