Opinião

“The Good, the Bad and the Ugly”

Pedro Rocha Vieira

Co-fundador e presidente-executivo da Beta-i

 

Artigo incluído na edição de Junho 2018

 

Há uma piada no mundo das start-ups que diz que a relação entre um investidor e um founder é mais longa do que a média de um casamento. Para encontrar o par ideal, são precisos muitos dates e é preciso estar preparado para alguns “nãos”. Em média, um bom investidor investe em apenas 0,5% dos projectos que vê e avalia. Neste contexto, ter boas referências e ser apresentado pela pessoa certa, representa mesmo uma mais-valia.

 

Para conquistar um investidor, o processo de fundraising deve ser feito pelo presidente-executivo (CEO) ou por um dos founders e ter uma mensagem clara e um bom pitch. Igualmente importante, ou mesmo mais, é haver uma boa química e empatia. As relações constroem-se com tempo e confiança. Estar preparado é importante, mas ser flexível e saber ouvir é fundamental.

 

Para os empreendedores, é importante serem transparentes, uma vez que a credibilidade é tudo neste mercado. O empreendedor deve planear bem a estratégia de fundraising, pois é um processo mais demorado e frustrante do que se pode antecipar. Deve ser realista, saber priorizar e saber explicar bem aos investidores o negócio e a proposta de valor, reconhecendo as fragilidades e os principais desafios que se têm pela frente.

 

Os investidores devem evitar ter uma postura paternalista e cansar os empreendedores com reports desnecessários. Devem também saber gerir o seu portefólio, sinalizar o status de cada start-up e dar-lhes apoio nos momentos que mais precisam – como na altura da entrada em novos clientes, novas contratações chave ou novas rondas de investimento. É importante que os investidores saibam estar nos boards, que confiem e trabalhem com os empreendedores para conseguirem executar a melhor estratégia.

 

Nem todos os investidores numa ronda são iguais. Normalmente, o líder ou os principais investidores têm um papel muito mais relevante que os minoritários. No entanto, todos devem ser capazes de acrescentar valor. É importante também existir uma boa relação entre co-investidores, normalmente é natural darem-se bem, já terem colaborado antes e existir confiança e complementaridade de skills e contactos. Também aqui existe a necessidade de desenvolver boas relações e de se criar uma boa rede de co-investimento.

 

Acima de tudo uma relação entre investidores e empreendedores deve ser uma relação de parceria e entre pares, pelo que os investidores devem evitar sentirem-se donos e chefes dos empreendedores, mas sim mentores e coaches. A relação entre investidores e start-ups materializa-se num term sheet, um contrato que regula os principais direitos e responsabilidades de cada um, bem como os termos da transacção.

 

Tem existido cada vez mais um esforço por normalizar os term sheets para que tenham cláusulas que sejam justas. Em Portugal, a Beta-i tem trabalhado com a Team Genesis (Morais Leitão), e com o SeedCamp para se conseguir adoptar em Portugal um term sheet mais estandardizado e alinhado com as melhores práticas europeias.

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