Opinião

Upskill e Reskill: uma oportunidade para ambos os lados

Sandra Alvarez

Vivemos numa era de transformação exponencial, onde a evolução tecnológica, liderada pela inteligência artificial e pela automação está a reconfigurar a forma como trabalhamos e nos relacionamos com o mercado laboral. Neste contexto, os conceitos de upskilling e reskilling emergem como respostas estratégicas para as organizações e profissionais que desejam não apenas sobreviver, mas prosperar neste cenário em constante mutação.

Os desafios que as empresas enfrentam são cada vez mais complexos. Por um lado, há uma crescente escassez de talento em áreas críticas, como análise de dados, cibersegurança e desenvolvimento de software. Por outro, as funções tradicionais estão a desaparecer ou a ser profundamente alteradas.

Esta dicotomia exige uma adaptação ágil e contínua, o que torna o investimento em formação uma prioridade estratégica. O upskilling, ou seja, a atualização de competências para melhorar o desempenho em funções atuais, é fundamental para manter a competitividade de qualquer profissional. Já o reskilling, que envolve a requalificação para desempenhar funções completamente diferentes, permite às empresas realocar talento interno em áreas emergentes, reduzindo a dependência de contratações externas e otimizando recursos.

As estatísticas são claras: estudos indicam que mais de 50% da força de trabalho global precisará de requalificação significativa até 2030 (“Relatório sobre o Futuro dos Empregos 2025″ do Fórum Económico Mundial). Em setores como a tecnologia, onde a obsolescência das competências é uma realidade quase anual, este número é ainda mais expressivo. Ao mesmo tempo, os colaboradores procuram cada vez mais empregadores que lhes ofereçam oportunidades de crescimento e desenvolvimento.

Assim, empresas que investem em programas de upskilling e reskilling não só melhoram a sua capacidade de adaptação, como também reforçam a retenção de talento e a atração de novos profissionais. Para as organizações, a criação de programas de desenvolvimento de competências traz ganhos claros: maior produtividade, redução de custos com recrutamento e uma força de trabalho mais alinhada às suas necessidades estratégicas. No entanto, o impacto vai além do tangível. Estas iniciativas promovem uma cultura de aprendizagem contínua, onde os colaboradores se sentem valorizados e motivados.

Para os profissionais, a oportunidade de adquirir novas competências é um passaporte para a segurança no emprego num mundo em mudança. Num mercado onde as soft skills – como criatividade, pensamento crítico e resiliência – ganham destaque, estas formações são também uma oportunidade para o desenvolvimento pessoal. No contexto português, o desafio é particularmente acentuado. A transição digital e a escassez de mão-de-obra qualificada em setores-chave, como as tecnologias de informação, evidenciam a necessidade de programas de formação ambiciosos.

Organizações como a Portugal Digital e iniciativas do IEFP têm dado passos significativos, mas o ritmo ainda não é suficiente para responder às exigências do mercado global. Empresas nacionais e multinacionais com operação em Portugal têm aqui uma oportunidade de ouro para liderar esta mudança. Ao apostar em programas estruturados de requalificação e atualização, podem posicionar-se como empregadores de referência e contribuir para a competitividade do país no cenário europeu.

O upskilling e o reskilling não são apenas tendências, mas uma necessidade premente. As empresas precisam de assumir o protagonismo nesta transformação, criando programas acessíveis, inclusivos e adaptados às necessidades dos seus colaboradores. Por outro lado, os profissionais devem abraçar a ideia de que a aprendizagem nunca termina e que o investimento em competências é a chave para a empregabilidade futura.

Em última análise, o sucesso desta transição digital não depende apenas das empresas e dos indivíduos, mas também de políticas públicas robustas, que incentivem a formação contínua e apoiem iniciativas de desenvolvimento de competências.

 

Sandra Alvarez,
Diretora Geral da PHD

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