Opinião

Investidores precisam-se

João Vasconcelos

João Vasconcelos, director executivo da Startup Lisboa

Artigo incluído na edição de Dezembro 2015

Longe vai o tempo em que os gestores de capital de risco e os business angels se queixavam de que não havia bons projectos para investir em Portugal. Hoje, com a confirmação de que diversas startups surgidas entre nós se transformaram, em menos de cinco anos, em empresas globais e com a capacidade de atrair os maiores investidores globais, já ninguém duvida de que há boas oportunidades de investimento em Portugal. E cada vez há mais quem as cobice. No mês passado, esteve em Lisboa um grupo de investidores e representantes de grandes empresas globais e dos maiores fundos internacionais de capital de risco. A Tech Tour, plataforma europeia de investimento de base tecnológica, trouxe cá fundos de investimento que, em conjunto, gerem mais de 40 mil milhões de euros, para conhecerem e avaliarem 12 empresas portuguesas em início de vida.

Portugal é o segundo país do mundo com mais startups investidas pelo Seedcamp, um fundo de investimento europeu focado em capital “semente”, que já investiu em 140 empresas. Desde que foi criado, há sete anos, todas as vezes que os seus representantes vieram a Portugal identificaram startups nacionais meritórias de apoio. Mas quem são estes investidores que estão de olhos nas empresas criadas por empresários formados pelo nosso sistema de ensino e pelo investimento em ciência e tecnologia suportado pelo país nas últimas décadas?

Há muito tempo que não víamos um momento tão bom para investir em operações portuguesas.

Tipicamente, quem investe nestas empresas de base tecnológica, é quem conhece o sector por dentro. Em especial, se estão numa fase muito precoce do negócio, é exigido a um investidor muito mais do que uma posição financeira passiva. Para ter retorno, é fundamental que acompanhe a gestão e o desenvolvimento das empresas e que actue como mentor para os empreendedores e para as suas equipas. Se em Silicon Valley existem várias centenas de investidores que ganharam experiência e dinheiro com as suas próprias empresas de base tecnológica, em Portugal o ecossistema não tem idade para ter gerado mais do que uma mão cheia de investidores com esse perfil. Talvez por isso tenhamos, hoje, muito mais investidores estrangeiros do que portugueses a visitar as incubadoras nacionais. Mas a falta de experiência no sector não significa que as oportunidades geradas por startups portugueses têm de passar ao lado dos investidores nacionais.

O modelo de co-investimento com estrangeiros pode ser muito benéfico para ambas as partes, conforme atesta o caso da Faber Ventures, que começou por ser um pequeno fundo criado por portugueses e hoje tem um parceiro alemão, um escritório em Londres e vários co-investimentos em empresas estrangeiras com alguns dos maiores investidores europeus e norte-americanos, como a Google Ventures. Outro excelente exemplo é a Caixa Capital, que já co-investiu com parceiros estrangeiros em diversas startups portuguesas, como a Codacy, a Hole19 ou a Uniplaces e a Farfetch. Se a maioria dos investidores estrangeiros preferem fazer parcerias com um investidor local, para os nossos investidores menos conhecedores do sector tecnológico, é uma oportunidade para verem que valor os seus co-investidores aportam ao negócio, como negoceiam, abordam o mercado, tratam os procedimentos e até as questões jurídicas.

Há muito tempo que não víamos um momento tão bom para investir em operações portuguesas. Com a qualidade de empreendedores que temos sido capazes de gerar, estão reunidas as condições para esta ser uma década de grande progresso económico das empresas tecnológicas em Portugal.
Há excelentes oportunidades para investir, seja para a banca, os grandes grupos económicos, os business angels ou os fundos de capital de risco. É tempo de estarmos atentos.

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