A Intelligent Retail Solutions é uma startup que criou um projeto de negócio vocacionada para o comércio e retalho chamada Pick-a-Buy. A startup é participada pela Microsegur e pelo empreendedor Victor Gandarela Vasques que decidiu mudar de área, após uma carreira no mundo da publicidade.
À Forbes, Victor Vasques fala do seu novo percurso profissional para nos explicar em que consiste esta proposta de valor Pick-a-Buy, um sistema de guarda, recolha e entrega de objetos possível de instalar em qualquer compartimento. A lógica do sistema é permitir que qualquer operador de logística e utilizador autorizado aceda a essa caixa de correio (seja para deixar, guardar ou recolher uma encomenda), através de um dispositivo de abertura Bluetooth acionável por uma App em smartphone ou tablet.
Após uma carreira consolidada em publicidade, o que o levou a explorar a área de inovação tecnológica? Houve algum evento específico ou foi uma transição gradual?
Victor Vasques: A decisão baseou-se em duas dimensões essenciais. Uma, relacionada com a ideia e a oportunidade de criar a solução que acabámos por lançar e, outra, mais ligada à vontade de fazer mais e diferente, ao risco associado a uma nova dimensão de responsabilidade, que é característica do empreendedorismo e dos desafios que apresenta, que são substancialmente diferentes de quando se trabalha por conta de outrem.
Foi uma decisão difícil, ponderada e que está a valer a pena, depois de 30 anos a trabalhar com grandes marcas e fantásticos profissionais, a nível nacional e internacional.
Quais foram os maiores desafios que enfrentou neste novo setor?
O maior desafio foi, sem dúvida, o de provar a mim mesmo que era capaz de pôr em prática uma ideia e um negócio novo, praticamente a partir do zero absoluto e numa área de competência que não era, de todo, a minha.
Para isso, foi fundamental toda a experiência adquirida na publicidade, um setor que nos obriga a ter uma capacidade de visão 360 sobre qualquer projeto. Isto, porque, para ultrapassar o desafio do desconhecimento tecnológico, precisei de encontrar um parceiro que me assegurasse esse conforto e, ao mesmo tempo, com quem pudesse partilhar a minha visão.
Como surgiu a ideia de criar a Intelligent Retail Solutions?
Antes de lançar este projeto, tive oportunidade de acompanhar de perto a grande evolução a que assistimos na chamada última milha da logística urbana e que começou há cerca de uma década com as chamadas plataformas e que teve, depois, um boom ao nível do e-commerce, sobretudo por causa da pandemia. E apercebi-me que faltava algo no momento final desse processo, no momento da entrega ao cliente. Faltava uma solução para facilitar a entrega, de forma segura, simples e agnóstica do ponto de vista de integração tecnológica.
Daí à criação do conceito do Sistema Pick-a-Buy foi um “saltinho”. O desafio foi identificar as tecnologias para concretizar a ideia de termos um sistema de guarda, recolha e entrega de encomendas pioneiro a nível mundial.
“Criámos um sistema de guarda, recolha e entrega de encomendas pioneiro a nível mundial”
Em termos práticos, como funciona este sistema Pick-a-Buy? É uma solução virada para o consumidor particular ou para as empresas?
O Sistema Pick-a-Buy é uma espécie de “Via Verde”, mas para as entregas de encomendas e refeições em casa. A Via Verde é um puzzle de tecnologias agregadas que permitiu às pessoas passar portagens sem perder tempo e esforço.
O Sistema Pick-a-Buy é em tudo semelhante: proporciona às pessoas a possibilidade de receber em casa, todo e qualquer objeto, seja ele uma encomenda, uma refeição, um presente, sem perdas de tempo e sem que seja necessário estar lá alguém em casa, necessitando o depositante apenas da morada do destinatário – como a vulgar caixa de correio…
“O sistema Pick-a-Buy é uma espécie de ‘Via Verde’, mas para as entregas de encomendas e refeições em casa”
Como referi, é uma solução agnóstica do ponto de vista tecnológico e que para além de servir utilizadores individuais, adequa-se também às empresas.
Vale a pena recordar, aliás, que para as empresas as entregas tornaram-se um desafio, em virtude de muitos trabalhadores solicitarem entrega de encomendas no local de trabalho. O Sistema Pick-a-Buy também resolve esse problema, porque facilita o acesso das empresas a uma solução que permite oferecer aos trabalhadores um benefício relevante e, simultaneamente sem impacto no funcionamento dos serviços de atendimento.
Para muitas empresas, a disponibilidade do Sistema Pick-a-Buy facilita ainda as operações internas e externas de circulação de documentos, objetos e entregas a clientes, reduzindo custos pela simplificação e alargar dos períodos horários para o efeito.
Quais são os principais setores ou tipos de clientes que já utilizam esta solução?
A plasticidade, ou seja, a facilidade e simplicidade de adaptação do Sistema Pick-a-Buy a múltiplas situações e a capacidade de dar resposta a diversos tipos de necessidades de diferentes utilizadores, é uma das suas principais características diferenciadoras. Por isso, procurámos clientes em áreas distintas para podermos provar o conceito e construirmos casos-de-uso sólidos.
A primeira aplicação, e aquela que para nós representa um dos principais segmentos de mercado, foi em edifícios residenciais tipo condomínios, onde o Sistema Pick-a-Buy acrescenta aos benefícios de comodidade e poupança de tempo/esforço, um layer de segurança, por reduzir a circulação de não-residentes nas zonas comuns destes espaços habitacionais.
Além disso, por ser também agnóstico na instalação – e desculpem insistir neste conceito, porque é o elemento-chave do Sistema Pick-a-Buy – permite que os espaços para receção, guarda e devolução de encomendas/refeições nos condomínios possam adequar-se aos respetivos critérios estéticos, económicos e funcionais, pois pode ser instalado em qualquer local, em compartimentos de qualquer formato, material ou design. Em última instância, permite até a conversão das tradicionais caixas de correio num armário de receção/recolha de encomendas.
Além desta aplicação, também já instalámos o Sistema Pick-a-Buy em lavandarias self-service 24/7, guarda-bagagens self-service 24/7, ginásios pop-up self-service 24/7 e, também, em Vendings/dispensadores.
“Pode ser instalado em qualquer local, em compartimentos de qualquer formato, material ou design”
Para quem não conhece o seu modus operandi, qual é o passo a passo de um processo de encomenda?
Comprar remotamente implica, na maioria dos casos, um qualquer tipo de conciliação de disponibilidade entre quem entrega e quem recebe. Essa conciliação pode ser mais ou menos fácil, mas exige sempre algum esforço – seja para ter alguém em casa à hora combinada, seja para efetuar o levantamento na tabacaria ou supermercado, ou ir ao cacifo do operador que estiver mais próximo.
Com o Sistema Pick-a-Buy esse constrangimento desaparece porque permite que qualquer ‘objeto’ (latu sensu) seja recebido ou levantado com 100% de sucesso em casa, independentemente do operador, do horário e mesmo que não esteja lá ninguém para receber ou entregar.
“Com este sistema qualquer ‘objeto’ é recebido ou levantado com 100% de sucesso em casa, independentemente do operador, do horário e mesmo que não esteja lá ninguém para receber ou entregar”
Em que este Pick-a-Buy se diferencia das soluções de logística idênticas que já estão no mercado e que ganharam projeção com o as vendas online?
Há um conjunto de diferenças significativas. O Sistema Pick-a-Buy adapta-se a qualquer estrutura já existente, por exemplo, às caixas de correio nos prédios, e o facto de ser tecnologicamente agnóstico torna-o independente de qualquer operador de logística.
Ou seja, o que vemos atualmente são os chamados hubs de cacifos, onde cada operador instala o seu armário, com a sua tecnologia. Com o Pick-a-Buy, basta um armário, que é utilizado por todos – clientes finais e operadores.
Ao ser agnóstico, o Sistema Pick-a-Buy aplica-se também ao tipo de “encomenda”, podendo ser desde um objeto postal, até uma refeição, ou seja, toda e qualquer coisa.
Além disso, o Sistema Pick-a-Buy não exige ao depositante nenhuma Aplicação, códigos ou dispositivos, apenas a morada do destinatário, tenha ele comprado na Amazon ou na mercearia da esquina.
É um 3 em 1: recebe qualquer objeto, guarda-o ou devolve-o, sempre da mesma forma e com a mesma simplicidade e facilidade;
É também completamente independente da infraestrutura, ou seja, do armário dos cacifos. Obviamente exige compartimentos, mas estes podem ser no material, formato, design que se quiser, podem estar localizados onde o proprietário desejar. É um sistema completamente livre e por isso estética e economicamente muito mais conciliável com as necessidades dos espaços e dos utilizadores.
“O Sistema Pick-a-Buy adapta-se a qualquer estrutura já existente, por exemplo, às caixas de correio nos prédios”
Em termos de inovação e conveniência, que vantagens específicas a solução Pick-a-Buy oferece?
Com a drástica redução do tráfego de correspondência física, as caixas de correio têm uma utilização muito reduzida. Porém, as encomendas, que eram pontuais, cresceram e passaram a ser a maioria da correspondência física que todos recebemos e, com a entrega de refeições, esse tráfego aumentou ainda mais. O Sistema Pick-a-Buy permite receber em casa qualquer tipo de objeto/encomenda tal como antes se recebiam cartas, ou seja, sem qualquer esforço ou preocupação.
Quais são os pontos de recolha das encomendas?
Onde quer que seja conveniente e otimize a segurança para os moradores de um determinado condomínio ou funcionários de uma empresa. O Sistema Pick-a-Buy pode ser instalado em qualquer compartimento, desde armários do Ikea a cacifos de metal, instalados tradicionalmente em lobbies, receções e halls, ou mesmo em espaços na via pública designados para o efeito. Por outras palavras é, completamente livre: estará onde der mais jeito a quem levanta e deposita.
“O Sistema Pick-a-Buy pode ser instalado em qualquer compartimento, desde armários do Ikea a cacifos de metal, instalados tradicionalmente em lobbies, receções e halls”
Para desenvolver e lançar este negócio, qual foi o nível de investimento necessário?
O investimento, até à data, foi superior a meio milhão de euros, sendo que 2021 e 2022 foram anos essencialmente de desenvolvimento e 2023 de testes e ensaios para garantir uma fiabilidade e experiência de utilizador condizente com as nossas expectativas.
O Grupo Microsegur é quem está consigo neste investimento, ao nível do capital? Mais alguém?
Sim, por enquanto, apenas o Grupo Microsegur. Mas, em breve estaremos em condições de anunciar novos investidores, fruto da ronda que iniciámos em meados deste ano, que nos irão permitir acelerar o desenvolvimento do negócio, incluindo a internacionalização.
Como tem sido o retorno até agora, e quais são as expectativas para o futuro?
O retorno, até agora, foi essencialmente o de termos conseguido criar uma solução robusta e fiável, que nos permitiu merecermos a confiança de diversas empresas nacionais relevantes: CTT, Sonae Sierra, Teixeira Duarte e muitas outras que já estão a avançar com pilotos e que ainda não podemos revelar.
Por outro lado, ao longo da jornada de apresentação da nossa tecnologia, apercebemo-nos de que é de tal forma agnóstica que permite que o Sistema Pick-a-Buy dê resposta a desafios muito para além daquilo que foi a nossa capacidade inventiva inicial. Um desses testes, foi feito numa unidade fabril, com equipamento de alta precisão. Mas este segmento de mercado não é, para já, o nosso foco.
Não temos dúvidas que com o alargar da notoriedade do Sistema Pick-a-Buy, muitos se juntarão à nossa lista de clientes.
Este é um projeto para Portugal ou também para levar para outros países? Quais?
Sempre tivemos em mente que Portugal seria apenas o mercado teste para alcançarmos, depois, o mercado global.
O Sistema Pick-a-Buy responde a desejos e necessidades transversais e crescentes a praticamente todos os indivíduos em todas as sociedades. Se a este facto acrescentarmos que é “cloud based” e, portanto, controlado, acessível e disponível onde quer que exista internet – é fácil e plausível ter como meta torná-lo global.
“Sempre tivemos em mente que Portugal seria apenas o mercado teste para alcançarmos, depois, o mercado global”
Como vê a evolução do seu trabalho no campo da tecnologia nos próximos anos? Teremos um envolvimento seu noutros projetos? Quais?
O Pick-a-Buy é o primeiro e principal produto da empresa Intelligent Retail Solution e é nele que estamos 100% focados. Temos delineado um plano de desenvolvimento de negócios por segmentos de mercado e por geografias que nos vai exigir muito foco e determinação.
Pensar mais além do que isso, é prematuro. Aliás, a minha experiência no marketing, na publicidade e na comunicação, assim como um particular apreço e atenção para com as necessidades de futuro das pessoas, proporcionam-me muitas ideias que coleciono com muito carinho.
Por outro lado, gosto particularmente de desafios, de passar da ideia à realidade, um bichinho que ficou da publicidade, da necessidade de reinvenção constante.
Independentemente disso, como referi, o meu foco absoluto está em garantir o sucesso do Pick-a-Buy e na satisfação de todos os seus utilizadores.
