O ótico internacional do ano é português. A visão de um empreendedor para quem a vida é muito mais do que o lucro

O galardão “Ótico Internacional do Ano” é atribuído desde 2018 pela Associação Internacional de Óticos (International Opticians Association - IOA), um prémio que visa enaltecer “os óticos que marcam a diferença”. A distinção, que se baseia no compromisso dos óticos com a profissão e em aspetos como profissionalismo, comunicação, espírito empreendedor, inovação, especialização, criatividade, ligação…
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Pela primeira vez, um português recebeu o prémio de "Ótico Internacional do Ano". Vítor Martins, co-gerente da Maxivisão, saltou para a ribalta, graças à visão solidária de negócio que implementou.
Forbes Life

O galardão “Ótico Internacional do Ano” é atribuído desde 2018 pela Associação Internacional de Óticos (International Opticians Association – IOA), um prémio que visa enaltecer “os óticos que marcam a diferença”.

A distinção, que se baseia no compromisso dos óticos com a profissão e em aspetos como profissionalismo, comunicação, espírito empreendedor, inovação, especialização, criatividade, ligação com a comunidade e defesa da qualidade da profissão, recaiu este ano, pela primeira vez, num português: Vítor Martins, responsável da Maxivisão, que superou os outros três finalistas na eleição de 2024.

Este título de “Ótico Internacional do Ano” é o reconhecimento internacional da atividade o que Vítor Martins implementou e que tem por base servir com ética e qualidade a comunidade local onde se insere, em Vila Nova de Poiares, Lousã e Penacova, ao mesmo tempo, que promove ações solidárias de impacto, inclusivamente além-fronteiras.

“Vitor Martins, um ótico português galardoado com vários prémios, dedica-se há 25 anos ao setor ótico. Especializado em produtos topo de gama, Vitor melhora a experiência dos clientes oferecendo soluções inovadoras e sustentáveis. Foi pioneiro em projetos como ‘Reciclar para Ajudar’ e lidera missões de solidariedade para fornecer óculos a quem precisa. O empenho de Vitor em elevar a qualidade ótica e o seu envolvimento ativo com a associação nacional refletem a sua dedicação à profissão”, referem os organizadores do prémio.

O galardão foi entregue na Silmo Paris, a mais importante feira da ótica e artigos óticos do mundo que se realiza anualmente e que foi palco, este ano, da 30º edição dos Prémios Silmo d’Or que elegem as melhores marcas e fabricantes de produtos óticos do mundo.

O perfil de Vítor Martins e do seu trabalho levaram-no, igualmente, a ser convidado a ser membro da direção da IOA. Juntamente com Ana Carvalho (sua sócia e mulher), foi ainda nomeado embaixador da IOA na Europa.

À Forbes, Vítor Martins fala da sua visão de negócio, plasmada na empresa que montou, dos seus planos futuros e das ações solidárias em que trabalha: “Esta é mais uma prova que quando procuramos o melhor para os outros, não precisamos de ser empresas ditas ‘grandes’ para marcar pela diferença”, refere de forma humilde, mas com a ambição de querer fazer a diferença na vida dos outros.

Ganhou o prémio “International Optician of the Year”, ou seja, Ótico Internacional do Ano.  Estava à espera? O que representa este reconhecimento internacional?
Na realidade este já era o segundo ano que tinha sido nomeado finalista, o que acabou por me trazer mais aprendizagem, experiência e pensar que poderia estar muito perto de vencer. 

Este reconhecimento internacional traz com ele ainda mais responsabilidade e foco em servir cada vez melhor os nossos clientes.

“O título de ‘Ótico Internacional do Ano’ faz-nos perceber que estamos a trilhar o caminho certo na luta pela credibilidade e valorização do nosso setor”. 

Em relação a mim e à minha empresa foi com um orgulho imenso que trouxemos o título de “Ótico Internacional do Ano” para Portugal e faz-nos perceber que estamos a trilhar o caminho certo na luta pela credibilidade e valorização do nosso setor. 

Esta é mais uma prova que quando procuramos o melhor para os outros, não precisamos de ser empresas ditas “grandes” para marcar pela diferença. 

A diferença para o segundo lugar foi de apenas dois pontos. Quais foram os aspetos determinantes para o seu triunfo?
Este ano, quando fiz a candidatura à final, depois de ter sido nomeado finalista e aceitar o desafio, já trazia na bagagem a experiência do ano anterior. 

Este talvez possa ter sido um dos aspetos, mas penso que o mais importante foi ter sido mais rigoroso na minha apresentação e acima de tudo acrescentar mais trabalho e projetos inovadores em relação ao ano anterior. 

“Quando procuramos o melhor para os outros, não precisamos de ser empresas ditas ‘grandes’ para marcar pela diferença”. 

Este reconhecimento internacional é dado a alguém que marca pela diferença no nosso setor. Marcar pela diferença é muito mais que aconselhar a melhor armação ou as melhores lentes para cada pessoa. 

É defender a nossa profissão todos os dias com ética profissional e comercial, é ser consistente no que fazemos em favorecimento dos outros, e penso que foi o nosso trabalho diferenciado principalmente nestes últimos oito anos que fez com que conseguisse ganhar este tão prestigiado troféu. 

O que o motiva no setor da ótica?
O que mais me motiva neste setor é perceber que posso mudar a forma de olhar de alguém e com isso mudar-lhe a vida. 

A visão é um dos sentidos mais importantes do ser humano e cada ótico tem a responsabilidade de aconselhar e comercializar os produtos de melhor qualidade. 

As lentes oftálmicas, que é por onde cada paciente irá ver durante pelo menos dois anos, tem de ser de qualidade certificada e tem de ter qualidades diferenciadas para que haja conforto visual. 

“Marcar pela diferença é muito mais que aconselhar a melhor armação ou as melhores lentes para cada pessoa. É defender a profissão todos os dias com ética profissional e comercial”

Este dispositivo médico é muitas vezes banalizado pelo preço, com o principal intuito do lucro fácil e chamar pessoas. 

A luta pela qualidade e certificação dos produtos que vendemos é sem dúvida o que me faz levantar todos os dias. 

É uma luta por vezes desigual, pois o cliente final por vezes não consegue perceber a diferença, mas é esse o nosso caminho e é por ele que queremos continuar, porque temos a certeza e a experiência de que quem ganha são sempre as pessoas que optam pelo melhor. 

“O que mais me motiva é perceber que posso mudar a forma de olhar de alguém e com isso mudar-lhe a vida” 

Esta escolha está também relacionada com o trabalho solidário da Maxivisão?
O trabalho solidário é só uma pequena parte da escolha final.

Cada candidato tem de responder a seis questões e provar o que escreve.

Cada questão tem uma pontuação e ganha naturalmente o candidato que reunir maior pontuação no global. 

As perguntas são sobre capacidade de comunicação, espírito empreendedor, inovação, especialização, engajamento com a profissão e a comunidade e defesa da profissão. 

As Missões Solidárias são uma imagem de marca da nossa empresa, fomos pioneiros em Portugal em realizar missões desta forma, já inspiramos vários colegas de profissão ao longo destes seis anos de missões, mas este prémio é muito mais do que isso, o que me deixa ainda mais orgulhoso. 

“As Missões Solidárias são uma imagem de marca da nossa empresa”

Este ano assinalou-se o 30º aniversário dos Prémios Silmo d’Or que coroam as melhores marcas e fabricantes de ótica do mundo. Os prémios são entregues na feira Silmo de Paris, onde Vítor Martins foi também agraciado.

A Maxivisão tem-se destacado pelas suas ações solidárias em países desfavorecidos, como Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e outros. Como surgiram essas missões e qual tem sido o impacto na vida das comunidades que querem apoiar?
As missões surgiram pelo gosto de viajar, conhecer outras culturas e acima de tudo pessoas. Quando iniciamos as missões, eu já tinha percorrido cerca de sessenta países, na maior parte das vezes em família, ou em casal  por nossa conta. Foi numa viagem à India, que depois de termos percorrido mais de mil e quinhentos quilómetros de carro, sozinhos com um rapaz que nos levou aos lugares mais conhecidos do norte da Índia que percebi que tinha de fazer algo mais do que ser só viajar. 

Agora quase oitenta países depois e seis Missões Solidárias realizadas tenho a certeza que foi a melhor escolha que poderia ter feito. 

A cada missão que passa mais incrível tem sido perceber o quão impactante é a nossa passagem naquelas comunidades. Em São Tomé, Quénia, Guiné ou Cabo Verde levamos também material escolar e algumas roupas. 

Inicialmente em São Tomé investimos uma grande parte, a Icreate, instituição local que acreditou em nós, investiu em doze óculos para adultos e tivemos a ajuda dos clientes em algumas armações. 

Nós só entregamos óculos a pessoas com mais de duas dioptrias, já entregamos lentes de vinte dioptrias. Na maioria das situações foram lentes de fabrico que encarece e muito o preço de custo. 

Nas últimas três missões, já tivemos o apoio das Embaixadas Portuguesas e da Cruz Vermelha no terreno.

Tem sido uma jornada incrível que esperamos continue, já conseguimos mudar a forma de olhar a cerca de quatrocentas pessoas. 

“A cada missão que passa mais incrível tem sido perceber o quão impactante é a nossa passagem naquelas comunidades”

O vosso projeto inclui a reciclagem de óculos e armações, promovendo a reutilização em missões solidárias. Quantas pessoas calculam que já tenham ajudado? 
Sim é verdade, desde 2019 que o fazemos.

Essa é outra das características que nos torna únicos no país. 

Neste momento, cerca de cinquenta armações foram doadas por clientes. 

Tem sido um trabalho incrível em conjunto, mas nós queríamos mais. 

Com as campanhas de recolha de armações, percebemos que estávamos a receber imensas armações vindas de todo o país, mas a grande maioria não servia para serem reutilizadas. 

Como o nosso trabalho passa por receber as receitas das consultas dos pacientes de cada país e adequar a graduação específica de cada um às armações, estamos limitados no número de pessoas que podemos ajudar. 

O nosso processo é transparente e ajuda efetivamente cada um. Com o número elevado de armações usadas, poderíamos perfeitamente ir pelo caminho mais fácil que seria limpar as armações, e com as lentes graduadas que trazem, levá-las para África, distribuí-las em comunidades onde as pessoas experimentam as armações sem qualquer consulta médica, ou seja, cada pessoa tem uma graduação própria, nunca lhe fará bem andar com a graduação parecida, e depois comunicar para o mundo que doamos mil armações para pessoas desfavorecidas e que é sempre melhor que não terem nada. 

Mas não, esse não é de todo o nosso caminho, somos profissionais, defendemos a profissão e a credibilização do setor e acima de tudo gostamos do bem-estar das pessoas e não gostamos de fazer aos outros o que não gostávamos que nos fizessem a nós. 

“O nosso trabalho passa por receber as receitas das consultas dos pacientes de cada país e adequar a graduação específica de cada um às armações”

Então decidimos que com as mais de mil armações que não serviam para mais nada, criar um novo projeto o #reciclarparajudar, mais uma vez pioneiro em Portugal, que forma utentes de instituições de deficiência mental a desmantelar as armações e a fazer a sua reciclagem.

Todos os dias recebemos armações dos nossos clientes, usadas ou em mau estado que fazem com que consigamos manter o projeto, mas aceitamos armações usadas de todas as pessoas que nos queiram ajudar.

Ajudamos o ambiente, valorizamos as pessoas e apesar de serem valores baixos, conseguimos ajudar as instituições com o dinheiro angariado na reciclagem.

“Decidimos que com as mais de mil armações que não serviam para mais nada, criar um novo projeto o #reciclarparajudar, mais uma vez pioneiro em Portugal”

Quais são as próximas missões que contam fazer e quando?
Agora temos o projeto nacional pioneiro em Portugal, o #reciclarparaajudar, que nos está a ocupar algum tempo, mas que tem tido uma aceitação incrível e que vamos explorar muito mais.

Em relação às Missões estamos a preparar uma, que talvez possa sair a maior, por tudo que está para trás e por detrás. 

Como é gerir a parte comercial, de uma empresa que quer ter lucro, e a parte solidária, de montar operações para ajudar outras pessoas?
Esse processo é extremamente simples, basta pensar nos outros e ter a capacidade de nos metermos no seu lugar.

O lucro será sempre importante, mas não é o mais importante para nós.

A partir daí, tudo acontece naturalmente. 

O mais importante para nós foi termos conseguido de forma consistente e transparente ao longo destes seis anos realizar Missões Solidárias, mas acima de tudo continuar com o pensamento que a vida é curta demais para pensarmos só em nós e no nosso “umbigo”. 

“[Sobre as Missões Solidárias]: O lucro será sempre importante, mas não é o mais importante para nós. A vida é curta demais para pensarmos só em nós”. 

A Maxivisão é uma empresa de sucesso local. Esta crescente visibilidade internacional, especialmente com o reconhecimento no Silmo Paris 2024, vai influenciar os vossos planos de crescimento nacional? 
Este reconhecimento em Paris tal como o de Milão em fevereiro em que fomos considerados “BeStore Innovation Award” tem muita importância para nós. 

Trouxe visibilidade local, as pessoas começam a perceber o tipo de serviço e de produtos diferenciados que disponibilizamos. 

Já fomos reconhecidos a nível local com vários prémios. O nosso principal objetivo é acrescentar qualidade e melhor serviço nos lugares onde estamos inseridos. 

Ao longo destes anos, apesar das imensas dificuldades que a empresa já passou, sempre tentamos trabalhar com os melhores produtos, praticar preços justos mediante a qualidade, e acrescentar valor aos lugares onde instalamos as nossas lojas. 

Nada irá mudar. Queremos continuar a procurar as melhores lentes do mercado para que as pessoas tenham mais qualidade de visão, queremos oferecer as melhores armações e acima de tudo queremos que as pessoas se sintam em casa nas nossas lojas. 

Nós temos de pensar primeiro em crescer nos lugares onde estamos inseridos para depois, se a oportunidade existir noutro lugar, irmos com ainda mais qualidade. 

Abrir lojas para dizer que temos, não é de todo a nossa política empresarial, por isso estamos sempre abertos a novos desafios, mas eles tem de acrescentar alguma coisa de novo. 

“Abrir lojas para dizer que temos, não é de todo a nossa política empresarial. Estamos sempre abertos a novos desafios, mas eles tem de acrescentar alguma coisa de novo”. 

Receberam o convite para serem embaixadores da International Opticians Association na Europa e, além disso, para integrar a direção. Foi uma surpresa?
Na realidade não estávamos nada à espera. 

Desde 2021 que temos convivido mais de perto com membros diretivos da Associação e penso tenha sido por eles já conhecerem muito bem o nosso trabalho que nos convidaram.

É uma honra ser membro diretivo e Embaixador da Associação. 

Vítor Martins e Ana Carvalho, sua sócia e mulher.

Quais os objetivos que pretendem atingir neste novo papel?
Defender a proteção da nossa profissão será sempre a nossa luta, ao invés de a banalizar, portanto, como temos pensamentos idênticos, temos a certeza que será um enorme desafio, mas que sentimos ter forças para lutar em conjunto na defesa total da nossa profissão.

“Defender a proteção da nossa profissão será sempre a nossa luta, ao invés de a banalizar”

No fim do dia, o mais importante é cada um de nós perceber que todos os dias luta para que a nossa profissão seja valorizada, tendo ética profissional e comercial.

Se assim for, caminharemos com certeza para um futuro melhor para quem necessita de ver melhor e para a nossa tão importante profissão.

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