O declínio da comida vegana: empresas que apostaram no “sem carne” e estão a “ficar sem dinheiro”

O mercado da alimentação plant-based — proteína vegetal que pretende simular a proteína animal -, outrora em ascensão, enfrenta atualmente desafios muito significativos. Os gigantes da indústria do plant-based meat - Beyond Meat e Impossible Foods - que começaram por atrair milhões de dólares de investimento e que, em 2018, conquistaram a mais alta distinção…
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Susete Estrela, engenheira alimentar e Health Coach, é especialista em segurança alimentar e bem-estar. Escreve sobre as empresas que apostaram no "sem carne" e estão agora a "ficar sem dinheiro".
Forbes Life

O mercado da alimentação plant-based — proteína vegetal que pretende simular a proteína animal -, outrora em ascensão, enfrenta atualmente desafios muito significativos. Os gigantes da indústria do plant-based meat – Beyond Meat e Impossible Foods – que começaram por atrair milhões de dólares de investimento e que, em 2018, conquistaram a mais alta distinção ambiental da ONU, como revolucionários da carne à base de plantas, enfrentam neste momento um conjunto de dificuldades.

Um dos episódios mais recentes foi a saída do CEO de longa data da Nuggs, Ben Pasternak. A Nuggs, juntamente com outras empresas deste setor, lutam agora para sobreviver à elevada pressão dos investidores, obrigando a mudanças significativas nas estratégias de produção e comunicação.

O ano de 2024 avizinha-se como um ano decisivo para as startups de plant-based meat que ainda tentam sobreviver. O cenário, porém, está longe de ser favorável, com histórias de luta que se tornam mais comuns do que os casos de sucesso.

Empresas como a Beyond Meat – que teve um início brilhante e a Nuggs – estão a sentir a pressão, com relatórios de perdas substanciais e do (desen)entusiasmo dos investidores. Vejamos o exemplo da Beyond Meat que, a 26 de julho de 2019, cotava as ações a 234,90 dólares (cerca de 213 euros)  e a 20 de dezembro, estão a 9,78 dólares (cerca de 8,93 euros). Este tipo de derrapagem tem a capacidade de transformar as elevadas expectativas dos acionistas num “picadinho” de problemas.

Mudanças urgentes necessitam-se

A menos que, tal como destacou recentemente Peter McGuinness, CEO da Impossible Foods, a indústria implemente uma necessária mudança na abordagem ao consumidor. Ou seja, passar de uma postura “insultante” para uma mais “convidativa”. Segundo Peter, a carne à base de plantas precisa ser acessível a todos, e não apenas a um público específico.

O assunto está tão no vermelho que o CoBank elaborou um relatório que aponta para a perda de interesse dos consumidores. O relatório intitulado “Consumer Interest in Plant-Based Meats Fades Amid High Prices and Product Shortcomings destaca a luta da indústria. A falta de coordenação e a busca individual de cada empresa são citadas como obstáculos significativos.

Já no setor das bebidas vegetais também têm sido várias as empresas que estão a retirar das prateleiras alguns dos seus produtos alternativos para se focarem no seu core business. Acredito que uma dieta mais baseada em plantas fará parte do nosso futuro, e uma das prioridades estratégicas de muitas empresas que talvez queiram expandir para opções vegetarianas e flexitarianas (aumento do consumo de vegetais) e tornar o desenvolvimento de novos produtos alternativos um negócio mais sustentável a longo prazo. 

Um futuro plant-based incerto: 2024 será um ano decisivo

Com dezenas de startups a “picar” milhares de milhões de dólares em capital e algumas abandonando completamente suas linhas de carne à base de plantas, 2024 torna-se um ano decisivo para a sobrevivência do setor. A pressão dos investidores e a necessidade de uma abordagem mais coordenada são desafios que as empresas enfrentam enquanto lutam para permanecer relevantes.

((Texto escrito pela autora Susete Estrela)

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