Numa altura em que as comunidades de energia começam a ganhar terreno, várias empresas portuguesas têm feito o seu papel para garantir um futuro mais verde, seguindo um caminho de neutralidade carbónica. Exemplo disso é a Sustainable Energy Systems (SES), que acaba de lançar uma Comunidade de Energia em parceria com o Vitória de Guimarães (Vitória Sport Clube).
Esta Comunidade de Energia em Guimarães contou com um investimento global em cerca de 800 mil euros, suportados pela SES, que prevê explorar a produção de energia durante 15 anos.
Este projeto contará com a instalação de 1.900 painéis solares, com uma potência de 1MW, e que irá assegurar 45% da autonomia energética do estádio. Será, ainda, uma fonte de energia para cerca de 350 famílias do município, que verão uma redução, na sua fatura de energia, de até 30%.
Esta iniciativa integra-se num investimento total por parte da SES de 35 milhões de euros em projetos futuros de comunidades de energia.

Paulo Silva, Administrador Executivo da Sustainable Energy Systems (SES), dá conta de que, em meados de outubro, a obra estará instalada no Estádio do Guimarães e aborda as vantagens das comunidades de energia.
Em que é que consiste este projeto?
Paulo Silva: Este projeto faz parte de um Plano Global do Vitória Sport Clube, que tem como objetivo alcançar a neutralidade carbónica dos seus equipamentos e da sua atividade. A Comunidade de Energia, desenvolvida pela Sustainable Energy Systems (SES), representa um passo importante nesse caminho, pois vai permitir a produção de energia “limpa”, proveniente de sistemas solares fotovoltaicos, para ser utilizada pelo Clube e pela comunidade local.
Quais são as vantagens de uma comunidade de energia em geral e como é que elas se aplicam especificamente a este projeto?
A grande vantagem de uma Comunidade de Energia passa pela produção de energia descentralizada e proveniente de fontes renováveis, um dos grandes desafios da transição energética e da descarbonização. Por outro lado, o acesso a energia a preços reduzidos representa um contributo significativo no combate à pobreza energética e na promoção de uma maior “democratização” nessa mesma produção.
O modelo de Comunidades de Energia incentiva à produção nas imediações de quem irá usufruir da mesma, a um custo mais reduzido. Para cumprir este objetivo é fundamental compatibilizar membros produtores e consumidores, uma realidade que faz parte da SES e que aplicamos agora no projeto com o Vitória Sport Clube.
Para o Vitória Sport Clube, quais são os benefícios que a Comunidade de Energia trará em termos de produção de energia?
O desenvolvimento desta comunidade de energia prevê a instalação de 1.900 painéis solares, com uma potência de 1MW, que vai assegurar 45% da energia consumida no Estádio D. Afonso Henriques e na Academia Desportiva do Vitória Sport Clube, em Guimarães. Este valor representa uma autonomia significativa face aos atuais consumos da rede. Por outro lado, ao associar-se a este projeto, o VSC terá a total substituição da iluminação do pavilhão multidesportivo, o que irá resultar numa maior eficiência e qualidade da iluminação que, desta forma, fica totalmente preparada para transmissões televisivas de competições Europeias.
Esta parceria integra também a missão do clube no que respeita à responsabilidade social e ambiental, que ganha agora forma com o apoio da Sustainable Energy Systems.

Como é que a Comunidade de Energia irá garantir a autonomia energética do estádio e fornecer energia para as famílias do município? A produção será suficiente para satisfazer que tipo de necessidades e em que percentagem?
Numa fase inicial a Comunidade de Energia irá garantir “apenas” uma autonomia aproximada de 45% ao VSC, uma vez que existem consumos fora dos horários de produção solar, principalmente quando os jogos ocorrem no período da noite. Parte da energia produzida será consumida nas instalações do clube e o excedente será partilhado em comunidade.
Neste modelo, há um membro produtor que gera energia superior à sua necessidade, e uma entidade gestora, neste caso a SES, fará a comercialização do excedente de energia pelas famílias e empresas localizadas nas proximidades desses centros produtores. A capacidade de produção a instalar é suficiente para assegurar eletricidade limpa a mais de 351 famílias, o que resulta numa redução de até 30% da fatura de energia. Isto significa que estaremos a evitar 654 toneladas de CO2, o que equivale a plantar 4.575 árvores. Além disso, Guimarães é um concelho com fortes preocupações no que diz respeito à temática da sustentabilidade, tendo em curso uma candidatura a Capital Verde Europeia, o que mostra a clara afinidade deste projeto com essas preocupações.
Como é que a SES planeia lidar com os desafios relacionados com licenciamentos para o projeto da Comunidade de Energia?
Esse é um ponto determinante para o sucesso deste modelo, que está a ser muito incentivado pelas entidades europeias e nacionais. Se o licenciamento for eficaz e célere, o país irá testemunhar uma fase muito importante de investimento em projetos que trazem benefícios económicos e ambientais. A nossa expetativa é que, num futuro próximo, esses desafios sejam ultrapassados, e acreditamos que as autoridades competentes estão a trabalhar nesse sentido.
O licenciamento é o principal desafio enfrentado pela SES na implementação de projetos de energia renovável? Há outros? Quais?
A fase de licenciamento é de facto um desafio, uma vez que é um processo que está regulamentado e que carece apenas de ganhar maturidade para que seja mais célere, mas não é o principal. Há outros desafios, como em todas as áreas, e são constantes. A evolução tecnológica, a escassez de recursos humanos, a vontade permanente de inovar e de surpreender são alguns exemplos que diariamente nos ocupam. Cada projeto é um projeto e provavelmente o grande desafio é encontrar, em cada caso, a solução técnica e económica que o viabilize.
Quando está previsto o início da montagem do projeto da Comunidade de Energia e qual é a previsão para a conclusão?
A obra já iniciou com os trabalhos de engenharia civil na Academia. Em breve iniciaremos a obra no Estádio que prevemos terminar em meados de outubro.
Qual é o investimento feito neste projeto?
Esta Comunidade de Energia contou com um investimento global em cerca de 800 mil euros, suportados pela SES.
Além da parceria com o Vitória Sport Clube, a SES tem planos de alargar esse modelo de Comunidade de Energia a outros municípios ou instituições desportivas? A quais, dado que esta é a vossa primeira Comunidade de Energia?
Apesar deste modelo ser recente – uma vez que é permitido desde meados de 2022 -, já estabelecemos vários acordos com empresas, associações desportivas e instituições, como são exemplo as Misericórdias. A intervenção da SES é nacional e as oportunidades comerciais em estudo e em desenvolvimento são muito positivas.
Existem incentivos governamentais ou programas de financiamento que estão a ser utilizados para apoiar este projeto?
O modelo que adotámos não tem qualquer financiamento público.
Toda essa parte burocrática ao nível do Estado está agilizada ou entendem que podia ser melhorado? Se sim, em que aspetos?
É amplamente consensual que o modelo de licenciamento carece de uma maior celeridade e simplificação de procedimentos. Temos conhecimento que, por exemplo, ao nível da Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) estará para breve a disponibilização de uma plataforma que permitirá ampliar a capacidade de avaliação e decisão. Mas há outro desafio que passa por envolver os municípios neste processo, pois são os principais gestores do território e com um papel determinante no incentivo à criação de Comunidades de Energia nas suas localidades.