Nos EUA, a tomada de posse do Presidente é uma solenidade que extravasa o campo político, com várias celebrações e atuações de músicos que acabam, dessa forma, por demonstrar uma afinidade para com o candidato eleito.
Depois de uma tomada de posse, em 2017, em que Trump teve dificuldades em atrair artistas de renome internacional, este ano, a história quase que se repetiu. Isto porque a maioria dos artistas são locais e poucos são conhecidos para lá das fronteiras norte-americanas.
Porventura, os mais conhecidos para os europeus são o rapper Snoop Dogg e os Village People.
O rapper Snoop Dogg atuou no “Inaugural Crypto Ball”, no Andrew W. Mellon Auditorium, em Washington, D.C., juntamente com executivos da área de criptomoedas, celebrando a posse de Trump, cujo governo prometeu grandes mudanças na política das bitcoins.
Os Village People, o grupo por detrás da canção “Y.M.C.A.”, que se tornou um elemento básico nos comícios de Trump, durante os quais o Presidente eleito executava o que ficou conhecido como a “dança de Trump”, anunciou que atuaria em vários eventos da tomada de posse. Um desses eventos foi o baile da véspera da tomada de posse, realizado no passado domingo à noite, pela organização política conservadora Turning Point USA, que contou com convidados como o fundador do grupo, Charlie Kirk, o vice-presidente eleito JD Vance, Tulsi Gabbard, Donald Trump Jr., Vivek Ramaswamy e Ben Shapiro.
Esta ligação dos Village People a Trump motivou surpresa, pois desde o final da década de 1970 que a música “Y.M.C.A” que é o grande êxito da banda (sigla de “Young Men’s Christian Association”) se tornou associado ao movimento gay.
Enquanto os seguidores de Trump se divertem com a música, ativistas LGBTQ+ têm manifestado desilusão, lembrando que o grupo se tornou um ícone da comunidade gay, e que o movimento trumpista “Make America Great Again” (MAGA) é homofóbico.
Com Trump a empurrar (décadas depois) “Y.M.C.A.” para o #1 dos tops musicais da Billboard, durante cinco semanas, o vocalista dos Village People, Victor Willis, tem agora afirmado que esta música nunca foi um hino gay e anuncia que, “a partir de 2025, eu e a minha mulher vamos começar a processar qualquer meio de comunicação que refira que a YMCA é algum tipo de um hino gay”.
Victor Willis refere “que essa é uma falsa suposição baseada no facto de que o meu parceiro de composição era gay, e alguns (não todos) dos Village People eram gays”.
O grupo entende “que a música deve ser compartilhada através do espectro político e não preservada por um lado político”, criticando aquilo que diz ser “a triste verdade”, pois “se a nossa candidata preferida (Kamala Harris), tivesse ganho, os Village People nunca teriam sido convidados para atuar na sua inauguração. Ela teria escolhido John Legend e Beyoncé, etc”.
“A nossa música ‘Y.M.C.A.’ é um hino global que esperamos ajudar a unir o país após uma campanha tumultuosa e dividida onde o nosso candidato preferido perdeu”
“A nossa música ‘Y.M.C.A.’ é um hino global que esperamos ajudar a unir o país após uma campanha tumultuosa e dividida onde o nosso candidato preferido perdeu”, afirma o grupo, acrescentando que as suas “performances não são um avaliador das políticas do presidente eleito não importa que digam o contrário. Dito isto, apoiamos um novo presidente agora e todos devemos desejar-lhe felicidades até que ele nos dê uma razão para não o fazer. Mas vamos dar-lhe uma oportunidade e ver o que ele vai fazer, independentemente do que as pessoas possam pensar dele no passado. Vamos ver o que ele vai fazer no futuro e se fizer coisas para restringir os direitos LGBTQ, os Village People serão os primeiros a falar”.
Qual é a relação de Trump com a música “Y.M.C.A.”?
Trump usou a música “Y.M.C.A.” dos Village People em comícios durante as suas campanhas presidenciais de 2020 e 2024, provocando uma reação mista do grupo. Willis parece ter mudado a sua posição ao longo dos anos, primeiro exigindo que Trump parasse de usar a música em junho de 2020, depois do então presidente prometer usar a força militar para interromper os protestos após o assassinato de George Floyd pela polícia. Três meses depois, um porta-voz do grupo disse que Willis não iria “processá-lo simplesmente por maldade” porque ele não é um “hater de Trump”. Em maio de 2023, a empresária do Village People e mulher de Willis, Karen Willis, condenou uma atuação na mansão de Trump em Mar-a-Lago de “Y.M.C.A.” por artistas vestidos como os Village People, alegando que isso implicava erradamente que a banda tinha apoiado Trump. Em outubro de 2024, tudo mudou. Willis disse que se tinha anteriormente oposto à utilização da canção por Trump, mas que tinha mudado de ideias porque a atenção renovada “beneficiou muito” a canção nas tabelas.
“Um homem fez muito pelos Village People ultimamente. O nome dele é Donald J. Trump. Trouxe muita alegria para o povo americano com o seu uso do ‘Y.M.CA’. E as pessoas querem que os Village People deixem tudo isso de lado e não se apresentem na sua inauguração? NEGATIVO! Estamos a fazer a coisa certa ao atuar e manter as opiniões políticas fora disto. Então, por favor, pare de empurrar as suas opiniões políticas para os Village People”, afirma o grupo numa publicação no Facebook.
Outros artistas
Passando à lista de outros artistas que vão cantar na cerimónia de posse, temos a cantora de música country Carrie Underwood que interpretará “America the Beautiful” na cerimónia de tomada de posse de Trump no Capitólio dos EUA, pouco antes de o Presidente eleito prestar juramento.
Segundo a Associated Press, o cantor country Lee Greenwood, cuja canção “God Bless The U.S.A.” é outro dos temas principais do comício de Trump, actuará durante a cerimónia de tomada de posse.
Segundo a Axios, estão previstas atuações de outros artistas de música country, incluindo Jason Aldean e Rascal Flatts no baile inaugural de Trump, na segunda-feira, e Kid Rock e Billy Ray Cyrus no “comício da vitória”.
O cantor de ópera Christopher Macchio, que atuou em vários eventos republicanos, incluindo o controverso comício de Trump no Madison Square Garden em 2024, cantará o Hino Nacional na inauguração, segundo confirmou o staff do cantor a vários meios de comunicação.
O cantor country Gavin DeGraw atuará no Starlight Ball na segunda-feira, segundo vários meios de comunicação, ao qual Trump deverá assistir.
O Baile do Comandante-em-Chefe, que também terá lugar na segunda-feira, com um discurso de Trump, contará com a atuação do cantor country Parker McCollum.
O rapper Nelly atuará no Liberty Inaugural Ball de segunda-feira, no qual se espera que Trump faça um discurso, informou a CNN, citando fontes familiarizadas com o evento.
Apesar deste número alargado de atuações, não há comparação possível com a dimensão dos artistas que se juntaram noutras tomadas de posse. Veja-se quando Barack Obama tomou posse como 44º Presidente dos EUA contou com a atuação de nomes gigantes à escala mundial como Beyoncé, Bruce Springsteen, Bono, Aretha Franklin ou Stevie Wonder.
E se Kamala Harris tivesse ganho?
Muitas estrelas deram o seu apoio a Kamala Harris, a candidata democrata que perdeu a corrida para Trump. Como seriam as celebrações musicais com Kamala? Não saberemos, claro, mas se olharmos para os apoios que, publicamente, teve, podíamos ter sonhado com Taylor Swift, Lady Gaga, Mick Jagger, Christina Aguilera, Katy Perry, Rihanna, Jennifer Lopez, Madonna, Demi Lovato, Ricky Martin, Eminem, James Taylor, Stevie Nicks, Willie Nelson, Brittney Spencer, Cher, Olivia Rodrigo, John Legend, Billie Eilish, Bruce Springsteen e Neil Young, entre muitos outros.
com Conor Murray/Forbes Internacional