Opinião

ETF em carteiras de gestão activa

Paulo Monteiro

Paulo Monteiro, director de Gestão de Activos do Banco Invest

Artigo incluído na edição de Janeiro de 2018

 

Uma das questões que tem dominado a indústria da gestão de activos tem sido o forte aumento dos activos sob gestão dos Exchange-Traded Funds (ETF) – actualmente estão aplicados mais de 4,4 biliões de dólares a nível global – e até que ponto os mesmos poderão substituir os tradicionais fundos de investimento de gestão activa.

 

Trata-se de um debate interessante, tendo em conta a elevada percentagem de produtos de gestão activa que não consegue, de forma consistente, bater os respectivos benchmarks, não justificando assim as comissões cobradas, significativamente superiores às comissões dos ETF.

 

Na minha opinião, haverá sempre lugar para ambas as abordagens. A questão não deverá ser entre optar por uma ou outra, mas como combiná-las em carteiras de investimento diversificadas. É o que fazemos, por exemplo, na gestão do fundo Alves Ribeiro PPR (fundo), um produto de gestão (muito) activa, mas que inclui na sua carteira ETF. Tal opção deve-se às vantagens identificadas neste tipo de fundos-índice, nomeadamente:

 

  • Diversificação, na medida em que com uma única “linha” se obtém exposição a um conjunto alargado de acções. No caso específico do AlvesRibeiro PPR, apenas são utilizados ETF na componente de acções, como forma de reduzir o risco específico da carteira. Tendo em conta que na componente de obrigações o fundo detém exposição directa a créditos de empresas, cuja correlação com as acções pode ser significativa, sobretudo quando os mercados corrigem, os ETF permitem reduzir o risco específico da carteira total;

 

  • Redução de custos, dadas as baixas comissões de gestão deste tipo de produtos. Diversificação a baixo custo;

 

  • Flexibilidade, no sentido que permitem aumentar (ou reduzir) de forma muito rápida (e barata) a alocação a um determinado mercado ou sector. Trata-se de uma vantagem relevante quando falamos de fundos de investimento abertos, com subscrições e resgates diários, onde a gestão da liquidez se reveste de grande importância.

 

De qualquer forma, alguns cuidados devem ser igualmente considerados. Em primeiro lugar, deve ser analisada a sociedade gestora do ETF, devendo ser privilegiadas as gestoras de renome e com track-record. Em segundo, é importante verificar factores como a liquidez do ETF, ou seja, o volume de transações, a diferença para o Net Asset Value (NAV) e o spread bid-ask. Por último, importa ter presente que os ETF market weighted, isto é, que distribuem os constituintes em função da sua capitalização bolsista, tendem a sobreponderar os títulos que mais subiram. Isto pode ser importante porque, no caso de grandes subidas do mercado, através dos ETF tende a comprar-se as acções que subiram mais e não as necessariamente mais baratas.

 

Concluindo, os ETF são um instrumento poderoso na gestão de carteiras de investimento. Mais do que o market-timing e o stock-picking, o principal driver da rendibilidade (e risco) de uma carteira de investimento é a alocação de activos. E, neste sentido, os ETF podem ser de grande utilidade.

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