O braço de ferro e os argumentos que separam sindicatos e administração da TAP

No dia em que três sindicatos da TAP (Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil e Sindicato dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves) convocaram uma marcha silenciosa de protesto que junta, pela primeira vez na história da aviação nacional, pilotos, pessoal de cabine e técnicos de manutenção,…
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Na TAP, o clima continua crispado com sindicatos e Comissão Executiva a distribuírem acusações. Quais são, afinal, os grandes pontos de discórdia e quais os argumentos dos dois lados desta contenda?
Economia

No dia em que três sindicatos da TAP (Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil e Sindicato dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves) convocaram uma marcha silenciosa de protesto que junta, pela primeira vez na história da aviação nacional, pilotos, pessoal de cabine e técnicos de manutenção, pela melhoria da qualidade do serviço e sustentabilidade da empresa, a Comissão Executiva da TAP refere que a sobrevivência da companhia não poderia resistir se os sindicatos fizerem tábua rasa dos acordos que selaram com os sindicatos.

Protestar sem prejudicar passageiros

“No dia 16 de agosto, às 08h30, com partida do Campo Pequeno e chegada ao Ministério das Infraestruturas e Habitação, iremos mais uma vez, abdicar de folgas, férias e dias livres, garantindo assim que nenhum passageiro é prejudicado por este nosso protesto”, referem os sindicatos.

O objetivo da manifestação “é a melhoria contínua da qualidade do serviço que presta aos seus clientes e a sustentabilidade da própria empresa, mantendo os elevados padrões de segurança da operação pelos quais fomos sempre reconhecidos”.

Corte de 25% de salários acima de 1410 euros

A Comissão Executiva da TAP defende que “está bem consciente do esforço que é pedido a todos os trabalhadores da companhia, nomeadamente com o corte de 25% no valor dos salários acima dos 1410 euros. Sem esse esforço, não teria sido possível obter a autorização da Comissão Europeia para o plano de restruturação que permitiu a sobrevivência da TAP. Uma sobrevivência só conseguida também através do esforço de todos os contribuintes portugueses e do Estado português”.

A Comissão Executiva da TAP recorda “que os Sindicatos da TAP, bem conscientes deste facto, de forma responsável e cumprindo a sua função de defesa dos trabalhadores e dos seus postos de trabalho, acordaram com a TAP os cortes salariais mencionados, assumindo assim um compromisso que produz os seus efeitos até 2025, ano a partir do qual, cumprindo-se o plano de restruturação, a TAP estará finalmente em condições de repor os salários na íntegra”.

Sobrevivência em causa, diz Comissão Executiva

Contudo, refere a administração, “até lá, não pode ser feita tábua rasa dos acordos firmados, nem a sobrevivência da companhia poderia resistir se isso acontecesse, como facilmente se poderá compreender”.

A Comissão Executiva da TAP realça que “tem o compromisso de cumprir o plano de restruturação e de apresentar os resultados que este define”.

Diz ainda a administração da TAP: “Outro esforço que está a ser prosseguido com sucesso é o de aumento das receitas e do yield, determinantes para a rentabilidade da TAP. Recorde-se que há custos que a TAP não controla e que têm registado aumentos acentuados, nomeadamente os custos de combustível ou os decorrentes da valorização do dólar face ao euro. Este aumento dos custos, que têm um impacto significativo no balanço da TAP, tem de ser considerado em qualquer posição equilibrada e séria que seja produzida sobre a TAP”.

Erros de gestão da TAP, acusam trabalhadores

Os trabalhadores acusam, todavia, a gestão da TAP de “desperdiçar” as receitas do verão com “milhões de erros”, com a contratação externa de serviços “que desperdiçam as receitas geradas este verão, fruto de uma elevada atividade operacional, que comprometem a recuperação e o futuro da empresa, bem como o esforço dos contribuintes portugueses”.

A Comissão Executiva da empresa contrapõe, afirmando que “para que seja possível apresentar esses resultados, que permitirão garantir a viabilidade e sobrevivência futuras da TAP, o esforço não começa, nem se esgota, nos cortes salariais de 25% sobre o valor que exceda os 1410 euros mensais. A TAP tem reduzido custos em todas as áreas onde é possível, renegociando contratos com fornecedores e prestadores e criando maiores eficiências e continua a trabalhar diligentemente para reduzir todos os custos”.

Polémica em torno de fornecedores externos

Os sindicatos criticam, porém, o facto de a administração da companhia recorrer a fornecedores externos onde trabalham técnicos despedidos pela própria operadora aérea.

Aliás, na manifestação organizada pelos sindicatos, com partida do Campo Pequeno e chegada ao Ministério das Infraestruturas e Habitação, em Lisboa, em alguns dos cartazes exibidos pelos trabalhadores lia-se “se agora contratam a peso de ouro, porque é que despediram?”.

Fatura que acarreta a mudança de sede

E ainda relativamernte aos erros de gestão apontados aos gestores da TAP, os sindicatos exemplificam com o erro da mudança da sede da TAP, dado que a companhia aérea nacional pretende deixar as atuais instalações no Aeroporto Humberto Delgado para se instalar no Parque das Nações. Segundo o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, a renda anual do novo espaço poderá ser de quase quatro milhões de euros.

Os custos de “mais de um milhão de euros por mês” na conversão de aviões de longo curso em aviões de carga, “mas que nunca saíram do chão” é outra das acusações dos sindicatos.

A Comissão Executiva da TAP responde, referindo que apresenta os resultados do segundo trimestre e primeiro semestre de 2022 no dia 23 de agosto “e sabe que são esses resultados que permitem a avaliação do seu desempenho e do trabalho que está a ser desenvolvido na TAP, não só pela gestão, mas por todos os trabalhadores”.

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