Parceria entre academia e empresa faz nascer nova licenciatura no ISEC Lisboa

Esta quarta-feira é apresentado oficialmente uma nova licenciatura no ISEC Lisboa (Instituto Superior de Educação e Ciências de Lisboa) que conjuga o conhecimento digital com a saúde e conta com a presença ativa de uma empresa em todo o processo académico, a What If, num consórcio que a junta a três instituições académicas (o ISEC…
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ISEC Lisboa lança um novo curso que foi desenhado com a contribuição de uma empresa, “caminhando para o objetivo último de ter uma formação tão à imagem e semelhança das necessidades do mercado quanto possível”, explica à Forbes, Ana Barqueira, Coordenadora da licenciatura em Gestão de Dados e Tecnologias da Saúde.
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Esta quarta-feira é apresentado oficialmente uma nova licenciatura no ISEC Lisboa (Instituto Superior de Educação e Ciências de Lisboa) que conjuga o conhecimento digital com a saúde e conta com a presença ativa de uma empresa em todo o processo académico, a What If, num consórcio que a junta a três instituições académicas (o ISEC Lisboa, o ISLA de Santarém e a Escola Superior de Santa Maria no Porto).

O objetivo passa por oferecer condições técnicas e desenvolver parcerias que aproximem a academia do mundo profissional.

A docente do ISEC Lisboa, Ana Barqueira, é a Coordenadora da Licenciatura em Gestão de Dados e Tecnologias da Saúde, explica-nos os objetivos do curso e o modo como se processará a articulação entre as várias instituições que a ele estão associadas.

Ana Barqueira

O que motivou a criação deste curso de Gestão de Dados e Tecnologias da Saúde e que lacunas pretende colmatar?
A crescente disponibilização de dados e de informação abre um mundo de novas oportunidades e necessidades, às quais é imperioso dar uma resposta adequada. Este enorme volume de dados é suportado e acompanhado pelos recentes avanços tecnológicos e computacionais que permitem a sua própria produção, armazenamento e manipulação.

Em simultâneo, assistimos no mundo atual ao crescendo de fenómenos sociais, naturais e ambientais, de progressiva complexidade, instalando na sociedade uma sensação de imprevisibilidade e incerteza. A esta sensação de insegurança e “entropia”, a sociedade responde com uma progressiva necessidade de informação inteligível e fidedigna e de previsão de tendências ou acontecimentos.

No domínio da Saúde, esta crescente disponibilidade de dados é um recurso valioso que permite melhorar a qualidade, a eficiência e a inovação dos serviços de saúde e dos produtos oferecidos aos pacientes, na gestão de dados clínicos, I&D e inovação, suporte à decisão, eficiência das organizações de cuidados de saúde, previsão e prevenção de doenças ou tratamento personalizado. É neste contexto que surge a nova Licenciatura em Gestão de Dados e Tecnologias da Saúde (LGDTS).

“No domínio da Saúde, a crescente disponibilidade de dados é um recurso valioso”

Como funciona na prática a colaboração entre o ISEC Lisboa, o ISLA de Santarém e a Escola Superior de Santa Maria no Porto?
Houve um acordo de associação estabelecido entre, não só estas três instituições, mas também com a empresa what if, que instituiu um consórcio e que gizou a forma como é estabelecida a gestão académica e científica da coordenação do curso.

A gestão do curso será assegurada por uma Comissão de Gestão, constituída por um representante de cada Instituição Associada, na qualidade de membros efetivos, e por um representante de cada Instituição Cooperante, na qualidade de consultores, competindo-lhe tomar todas as decisões relativas ao funcionamento do curso. Cada instituição tem um coordenador nomeado e está planeado um conjunto de reuniões entre a Comissão de Gestão e o corpo docente das instituições, bem como a organização de bootcamps com todos os estudantes das três instituições.

Quais são os desafios e vantagens de um modelo académico com várias instituições envolvidas?
Desde logo, temos como grandes vantagens a partilha do expertise do corpo docente e de equipamentos específicos que cada instituição possui, bem como a disseminação das melhores práticas pedagógicas e científicas e até de gestão académica entre as instituições, que permitirá uma melhoria dos processos. Por outro lado, os estudantes também terão ganhos com os contactos que serão desenvolvidos. Destaco, ainda, o estabelecimento de laços e redes entre o corpo docente e os diferentes ecossistemas com que cada instituição do ensino superior se relaciona, permitindo a formação de um cluster mais abrangente e com maior potencial de gerar conhecimento e valor. Acresce também a colaboração de maior destaque com a What If, crucial em todo o processo.

Os principais desafios são logísticos, relacionados com a deslocação de recursos humanos e recursos materiais. Ou o esforço de articulação entre as instituições para garantir um ensino homogéneo nas 3 instituições de ensino superior envolvidas. Sem esquecer a harmonização de processos académico-administrativos das três instituições de ensino superior envolvidas.

“Os estudantes terão ganhos com os contactos que serão desenvolvidos”

A presença ativa da empresa What If é um dos aspetos diferenciadores desta licenciatura. Porquê esta empresa e qual é o seu papel concreto no desenvolvimento do curso e na formação dos estudantes?
A What If é uma instituição que, em cooperação com o ISEC Lisboa, o ISLA de Santarém e a Escola Superior de Santa Maria, estabeleceu um protocolo para criar esta licenciatura, fazendo parte do consórcio fundador. Pareceu-nos importante incluir uma empresa muito bem estabelecida na área do Business intelligence. Por outro lado, foi importante realizar uma aposta forte na ligação ao setor empresarial. É já mais usual, no ensino superior, as instituições procurarem o tecido empresarial para desenvolver a sua oferta formativa. Neste caso, demos um passo em frente, garantindo que o setor empresarial estivesse presente e contribuísse ativamente para o próprio desenho da oferta formativa, caminhando para o objetivo último de ter uma formação tão à imagem e semelhança das necessidades do mercado quanto possível.

“Foi importante realizar uma aposta forte na ligação ao setor empresarial. Pareceu-nos importante incluir uma empresa muito bem estabelecida na área do Business intelligence”

Qual é a visão estratégica por trás desta parceria academia-empresa? Que benefícios traz para os alunos e para o setor da saúde?
A visão estratégica desta parceria academia-empresa assenta em vários pilares, plenamente assumidos pelo ISEC Lisboa. Por um lado, como já referido, a nossa firme intenção de criar formação superior que responda às necessidades das empresas.

Por outro lado, as Instituições de Ensino Superior (IES), em particular, as que estabeleceram o presente consórcio, têm beneficiado ao longo da sua existência das vantagens inerentes às múltiplas parcerias que têm estabelecido. Por fim, não devemos esquecer a superior capacidade das empresas na resposta aos desafios de modernização de planos curriculares existentes e na imprescindível colaboração em projetos científicos de investigação aplicada.

Tendo em conta todos os aspetos referidos atrás, pareceu-nos essencial evoluir em termos estratégicos e colaborar com uma empresa desde o início da elaboração de uma proposta de um novo ciclo de estudos. A What if foi uma escolha natural pela sua experiência e já estreita colaboração com uma das instituições do consórcio.

“Pretendemos criar formação superior que responda às necessidades das empresas”

O curso tem um forte foco na empregabilidade. Como é que as parcerias com empresas impactam a integração dos alunos no mercado de trabalho?
O ISEC Lisboa tem dados muito concretos relativamente ao desempenho dos seus estudantes nos estágios e à vontade dos empregadores em continuar a contar com os futuros diplomados nos seus quadros. É por isso expectável que o mesmo se passe relativamente a este curso.

Acresce que para a Licenciatura em Gestão de Dados e Tecnologias em Saúde está prevista a existência de estágios nos três anos de formação, iniciando-se com um estágio mais curto, que visa essencialmente a observação, e termina com um estágio (clássico), em que os estudantes participam ativamente nas atividades do dia a dia das empresas.

Quais são as saídas profissionais mais promissoras para os estudantes deste curso?
Nas principais saídas profissionais podemos incluir a Administração de sistemas de informação das instituições de saúde, como hospitais, centros de saúde, centros de meios complementares e diagnóstico, laboratórios farmacêuticos, farmácias hospitalares e comunitárias. Também no apoio à gestão de instituições ligadas ao setor da saúde. Destaco, igualmente, a gestão e tratamento de dados em todo o tipo de instituições de saúde ou entidades reguladoras, o desenvolvimento de atividades especializadas em tecnologias digitais, como a Inteligência Artificial, o desenvolvimento de software e aplicações especificamente dirigidas a instituições da área da saúde ou o apoio à investigação científica na área da saúde.

Como é que olha para a utilização de Big Data e Business Intelligence na área da saúde? Quais são os benefícios e riscos associados?
Serão, com certeza, tecnologias absolutamente presentes no futuro da área da saúde, entre outras. Entre os principais benefícios, podemos encontrar uma gestão mais eficaz dos recursos, a capacidade de gerar mais conhecimento com menos recursos, a possibilidade de melhorar diagnósticos e tratamentos, desenvolver novos medicamentos, aumentar a eficiência operacional e potenciar a tomada de decisão por parte dos profissionais de saúde.

Como principais desvantagens, temos os desafios éticos e de proteção de dados que a utilização e manuseamento do Big Data de forma abrangente acarreta. Para além dos cuidados a ter com a qualidade dos dados, pois o trabalho com dados imprecisos ou inconsistentes pode levar a diagnósticos errados.

Que tendências tecnológicas acredita que vão marcar o futuro da gestão de dados na saúde?
As principais tendências tecnológicas que na minha opinião vão marcar o futuro da gestão de dados na saúde são a utilização de Inteligência Artificial e Machine Learning. Estas tecnologias serão utilizadas cada vez mais na análise preditiva, no diagnóstico automatizado e personalização de tratamentos. A utilização de determinados algoritmos possibilitará detetar padrões em exames médicos e sugerir intervenções personalizadas.

Também a Internet das Coisas (IoT) será relevante. A disponibilidade de dispositivos, como smartwatches, sensores biométricos e monitores de saúde, vai gerar um grande volume de dados em tempo real, permitindo que se siga de forma remota os pacientes, para além de prevenir eventuais complicações, com uma resposta mais rápida em situações de emergências médicas.

Destaco, igualmente, o Blockchain para Segurança e Privacidade de Dados. Esta tecnologia poderá ser usada para garantir a integridade e segurança dos dados médicos, facilitando a troca segura de informações entre diferentes instituições de saúde e reduzindo riscos de fraudes e violações de privacidade. Bem como o Data Interoperability e Padrões de Dados, pois a adoção de padrões universais para partilha de dados, como o FHIR (Fast Healthcare Interoperability Resources), facilitará a comunicação entre diferentes sistemas de saúde, promovendo uma visão integrada do histórico dos pacientes.

Por fim, o 5G e a Conectividade Avançada. Com redes de alta velocidade será possível a realização de telemedicina de alta qualidade, transmissão instantânea de imagens médicas e a operação remota de dispositivos médicos em tempo real.

A utilização de inteligência artificial e machine learning já está a transformar áreas como o diagnóstico médico e a gestão hospitalar. Como é que estas tecnologias são abordadas na licenciatura?
Estas tecnologias serão abordadas de forma transversal em várias unidades curriculares, mas gostaria de destacar, em particular, a Inteligência Artificial em Saúde, Sistemas de Apoio à Decisão em Saúde e Saúde Digital e Conectividade.

A licenciatura já despertou interesse de outras empresas ou entidades de saúde para colaborações futuras?
Sim. A rede de protocolos inicialmente estabelecida tem vindo a aumentar, e cada novo protocolo celebrado vem, por norma, acompanhado de uma ideia de colaboração que vai muito além da receção de estudantes em estágios. A excelência do corpo docente envolvido, a extensa rede de entidades e empresas do já referido ecossistema das IES envolvidas e o alcance desta formação, continuarão a atrair mais entidades interessadas em trabalhar connosco, em projetos disruptivos que permitirão avanços significativos nesta área.

Quais são os planos de crescimento do curso? Há perspetivas de expansão ou novos projetos em vista?
Para já, nesta fase inicial há que testar este modelo (parceria com três IES mais uma entidade). Naturalmente há abertura para que se possa evoluir, quer para formações a jusante (Mestrados ou Pós-Graduações), para profissionais que queiram evoluir nesta área, ou até mesmo para a oferta de Microcredenciais que possibilitam a formação muito direcionada em determinadas temáticas.

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