Popularidade do Padel coloca empresa portuguesa em “alta voltagem”

O padel tem vindo a conhecer um grande crescimento em Portugal, tendo levado à criação, em 2016, de uma empresa portuguesa, a Volt Padel, que se especializou na produção de material e equipamento premium para a prática desta modalidade e que está já presente em mais de 40 países, espalhados pelos 5 continentes. À Forbes,…
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Volt Padel, a primeira marca nacional ligada ao Padel, está presente em mais de 40 países, dos 5 continentes. Para 2023, a previsão é que esta lista continue a crescer, elevando a faturação para 5M€.
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O padel tem vindo a conhecer um grande crescimento em Portugal, tendo levado à criação, em 2016, de uma empresa portuguesa, a Volt Padel, que se especializou na produção de material e equipamento premium para a prática desta modalidade e que está já presente em mais de 40 países, espalhados pelos 5 continentes.

À Forbes, Pedro Brito e Cunha, fundador e CEO da Volt Padel, aborda o desenvolvimento de uma marca com sede e armazém na Zona Industrial do Porto, que começou por produzir raquetes e alargou o seu raio de atuação a mochilas, linha de roupa e acessórios masculinos e femininos. Para 2023, o objetivo é atingir os 5 milhões de euros de faturação. 

Como surgiu a ideia de lançar a marca Volt Padel?
Pedro Brito e Cunha (PBC): A Volt nasce da combinação de duas vontades pessoais: a de aprofundar a paixão pelo padel e a ambição de alimentar o “bichinho” do empreendedorismo. Sempre tive uma relação muito próxima com o desporto e o privilégio de experimentar diferentes modalidades desde futebol, capoeira, snowboard, surf e até ténis. Competi em praticamente todas as modalidades e foram atividades que sempre conciliei com os estudos na área de Gestão. Mais tarde, acabei por largar o desporto ao nível de competição e dedicar-me exclusivamente ao Marketing e Vendas, mas o gosto pelo desporto nunca deixou de fazer parte da minha vida. A certa altura, o padel surge como mais uma modalidade que desperta o meu interesse, desta vez não só pela componente física – jogava imensas vezes durante a semana e participava em torneios praticamente todos os fins de semana –, mas também pela oportunidade de negócio em que senti que realmente poderia estar perante uma ideia vencedora.

 

Pedro Brito e Cunha, fundador e CEO da Volt Padel.

Do “vício” pelo desporto para a pesquisa, começámos a perceber que o padel estava a experienciar uma enorme explosão não só em Portugal, como também noutros países, e mesmo onde a modalidade não era tradição. Nesta altura, ainda em 2015, muitos tentaram surfar esta onda de oportunidade, mas mais numa perspetiva de aluguer de espaço com a criação de clubes e campos. A nossa ideia acabou por divergir para uma área completamente diferente, onde até então ninguém se encontrava em Portugal: produção do material e do equipamento propriamente dito. Ao mesmo tempo, olhando para o mercado numa perspetiva de consumidor, e também enquanto praticante da modalidade, sentia que a oferta de raquetes no mercado, maioritariamente dominado por marcas espanholas, não equilibrava a performance e o design. Não havia o cuidado estético ou a atenção à qualidade das matérias-primas – que hoje mais facilmente encontramos –, e os primeiros esboços daquilo que viria a ser a Volt surgem daqui. Partimos para um primeiro ano de preparação marcado, sobretudo, pela pesquisa de fornecedores e criação de uma rede contactos que tornasse os primeiros anos da marca sustentáveis. Em 2016, lançámos oficialmente a Volt Padel. 

Como tem sido a evolução da faturação da empresa desde que foi fundada?
PBC:
Ao nível de faturação, registámos cerca de 700 mil euros em 2021 sendo que, em comparação com o ano anterior (2020), significa que multiplicámos 3 vezes a nossa faturação. As perspetivas é que esta tendência para uma evolução positiva do negócio permaneça ao longo dos próximos anos, sobretudo, com o aprofundamento do processo de internacionalização, estratégia que traçámos desde o início da empresa e que pretendemos dar continuidade mediante o aperfeiçoamento da nossa capacidade de resposta ao mercado.

A evolução positiva do negócio deve permanecer “ao longo dos próximos anos, sobretudo, com o aprofundamento do processo de internacionalização”

Quais são os vossos produtos que mais vendem?
PBC:
O portefólio de raquetes da Volt Padel é composto por seis modelos que, em comum, partilham a ambição de aliar o design e a performance do principal instrumento para a prática do padel, posicionando-o num patamar premium. A introduzir esta filosofia estão as referências Volt 500 (disponíveis em duas cores e com pesos distintos), Volt 700, Volt 800, Volt 900 e Volt 1000. Cada número representa o nível de ‘voltagem’, uma espécie de carga energética atribuída a cada raquete – de controlo, de equilíbrio ou de ataque – que se adapta a diferentes tipos de jogadores: mais ofensivos ou defensivos e com mais ou menos experiência. Na lista dos best-sellers, destacamos: a Volt 700, caracterizada pelo formato lágrima e por uma distribuição altamente equilibrada do peso por toda a superfície da raquete; bem como, a Volt 1000, uma das mais recentes novidades, a única em formato diamante e que apela aos clientes, sobretudo, pela máxima potência. 

Estão já a diversificar a produção para outro tipo de produtos, para além das raquetes? Quais?
PBC:
Em complemento à gama de raquetes, avançamos com a produção de mochilas desenhadas ao detalhe e em conjunto com especialistas na área de engenharia de produto, de modo a ir ao encontro das necessidades dos nossos clientes. Para além disso, ainda este ano, fizemos a apresentação oficial da nossa primeira linha de roupa e acessórios para os praticantes da modalidade (masculinos e femininos) – produzida pela Volt desde a conceção à produção. A coleção é bastante completa, intemporal e inclui algumas opções unissexo, seguindo o design clean que também privilegiamos no desenvolvimento das raquetes e o conceito de que “menos é mais” – máxima que gostamos de citar regularmente na Volt. A lista de produtos estende-se, assim, para equipamentos que podem ser usados dentro e fora do campo – t-shirts, hoodies, joggers, calções, saias.

“Este ano, fizemos a apresentação oficial da nossa primeira linha de roupa e acessórios para os praticantes da modalidade (masculinos e femininos) – produzida pela Volt desde a conceção à produção”

A venda de roupa e acessórios poderá vir a alcançar que volume de negócio na empresa? No mix da empresa, qual a percentagem que poderá alcançar no futuro?
PBC:
Pela nossa experiência até ao momento, acreditamos que o nosso core business se manterá sempre na venda da raquetes e sacos. Ainda assim, admitimos que a roupa e os acessórios já têm um peso superior a 10% nas nossas vendas em 2022, o que nos dá confiança para acreditar que possamos chegar aos 15% ou 20% no futuro.

Onde se localiza a produção das raquetes? Quantas raquetes fabricam por ano?
PBC:
A fase de produção é uma das etapas de comercialização mais fundamentais para a Volt Padel, uma vez que procuramos produzir artigos com qualidade, apostando apenas naquilo em que acreditamos e que poderá acrescentar valor. Atualmente, sentimos que este objetivo está a ser cumprido na Ásia, área onde está concentrado o maior expertise e know-how para o desenvolvimento de raquetes de padel e onde conseguimos encontrar capacidade para uma produção à escala global. Já a conceção e design de produtos são exclusivamente assinados pela equipa da Volt.  

No ano passado, produzimos 6 mil raquetes. O plano para 2022 é aumentar consideravelmente a nossa produção e passar para entre 15 a 20 mil raquetes. 

A produção desses novos produtos – caso de roupa e acessórios – está a ser feita onde? O fabrico de roupa e acessórios implicou um investimento de quanto?
PBC:
Na mesma lógica, a produção de roupa e acessórios é feita com uma especial atenção à qualidade do produto que, neste caso, é conseguida com apoio de fabricantes nacionais. Ao nível de investimento, e até ao momento, falamos da ordem de cerca de 50 mil euros.

A produção dos vossos produtos, especialmente raquetes, é escoada maioritariamente para o estrangeiro. Quais são, em concreto, os grandes mercados de exportação e o seu respetivo valor para a empresa? Houve novos mercados em que passaram a estar presentes em 2022? Quais?
PBC:
O caminho para a internacionalização começou a concretizar-se ainda em 2018 com a entrada em mercados como Espanha, Emirados Árabes Unidos e Reino Unido através de redes de distribuição em que confiamos para a promoção dos nossos produtos. Portugal mantém até hoje uma posição importante para nós, já que é onde estamos sediados e onde temos uma presença bastante forte até por uma questão de proximidade com a nossa rede de contactos. No entanto, há já uma grande concentração de vendas para outros países. 

Globalmente, estamos presentes em mais de 40 países, espalhados pelos 5 continentes. Em 2021, registámos um maior volume de exportação para alguns países do Médio Oriente (Qatar, Emirados Árabes Unidos e Kuwait), a região da Escandinávia (Suécia, Noruega e Dinamarca) e outros países europeus (como Holanda, Bélgica e Itália) – a representar 83% das nossas vendas desse mesmo ano. 

83% das vendas da Volt Padel são provenientes dos mercados de exportação.

Naturalmente, o objetivo é que esta lista continue a crescer. Só este ano, conseguimos reforçar a nossa presença no Médio Oriente, com a entrada na Arábia Saudita e Omã, na Europa, nos mercados de Islândia e Polónia, bem como na região da América Latina, em países como Colômbia, Equador e Venezuela.  

Depois, há ainda alguns mercados onde o padel tem uma dimensão pequena ou quase inexistente, mas que identificamos como mercados de enorme potencial – são exemplos: os Estados Unidos da América, a China e alguns países do continente africano, aos quais também pretendemos dedicar alguma atenção ao longo dos próximos anos. 

De que forma pretendem fazer evoluir o negócio? Qual a estratégia que pretendem implementar daqui em diante?
PBC:
Atentando à evolução da Volt desde o primeiro ano de atividade, temos dados concretos que sustentam a nossa confiança na estratégia de internacionalização. Os primeiros dois ou três anos da empresa foram, como disse, dedicados ao mercado português, mas com uma consciência muito assente na necessidade de criar oportunidade de negócio muito além das fronteiras nacionais. Esta é uma realidade para nós atualmente, já que 80% a 85% do nosso negócio é feito com base na exportação. Além disso, acreditamos que há ainda muito espaço para crescermos em praticamente todos os mercados em que estamos presentes atualmente, para além das oportunidades que devem surgir com a entrada em novos mercados.

“Estima-se que existam hoje, em Portugal, cerca de 100 mil praticantes ocasionais e regulares, e mais de 550 campos, sendo muito provável que estes números continuem a aumentar”.

A par deste pilar, existe, claro, no nosso campo uma maior capacidade de investimento em estratégias de comunicação e promoção da marca. Exemplo disso é o nosso contacto próximo (através de patrocínios) com jogadores profissionais. Os atletas de alta competição são a melhor e mais eficaz ferramenta de visibilidade em que podemos apostar. O desenvolvimento das personalidades dentro e fora do jogo ajudam a que estes profissionais sejam encarados como embaixadores da marca, exercendo um maior poder de persuasão junto do público que, de certo modo, procura imitar o estilo do atleta. 

Atualmente, a Volt Padel é a patrocinadora oficial de uma equipa com 10 jogadores profissionais, com destaque para a referência nacional Ana Catarina Nogueira e, ao nível internacional, Agustín Gómez Silingo. Também patrocinamos vários monitores que competem, mas não o fazem profissionalmente. Em 6 anos de atividade, temos celebrado parcerias muito estáveis e de crescimento mútuo. Prova disso é precisamente a relação com a Ana Catarina Nogueira que já se renova para o quarto ano de parceria e em que parece haver uma certa envolvência mística – no primeiro ano de contrato com a Volt Padel, em 2019, a Ana Catarina teve o melhor ano de carreira, que culminou na sexta posição no ranking dos melhores do mundo e com a primeira e única vitória de um jogador português numa das principais competições do circuito mundial.

Quais são as vossas previsões para a faturação em 2022? Que estimativas fazem para 2023 e anos seguintes?
PBC:
A realidade é que, atualmente, se torna cada vez mais difícil fazer projeções a longo prazo. Neste momento, a procura supera a oferta, havendo listas de espera para os nossos produtos, mas tudo por conta de um problema generalizado. Na sequência da pandemia, houve alguns constrangimentos relativamente ao acesso a matérias-primas e à capacidade de produção, o que naturalmente tem influenciado a indústria do padel e, consequentemente, o nosso negócio. No entanto, foi também depois do período de confinamento que o padel teve um maior crescimento dentro e fora de Portugal – e nós conseguimos aproveitar muito essa “onda” até mesmo em países onde o padel já tinha uma tradição muito grande. A nossa preocupação está em fazer um trabalho de base nos diferentes mercados – com uma aposta forte na componente comercial através do marketing e da comunicação –, que nos permita ir desenvolvendo a nossa posição de uma forma sustentável e, acima de tudo, assegurar uma visão e estratégia de longo prazo. Tudo isto permite-nos ter a confiança de que em 2022 conseguiremos alcançar a marca dos 1,5 milhões de euros ao nível de faturação. Temos o objetivo claro de atingir os 5 milhões de euros de faturação em 2023 e os 10 milhões de euros em 2027. 

“Foi depois do período de confinamento que o padel teve um maior crescimento dentro e fora de Portugal – e nós conseguimos aproveitar muito essa ‘onda’ até mesmo em países onde o padel já tinha uma tradição muito grande”

O vosso posicionamento é premium. Que tipo de clientes são os vossos? Conseguem traçar um perfil?
PBC:
As intenções para a marca estão traçadas desde o início e sempre nos mantivemos fiéis às mesmas: quisemos posicionar os nossos produtos num segmento médio-alto através de um design diferenciador e premium, sem descurar a qualidade superior de todos os equipamentos.

Para surpresa do próprio mercado, o padel tem um incrível poder de atração de diferentes públicos. É uma modalidade que se distingue, desde logo, por ser um desporto acessível e democrático. É muito fácil alguém iniciar-se no padel, mesmo não tendo experiência de ténis ou uma excelente condição física. Por seu lado, há uma forte vertente social, algo praticamente único quando comparado com outras modalidades, pois permite conjugar pessoas de diferentes idades, géneros e experiências em relação à prática de exercício físico. 

E é para todas elas que a Volt comunica e de uma forma bastante aspiracional e emocional, destacando os atributos mais ligados ao estilo de vida. Não nos esquecemos, ainda assim, do núcleo de atletas que procuram alcançar a profissionalização neste desporto – queremos ser reconhecidos pelos profissionais como a marca que melhor estabelece o equilíbrio entre qualidade e design.

A modalidade pode ainda crescer mais em Portugal e, dessa forma, sustentar o crescimento da empresa também, entre nós? Ou depois de um crescimento acelerado, já estamos numa fase de maturidade?
PBC:
Sem dúvida! Arrisco-me mesmo a afirmar que o crescimento do padel é um verdadeiro fenómeno no mundo desportivo, em grande parte por conta da sua capacidade de atrair pessoas diversas como nenhum outro desporto. De acordo com a Federação Portuguesa de Padel (FPP), estima-se que existam hoje, em Portugal, cerca de 100 mil praticantes ocasionais e regulares, e mais de 550 campos, sendo muito provável que estes números continuem a aumentar. É uma modalidade de fácil aprendizagem e evolução rápida, ainda que o estatuto profissional seja realmente mais difícil de atingir e de manter. Esta profissionalização também é extremamente importante para o crescimento contínuo do padel e até da própria da Volt Padel – prova disso tem sido o crescimento da empresa entre 40% a 50% por ano em Portugal, uma tendência que constamos manter a este nível para o futuro.

A empresa tem crescido “entre 40% a 50% por ano em Portugal, uma tendência que constamos manter a este nível para o futuro”.

Como pensam crescer no mercado português, dado que o estrangeiro é o segmento mais relevante para a empresa?
PBC: Em Portugal, acabamos por desempenhar o papel de distribuidor direto e, por isso, temos recursos internos dedicados especialmente a este mercado. Procuramos, acima de tudo, estar presentes em lojas físicas que, na sua generalidade, estão integradas nos clubes de padel ou em superfícies maiores especializadas e manter uma relação próxima com todos os nossos clientes. No fundo, acreditamos que o nosso crescimento no mercado português consiga acompanhar a própria expansão da modalidade, que leva à abertura de novos clubes e pontos de venda. Atualmente, estamos presentes em mais de 50 pontos de venda em Portugal. 

Estão a pensar ir ao mercado captar financiamento para reforçar o vosso investimento? Em caso afirmativo, de que valores estamos a falar e quando é que isso acontecerá? Qual o objetivo desse financiamento (caso prevejam, naturalmente)?
PBC: Neste momento, não estamos a equacionar essa possibilidade. Uma das preocupações desde o início da nossa atividade foi canalizar esforços para um crescimento sustentável que nos permita financiar a evolução da empresa com os seus próprios resultados. Felizmente, temos conseguido cumprir este objetivo, sendo que os resultados dos primeiros quatro anos foram totalmente reinvestidos no negócio, permitindo que a empresa tenha atualmente uma situação financeira bastante saudável, sendo capaz de suportar os investimentos necessários sem recorrer a financiamento externo.

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