Durante a pandemia, muitas marcas viram no canal digital uma oportunidade para criar os próprios negócios e vender os seus produtos e, deparando-se com este fenómeno, Rita Bastos e Manuel Laranjo decidiram criar uma comunidade online, dedicada 100% ao talento português.
O BOU Market é um projeto que, ano após o lançamento, alcançou o objetivo de se tornar o maior marketplace de marcas nacionais.
Com mais de 800 marcas disponíveis, desde o início do ano, o BOU Market já registou mais de 15 mil novos utilizadores e adicionou mais de 200 negócios, 100% nacionais, à sua plataforma.
Rita Bastos e Manuel Laranjo, os fundadores da empresa, explicam o conceito da plataforma e a mais-valia que os negócios nacionais de menor dimensão, mas de produção artesanal de qualidade, poderão ganhar com a presença online, num mercado com alma portuguesa.
O BOU Market foi lançado há um ano. Qual o objetivo inicial e de que modo têm procurado alcançar esse objetivo?
Rita Bastos (RB)/Manuel Laranjo (ML): A ideia de criar o BOU Market surgiu em plena pandemia, enquanto nos preparávamos para receber o nosso primeiro filho, o Zé Maria. Com as lojas todas fechadas, a única opção foi comprar online. Contudo, perante este cenário, percebemos que não era assim tão intuitivo: muitas marcas apenas vendiam nas redes sociais e/ou apenas apresentavam a MBWay como método de pagamento. Neste sentido, sentimos falta de uma plataforma que agrupasse todas as marcas do nosso interesse e tornasse tudo menos disperso e confuso. O BOU Market surgiu, por isso, com o objetivo de concentrar numa plataforma todas as marcas portuguesas e lojas independentes com produções limitadas e produtos exclusivos e de qualidade. No fundo, queremos dar palco e voz a estes empreendedores, criando uma comunidade que se ajuda mutuamente a crescer e a potenciar vendas.
Quantas marcas nacionais tem atualmente o vosso Marketplace e de que setores mais estão representados?
RB/ML: Atualmente, o BOU Market tem mais de 850 marcas nacionais registadas e sete categorias de produtos: Moda, Criança, Gifts, Gourmet, Biju & Jóias, Lar Doce Lar e Bem Estar.
Como funciona este mercado, em termos práticos?
RB/ML: Para integrarem a plataforma e começarem a vender os seus produtos, as marcas têm apenas de se registar, sem qualquer custo associado. As únicas exigências são que as marcas sejam portuguesas e que apenas comercializem produtos de marca própria. Posteriormente, o BOU Market cobra uma comissão sobre o valor da venda. Cada lojista tem o seu endereço de URL exclusivo (ficando assim com um perfil próprio) e faz a gestão da sua loja de forma independente. Contudo, conta sempre com o apoio de um gestor de conta para o acompanhar em todas as fases, desde da configuração de conta, ao provisionamento da sua montra digital, passando pelo apoio com as encomendas. Este foi o modelo de negócio que adotámos depois de termos feito um estudo de mercado e avaliarmos as necessidades destes empreendedores – que, na sua grande maioria, não têm capacidade para se comprometer com um custo fixo. Assim, o BOU Market decidiu optar por um modelo de negócio que fosse rentável e que, ao mesmo tempo, ajudasse as marcas a desenvolver e fazer crescer os seus negócios.
A compra de cada produto por parte do consumidor é feita diretamente à empresa que criou esse produto ou à BOU Market?
RB/ML: A compra do produto é feita diretamente à marca que o criou, sendo esta responsável pela produção, envio e emissão da fatura. Contudo, todo o processo de compra acontece dentro do BOU Market – é na plataforma que o cliente faz a encomenda e o pagamento. Uma vez que os montantes pagos pelos clientes só são libertados para as contas das lojas 15 dias após as encomendas serem dadas como “concluídas”, garantimos que o processo é o correto e damos mais confiança aos nossos clientes. É o BOU que assegura que o cliente tem a melhor experiência possível.
A fonte de rendimento da BOU Market é uma percentagem sobre a venda?
RB/ML: Temos um modelo de negócio que assenta em cobrar 17% do valor total de cada venda às marcas. Desta forma, garantimos que as marcas não estão a pagar um custo fixo apenas pela presença na nossa plataforma: uma marca paga apenas quando está a ter retorno da sua presença no BOU Market. Acreditamos que este é o modelo justo para apoiar os pequenos negócios nacionais. Contudo, à margem do que acontece com outros players de mercado, estamos a desenvolver fontes de rendimento alternativas para o desenrolar do negócio, nomeadamente com os envios e serviços adicionais, sendo que o crescimento nunca irá afetar a nossa principal premissa, “apoiar os pequenos grandes empreendedores”.
As empresas que encontramos aqui são todas artesanais?
RB/ML: O BOU Market é feito daquilo a que gostamos de chamar “marcas com alma”, e mais de 80% delas são artesanais. Por trás destas marcas, existe alguém que deposita toda a sua alma e todo o seu amor nos produtos que produz, muitos deles únicos e exclusivos.

“Acreditamos que este é o modelo justo para apoiar os pequenos negócios nacionais”
Manuel Laranjo
Quais os produtos mais vendidos?
RB/ML: Dentro das nossas categorias, os segmentos que registam maiores vendas são Criança e Gifts (presentes personalizados), e o Gourmet também começa a ganhar algum destaque.
Qual o critério para uma empresa passar a estar presente no Marketplace BOU Market?
RB/ML: Como referimos, para passar a estar presente no BOU Market, as marcas só precisam de se registar na plataforma. No entanto, tendo em conta o propósito de dar voz e palco a marcas portuguesas, é necessário que sejam negócios nacionais e lojas independentes com produções limitadas e produtos únicos. Queremos manter a alma que nos caracteriza.
Têm uma estimativa de quantos negócios já se concretizaram, através da vossa plataforma?
RB/ML: Consideramos que o BOU está numa fase inicial, sendo que o nosso principal objetivo é ser uma montra para as marcas que fazem parte da nossa comunidade. Dar-lhes palco e voz e permitir que tenham um canal digital sem custos, que possivelmente não teriam sem a nossa ajuda. No fundo, queremos alavancar estes negócios e fazê-los crescer. Até ao momento, podemos dizer que já concretizámos cerca de 7000 negócios e este é um número que nos orgulha e que nos faz acreditar que estamos no caminho certo.
O BOU Market nasceu com um investimento de que ordem de grandeza?
RB/ML: O BOU Market surgiu há pouco mais de um ano com uma solução MVP. Em menos de 6 meses, já tinha mais de 600 marcas registadas, o que fez com que a base tecnológica da versão “piloto” chegasse ao seu limite. Assim, no início de 2022, começámos a planear o desenvolvimento de uma plataforma mais robusta, que aguentasse o crescimento do negócio e que nos permitisse investir em Marketing. Acreditamos que ainda estamos na fase de investimento inicial, mas temos previsto um investimento para o próximo ano entre 100k€ a 150k€. Para suportar parte deste investimento, estamos a candidatar-nos a alguns programas do PRR, nomeadamente ao programa anunciado pelo Ministro da Economia na Web Summit.
Atualmente, a vossa faturação ronda que valor?
RB/ML: Passámos de faturar 700€ (em comissões) nos primeiros 3 meses (julho, agosto e setembro 2021) para no mês de outubro 2022 faturarmos cerca de 5.700€.

“Está nos nossos planos
Rita Bastos
internacionalizar o BOU Market
sem nunca esquecer a
nossa essência: promover
marcas independentes e locais.
Em termos de desenvolvimento futuro da BOU o que é que está pensado ou que novidades poderemos esperar?
RB/ML: Queremos continuar a melhorar a experiência BOU Market e, para isso, estamos neste momento a trabalhar no desenvolvimento tecnológico de uma nova plataforma, 100% pensada e criada de acordo com as necessidades e perspetivas futuras dos clientes e marcas do BOU Market. Além disso, está nos nossos planos internacionalizar o BOU Market sem nunca esquecer a nossa essência: promover marcas independentes e locais. Nesse sentido, gostávamos de levar o BOU Market mais longe, a novas geografias, mas em cada uma delas continuar a ser um mercado de marcas dessa comunidade. Para que isto seja possível, estamos também a pensar numa ronda de investimento, de forma a reunir o capital necessário.
As empresas presentes no BOU Market são de pequena dimensão. Com a exposição conseguida, através deste marketplace, já foi possível elevar a dimensão de algumas dessas empresas de forma significativa? Têm algum “case study” que possam apresentar?
RB/ML: No BOU Market todas as marcas portuguesas, empresas ou não são bem-vindas e, neste momento, cerca de 60% das marcas registadas pertencem a pessoas individuais. Em pouco mais de um ano podemos orgulhar-nos de ter conseguido levar algumas marcas mais longe. Conseguimos trazer marcas tradicionais para o mundo digital, sendo esta a nossa maior vitória, e conseguimos que marcas que só vendiam no mercado físico começassem a comercializar no online e que os produtos de marcas que só vendiam em Portugal chegassem além-fronteiras. Mas ainda temos um longo caminho pela frente, e é por isso que estamos empenhados no desenvolvimento da nova plataforma, para conseguirmos levar estas marcas ainda mais longe.