Opinião

Quando a computação quântica revolucionará a saúde?

Tal Patalon

As nossas vidas seguem caminhos moldados por mudanças contínuas, quer as observemos ou não. Estes cruzamentos sinuosos representam um número infinito de resultados possíveis em qualquer momento — até agora, incalculáveis. A computação quântica muda esse paradigma, permitindo simular inúmeras probabilidades em tempo real e redefinir a forma como compreendemos a saúde.

A subida exponencial do valor das ações da D-Wave Quantumreflete esta transformação emergente, inaugurando uma nova era de poder computacional. A empresa anunciou recentemente um feito inovador: o seu computador quântico realizou uma simulação complexa em apenas alguns minutos — algo que um supercomputador tradicional com GPUs levaria quase um milhão de anos a concluir, consumindo mais eletricidade do que o mundo inteiro usa anualmente. Esta velocidade e capacidade de processamento estão intrinsecamente ligadas à capacidade dos computadores quânticos de calcular inúmeros cenários simultaneamente.

Agora, a investigação médica começa finalmente a acompanhar esta evolução. Durante décadas, os cuidados de saúde basearam-se em diretrizes estáticas e árvores de decisão rígidas, tratando os pacientes dentro de categorias diagnósticas amplas — diabetes, doenças cardíacas, cancro — ignorando a variabilidade individual e desconsiderando nuances importantes. No entanto, uma doença não é um estado estático, nem surge de repente; ninguém se torna diabético no momento exato em que os níveis de glicose ou hemoglobina A1c cruzam um determinado limite. Os processos biológicos não funcionam de forma binária.

Um novo paradigma para a saúde

A computação quântica permitirá aos investigadores da área da saúde abandonar a mentalidade categórica tradicional e, em vez disso, modelar percursos de evolução complexos, evitando a necessidade de encaixar os pacientes em categorias rígidas. Estas trajetórias detalhadas permitirão aos profissionais de saúde prever não apenas se um paciente pode desenvolver uma condição, mas quando e como devem intervir — identificando aquele ponto crítico silencioso e oculto muito antes do surgimento de sintomas e complicações.

Imagine um jogo de xadrez onde todos os movimentos possíveis — e as suas consequências em cascata — são calculados simultaneamente. É desta forma que os modelos avançados revolucionarão a medicina. Cada escolha feita por um paciente altera o seu futuro num jogo complexo entre genética, epigenética, estilo de vida e exposições ambientais. A humanidade está agora a reunir quantidades sem precedentes de dados sobre cada um de nós, criando informação suficiente para construir um mapa mais profundo e preciso da nossa saúde.

A computação quântica como chave para a medicina personalizada

No entanto, a magnitude dos dados e das possibilidades envolvidas nesta simulação de saúde de alta complexidade é avassaladora, indo além do que é atualmente calculável. A computação quântica tornará isto possível, permitindo simular rapidamente milhões de cenários potenciais e escolher o melhor — a decisão ideal para cada indivíduo: quando e como intervir. Isto proporcionará uma capacidade sem precedentes de previsão na avaliação de riscos e no planeamento de tratamentos.

Quando a medicina der este salto quântico, a era das classificações rígidas dará lugar a um futuro de trajetórias de saúde dinâmicas e personalizadas. Os médicos terão a capacidade de moldar estrategicamente a jornada de saúde de um paciente em tempo real, onde a chave para uma vida mais saudável não dependerá apenas de um diagnóstico isolado, mas sim do percurso de saúde como um todo.

Tal Patalon,
MD, LLB, MBA, Co-fundadora e CEO da Medãna

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