O “segundo ato” da vida de Claudia Raia e os promissores desafios profissionais que quer abraçar

A atriz brasileira Claudia Raia estreia esta quarta-feira, 29 de janeiro, no Teatro Tivoli BBVA, em Lisboa, a peça “Menopausa”. É uma produção “que retrata situações vividas por mulheres no seu 'segundo ato” de vida”, diz a produtora Plano 6. A atriz, 58 anos, interpreta uma mulher de mais de 50 anos, que enfrenta uma…
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Claudia Raia está em Portugal para a peça "Menopausa" e levantou a ponta do véu à Forbes sobre os próximos desafios que gostaria de abraçar na carreira: ser apresentadora e produtora de audiovisual.
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A atriz brasileira Claudia Raia estreia esta quarta-feira, 29 de janeiro, no Teatro Tivoli BBVA, em Lisboa, a peça “Menopausa”. É uma produção “que retrata situações vividas por mulheres no seu ‘segundo ato” de vida”, diz a produtora Plano 6.

A atriz, 58 anos, interpreta uma mulher de mais de 50 anos, que enfrenta uma nova realidade da sua vida, a chegada da menopausa.

O enredo é contado “através de cenas curtas e números musicais com várias personagens, divertidas, honestas e, por vezes, dramáticas”.

A peça propõe-se refletir sobre as inquietações, angústias, sonhos e desejos de uma mulher impactada pela menopausa: “Mudanças corporais, questionamentos de vida e carreira, saúde, beleza, expectativas sociais e relacionamentos afetivos, tudo é abordado de uma forma franca – propondo ao mesmo tempo riso e reflexão sobre uma das fases mais impactantes e menos discutidas (até hoje) na vida das mulheres”, refere a produtora.

Claudia Raia. Foto: Cristina Bernardo

Jarbas Homem de Mello, marido de Claudia Raia, é o encenador, fazendo também parte do elenco que vai estar em digressão pelo país: Lisboa (Teatro Tivoli, de 29 de janeiro a 2 de março), Porto (Coliseu do Porto, de 6 a 9 de março), Aveiro (Teatro Aveirense, de 13 a 16 de março); Póvoa do Varzim (Cine-Teatro Garrett, de 18 e 19 de março); Leiria (Teatro José Lúcio da Silva, de 21 a 23 de março), Figueira da Foz (Centro de Artes e Espetáculos da Figueira da Foz, de 27 a 30 de março) e Faro (Teatro das Figuras, de 3 a 6 de abril).

Em entrevista à Forbes, Claudia Raia falou da peça e do testemunho que ela representa, abordando ainda os próximos desafios na carreira a que aspira neste que é o “segundo ato” da sua vida que – insiste em dizer – é melhor do que o primeiro.

Claudia Raia, na produção fotográfica da peça “Menopausa”

Participa nesta peça “Menopausa” como atriz, mas também teve intervenção na definição do guião?
Claudia Raia: Sim. O guião foi feito pela Anna Toledo, que também é mulher ‘menopausada’, que é minha companheira já de alguns projetos. É a experiência dela, a minha experiência, a experiência de muitas mulheres que chegam até mim para me contar as suas histórias, porque eu falo muito sobre isso no meu Instagram já há uns 8 anos: menopausa, longevidade e sobre a mulher de 50 anos. Foram muitos áudios de coisas que aconteceram comigo, que aconteceram com ela e que aconteceram com outras mulheres. Então o espetáculo é uma grande história nossa.

O que nos pode antecipar do que vai ser a peça de teatro? Que tipo de enredo? São histórias, há um fio condutor?
Não tem nenhuma personagem que seja um fio condutor. Embora haja uma personagem que tem uma curva um pouco mais ampla, são sketches. A peça é composta por personagens, com sketches de comédia, em que essas personagens estão a passar pela menopausa de maneiras diferentes: uma é negacionista, a outra foi apanhada de surpresa, a outra é uma velhinha retrógrada, que é provavelmente as nossas avós que diziam que não se fala sobre isso, isso é tabu, falar de menopausa significa estar velha, enfim, tem várias vertentes da menopausa, sempre com a comédia, sempre de uma maneira lúdica e leve, porque o assunto já é muito pesado. Agora fundamentalmente é um ato político, meu.

“Esta peça é um ato político meu”

Claudia Raia. Foto: Cristina Bernardo

Em que medida é que é um ato político?
Porque é uma bandeira contra o etarismo. É muito importante que se fale sobre isso, um assunto que não é falado e que é tabu. É um assunto pouco investigado e pouco investido, sendo o assunto da medicina menos investido e menos pesquisado da medicina, o que é surreal, dadas também as repercussões na saúde mental e cerebral da mulher.

Aqui, em Portugal, algumas pessoas têm procurado trazer o, também tabu, tema da saúde mental para o domínio público. A Cláudia está a fazer o mesmo para a menopausa. É um manifesto público seu para descomplicar o tema?
É exatamente isso, é descomplicar o tema, é ser falado. Quando eu vim fazer o evento da Wells aqui em junho do ano passado [Conferência “Não Fica Bem Falar de… Menopausa” promovida pela Wells, em 26 de junho, no Teatro Tivoli BBVA] eu percebi quantas mulheres precisam de falar e de ser ouvidas. As pessoas querem falar, elas não são escutadas e sofrem sozinhas, caladas, sem reposição hormonal.

“Com estas alterações, as mulheres ficam a achar que estão a ficar loucas. Os homens não têm ideia do que é isso”.

É um inferno a vida assim, só quem passa é que sabe, então os homens não sabem nada sobre isso; os homens apenas dizem, ah essa aí está louca, são as hormonas, e pronto, e troca uma de 50 anos por duas de 25 anos, e acabou. Não pode ser assim a vida, você tem um segundo ato inteiro a ser vivido ainda. Como é que você vai viver com secura vaginal, com mudanças de humor drásticas, com brancos de memória, em que a mulher não sabe o que estava a falar? A apresentadora televisiva Júlia Pinheiro fez um depoimento nesse evento que me deixou chocada: ela contou que entrou no seu programa e não sabia o que ia falar; estava completamente desorientada. Isto tudo é muito aflitivo. Os homens não têm ideia do que é isso. Com estas alterações, as mulheres ficam a achar que estão a ficar loucas. Na peça de teatro, inclusive uma das personagens vai procurar um ‘pai de santo’, um vidente, porque ela acha que lhe fizeram um voodo; isso aconteceu com uma pessoa que fez esse depoimento para mim.

A peça vai percorrer diferentes cidades aqui em Portugal e depois vai estrear no Brasil [em maio]. A razão da estreia ser em Portugal e não no Brasil, foi uma ideia da Wells?
Não é da Wells, é nossa mesmo. Eu queria falar desse assunto aqui, que é muito pouco falado.

Porquê cá e não no Brasil em primeiro?
Porque em Portugal é pior, as pessoas são mais fechadas e mais conservadoras. No Brasil, estamos uns dez passos à frente, não é muito, mas é um pouco mais. O facto de a peça estrear em Portugal e isso foi uma ideia, minha e do Jarbas [Homem de Mello que é também marido de Cláudia Raia] com os nossos sócios portugueses, justamente porque a minha sócia está na menopausa também, e trocamos muitas impressões sobre isso e eu queria fazer um espetáculo em que eu pudesse prestar um serviço público, através da arte. A menopausa é uma bandeira muito minha, que eu defendo há muito tempo.

“Queria fazer um espetáculo em que eu pudesse prestar um serviço público, através da arte”.

Fala-se muito atualmente do empoderamento das mulheres, e esse segundo ato da vida que Claúdia está a expor, pode permitir também esse empoderamento?
Super, porque a mulher está no auge da sua criatividade, da sua força, da sua maturidade, com os filhos criados, não no meu caso [Claudia tem um filho que vai completar dois anos], com uma situação financeira mais estável, então é um momento em que pode fazer coisas por si. A menopausa tem uma coisa muito interessante: a mulher está sempre a pensar em todo mundo, ajeitando tudo para todo o mundo. E quando a menopausa chega – e chega de uma maneira tão avassaladora – você só tem de escutar a sua voz, só sobre você, porque o seu corpo pede isso, as suas hormonas e a sua cabeça pedem isso, a mulher vira protagonista finalmente da sua própria vida.

Daí que diga que o segundo ato é melhor do que o primeiro…
Claro, porque é o momento em que você é a figura principal; não é sobre o bem-estar dos outros.

Claudia Raia. Foto: Cristina Bernardo

“[Aos 50 anos], a mulher está no auge da sua criatividade, da sua força, da sua maturidade, com os filhos criados”

Ao longo da sua carreira, a Cláudia tem-se reinventado: já fez teatro, televisão, cinema, dança e agora também tem podcasts. O que é que a levou a querer agarrar os podcasts?
Em primeiro lugar, é a nova rádio, sendo um novo formato que acho muito interessante. O podcast que eu estou fazendo é sobre maternidade, então eu acho muito adequado nesse momento. Tenho muita coisa para falar, porque sou mãe de filhos de 27, de 22 e de 2 anos, ou seja, com uma diferença de idade absurda, em momentos completamente diferentes, gerações completamente diferentes. Então é muito interessante falar sobre isso, junto com a Tata que também é uma figura incrível, mãe também de dois pequenos. Estou a adorar e a aprender imenso com esse podcast, com as coisas que eu ouço, as pessoas que entrevistamos. Estou realmente a gostar muito. Eu amo entrevistar, eu amo ser apresentadora, isso é um braço que eu quero abrir na minha vida.

“Os podcasts são a nova rádio. Estou a adorar!”

Na reinvenção que tem dado à a sua carreira, que passo à frente gostaria de dar agora?
Várias coisas: uma é abrir esse braço de apresentadora, que é uma coisa boa, pois me comunico muito bem.

Uma espécie de talk-show?
Pode ser, é uma boa! E outra é também produzir audiovisual. Eu produzo teatro há muitos anos, desde os meus 19 anos. Às vezes eu produzo 4, 5, 6 projetos ao mesmo tempo, vários dos quais em que eu não estou como atriz, e adoro. Produzir audiovisual, cinema, série, isso interessa-me muito. Tenho muita facilidade em conseguir patrocínios e parcerias; é uma coisa que eu faço, modestamente, bem. Eu gosto de fazer isso, de construir o projeto: tenho a ideia e construo o projeto à volta dessa ideia. Acho que esses são os dois próximos desafios.

“Produzir audiovisual, cinema, série, isso interessa-me muito. E ser apresentadora”

Claudia Raia. Foto: Cristina Bernardo

Recentemente, a Fernanda Torres recebeu um globo de ouro. O que é preciso para termos mais atrizes a falar português, com um destaque ainda maior?
A alegria desse Golden Globe foi imensa, com a Fernandinha, que é minha amiga pessoal que eu amo. Mas para além disso, a alegria é que todas as vencedoras dos Golden Globe foram dos “50+”. Todas as atrizes vencedoras dos Golden Globe eram “50+”. Isso muda a visão da indústria, porque não há protagonismo para essa idade. Ninguém te chama para fazer um papel de protagonista, porque não têm papel para protagonistas dessas idades: os autores e os realizadores não pensam na mulher “50+” como uma protagonista. E vimos que todas essas atrizes ganharam o prémio e vemos que a potência está justamente aí, na maturidade; isso muda tudo: muda a visão da indústria, em relação às atrizes “50+”. Isso deu-me muita alegria, além de que a Fernandinha não trouxe um Golden Globe só como melhor atriz de drama; ela trouxe o Golden Globe para a cultura brasileira, que estava esfaqueada, morta, nesse último governo de 4 anos. Para nós, foi um bálsamo, além dela merecer tudo, porque ela é espetacular. Estamos muito felizes e orgulhosos, todos nós brasileiros.

“Os autores e os realizadores não pensam na mulher ’50+’ como uma protagonista. O Golden Globe de Fernanda Torres muda a visão da indústria”

Os portugueses também sentiram o carinho por esse prémio…
Claro, com certeza, porque a língua portuguesa é a nossa língua.

Como podemos puxar mais pela língua portuguesa, seja ela falada no Brasil, seja ela falada em Portugal?
Penso que com bons projetos: o “Eu ainda estou aqui” é um grande filme. Então, temos mesmo de ir atrás de grandes projetos, de grandes autores, de bons guiões, para que tenhamos bons produtos para oferecer. E é possível chegar lá, claro que é, mesmo com a língua portuguesa.

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