Cabe na confabulação de cada português emigrado teorizar sobre um Portugal melhor. Talvez porque guardada a sete chaves exista essa ideia de lar, família, conforto de voltar.
Mas o que faz com que o salário médio suíço seja 5 vezes o português que cria oportunidades inolvidáveis para todos os que se tentam, e me tentaram, a emigrar? Não será tudo, mas numa parte importante, o Investimento Direto Estrangeiro (IDE). Falarei do que conheço, a comparação entre Portugal e a Suíça.
Em 2023, o IDE Suíço foi de 930 mil milhões de francos suíços e o Português foi de 174 mil milhões de euros, ou seja mais de 5 vezes superior. Parece que o múltiplo 5 é um fator comum nesta comparação, mas será coincidência? E o que faz a Suíça, um país à nossa dimensão geográfica (ainda mais pequeno) e em população (com menos habitantes) para ter o investimento que Portugal não tem?
A Suíça beneficia de um modelo governativo que promove o investimento a longo prazo:
- O governo suiço tem representação dos principais partidos e distribui por pastas ministeriais as áreas de especialização (desde finanças, educação ou saúde).
- Uma política fiscal ímpar com IRC de 12% em cantões como Zug (um exemplo de como a Laffer curve mostra que o aumento de carga fiscal não contribui sempre para o aumento da receita fiscal).
- A confiança no sistema bancário e financeiro (que ainda há pouco tempo foi testado através da aquisição do Credit Suisse pelo UBS).
- Para além de um amor indiscutível ao país, chamem-lhe nacionalismo, e à defesa do seu legado.
Estes talvez sejam os fatores principais que diferenciam Portugal da Suíça, mas noutros estamos ao mesmo nível, nomeadamente:
- O talento: ambos os países têm mão de obra qualificada por parte de universidades de renome nas áreas da engenharia, advocacia, gestão, saúde, entre outras.
E onde é que Portugal se pode destacar?
- Na sua posição estratégica de ligação entre as Américas e a Europa que lhe permite ser um hub de desenvolvimento económico (não fossem prova disso os vários unicórnios tecnológicos portugueses).
- Numa cultura de inovação intrínseca ao ADN português que nos permite pensar para lá dos horizontes exatos.
- Numa reputação de país amigável e dos portugueses como pessoas próximas, que tanto tem beneficiado o turismo e crescimento do mercado imobiliário, país com uma qualidade de vida ímpar, seja pelo número de dias de Sol, gastronomia ou beleza paisagística.
No entanto, a setorialização estratégica do investimento é indispensável através de mais capital de risco em setores de valor acrescentado que possam alavancar as mais valias de Portugal como hub nos setores farmacêutico e de biotech. É necessário ter um plano de criação de incentivos fiscais que promovam a angariação de grandes laboratórios que se tornem catalisadores deste ecossistema, que possam absorver o talento português, especialmente científico, e conduzir a investigação à comercialização.
Adicionaria também, uma maior dinamização, ao nível de atração de investimento estrutural no setor das energias verdes de que Portugal dispõe de forma única (e que se são líderes outros países como Espanha e Itália no contexto Europeu), para além do que já foi conquistado e deve ser preservado ao nível de incentivos de promoção do setor do imobiliário de luxo.
Vivendo na Suíça e sendo portuguesa, continuarei a acreditar, o tamanho não importa. Existirão sempre condições à nascença que nos limitam assim como forças que nos expandem. Sou jovem conselheira do Conselho da Diáspora Portuguesa e é assim que vejo Portugal no futuro. No recentemente criado Podcast LusoLab entrevisto, eu e vários jovens conselheiros, elementos seniores da Diáspora que nos contam como chegaram a cargos de destaque internacionais, assim como a sua visão para melhorar e atrair investimento para Portugal. Para conheceres estas histórias segue o LusoLab nas plataformas habituais!
Maria Monteiro,
Jovem Conselheira do Conselho da Diáspora Portuguesa