Opinião

A retenção de talento em Portugal: desafios e oportunidades

Inês Almeida

A retenção de talento é um dos maiores desafios enfrentados pelas organizações em Portugal. O Employee Sentiment Study 2025 da Aon revela que 46% dos colaboradores nacionais está à procura de novas oportunidades profissionais ou considera mudar de emprego nos próximos 12 meses. Este dado é alarmante e exige uma análise profunda das razões por trás desta tendência e das estratégias que as organizações podem adotar para reter os seus melhores talentos.

Um dos fatores mais preocupantes revelados pelo estudo é que 33% dos colaboradores em Portugal sente-se desvalorizado, sendo este um sinal de alerta para as organizações. Fatores de descontentamento com a segurança financeira e transparência salarial e o sentimento de desajustamento da oferta de benefícios às necessidades dos colaboradores podem explicar esta percentagem.

A adicionar a estes aspetos, a necessidade de equilibrar carreira e vida familiar nunca foi tão evidente. Os dados revelam que 39% dos colaboradores em Portugal esperam apoio dos empregadores no cuidado à parentalidade e 38% procuram benefícios para assistência a familiares idosos. Verifica-se uma crescente pressão sobre os profissionais para gerirem responsabilidades familiares, muitas vezes sem o apoio e disponibilidade necessários. Assim, empresas que oferecem horários flexíveis, licenças parentais alargadas e benefícios para cuidadores podem diferenciar-se e atrair talento num mercado cada vez mais exigente. Para as organizações, responder a estas necessidades não deve ser apenas uma questão de responsabilidade social, mas também uma estratégia eficaz para melhorar a produtividade e reduzir o absentismo.

Também o bem-estar se tornou uma prioridade incontornável na retenção de talento em Portugal. E o estudo revela que 58% dos profissionais acredita que os empregadores devem desempenhar um papel mais ativo no apoio ao seu bem-estar, seja ele físico, mental, financeiro, social ou profissional. Programas de incentivos para um estilo de vida saudável, apoio psicológico e iniciativas focadas na qualidade de vida e desenvolvimento pessoal e profissional são cada vez mais valorizadas pelos profissionais e as empresas que investem em benefícios nesta área podem aumentar significativamente o nível de satisfação e compromisso dos seus colaboradores.

A retenção de talento em Portugal está cada vez mais dependente da capacidade das organizações de responderem às reais necessidades e expectativas dos colaboradores. E num mercado de trabalho cada vez mais competitivo, compreender e responder às necessidades dos trabalhadores não é apenas uma questão de estratégia, mas um fator essencial para garantir o crescimento sustentável e o sucesso a longo prazo das empresas. As organizações enfrentam assim um desafio inadiável: reavaliar as suas estratégias de gestão de talento para evitar a fuga de trabalhadores qualificados.

Inês Almeida,
Advisory Consultant da Aon Portugal

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