Tudo foi pensado ao detalhe, cuidadosamente montado e com um design simples e intemporal. De Rebordosa, em Paredes, vai sair uma peça única: um cadeirão para o Papa Francisco sentar-se durante a sua visita oficial a Timor-Leste, entre 9 e 11 de Setembro. A Antarte, empresa portuguesa de mobiliário e decoração, foi desafiada a produzir esta cadeira papal e acrescenta, assim, mais um marco na sua história de 25 anos.
A encomenda veio do Presidente da República de Timor-Leste e Nobel da Paz, José Ramos-Horta, em abril deste ano, quando se deslocou a Portugal para inaugurar o novo complexo e museu da Antarte. “Durante a visita ao museu, na parte que conta a história da marca, ele fixou-se na cadeira de descanso que produzimos para Bento XVI durante a sua visita ao Porto, em 2010, e perguntou se não queríamos fazer uma cadeira para a visita do Papa Francisco a Timor-Leste”, conta à Forbes Mário Rocha, fundador e CEO da Antarte. Minutos depois de ter falado na ideia, Ramos-Horta anunciou no seu discurso que a empresa portuguesa iria produzir a peça para o Papa Francisco.
Rapidamente a equipa colocou mãos à obra. Primeiro, foi necessário estabelecer as diretrizes do Vaticano – desde medidas a determinadas características – e, logo de seguida, deu-se início ao desenho e produção da cadeira. A ideia, acrescenta o empresário, foi fazer uma peça à imagem do Papa Francisco: “É dos Papas mais simples e mais populares e queríamos fazer uma cadeira à imagem dele, sem nunca deixar de parte o design intemporal da peça, que é aquilo que caracteriza a Antarte”.
O cadeirão branco tem pormenores em dourado, incluindo o nome do Papa bordado nos lados, e foi produzido numa mistura de técnicas artesanais com tecnologia mais avançada, utilizando matérias-primas sustentáveis (um dos pedidos do Vaticano). Para o tecido que reveste a peça foram utilizadas fibras naturais, como o algodão e o linho, produzidos num tear em Portugal e também as várias taxas que contornam a costa e os lados do cadeirão foram colocadas manualmente. Do lado mais tecnológico, a insígnia com o brasão do Vaticano, colocada no topo da costa do cadeirão, foi feita com recurso a impressão 3D com pormenores em alta definição.
Foram mais de 180 horas de trabalho, com uma equipa de 14 pessoas de várias áreas que se dedicaram ao desenho e produção de algo diferente. O processo foi “minucioso, como qualquer protótipo, mas especial”. O cadeirão junta-se a uma série de peças produzidas pela Antarte para várias personalidades de referência, como Bento XVI, o treinador José Mourinho, o antigo selecionador nacional Fernando Santos e ainda o ex-presidente da República Cavaco Silva.
Mário Rocha sublinha o “grande privilégio” que é levar a cabo estes projetos e como é um desafio fora do comum: “Sai um pouco daquilo que é a nossa rotina – quer para mim, que tenho de coordenar todas as operações, quer para as pessoas que estão envolvidas e que ficam satisfeitas por estarem nesse processo”. Além deste cadeirão para o Papa, foi também criada um cadeirão personalizado com o brasão de armas de Timor-Leste, que vai ser utilizado por José Ramos-Horta no momento da receção oficial ao Papa Francisco.
25 anos de Antarte: um complexo e um museu
Há 25 anos no mercado, a Antarte tem vindo a consolidar a sua presença e foi evoluindo à medida daquilo que os tempos exigem. A empresa começou por se dedicar a às antiguidades e à arte e, mais tarde, percebeu que era necessário alargar o espetro e incluir a inovação. “Rapidamente percebemos que tínhamos de inovar para o design – não porque o resto não funcionasse, mas porque o nicho era muito curto para aquilo que queríamos crescer”, explica Mário Rocha à Forbes.
A crise de 2008 trouxe uma nova mentalidade e a Antarte percebeu que era necessário ir além do mercado nacional, uma vez que a internacionalização “dava mais garantias para defender o projeto”. Depois da Europa, abriu lojas na África do Sul e, mais recentemente, no Médio Oriente. Em território nacional, a Antarte conta atualmente com 13 lojas e o objetivo a médio prazo, além de consolidar todos os projetos, é apostar no mercado dos Estados Unidos.
Em abril deste ano, na altura em que assinalou um quarto de século de vida, a empresa deu um novo passo com a inauguração de um novo complexo – o Antarte Center – e um museu que conta a história da marcenaria e da marca Antarte. O investimento total foi de cerca de seis milhões de euros, feito totalmente a partir de fundos privados.
No complexo do Antarte Center, iniciado em 2017 e inaugurado em abril, cabem diversas valências, desde uma unidade de produção de estofo para o fabrico de sofás, cadeirões e cadeiras a um showroom dos produtos da empresa, uma galeria com arte contemporânea e ainda um parque com espécies autóctones e esculturas de Álvaro Siza Vieira feitas para o pavilhão do Vaticano na Bienal de Veneza de 2023.
Dentro deste complexo está também o Antarte Museum. Ao longo do seu percurso, Mário Rocha foi colecionando um espólio relacionado com a marcenaria e decidiu que estava na altura de o mostrar ao mundo, aliado a uma profunda investigação sobre as origens deste ofício milenar. “Fala-se muito pouco de marcenaria. Comecei a pesquisar e percebi que tinha aqui muita história para contar. Procurei um museu onde pudesse encontrar mais informações, mas não encontrei. Percebi que isto é uma ameaça que podíamos transformar em oportunidade: porque não fazer um museu da história da marcenaria?”, aponta.
E assim foi. O Antarte Museum convida a uma verdadeira viagem no tempo para os amantes e curiosos deste ofício. A viagem começa no Antigo Egito e conta a evolução dos vários materiais, máquinas e técnicas utilizados, terminando na história da Antarte. No túnel do tempo deste museu está contada a cronologia dos 25 anos da empresa que, em breve, vai ser atualizada com mais um capítulo: a produção de um cadeirão único para o Papa Francisco