No estudo Happiness Works realizado em 2022 perguntámos aos profissionais (pergunta aberta) o que gostariam de ter por parte das organizações considerando a nova realidade na vida e trabalho, pós pandemia. Ao analisar os dados houve um conceito que sobressaiu: gostava que a organização me ajude a desfrutar a vida. Sendo um conceito novo e muito disruptivo, procurámos entendê-lo melhor através de análise quantitativa e qualitativa das respostas obtidas (8.087 respostas).
Começámos por analisar se este conceito tem impacto na rentabilidade e, desta forma, é relevante para as organizações. Foi possível concluir que nas organizações que mais ajudam a desfrutar a vida, os colaboradores faltam menos (-20%), são mais produtivos (+12%) e, mais do que tudo, não pretendem sair da organização (-91%). Ou seja, tem um claro impacto na rentabilidade.
De seguida, fomos identificar as principais diferenças entre as organizações que ajudam / não ajudam os seus colaboradores a desfrutar a vida.
Tabela 1. Diferenças entre as organizações que ajudam / não ajudam a desfrutar a vida
Variáveis | Desfrutar + | Desfrutar – | Dif. % |
As minhas condições financeiras são justas para a função que desempenho | 3,8 | 2,5 | 54% |
A minha função permite o equilíbrio entre a minha vida profissional e pessoal | 4,4 | 3,1 | 42% |
A liderança de topo é verdadeira e inspiradora | 4,4 | 3,1 | 42% |
Sou reconhecido pelo meu mérito | 4,2 | 3,1 | 39% |
Tenho o apoio que necessito da direção | 4,5 | 3,2 | 38% |
A organização é justa e honesta | 4,4 | 3,2 | 38% |
A organização permite desenvolver-me como pessoa e profissional | 4,4 | 3,2 | 37% |
A organização permite-me fazer o que gosto | 4,4 | 3,2 | 37% |
Os chefes promovem o bem-estar dos seus colaboradores | 4,5 | 3,3 | 36% |
Sinto-me envolvido com os valores da organização | 4,5 | 3,3 | 34% |
Da análise à Tabela 1. é possível resumir as conclusões mais importantes. Os fatores que mais podem ajudar a desfrutar a vida na organização estão relacionados com a perceção de um salário justo, o equilíbrio vida profissional / pessoal, uma liderança inspiradora e que procura o bem-estar dos colaboradores, o reconhecimento e o desenvolvimento pessoal / profissional através da realização de tarefas/funções de que gosto.
Quando analisamos as variáveis mais correlacionadas com o melhor desfrutar a vida, as mais relevantes são o equilíbrio trabalho/família, o desenvolvimento pessoal, a liderança inspiradora e a organização justa / honesta (Tabela 2.)
Tabela 2. Variáveis mais correlacionadas com o desfrutar a vida na organização
Variável | Correlação |
A minha função permite o equilíbrio entre a minha vida profissional e pessoal | 0,62 |
A organização é justa e honesta | 0,61 |
A organização permite desenvolver-me como pessoa e profissional | 0,61 |
A liderança de topo é verdadeira e inspiradora | 0,60 |
Tenho o apoio que necessito da direção | 0,60 |
Relacionando as duas análises anteriores, com resultados muito semelhantes, é interessante observar que o salário, devendo ser justo, não tem a correlação mais forte com o desfrutar a vida na organização. Tal, reflete muito bem o procurado hoje pelos profissionais, organizações éticas, que proporcionem o devido equilíbrio entre a vida profissional / pessoal e paguem um salário justo.
No mesmo estudo, perguntámos (através de pergunta aberta) o que os profissionais gostariam de obter das organizações para melhor desfrutarem a vida como um todo. As principais sugestões foram tempo e bem-estar para mim e família. O tempo, através de trabalho flexível. O bem-estar, através de mais férias, momentos para disfrutar com os amigos / família, viagens de lazer, seguro saúde / vida. Foi, também, referido a importância de momentos de socialização na organização, o convívio com colegas e eventos como a festa de Natal e outros eventos corporativos.
Do aprendido com este estudo, é possível verificar que o conceito de “ajudar a desfrutar a vida” é de grande importância para os colaboradores, tem impacto na rentabilidade e é possível de implementar. Para tal, é importante permitir, no possível, o equilíbrio trabalho / família, um salário justo, a possibilidade de desenvolvimento pessoal / profissional através de uma liderança humanizada que se preocupe com o bem-estar dos colaboradores. E, alguns “mimos” como proporcionar momentos de bem-estar para o colaborador e família, e de socialização com os colegas.