Os vencedores dos Óscares 2025… e a única piada política da noite

O filme "Anora", de Sean Baker, foi o vencedor da 97.ª edição dos Óscares, conquistando cinco das seis categorias para as quais estava nomeado, seguido de "O Brutalista", com três prémios, enquanto "Emilia Pérez" se limitou a dois. "Ainda Estou Aqui", de Walter Salles, levou a língua portuguesa aos distinguidos, ao conquistar o Óscar de…
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O filme "Anora" foi o vencedor da 97.ª edição dos Óscares, conquistando cinco das seis categorias em que estava nomeado, incluindo as de Melhor Filme e Melhor Realizador. Houve também um Óscar para o brasileiro "Ainda Estou Aqui", numa cerimónia com uma única piada política.
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O filme “Anora”, de Sean Baker, foi o vencedor da 97.ª edição dos Óscares, conquistando cinco das seis categorias para as quais estava nomeado, seguido de “O Brutalista”, com três prémios, enquanto “Emilia Pérez” se limitou a dois.

“Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, levou a língua portuguesa aos distinguidos, ao conquistar o Óscar de Melhor Filme Internacional, superando “A Rapariga da Agulha”, de Magnus von Horn (Dinamarca), “A Semente do Figo Sagrado”, do iraniano Mohammad Rasoulof (Alemanha), “Flow – À Deriva”, de Gints Zilbalodis (Letónia), que ganhou o prémio de Melhor Longa-metragem de Animação, e o próprio “Emilia Pérez”, do francês Jacques Audiard.

O filme de Walter Salles, que também estava nomeado para Melhor Filme e Melhor Atriz Principal, pela interpretação de Fernanda Torres, já premiada nos Globos de Ouro, remete para o período da ditadura militar do Brasil (1964-1985), recuperando a história do político Rubens Paiva, que foi preso, torturado e morto, e da mulher, a resistente Eunice Paiva.

“Anora” venceu os Óscares de Melhor Filme, Melhor Atriz (Mikey Madison), Melhor Realizador, Melhor Argumento Original e Melhor Montagem, reunindo quatro dos principais prémios, aproximando-se do pleno de clássicos como “Uma Noite Aconteceu”, de Frank Capra, “Voando sobre Um Ninho de Cucos”, de Milos Forman, e “O Silêncio dos Inocentes”, de Jonathan Demme (que também conquistaram o Óscar de Melhor Ator). “Anora” cedeu apenas a nomeação de Yura Borisov para Melhor Ator Secundário a Kieran Culkin, distinguido por “A Verdadeira Dor”.

O filme de Sean Baker conta a história de uma ‘stripper’ norte-americana que se casa com o filho de um oligarca russo. A base do enredo permitiu ao apresentador desta edição dos Óscares, o comediante Conan O’Brien, fazer a única piada obviamente política da noite: “Acho que os americanos estão entusiasmados por ver alguém finalmente enfrentar um russo poderoso”.

O apresentador Conan O’Brien no palco durante a 97ª edição dos Óscares, no Dolby Theatre, a 2 de março de 2025, em Hollywood, Califórnia. Foto: Kevin Winter/Getty Images.

“Anora” conta a história de uma ‘stripper’ americana que se casa com o filho de um oligarca russo. “Acho que os americanos estão entusiasmados por ver alguém finalmente enfrentar um russo poderoso”, comentou o apresentador e humorista Conan O’Brien.

Mikey Madison, que conquistou o seu primeiro Óscar, defendeu, durante a aceitação do prémio, a comunidade de trabalhadoras do sexo, e reforçou os apelos de Sean Baker em defesa do cinema independente. Madison superou Demi Moore (“A Substância”), que a crítica e as casas de apostas davam como favorita, Fernanda Torres, que já vencera o Globo de Ouro pelo desempenho de “Ainda Estou Aqui”, Cynthia Erivo (“Wicked”) e Karla Sofía Gascón (“Emilia Pérez”), que ditou a sorte final do mais nomeado dos filmes desta edição, com a revelação de antigos ‘tweets’ seus de caráter racista e xenófobo.

O musical “Emilia Pérez”, que somava 13 nomeações – um recorde para um filme em língua não inglesa -, premiado no Festival de Cannes, viu desta vez a popularidade cair sobretudo por causa das mensagens da atriz, depois de ter sido criticado pela forma como representou a comunidade trans, ao contar a história de um chefe de um cartel mexicano de droga que fez uma transição de género.

“Emilia Pérez” estava indicado, entre outros, para Melhor Filme, Melhor Filme Internacional, Melhor Realização, Melhor Fotografia, Melhor Atriz Principal e limitou-se a dois prémios: Melhor Canção (“El Mal”), num segmento apresentado por Mick Jagger, dos Rolling Stones, e Melhor Atriz Secundária, Zoe Saldaña.

“O Brutalista”, drama do pós-guerra de Brady Corbet, ficou em segundo lugar, com três Óscares, incluindo o segundo de Melhor Ator para Adrien Brody – 22 anos depois de ter sido distinguido por “O Pianista” -, além dos prémios de Melhor Fotografia e Melhor Banda Sonora.

Mensagem pela paz em Israel e na Palestina

O Óscar de Melhor Documentário foi para o filme israelo-palestiniano “No Other Land”, que, quase sem orçamento e sem apoio de um distribuidor nos Estados Unidos, vingou na votação da Academia. Dirigido por dois realizadores israelitas e dois palestinianos, “No Other Land” expõe a destruição de casas de cidadãos palestinianos pelo exército israelita, na Cisjordânia.

“Nós fizemos este filme, palestinianos e israelitas, porque as nossas vozes juntas são mais fortes”, disse o realizador israelita Yuval Abraham, na aceitação do Óscar.

Abraham apelou ao fim da “destruição atroz de Gaza e do seu povo”, e à libertação dos reféns israelitas, “brutalmente capturados no crime de 07 de outubro [de 2023]”, pelo Hamas.

Na sua intervenção, Abraham apelou ainda a “um caminho diferente, uma solução política, sem supremacia étnica, com direitos nacionais para ambos os povos”.

O realizador israelita deixou ainda uma crítica à administração norte-americana: “Devo dizer que, enquanto aqui estou, a política externa deste país está a ajudar a bloquear esse caminho”.

O realizador palestiniano Basel Adra, por seu lado, considerou “uma grande honra” a atribuição do Óscar. “‘No Other Land’ reflete a dura realidade que enfrentamos há décadas e a que resistimos, ao mesmo tempo que apelamos ao mundo para que tome medidas sérias para pôr fim à injustiça e à limpeza étnica do povo palestiniano”, concluiu Adra, habitante da Cisjordânia.

Animação da Letónia bate americanos

“Flow – À Deriva”, de Gints Zilbalodis, venceu o Óscar de Melhor Longa-metragem de Animação, o primeiro conquistado por um filme letão, deixando para trás produções como “Divertida Mente 2”, “Robot Selvagem” e “Wallace & Gromit: A Vingança das Aves”.

“Wicked”, com dez nomeações, ficou com dois Óscares: Melhor Design de Produção e Melhor Guarda-Roupa, distinguindo Paul Tazewell, o primeiro homem negro a conquistar um Óscar nesta categoria.

“Dune: Parte Dois”, com Melhor Som e Melhores Efeitos Especiais, somou igualmente dois Óscares, enquanto “A Substância” apenas conseguiu ganhar o de Melhor Caracterização.

“Conclave”, que somava oito nomeações, incluindo Melhor Filme, obteve um Óscar para Peter Straughan, pelo Melhor Argumento Adaptado.

“A Complete Unknown”, que faz uma leitura dos anos iniciais de Bob Dylan, teve oito nomeações, incluindo Melhor Filme, e nenhum Óscar.

Homenagem aos bombeiros de Los Angeles

A gala abriu com Ariana Grande a cantar “Somewhere over the Rainbow”, do clássico “O Feiticeiro de Oz”, de Victor Fleming, e homenageou os bombeiros de Los Angeles, chamando a palco representantes de diferentes corporações, por causa dos incêndios de janeiro.

Em memória

A homenagem aos profissionais do cinema que morreram no último ano decorreu ao som da “Lacrimosa”, do Requiem de Mozart, e trouxe de novo ao ecrã rostos como os das atrizes Gena Rowlands e Teri Garr, do realizador e produtor Roger Corman, do músico e ator Kris Kristofferson. “Esta semana, a nossa comunidade perdeu um gigante, e eu perdi um querido amigo, Gene Hackman“, disse o ator Morgan Freeman, na apresentação deste segmento.

A 97.ª edição dos Prémios da Academia realizou-se esta noite no Dolby Theatre, em Hollywood, com 52 filmes nomeados em 23 categorias.

Quem foram os grandes vencedores dos óscares: principais categorias

Melhor filme – Anora

Melhor atriz principal – Mikey Madison, “Anora”

Melhor realizador – Sean Baker, “Anora”

Melhor ator principal – Adrien Brody, “The Brutalist”

Melhor ator secundário – Kieran Culkin, “A Real Pain”

Melhor atriz secundária – Zoe Saldaña, “Emilia Pérez”

Argumento adaptado – Peter Straughan por “Conclave”

Argumento original – Sean Baker por “Anora”

Guarda-roupa – Paul Tazewell for “Wicked”

Banda Sonora original – Daniel Blumberg por “The Brutalist”

Filme de animação – Flow

Curta metragem de animação – In the Shadow of the Cypress

Curta-metragem em Live Action – I’m Not a Robot

Filme internacional – “I’m Still Here,” Brasil

Fotografia – Lol Crawley por “The Brutalist”

Canção original – “El Mal” em “Emilia Pérez”

Efeitos especiais – Dune: Part Two

Som – Dune: Part Two

 

com Lusa

 

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