O realizador e programador de cinema Lauro António morreu esta quinta-feira, aos 79 anos, vítima de um ataque cardíaco fulminante.
Crítico de cinema, programador, ensaísta e realizador, Lauro António estava atualmente ligado à Casa das Imagens, em Setúbal, um espaço cultural, localizado próximo do Fórum Luísa Todi e contíguo à biblioteca municipal, criado a partir de uma doação que o crítico de cinema fez à autarquia.
Em 2021, em declarações à agência Lusa, Lauro António explicava que a Casa das Imagens iria contar com cerca de 50 mil livros, filmes, fotografias, cartazes e outros documentos, para consulta pública, para que não se dispersasse ou caísse no esquecimento.
“Aquilo que vai inaugurar-se é uma biblioteca, uma mediateca – tenho cerca de 10 mil DVD de filmes, VHS – e ainda um arquivo pessoal com várias coisas relacionadas com cinema, com a minha atividade como realizador e como crítico e outras coisas mais”, explicou na altura à agência Lusa.
À agência Lusa, o filho, o também realizador, produtor e encenador Frederico Corado, deu conta de que o pai estava a preparar um novo ciclo de programação no espaço cultural Casa das Imagens, em Setúbal, dedicado ao antigo cinema Apolo 70, de Lisboa.
Realizador de “Manhã Submersa”, filme de 1980 que adaptou a obra literária de 1956 do escritor Vergílio Ferreira e que contou como protagonistas o próprio escritor (no papel do Reitor do seminário), Eunice Munoz, Jacinto Ramos e Canto e Castro, entre outros. “Manhã Submersa” estreou-se no Festival de Cannes
Lauro António foi também um dos entusiastas divulgadores do cinema mais conhecidos do público, enquanto crítico de cinema, professor e diretor de festivais.
Infância em Portalegre e regresso a Lisboa
Nascido em Lisboa, a 18 de agosto de 1942, Lauro António de Carvalho Torres Corado passou a infância e parte da adolescência em Portalegre.
De regresso a Lisboa, em 1958, formou-se em História e ainda nos tempos de Faculdade de Letras, na década de 1960, começou por ser crítico de cinema nos jornais República e Diário de Lisboa, na revista Plateia, que estenderia depois à revista Opção, ao Diário de Notícias, a A Capital e ao semanário Se7e, entre outras publicações.
Foi ainda membro do Cine-Clube Universitário de Lisboa, dirigente do ABC Cine-Clube e cofundador do festival Festróia, e programador de festivais e várias salas de cinema (as antigas Estúdio Apolo 70, Caleidoscópio, Foco).
Além de programar ciclos de cinema em diversas salas, a atividade de Lauro António em torno do cinema fê-lo colaborar com a RTP e a RDP, publicar ensaios, dirigir festivais de cinema em Portalegre, Seia, Viana do Castelo e em Famalicão, e lecionar, consecutivamente, em cursos sobre cinema.
Foi autor de cerca de 50 livros relacionados com cinema, como “Cinema e Censura em Portugal” e “O Cinema entre Nós”.
Nos anos 1990, tornou-se uma figura popular junto dos portugueses com a sua rubrica na TVi “Lauro António Apresenta…”, onde o especialista introduzia clássicos do cinema.
De resto, na senda deste seu programa, a figura de Lauro António ficaria popularizada com a criação da rubrica ”Lauro Dérmio Apresenta”, pelo humorista Herman José, em “Herman Enciclopédia”.
Em 2010 comemorou 50 anos de carreira com uma homenagem, exposição e ciclo dedicado à sua obra no Teatro na Trindade.
Em 2018, Lauro António recebeu o Prémio Carreira do Fantasporto, foi distinguido pela Academia Portuguesa de Cinema com um prémio Sophia de carreira e condecorado pelo Presidente da República com o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, refere que “Lauro António conta-se entre os poucos nomes que o grande público identificava com o cinema e a cinefilia”.
António Costa, Primeiro-Ministro, também reagiu ao adeus de Lauro António: “Lauro António foi o mais incansável dos cinéfilos. Dirigente cineclubista, programador, realizador, crítico e professor, dedicou a vida ao cinema sob todas as formas, cuidando de transmitir aos outros o gosto pelos filmes”.