Opinião

Mulheres nas TI: as novas Ada Lovelace do século XXI

Cátia Gomes

No Dia da Mulher é importante refletir sobre o seu papel atual no mundo das Tecnologias de Informação (TI) pois, em pleno século XXI, é incontestável que este setor, a nível mundial, e em particular em Portugal, continua a ser um universo predominantemente masculino.

No entanto, também é inegável que muita coisa mudou desde que Ada Lovelace — considerada a primeira programadora da história — desenvolveu em 1842 o algoritmo pioneiro para ser processado por uma máquina analítica, o qual permitia, consoante a instrução dada, realizar diferentes operações, contribuindo assim para a otimização de processos.

Volvidos exatamente 183 anos desta descoberta, inúmeras barreiras foram quebradas — estigmas, preconceitos, mais abertura das empresas, mais interesse por parte das mulheres em seguir estudos académicos neste campo e salários menos desiguais — e, como tal, a equidade de género nas TI tem dado passos importantes, ainda que lentos.

É curioso que, apesar de a multiplicidade de áreas e de funções dentro do setor ser um território fértil para o talento feminino, este ainda é pouco explorado. Porquê? Em rigor, não há uma única resposta, mas uma coisa é certa: a falta de referências, de se olharem ao espelho no exemplo de outras, faz com que muitas mulheres sintam que não pertencem àquele mundo.

E quanto menor a representatividade, menor a identificação feminina com o setor. A consequência? Menos mulheres a assumir papéis de liderança, porque também aos comandos das operações a presença masculina é esmagadora. Em suma, um efeito de bola de neve que perpetua a(s) desigualdade(s) no acesso a cargos nas TI.

Contudo, nos últimos 10 anos, estamos a assistir a um movimento crescente das empresas no sentido de mudar essa realidade. Isto porque as organizações estão mais conscientes da importância de construir equipas heterogéneas, que tragam diferentes perspetivas e, consequentemente, soluções mais inovadoras.

E por que é que a diversidade é tão importante? Porque homens e mulheres, devido às suas experiências, abordam os desafios de maneiras distintas. E é precisamente essa multiplicidade de pensamento que enriquece as equipas, tornando-as mais eficazes e promovendo melhores resultados.

Ignorar a necessidade e a mais-valia de equipas mistas é perder a oportunidade de maximizar o potencial humano, especialmente num futuro em que o equilíbrio entre tecnologia e soft skills será essencial para as empresas se posicionarem na linha da frente.

Parte dessa mudança passa também pela formação de lideranças. Programas como The Leadership Circle, que se concentram no autoconhecimento e incentivam os participantes a refletir sobre o seu estilo de liderança, comportamentos e crenças. Líderes mais conscientes terão um impacto positivo nas equipas e nas organizações, influenciando de forma mais consciente, autêntica e eficiente as mesmas.

O caminho para aproximar mais mulheres da tecnologia passa ainda por mostrar às mais jovens que o setor não só as acolhe, mas também precisa delas. Necessitamos de exemplos concretos para evidenciar que há espaço para todos: seja em funções técnicas, comerciais, de gestão ou em muitas outras.

Além disso, as empresas estão cada vez mais comprometidas com políticas de contratação equitativa de género e de equilíbrio entre vida pessoal e profissional, tornando o percurso no setor mais acessível e atrativo, permitindo às mulheres conciliarem os objetivos familiares com as carreiras que ambicionam.

Por isso, tal como Ada Lovelace contribuiu para a revolução tecnológica do seu tempo, todas as mulheres continuam a ter um papel crucial na modernização do mundo. O desafio agora é garantir que todas possam ter a oportunidade de deixar a sua marca na evolução digital e serem, cada uma à sua maneira, as Ada Lovelace do século XXI: um exemplo transformador a seguir.

Cátia Gomes,
Delivery Manager na Integer Consulting

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