Exclusivo: João Maria Botelho é um jovem pioneiro da Sustentabilidade ao serviço dos Global Shapers – e muito mais.

Num mundo que clama por mudança, João Maria Botelho emerge e ergue-se como uma mais-valia para a inovação. Com apenas 21 anos, João é um defensor dedicado ao impacto ambiental positivo e tem-se tornado numa força em ascensão no mundo das finanças sustentáveis. Mas o que o distingue não é apenas o seu compromisso com…
ebenhack/AP
João Maria Botelho ergue-se como uma mais-valia para a inovação. Com apenas 21 anos, é um defensor dedicado ao impacto ambiental positivo e uma força em ascensão no mundo das finanças sustentáveis.
Empreendedores Líderes

Num mundo que clama por mudança, João Maria Botelho emerge e ergue-se como uma mais-valia para a inovação. Com apenas 21 anos, João é um defensor dedicado ao impacto ambiental positivo e tem-se tornado numa força em ascensão no mundo das finanças sustentáveis. Mas o que o distingue não é apenas o seu compromisso com a sustentabilidade. Dá corpo, também, a um empenhamento que o transforma num verdadeiro Global Shaper – título atribuído, pelo Fórum Económico Mundial, aos membros da comunidade global de jovens que foram selecionados para impulsionar alterações ambientais positivas e (re)moldar os vários processos de decision-making a nível global.

Além disso, João teve um papel fundamental num trabalho que foi reconhecido pelo Financial Times, como um dos melhores projetos liderados por estudantes em Portugal. Também esteve por trás de um podcast sobre finanças sustentáveis, e de uma YouTube climate series, cujo objetivo principal tem sido o de disponibilizar conversas críticas sobre as alterações climáticas a um público mais vasto. João Maria já escreveu mais de 15 artigos sobre o ambiente, foi nomeado Embaixador dos Oceanos e Embaixador para a Sustentabilidade e, ainda este ano, vai moderar a uma secção da cimeira anual da Leadership Summit Portugal, no Casino Estoril. Mais, enquanto ainda estava no segundo ano de universidade, uma investigação liderada pelo João recebeu uma Menção Honrosa pela mão do Presidente da Assembleia da República.

Numa entrevista exclusiva à FORBES, João Maria conta-nos como tudo começou e não só. Do seu interesse em integrar, desde cedo, vários projetos voltados para a aceleração de políticas ambientais positivas, à sua visão para a criação de um futuro mais criativo que perpetue a agenda da sustentabilidade: cá e lá fora. Futuro esse que implica um papel ativo por parte dos mais jovens.

João, desde muito cedo que assumiste um compromisso com a sustentabilidade, e hoje és reconhecido pelos teus esforços em remodelar a narrativa ambiental que se desenha no mundo, a nível global. Aliás, o teu percurso de inovação começou ainda no liceu, em 2019, com o projeto ‘Où sont les enfants?’, que recebeu uma menção honrosa do Expert Group on Compentencies for Democratic Culture, atribuído pelo Conselho da Europa.
João Maria Botelho (JMB): É verdade. Foi um projeto que considero um momento fulcral na minha vida. Tratou-se de uma investigação histórica realizada em parceria com o Espaço Memória dos Exílios do Estoril, centrado nos acontecimentos em torno da Segunda Guerra Mundial.

João Maria Botelho, fotografado por João Fernandes | @oldcatch

JMB: A nossa missão era aprofundar um artigo histórico, intitulado Les Enfants Perdus Dans L’exode, publicado em Maio de 1940, na Paris Match. Tratou-se de um artigo que relatava a perda de nove crianças durante a invasão alemã da França, na Segunda Guerra Mundial, pelas forças armadas germânicas, tendo apenas quatro delas sido encontradas mais tarde num autocarro no norte francês. O paradeiro das restantes cinco crianças permaneceu um mistério. O nosso objetivo era encontrar estas crianças perdidas, lançando luz sobre um fragmento pungente da História. Tratava-se de mais do que apenas uma investigação; tratava-se de encerrar um capítulo do passado, de uma espécie de closure, oferecendo uma visão das vagarias humanas por detrás de acontecimentos históricos duros e reais.

Claro. E eras o group leader do projeto, certo?
JMB: Sim. Tive o privilégio de coordenar uma equipa, colaborar com o Espaço Memória dos Exílios e com a própria Câmara de Cascais, de maneira a concretizar a visão e os objetivos definidos pela Presidente do Espaço. Fiquei encarregue de encontrar uma das crianças, Jacques Lison, que tinha apenas 6 anos quando desapareceu. Toda esta experiência não só aperfeiçoou as minhas capacidades de investigação e liderança, como também me incutiu um profundo apreço pelo valor da memória histórica e pela importância da cidadania democrática e participativa. Foi o ponto de partida essencial no meu percurso como investigador e defensor de uma mudança positiva.

E de que forma é que este projeto teve um impacto na tua perspetiva sobre o que é ‘inovação’ e no teu empenho em marcar diferença no mundo?
JMB: Ensinou-me que inovação não se limita à tecnologia ou aos negócios. Pode estar profundamente enraizada na investigação histórica e na procura da verdade. Diria que me mostrou o poder da colaboração interdisciplinar e da empatia. Combinámos, juntos, a investigação histórica com o objetivo de resolver um mistério do mundo real. Tratava-se de fazer a ponte entre o passado e o presente. Desde então que esta abordagem interdisciplinar se tornou uma marca de água do meu estilo de problem solving quotidiano.

Ensinou-me que inovação não se limita à tecnologia ou aos negócios. Pode estar profundamente enraizada na investigação histórica e na procura da verdade.

JMB: Ao descobrirmos as histórias dessas crianças, não estávamos apenas a honrar a sua memória, mas também a contribuir para uma compreensão mais alargada das experiências humanas em tempo de guerra. A menção honrosa que recebemos da parte dos experts do Conselho da Europa, veio apenas atestar e consolidar o impacto dessa iniciativa. Foi de certa forma uma muito bem-vinda validação dos nossos esforços, sublinhando-nos que a inovação pode assumir várias formas e pode começar numa idade jovem. Motivou-me a continuar a procurar soluções não convencionais para desafios complexos e a esforçar-me sempre por ter um impacto positivo no mundo.

Claro. E a tua dedicação a forjar um caminho de mudança e inovação pode inspirar outros jovens que queiram fazer o mesmo. Mais recentemente, este ano, foste convidado e tornaste-te membro de uma comunidade global de jovens da rede do Fórum Económico Mundial – os Global Shapers. Qual é o teu papel como um Global Shaper e em que projetos tens estado envolvido?
JMB: O meu papel como Global Shaper tem sido uma jornada incrivelmente enriquecedora. A nossa rede, no âmbito do Fórum Económico Mundial, tem uma missão clara: capacitar jovens líderes para catalisar mudanças positivas e inovadoras.

JMB: No contexto do Lisbon Hub, o eixo a que pertenço, tenho estado ativamente envolvido com a pasta da sustentabilidade, nos planos da inovação e das parcerias estratégicas. Uma das iniciativas que se destaca mais é a preparação do próximo Retiro Ibérico dos Shapers. Este ano o evento vai ter lugar na nossa vibrante capital, em Lisboa, e reunirá mais de 50 Shapers de diversos hubs. O nosso objetivo é o de criar um espaço de partilha, colaboração e co-criação, no qual jovens líderes de todo o mundo possam unir forças e criar soluções inovadoras para os desafios globais que vão aparecendo.

O nosso objetivo é criar um espaço de partilha, colaboração e co-criação, onde jovens líderes de todo o mundo possam unir forças e criar soluções inovadoras para os desafios globais que vão aparecendo.

João Maria Botelho, fotografado por João Fernandes | @oldcatch

E o Lisbon Hub tem vindo a liderar projetos que deixaram uma marca no panorama da sustentabilidade em Portugal.
JMB: É bem verdade. Um exemplo considerável é o nosso compromisso com a literacia financeira e com o impacto social. Acreditamos que equipar as gerações futuras com conhecimentos financeiros sólidos constitui uma peça fundamental para a construção de um futuro verdadeiramente sustentável. Através de workshops interativos e programas educativos, estamos a fazer a diferença, capacitando outros jovens com as ferramentas necessárias para tomar decisões financeiras informadas e promover uma sociedade mais consciente e resiliente. Com a minha chegada ao hub, creio que trouxe comigo a agenda da sustentabilidade e a preocupação de uma maior awareness relativamente a este tema. Posso dizer que já temos no nosso project board algumas sementes de projetos ligados a uma sustentabilidade que espero ver crescer nos próximos meses. 

Acreditamos que equipar as gerações futuras com conhecimentos financeiros sólidos constitui uma peça fundamental para a construção de um futuro verdadeiramente sustentável.

E estão a desempenhar um papel essencial na promoção da inovação e parcerias estratégicas em Portugal.
JMB: Exatamente. Estamos empenhados em ser a voz da próxima geração dos líderes que estão determinados a enfrentar os desafios do nosso tempo com criatividade, paixão e um compromisso inabalável com um futuro melhor para todos. Toda esta agenda dos Global Shapers (e, portanto, do World Economic Forum) está alinhada com a minha agenda pessoal: uma gestação, sempre, de uma clara win-win situation.

JMB: A rede Global Shapers é uma potência de colaboração. Somos uma comunidade diversificada, com membros de várias origens, especializações e regiões. Esta diversidade é a nossa força. Nos próximos anos, imagino que os Global Shapers se tornem numa voz poderosa na definição de políticas internacionais para a sustentabilidade e não só…

Nos próximos anos, imagino que os Global Shapers se tornem numa voz poderosa na definição de políticas internacionais para a sustentabilidade e não só…

E que ideias tens sobre o papel dos jovens líderes e agentes de mudança na definição do futuro da sustentabilidade em Portugal? Que perspetivas e soluções únicas acreditas que a geração mais jovem traz para a mesa?
JMB: Acho que os jovens líderes e agentes de mudança são a força motriz da inovação em sustentabilidade em Portugal. A nossa geração tem vindo a desenrolar uma perspetiva única sobre os desafios do mundo e não tem medo de desafiar o status quo. De um ponto de vista mais pessoal, vejo a sustentabilidade não apenas como um objetivo, mas como uma necessidade para o nosso futuro. Esta perspetiva leva-nos a pensar fora da caixa e a encontrar soluções inovadoras para problemas complexos.

A nossa geração tem vindo a desenrolar uma perspetiva única sobre os desafios do mundo e não tem medo de desafiar o status quo.

Olhando para o futuro, João Maria, o que pensas sobre os próximos cinco anos no domínio da sustentabilidade em Portugal? Existem objetivos específicos ou marcos que esperas alcançar ou ver cumpridos numa escala mais alargada?
JMB: Considero que próximos cinco anos no percurso da sustentabilidade, em Portugal, serão cruciais. Temos a oportunidade de dar passos significativos em áreas como as finanças sustentáveis, as energias renováveis e as políticas ambientais. Espero assistir a uma maior integração depráticas sustentáveis em todos os setores, tornando-as a norma e não a exceção – e espero da mesma forma poder conseguir ter voz na promoção deste movimento.

Também tens outras experiências internacionais – incluindo o teu trabalho na Global Alliance for a Sustainable Planet (GASP), a tua participação na COP26, e o teu envolvimento na New York Climate Week – que te têm dado um outro tipo de dimensão global ao teu percurso. Estas experiências, em diversas funções, moldaram muito a tua visão e objetivos no domínio da sustentabilidade?
JMB: Ao colaborar com especialistas de todo o mundo na GASP, fui exposto a uma fortuna de perspetivas únicas.  Isto ampliou consideravelmente o meu entendimento dos desafios e oportunidades que enfrentamos no campo da sustentabilidade, claro. A diversidade de ideias e soluções que encontrei têm sido inestimáveis para a minha própria criatividade e para o desenvolver do meu pensamento crítico.

JMB: Já a participação na COP26 foi um marco importante para mim. Estar na vanguarda das discussões sobre o clima global, com líderes de todo o mundo comprometidos em encontrar soluções, foi inspirador. Vi em primeira mão como a colaboração internacional é fundamental para enfrentar as mudanças climáticas e impulsionar a sustentabilidade. A NY Climate Week, por sua vez, proporcionou-me a oportunidade de me envolver com iniciativas de sustentabilidade de ponta. Trabalhar ao lado de renomados especialistas, foi verdadeiramente inspirador. Estas experiências não apenas fortaleceram a minha rede global de contactos, mas também expandiram a minha compreensão das soluções tangíveis que estão a moldar o futuro sustentável.

João Maria Botelho, fotografado por João Fernandes | @oldcatch

JMB: No fundo, estas experiências impulsionaram-me a abraçar a inovação e a liderança no campo da sustentabilidade. Solidificaram a minha convicção de que a sustentabilidade é uma missão global que exige colaboração, criatividade e ação ousada. Agora, mais do que nunca, estou comprometido a continuar a catalisar mudanças positivas e a apostar em inspirar outros a fazerem o mesmo. Porque é unindo esforços que podemos construir um futuro mais sustentável e resiliente para todos.

Também sei que desempenhaste um papel fundamental na expansão do programa do Inclusive Community Forum, o Peer2Peer, e na sua adaptação a estudantes de Direito. Como te sentes ao ver o projeto reconhecido pelo Financial Times, como uma das melhores iniciativas lideradas por estudantes em Portugal?
JMB: Adaptar o programa Peer2Peer ao enquadramento dos alunos de Direito da NOVA School of Law manifestou-se como sendo um percurso muito interessante. Recebi um convite do coordenador nacional na altura, que era da NOVA SBE, que rapidamente me convenceu a liderar o projeto na NOVA LAW. O nosso objetivo era criar um ambiente onde os estudantes de direito pudessem envolver-se nos princípios da inclusão e da empatia, qualidades essenciais para os futuros profissionais do Direito. Ver o sucesso e o impacto do programa a crescer ao longo do tempo foi verdadeiramente gratificante.

JMB: Ser reconhecido pelo Financial Times como um dos melhores projetos liderados por estudantes em Portugal, constituiu, claro, um momento de enorme orgulho. É uma prova da dedicação de todos os envolvidos e da diferença tangível que estamos a fazer na vida dos participantes e da comunidade. Este feito realça o potencial de mudança significativa quando indivíduos apaixonados se juntam para enfrentar os desafios da sociedade. Reforça a minha crença no poder da colaboração e na importância de incutir a inclusão e a empatia na próxima geração de líderes.

Ser reconhecido pelo Financial Times como um dos melhores projetos liderados por estudantes em Portugal, constituiu, claro, um momento de enorme orgulho. É uma prova da dedicação de todos os envolvidos e da diferença tangível que estamos a fazer na vida dos participantes e da comunidade.

E também reflete o teu compromisso em promover a questão da diversidade e impacto social.
JMB: Sem dúvida! E há várias razões para que projetos (como o Peer2Peer) sejam crucias no mundo de hoje. Em primeiro lugar, fazem a ponte entre diferentes segmentos da sociedade, promovendo a compreensão e a empatia. Num mundo que, por vezes, parece e está fragmentado, estas iniciativas aproximam pessoas de diferentes contextos, ajudando-as a aprecias os pontos fortes e as capacidades umas das outras. Em segundo lugar, estes projetos desempenham um papel fundamental na preparação da geração mais jovem para os desafios que enfrentarão como futuros líderes. Vivemos num mundo em rápida mudança: a inclusão, a adaptabilidade e uma perspetiva global são cada vez mais relevantes. O Peer2Peer equipa jovens com as competências e a mentalidade necessárias para navegar nesta paisagem em evolução.

Acabam por ser projetos que ajudam a desconstruir estereótipos e ideias preconcebidas.
JMB: Evidentemente. No caso do Peer2Peer, desafia as noções preconcebidas sobre a deficiência e realça o potencial inexplorado e as capacidades de cada indivíduo. Acrescentado ao que antes disse, é um projeto que contribui para a criação de uma sociedade mais inclusiva, compassiva e com visão de futuro. São projetos que inspiram jovens líderes a serem agentes de mudança, a pensarem de forma crítica e a defenderem causas importantes. Acredito que é a nossa responsabilidade coletiva fomentar estas iniciativas e capacitar a próxima geração para que consigam moldar um futuro melhor.

Acredito que é a nossa responsabilidade coletiva fomentar estas iniciativas e capacitar a próxima geração para que consigam moldar um futuro melhor.

Claro que sim, concordo completamente. Aliás, esse é um tópico que várias vezes surge quando falamos os dois – o de fomentar iniciativas semelhantes. Também acho interessante mencionar aqui, no que à sustentabilidade diz respeito, as posições que assumiste como Clean Energy and Fossil Fuel Transition Researcher, na Alliance for Affordable Energy (AAE), e como Policy and Strategy Intern, na Global Alliance for a Sustainable Planet (GASP).
JMB: Sim, acho que ambas as posições foram instrumentais em tornar-me reconhecido como um líder jovem e um ‘catalisador’ de sustentabilidade. Mergulhei no mundo dinâmico das soluções energéticas sustentáveis ​​e da política ambiental. Foi uma experiência que despertou em mim uma paixão por criar mudanças positivas no setor de energia. Como jovem profissional, superei consistentemente as minhas próprias expectativas, e demonstrei a mim mesmo a minha capacidade em lidar com questões complexas e de me adaptar rapidamente a um ambiente de trabalho internacional. O meu papel no apoio aos esforços políticos e de defesa da AAE permitiu-me contribuir significativamente para discussões em torno de temas como carbon capture and sequestration, hidrogénio azul e verde, e o seu impacto tanto local como globalmente. Esta oportunidade de trabalhar na linha de frente de soluções energéticas sustentáveis ​​foi transformadora.

E agora, recentemente, foste nomeado Embaixador dos Oceanos, em representação de Portugal, pela Surfrider Foundation. O que te junta a outra (e mais uma) rede de jovens líderes, a Eurocean’s Youth.
JMB: É verdade. Ser nomeado Embaixador dos Oceanos representa não só uma honra, mas também um passo ousado para catalisar a mudança. Trata-se de redefinir a forma como percecionamos e protegemos os nossos Oceanos. O que me inspirou a juntar-me à rede Eurocean’s Youth foi a crença no poder da inovação e uma dedicação feroz em desafiar o status quo. A minha paixão pela proteção dos Oceanos cresceu após ter ido à Conferência das Mares, das Nações Unidas, na altura ainda a trabalhar para a GASP, e ainda mais após o meu envolvimento no NOVA Ocean Centre, da NOVA School of Law, centro de investigação de que faço parte e onde sou coordenado pela ex-Ministra do Ambiente.

João Maria Botelho, fotografado por João Fernandes | @oldcatch

E que iniciativas planeias defender como Embaixador dos Oceanos para Portugal? Tens áreas específicas da conservação dos oceanos que despertam o teu interesse?
JMB: Quando assumi o papel de Embaixador dos Oceanos, mergulhei de cabeça num mundo de possibilidades ilimitadas. Assumi uma abordagem mais do que inovadora, considero-a disruptiva. Neste sentido gostava de mencionar algo que um grande amigo meu costuma dizer: “às vezes temos que aprender a velejar em mares diferentes e aprender a confiar no tempo”. Este sentimento tem um reflexo profundo na minha abordagem à inovação. Tal como os marinheiros se adaptam às diversas marés e navegam pacientemente entre elas, esperando os vai-e-vens delas, acredito que abraçar a inovação exige que exploremos novos horizontes e confiemos no seu processo. No panorama em constante evolução da energia limpa, da sustentabilidade, da política ambiental, e das políticas marítimas, a inovação não é apenas uma palavra em voga; é uma exigência. Temos de estar dispostos a aventurar-nos em territórios desconhecidos, a colaborar entre as diferentes disciplinas e a tirar partido das tecnologias emergentes. Tal como os marinheiros que traçam novos rumos, não devemos ter receio de ser pioneiros em novas soluções que abordem os desafios mais prementes do mundo. A inovação não está limitada pelo tempo, é uma viagem contínua. Trata-se de aproveitar as oportunidades, mesmo quando o mar parece incerto, e encontrar formas de aproveitar o poder da mudança para um bem maior. Tal como os marinheiros aproveitam o vento para avançar, os inovadores aproveitam a criatividade e a colaboração para impulsionar o progresso.

No panorama em constante evolução da energia limpa, da sustentabilidade, da política ambiental, e das políticas marítimas, a inovação não é apenas uma palavra em voga; é uma exigência.

JMB: Como parte integrante do Centro de Conhecimento do Mar, da NOVA School of Law, ambicionamos moldar o futuro da pesquisa marinha. Imagino, por exemplo, parcerias ousadas, onde oceanógrafos colaboram com empresas de tecnologia de ponta para criar soluções de vanguarda. Penso no potencial de aliar sistemas de monitoramento oceânico impulsionados pela inteligência artificial e tecnologia de ponta que não apenas protegem, mas também rejuvenescem nossos preciosos Oceanos.

Penso no potencial de aliar sistemas de monitoramento oceânico impulsionados pela inteligência artificial e tecnologia de ponta que não apenas protegem, mas também rejuvenescem nossos preciosos Oceanos.

JMB: Estou determinado a colocar Portugal no mapa global em áreas como a economia azul, onde o nosso país tem um potencial inexplorado. É apenas o começo do que a próxima geração de catalisadores criativos e renovadores pode realizar.

Que mensagem ou apelo à ação gostarias de partilhar com os nossos leitores relativamente à importância crucial da preservação dos Oceanos e ao espírito pioneiro necessário para um futuro marítimo sustentável?
JMB: Quero lançar um grito de alerta a toda a gente, especialmente, aos jovens inovadores que andam por aí. Os nossos Oceanos não são apenas vastas extensões, são telas sem limites para soluções criativas. Não se deixem limitar pela tradição, libertem-se pela inovação. Vamos pensar para além do horizonte, forjar parcerias que reescrevam as regras e re-imaginar o futuro dos nossos Oceanos. Juntos, podemos redefinir os limites da possibilidade e ser pioneiros num mundo marítimo mais sustentável – um mundo onde a criatividade e a coragem reinam supremas. O desenvolvimento de políticas é uma componente crítica do avanço da sustentabilidade, e é um domínio em que acredito que os jovens líderes podem desempenhar um papel fundamental. Como Embaixador dos Oceanos, vou envolver-me ativamente e a fundo com os decisores políticos e defender iniciativas políticas que deem prioridade à preservação dos Oceanos. Uma das vias que estou a explorar é a da criação de uma plataforma que facilite o diálogo entre jovens líderes e decisores políticos estabelecidos. Esta troca de ideias pode conduzir a políticas inovadoras que abordem os desafios prementes que os nossos oceanos enfrentam. Além disso, trabalharei para garantir que estas políticas estejam alinhadas com objetivos de sustentabilidade mais amplos, tanto em Portugal como a nível internacional.

O desenvolvimento de políticas é uma componente crítica do avanço da sustentabilidade, e é um domínio em que acredito que os jovens líderes podem desempenhar um papel fundamental.

Também ligado à Universidade Nova, tens estado envolvido em alguns projetos interessantes, como o Decoding Sustainable Finance, no papel de investigador.
JMB: É verdade, como investigador no NOVA Business, Human Rights and the Enviroment. Foi um esforço de colaboração entre alguns membros do Centro. Tive o prazer que o desenhar em conjunto com uma colega, alumna da NOVA, e acho que foi um projeto com uma abordagem única para explorar várias dimensões das finanças sustentáveis.

Que levou à criação de um podcast, certo?
JMB: Sim, decidimos aproveitar o poder dos podcasts para disseminar conhecimento e interagir com líderes de pensamento no campo da sustentabilidade. Organizámos uma série de episódios aliciantes que contou com a participação de algumas das mentes mais brilhantes, especialistas e líderes do setor, como por exemplo a Doutora Paula Redondo Pereira (Luxembourg Stock Exchange). Os nossos debates abrangeram um vasto leque de tópicos, desde as finanças sustentáveis e a taxonomia europeia à diversidade e inclusão e até ao litígio climático. O que tornou este projeto inovador foi a forma como desconstruímos conceitos complexos e os tornámos acessíveis a um público mais vasto. Através de conversas perspicazes, desmistificámos as finanças sustentáveis, oferecendo ideias práticas e inspiradoras tanto para os especialistas como para os recém-chegados a esta área.

Decidimos aproveitar o poder dos podcasts para disseminar conhecimento e interagir com líderes de pensamento no campo da sustentabilidade.

Um excelente exemplo da utilização de métodos de comunicação ‘inovadores’ para promover a sustentabilidade. Mas também trabalhaste num projeto, para o Youtube, com o NOVA Green Lab.
JMB: É verdade. A série climática do YouTube, criada em colaboração com o NOVA Green Lab, foi um trabalho que teve como objetivo levar as conversas críticas sobre as alterações climáticas a um público mais vasto, também. Nessa série, aventurámo-nos em diferentes cenários europeus, centrando-nos principalmente em Bruxelas, um centro de decisão europeu. A série incluiu entrevistas com agentes de mudança, especialistas e líderes que estão na ‘à frente’ na condução de iniciativas de sustentabilidade na Europa. Tive o privilégio de ter trabalhado em estreita colaboração com a Professora Lucila de Almeida, uma conceituada professora em matérias energéticas, e com a Joana Freitas, uma reputada especialista em energia em Portugal, na criação destes conteúdos. Aprofundámos, por exemplo, a dependência europeia do petróleo russo e as suas implicações para a segurança energética. Explorámos a dinâmica do mercado energético europeu e examinámos o conceito de Cap-and-Trade como uma potencial solução para as emissões de carbono. Estas análises tiveram como objetivo proporcionar aos nossos espetadores uma compreensão abrangente das questões complexas que envolvem as alterações climáticas e a sustentabilidade.

A série climática do YouTube, criada em colaboração com o NOVA Green Lab, foi um trabalho que teve como objetivo levar as conversas críticas sobre as alterações climáticas a um público mais vasto.

João Maria Botelho, fotografado por João Fernandes | @oldcatch

Há um grande empenho teu em tornar a sustentabilidade acessível…
JMB: O impacto destes projetos tem sido multifacetado e sinto-me encorajado pelos resultados positivos que alcançaram. Ambos os projetos contribuíram significativamente para a sensibilização para as questões da sustentabilidade. A série de podcasts chegou a uma audiência global, suscitando conversas e inspirando as pessoas a explorar mais as finanças sustentáveis. Ao tornarmos acessíveis temas complexos, capacitámos as pessoas para se interessarem pela sustentabilidade e pelo seu impacto nas finanças, nas empresas e na sociedade. A série climática, do YouTube, também gerou um interesse substancial nas alterações climáticas e na sustentabilidade. Assim se mantenha…

A série de podcasts chegou a uma audiência global, suscitando conversas e inspirando as pessoas a explorar mais as finanças sustentáveis. A série climática, do YouTube, também gerou um interesse substancial nas alterações climáticas e na sustentabilidade. Assim se mantenha…

Claro. E são estas iniciativas tuas que te ajudam, calculo, a ser convidado por várias organizações e start-ups, a juntares-te a eles. Como naSYNTEGRAL, onde começaste como Fellow (em Enviromental, Social and Governance (ESG) e Investimento de Impacto) e, eventualmente, assumiste funções de Advisor – com apenas 20 anos.
JMB: Sim, também me parece. Comecei como estagiário e, dois meses depois, fui convidado a trabalhar como Advisor da startup. Tive o privilégio de trabalhar de perto com uma equipa global de profissionais empenhados em redefinir o papel das empresas na sociedade. A missão da startup era despertar a economia consciente e abraçar uma nova era de prosperidade sustentável. Estive envolvido na investigação, análise de dados e desenvolvimento de estratégias, tudo com uma forte ênfase na integração dos princípios da ESG nas decisões de investimento. O ter sido convidado a ficar foi um testemunho do reconhecimento da startup do valor que os jovens líderes trazem à mesa para moldar o futuro das finanças sustentáveis.

JMB: Aprendi que as finanças sustentáveis não são um mero complemento, mas um motor fundamental da prosperidade económica. Não se trata de sacrificar o retorno financeiro pela sustentabilidade; trata-se de reconhecer que os investimentos sustentáveis podem ser financeiramente compensadores e, ao mesmo tempo, criar resultados sociais e ambientais positivos.

Não se trata de sacrificar o retorno financeiro pela sustentabilidade; trata-se de reconhecer que os investimentos sustentáveis podem ser financeiramente compensadores e, ao mesmo tempo, criar resultados sociais e ambientais positivos.

E, no ano passado, também já tinhas sido nomeado Embaixador para a Sustentabilidade na NOVA School of Law (United Nations Global Compact).
JMB: Sim, é um papel faz parte de uma iniciativa mais alargada que junta várias faculdades da Universidade NOVA para, coletivamente, impulsionar a agenda da sustentabilidade. Não se trata apenas de representar a Faculdade de Direito; trata-se de unir todas as faculdades da NOVA, incluindo a Faculdade de Economia e Gestão, a Faculdade de Ciências Médicas e outras, num compromisso partilhado com a sustentabilidade. A sustentabilidade não se limita a um campo; é um esforço multidimensional. Estamos a trabalhar em projetos que exploram as intersecções entre o direito, a economia, os cuidados de saúde e muito mais, tudo numa perspetiva holística de sustentabilidade.

A sustentabilidade não se limita a um campo; é um esforço multidimensional.

Achas que iniciativas como estas têm impacto forte em Portugal?
JMB: Acho que a sustentabilidade não é apenas uma palavra de ordem, é uma questão global premente que exige uma ação colaborativa. Ao reunir faculdades de diversas áreas na Universidade NOVA, estamos a promover uma abordagem holística à sustentabilidade. Portugal, tal como muitos países, enfrenta desafios ambientais, sociais e económicos. A sustentabilidade é uma das chaves para enfrentar estes desafios de forma eficaz. Quando colaboramos entre disciplinas, podemos desenvolver soluções inovadoras que têm efeitos de longo alcance. Por exemplo, combinando conhecimentos jurídicos com conhecimentos económicos, de saúde e de outras áreas, podemos elaborar políticas e estratégias que promovam o desenvolvimento sustentável.

Portugal, tal como muitos países, enfrenta desafios ambientais, sociais e económicos.

JMB: Além disso, Portugal tem uma posição única na Europa e no mundo, com um rico património marítimo e uma reputação crescente de mostrar esforços que favorecem a sustentabilidade. As nossas iniciativas não só beneficiam o nosso país, como também posicionam Portugal como um líder em sustentabilidade na cena internacional.

As nossas iniciativas não só beneficiam o nosso país, como também posicionam Portugal como um líder em sustentabilidade na cena internacional.

Talvez mais Faculdades se devessem alinhar com iniciativas de sustentabilidade como esta. Por mim, não tenho dúvidas quanto a isso…
JMB: Sem dúvida, também eu acredito que mais Faculdades deveriam adotar iniciativas de sustentabilidade. A sustentabilidade não se limita a um domínio específico, é uma responsabilidade partilhada que transcende as disciplinas. As Universidades são centros de conhecimento e inovação e têm um papel crucial a desempenhar na resposta aos desafios globais. E quando as Faculdades de várias disciplinas se alinham com a sustentabilidade, isso enriquece a experiência educativa dos estudantes.

João Maria Botelho, fotografado por João Fernandes | @oldcatch

JMB: Na sua essência, a sustentabilidade deve ser integrada no ADN das Universidades. Não se trata apenas de um tópico, mas de uma mentalidade que deve permear todas as facetas da vida académica, desde a investigação e o ensino até às operações do campus e à sensibilização da comunidade.

Na sua essência, a sustentabilidade deve ser integrada no ADN das Universidades.

Tens estado muito ativamente envolvido em várias unidades de investigação na tua universidade – cada uma com um foco único na sustentabilidade.
JMB: Sim, estou em vários dos knowledge centres da NOVA. No NOVA Green Lab, sob a orientação da Professora Lucila de Almeida que detém a cátedra de ESG (Environmental, Social and Governance;  e no NOVA BHRE, onde estive 2 anos sob a coordenação da Professora Claire Bright). Aliás, não queria deixar de agradecer a ambas, e à Doutora Teresa Goulão, pela orientação e mentoria que tenho recebido. Têm sido fundamentais para moldar o futuro das iniciativas, lembrando-me que a colaboração e a orientação são elementos essenciais de uma liderança eficaz no em qualquer domínio.

JMB: Por último, mas não menos importante, pertenço ao NOVA Ocean, sob a coordenação da Professora Assunção Cristas, que me tem orientado desde o primeiro ano do curso de direito. Todos estes centros estão interligados, e proporcionam a alunos como eu uma plataforma que lhes permite aprender e contribuir ativamente para a construção de um futuro mais sustentável.

Estou em vários dos knowledge centres da NOVA. Na NOVA BHRE, sob a coordenação da Professora Claire Bright; no NOVA Green Lab, sob a orientação da Professora Lucila de Almeida; e, pertenço ao NOVA Ocean, sob a coordenação da Professora Assunção Cristas.

E, como se não o suficiente, também foste convidado para te juntares à equipa financeira e jurídica da START LISBOA (START Global).
JMB: É verdade. Na minha função como co-lead, concentrar-me-ei na fusão dos mundos das finanças e do direito para apoiar projetos e iniciativas inovadores que se alinham com os nossos valores. Encabeçarei esta pasta juntamente com o Julius Deuringer. Quero estar na posição de conseguir ajudar jovens empreendedores a transformar as suas ideias inovadoras em realidade, assegurando ao mesmo tempo que estes empreendimentos dão prioridade à sustentabilidade e às práticas éticas. Como líder da equipa jurídica e financeira da START LISBOA, as minhas responsabilidades são multifacetadas. Irei supervisionar as operações financeiras, a conformidade legal e o planeamento estratégico para garantir que as iniciativas financeiras da organização. Pretendo contribuir para um ecossistema empresarial mais sustentável e inovador.

Quero estar na posição de conseguir ajudar jovens empreendedores a transformar as suas ideias inovadoras em realidade, assegurando ao mesmo tempo que estes empreendimentos dão prioridade à sustentabilidade e às práticas éticas.

João Maria Botelho, fotografado por João Fernandes | @oldcatch

Em Outubro, deste ano, vais estar presente na cimeira anual da Leadership Summit Portugal, no Casino Estoril.
JMB: Exatamente, no papel de Conselheiro. Vou fazer a curadoria e a moderação dos debates que visam abordar desafios e oportunidades prementes no panorama atual. Irei centrar-me em discussões que tragam novas perspetivas e soluções de vanguarda para a linha da frente.

E que temas queres pôr em cima da mesa, por assim dizer?
JMB: O do papel dos jovens líderes na construção do futuro. O meu objetivo é promover conversas interessantes que explorem a forma como as perspetivas únicas e as abordagens inovadoras dos jovens líderes podem impulsionar a mudança positiva e a inovação em vários domínios. Quando trazemos jovens líderes para a linha da frente, infundimos energia fresca, novas perspetivas e ideias inovadoras nos processos de tomada de decisão. Este impacto estende-se para além do evento em si. Inspira uma comunidade mais alargada de jovens indivíduos a dar um passo em frente e a participar ativamente na definição do futuro do nosso país. A presença de jovens líderes não só traz diversos pontos de vista, como também promove uma cultura de inovação e adaptabilidade, que é essencial para enfrentar desafios complexos.

O meu objetivo é promover conversas interessantes que explorem a forma como as perspetivas únicas e as abordagens inovadoras dos jovens líderes podem impulsionar a mudança positiva e a inovação em vários domínios.

JMB: Por fim, gostaria de acrescentar que quando olho para o futuro, sinto-me cheio de esperança e determinação. Juntos, com o nosso espírito jovem e inovador, podemos transformar o nosso mundo num mundo mais sustentável, muito mais equitativo e resiliente, onde cada ação, por mais pequena que seja, contribua para um futuro melhor para todos.

Mais Artigos